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sábado, setembro 15, 2012

Trabalhador tem o cérebro atravessado por um vergalhão de 2m

O trabalhador EL, 24 anos,   de uma obra em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, sobreviveu após um vergalhão de 2 metros de comprimento atravessar sua cabeça na manhã de quarta-feira , 15 de agosto.

COMO FOI
A barra de ferro caiu do quinto andar da construção e perfurou o lobo parietal (parte posterior da cabeça) e saiu por entre os olhos do homem de 24 anos, morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Uma parte do lado direito do cérebro foi atingida. O operário usava capacete no momento do acidente.

RESGATE
Os  bombeiros precisaram serrar uma parte do material e o trabalhador levado para a unidade de saúde ainda com meio metro do metal na cabeça.

OPERAÇÃO-HOSPITAL
O trabalhador chegou ao Hospital Miguel Couto por volta das 11h  e estava consciente. Ele passou por uma cirurgia de 5 horas que reconstituiu toda a região perfurada. O operário passa bem.

A equipe do hospital afirmou, em coletiva de imprensa na quinta-feira,  que ele está lúcido e disse que "não doeu tanto". Este é um caso inédito. O mais surpreendente para os médicos foi o fato de ele chegar ao hospital com a memória intacta, citando até mesmo a data em que tomou a antitetânica. Segundo a junta médica, foi necessário abrir o crânio de Eduardo para cauterizar a parte suja e retirar o vergalhão.

De acordo com o diretor do hospital, Luiz Alexandre Essinger, o risco agora é que o paciente contraia uma infecção:
— Quando o vergalhão entrou no cérebro, levou também muita poeira. Para evitar uma contaminação de secreções dos seios da face, o vergalhão foi puxado para baixo durante a cirurgia.

Segundo os médicos, a área afetada do cérebro é responsável pela parte das emoções. A vítima poderia ficar desorientada ou ter perda de memória, o que não aconteceu. Ele ainda deu mais sorte: se o vergalhão tivesse entrado três centímetros mais para o lado, teria atingido a parte do cérebro responsável pela coordenação motora e não estaria conseguindo mexer pernas e braços. Se tudo der certo, o paciente terá alta em uma semana.

O jovem está com o rosto inchado e vai precisar ficar por uma semana no Centro de Terapia Intensiva (CTI) da unidade. A região atingida é responsável pelas alterações de comportamento, mas não houve problemas maiores, de acordo com os especialistas. As consequências poderiam ser muito graves, pois por 3 cm a região motora teria sido atingida e por 1 cm afetaria as funções do globo ocular.

COMO FOI A CIRURGIA
O vergalhão entrou pela parte superior direita da cabeça do operário, atravessou parte do cérebro e saiu por entre os olhos, acima do nariz.

Eduardo foi atendido no local do acidente, teve a barra de ferro serrada (ficou com 1,2 m) e foi encaminhado para o Miguel Couto.
Ao chegar, passou por uma avaliação, foi estabilizado clinicamente e fez uma tomografia do cérebro, que mostrou com precisão onde o objeto estava alojado e como deveria ser feita a cirurgia, que acabou durando 5 horas.
Após a anestesia geral do paciente;
1- Médicos lavaram e escovaram o vergalhão para tirar a poeira. Depois, tiraram uma calota do crânio para enxergar o ferimento.
2- O vergalhão foi retirado por baixo. Em seguida, a equipe lavou mais o ferimento e começou, com um cauterizador, a secar os vasos sanguíneos  atingidos. Depois, a calota foi recolocada.
Os cirurgiões aplicaram soro fisiológico para limpar a área e acabaram tirando o objeto por baixo, próximo ao nariz, para evitar um maior risco de contaminação.
"Esse foi o momento mais crítico, pois poderia haver alguma lesão vascular e hemorragia", lembra o chefe do Setor de Neurocirurgia do Miguel Couto, Ruy Monteiro.

MANUTENÇÃO DA CONSCIÊNCIA
O Eduardo se manteve acordado durante todo o tempo após o acidente, e isso também tem um porquê. De acordo com o médico Nilton Lara Junior, o encéfalo – formado pelo cérebro, bulbo e cerebelo – não tem relação com a consciência, o coma e o ciclo de vigília e sono, por exemplo.
"Essa região é comandada pelo tronco cerebral, que é mais antigo no processo de evolução e encontrado em todos os vertebrados. Quanto mais complexo for um animal, mais ele vai desenvolver o encéfalo, com ações importantes como o raciocínio", afirma.

O neurocirurgião aponta que o fato de o paciente ser jovem ajuda muito na resposta. Isso porque os neurônios, apesar de não se reproduzirem, são capazes de se adaptar a novas situações e adequar a comunicação entre si – as chamadas sinapses. Assim, as células do cérebro criam novos caminhos e acabam recuperando parte das funções perdidas. Terapias cognitivas, comportamentais e ocupacionais também aceleram esse processo.

OS MÉDICOS QUE SALVARAM A VIDA DO PACIENTE
O neurocirurgião Ivan Sant’Ana, que estava na emergência do Hospital Miguel Couto, foi avisado que um homem com um vergalhão atravessado na cabeça tinha acabado de chegar. Com 35 anos de experiência, o médico  mandou chamar o chefe da neurocirurgia, Ruy Monteiro, e, em pouco tempo, começou a planejar, junto com Ruy, a cirurgia para a retirada do ferro. Ele   não acreditava no resultado tão bom, o paciente sobreviveu e não apresenta sequelas.

CREA: VERGALHÃO FOI SUSPENSO INCORRETAMENTE
Em vistoria realizada nesta sexta-feira , 17 de agosto, na obra de um edifício em construção na Rua Muniz Barreto 798, em Botafogo, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) constatou que o processo de suspensão dos vergalhões não foi realizado corretamente, e sim de maneira improvisada. 
Além disso, segundo o Crea, não poderia haver ninguém embaixo do local onde os vergalhões estavam sendo suspensos.

"Verificamos que as medidas de segurança não foram tomadas. Agora vamos convocar a responsável pela segurança da obra, a engenheira, para dar esclarecimentos", afirmou o vice-presidente do Crea, Jaques Sherique.

O trabalhador não verificou se todas as barras estavam com a ponta virada para evitar que elas caíssem. Mas faltou também um supervisor, um encarregado ou um responsável para impedir que ele fizesse isso e para não causar o acidente, disse o vice-presidente do Crea que acrescentou ainda que os responsáveis técnicos pela obra serão chamados pelo Crea para passar mais informações sobre a construção.



POLÍCIA INVESTIGA O ACIDENTE
Polícia Civil instaurou uma investigação para apurar as responsabilidades pelo acidente.  De acordo com a delegada da 10ª DP (Botafogo), uma perícia foi feita no local, o vergalhão foi apreendido e encaminhado aos peritos, e os responsáveis pela obra foram intimados para prestar depoimento. Além disso, a titular informou que, para saber sobre a regularização da obra, os órgãos responsáveis estão sendo notificados. Na tarde desta sexta-feira, equipes da 10ª DP estão no local, na Rua Muniz Barreto 798, para buscar testemunhas que possam ajudar nas investigações.

TRABALHADOR TEVE ALTA DO HOSPITAL

O trabalhador, EL, deixou o hospital na quinta-feira, 30 de agosto, caminhando e de boné. Tteve alta 15 dias depois da internação.
Antes, foi examinado em uma clínica particular onde mediu as funções do cérebro, além da capacidade de raciocínio e memória.

O trabalhador contou que se lembra de tudo e sempre teve noção da gravidade. "Fui amarrar um ferro e me dei conta quando afrouxou e caiu. Quando eu senti a pancada, eu falei: 'Aconteceu alguma coisa'. Mas procurei me manter tranquilo, ficar calmo, passar tranquilidade para os colegas ao lado", relatou.

Segundo os médicos, reagiu muito bem ao tratamento, sem apresentar infecção, mas vai precisar de acompanhamento. Pela área atingida, ele pode apresentar alterações de humor, com picos de felicidade ou depressão.
  
Fontes: Folha de São Paulo, O Globo, G1  Paulo, 16 de agosto a 31 de agosto de 2012

Comentário: A altura da queda do vergalhão e a resistência de impacto da capacete
Altura da queda do vergalhão  – 15 m
Peso vergalhão – 0,5 kg
Perfurou – 25 cm
F = 0,5 X 10 X 15/O,25 = 300 N, equivale a 30 kg
Trabalho da força peso = 0,5 x 10 (15) = 75 J
Velocidade escalar = 17 m/s = 62 km/h

Capacete de segurança
Ensaio de resistência a penetração
O ensaio é  realizado com prumo de aço cônico, com 3,025Kg, solto em queda livre sobre o casco a uma distancia de 1m e foi verificado que o mesmo não tocou diretamente a cabeça padrão.
Os capacetes de segurança devem atender à NR 06 e à norma NBR - 8221 sob a égide da qual a Ministério do Trabalho emite o Certificado de Aprovação (C.A.) correspondente.
Velocidade = 4,5 m/s =  16km/h
Força = 30 N , equivale 3 kg
Trabalho da força peso = 3 x 10 = 30 J

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posted by ACCA@5:20 PM