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terça-feira, julho 12, 2011

Fogos de artifícios: Explosão e Incêndio na região central de Lima

Um depósito de fogos de artifício de uma loja em um centro comercial de Lima com várias outras lojas de fogos explodiu sábado à noite, 29 de dezembro de 2001, provocando um grande incêndio que se alastrou por quatro prédios de apartamentos e outros estabelecimentos comerciais
A explosão inicial ocorreu por volta de 20 horas local (23 horas de Brasília), destruindo completamente o estabelecimento.

CAUSAS: CONTROVÉRSIAS
O vendedor Augusto Vega disse que “três irresponsáveis” provocaram a tragédia. “Queriam assustar as pessoas que estavam na galeria e acenderam um ‘chocolate’ (tipo de fogo de artifício)”, acrescentou o vendedor. As faíscas atingiram outros fogos de artifício estocados, que explodiram numa reação em cadeia.
Outras testemunhas disseram que o incêndio se iniciou, quando um comerciante acendeu um fogo de artifício para mostrá-lo a um cliente.
Já outra versão, isso aconteceu numa rua estreita diante do centro comercial. As faíscas lançadas pelo produto teriam alcançado outros objetos explosivos.

PROPAGAÇÃO DO INCÊNDIO
As chamas se alastraram rapidamente pelos prédios antigos de três e quatro andares existentes na região central, conhecida como Mesa redonda. As Galerias Mina de Oro e Lucero, foram as primeiras a serem atingidas. As labaredas consumiram outras lojas e edifícios habitados por gente muito pobre. Enormes bolas de fogo saíram da galeria atingindo várias pessoas na rua. A temperatura atingiu 1.000o C , segundo informações do Corpo de Bombeiros.

ACESSO AO LOCAL
Os bombeiros demoraram muito chegar ao local (50 min). Não é fácil atingir o local circulando por vias estreitas e apinhadas de gente como as Ruas Cusco e Andahuaylas, em pleno centro histórico da capital peruana e a 600 metros do Palácio do Governo. Avançar uma quadra de automóvel pela região pode levar muito tempo, principalmente nas horas de pico. “Grupos de curiosos também dificultaram nossa movimentação”, disse o chefe do Corpo de Bombeiros, capitão Tulio Nicolini.

HIDRANTE:
Os hidrantes não tinham pressão suficiente.

CORPO DE BOMBEIROS
O chefe dos bombeiros, Tulio Nicolini, informou, cerca de 500 homens participaram da operação 40 veículos. A prefeitura colaborou com 20 caminhões-pipa.

RESGATE
Os bombeiros informaram que ao menos 40 pessoas foram retiradas com vidas dos prédios atingidos pelas chamas. Cerca de 30 pessoas que ficaram presas no segundo andar de um prédio gritavam desesperadamente por ajuda, enquanto o fogo consumia o primeiro andar. Os bombeiros puderam resgatá-las a tempo, antes que o local fosse atingido pelo fogo.

AGRAVAMENTO DO PROBLEMA
De acordo com o chefe dos bombeiros, comerciantes locais agravaram o problema ao trancar suas lojas para evitar saques. Alguns donos de lojas morreram em seu interior depois de trancá-las.

Foto: A seta amarela indica a posição do transformador que provocou o arco voltaico.

ARCO VOLTAICO PRODUZ TRAGÉDIA
67 pessoas que estavam observando o fogo consumir a “Galeria Mina de Oro” foram eletrocutadas. Elas estavam próximas ao local, quando as chamas atingiram a rede elétrica e produziu um “arco voltaico”.
Quem estava próximo ao arco voltaico foram atingidos por uma descarga de 3.000 volts. Vários veículos também foram atingidos pelo arco voltaico e incendiaram se.

PÂNICO E TRAGÉDIA
Muitas pessoas morreram asfixiadas nos andares superiores dos prédios. Outras morreram depois de se arremessarem do telhado para tentar escapar das chamas.
Cerca de dez pessoas que ficaram presas atrás de barras de segurança no segundo andar de um prédio estendiam os braços através de vidros quebrados e pediam aos gritos para serem salvas.
Grande parte dos mortos é de comerciantes que se trancaram em suas lojas para evitar que fossem saqueadas. “Isto aqui virou um inferno”, disse Juan Chávez, um comerciante.
“Muitas pessoas desesperadas saltaram das janelas dos prédios tentando uma salvação impossível ou, pelo menos, em busca de uma morte menos dolorosa”, acrescentou.

Muitas crianças que foram com os pais comprar fogos de artifício para comemorar a passagem do ano estão entre as vítimas.
José Fernández Vega, 31, sofreu queimaduras nos braços, no rosto e nas orelhas. Quando o incêndio se iniciou, ele estava fazendo compras. Ao tomar conhecimento do que se passava, começou a correr para tentar salvar sua vida. Mas, ao alcançar a saída, encontrou a rua bloqueada por carros e por gente que fugia. Fernández Vega disse que teve de saltar sobre três ou quatro carros em chamas para escapar.
Alguns moradores locais e comerciantes culparam a quantidade excessiva de ambulantes nas ruas, incluindo vários que vendem fogos de artifício ilegalmente nas ruas.
"Já houve alguns incêndios aqui. A região, "Era uma bomba-relógio“, afirmou David, segurança do centro comercial. Ele disse que o fogo se espalhou extremamente rápido e que havia muitos carros na rua, o que dificultou a fuga das pessoas. ”É um pesadelo. Isso não podia ter acontecido“, afirmou.

DANOS MATERIAIS:
Estimativa: US$ 10 milhões de dólares
Foram destruídas: 12 lojas, cinco centros comerciais, vários depósitos e prédios residenciais. Cerca de 4.500 trabalhadores perderam seus empregos.

VÍTIMAS E SOBREVIVENTES
Autoridades disseram que havia poucas esperanças de encontrar mais sobreviventes nos edifícios danificados, onde, segundo bombeiros, a temperatura atingiu 600o C.
Pelo menos 289 pessoas morreram, 160 com ferimentos (queimaduras) foram atendidas em hospitais, 50 com queimaduras graves foram hospitalizadas. Há 35 desaparecidos, informou o coronel Rubén Ibáñez, diretor da 2.ª Região do Instituto Nacional de Defesa Civil (Indeci). Corpos irreconhecíveis de tão carbonizados ficaram espalhados pelas ruas e prédios.
Dados mais atuais de 2008 indicam:
■ 277 pessoas morreram
■ 247 feridas, sendo 137 sofreram queimaduras, 45 com intoxicação de fumaça, 38 politraumatismos, e
■ 180 desaparecidos.

CONTROLE DO INCÊNDIO
Os bombeiros levaram pelo menos seis horas para debelar o incêndio.

RESISTÊNCIA À PROIBIÇÃO DE FOGOS
As autoridades municipais tentaram várias vezes acabar com as venda de fogos de artifício no centro histórico da cidade, mas sempre encontraram forte resistência por parte dos comerciantes. A imprensa também vinha alertando para o perigo de uma catástrofe numa região super-povoada e carente de esquemas de segurança. As ruas, antigas, são muito estreitas, o que torna praticamente impossível uma retirada rápida
“O Peru importou cerca de 940 toneladas de fogos de artifício neste ano. Sem contar os ilegais”, disse o chefe dos bombeiros.

PROIBIÇÃO DE FOGOS
O presidente do Peru, proibiu a produção, a importação e a venda de fogos de artifício no país depois de percorrer a região de Lima atingida pelo incêndio.

TRAGÉDIAS
Na última década ocorreram vários incêndios de grandes proporções no superpovoado centro de Lima - geralmente na mesma época das festas de fim de ano e tendo como causas à manipulação e comercialização irregulares de fogos de artifício em estabelecimentos sem segurança localizados em zonas muito movimentadas e a tradição peruana de festejar o fim de ano com fogos.
Estes foram os mais graves, ocorridos no centro histórico da capital peruana, perto de zonas comerciais e do Palácio do Governo:

1.º de janeiro 2000
Um armazém de três andares com diversos tipos de mercadorias fica reduzido a cinzas num incêndio que ameaçou todo um quarteirão de casarões de adobe e quincha (tijolos de barro e palha).

28 de dezembro 1998
Um foguete de assobio aceso para demonstração a um freguês dá origem a um incêndio em cadeia numa galeria comercial, que deixa sete mortos.

1.º de janeiro 1993
Um incêndio no populoso centro de feiras Polvos Azules reduz a escombros mais de 1.500 postos de venda. Nove pessoas, incluindo um bombeiro, ficaram feridas.

5 de dezembro 1991
A explosão de um foguete provoca um incêndio na Rua Andahuaylas, onde se encontra o mercado central de Lima, causando a morte de 12 pessoas e a destruição de uma centena de estabelecimentos comerciais.

Fonte: Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, no período de 30 a 31 de dezembro de 2001 e La República (Peru), no período de 31 de dezembro de 2001 a 8 de janeiro de 2002-02-21

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posted by ACCA@5:06 PM