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segunda-feira, julho 05, 2010

Garoto é soterrado em silo

Tudo começou às 10h30 de sábado, 13 de setembro de 2003, quando o garoto José Neto e alguns amigos resolveram brincar no armazém graneleiro da empresa Terra Forte Armazéns Gerais, em Petrolina de Goiás, a 74 km de Goiânia, localizado no quilômetro 1 da GO-330, saída para Santa Rosa. A turma deslizava pela montanha de grãos quando o amigo desapareceu, tragado por um dos dutos que dão acesso ao túnel onde os caminhões estacionam para carregar. Uma funcionária do armazém foi acionada e chamou a polícia.

CRONOLOGIA DO INCIDENTE:
■ O soldado Éliton foi a primeira pessoa a entrar em contato com o adolescente. “Ele estava apavorado, sentindo muitas dores e pedia para ser retirado de lá”, contou o militar, que conseguiu acalmá-lo e pediu socorro ao Corpo de Bombeiros de Anápolis.
■ Às 13h30, dez bombeiros em três veículos assumiram a tarefa de tentar salvar o garoto. Com muita dificuldade, chegaram perto do menino e passaram a ministrar-lhe oxigênio. A operação mobilizou toda a cidade e dezenas de voluntários se prontificaram a ajudar.
■ Remoção do milho - A missão era remover as dezenas de toneladas de milho que estavam sobre a vítima. Para isso foram utilizadas três pás-carregadeiras e dezenas de latas.
■ Às 20h40, José Neto foi retirado do duto. Abatido, o garoto reclamava de dores por todo o corpo. Assim que foi colocado na maca e foi transportado para o Hospital de Urgência de Goiânia (Hugo), onde permanece internado.
Sobrevivência
José Neto só sobreviveu porque, ao ser sugado por um dos dutos, estava de cabeça para baixo e ficou entalado. Com dezenas de toneladas de grãos a pressioná-lo para baixo, ele não tinha como se mover. Pelo duto os bombeiros conseguiram manter seus sinais vitais fornecendo-lhe oxigênio. Foram gastos oito cilindros durante o resgate.

CORPO DE BOMBEIROS E VOLUNTÁRIOS
Dez homens do Corpo de Bombeiros de Anápolis, com apoio de cem voluntários e de oito policiais militares participaram da operação de resgate, que começou por volta das 11 horas e terminou quase dez horas depois.

ESTADO CLÍNICO DO GAROTO
O adolescente sofreu fratura no braço direito, contusão lombar na coluna, contusão no pescoço e ferimento na perna esquerda. Internado no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), o garoto estava na UTI em estado grave.
O boletim médico, divulgado às 20 horas, 14/09, relatava que o quadro era grave, mas estável, e que o paciente encontrava-se em estado de confusão mental.

O GAROTO NÃO RESISTIU AOS FERIMENTOS:
O garoto não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) no início da madrugada de segunda-feira, 15/09. Uma junta médica fez de tudo para salvar o garoto, até amputando seu braço direito gangrenado, mas ele acabou morrendo diante da falência de vários órgãos.


COMO O GAROTO FOI SOTERRADO
1-O garoto estava brincando sobre o milho. Foi sugado no momento em que os caminhões eram carregados com grãos.
2- A pressão de toneladas de milho e do duto aberto, fez com que o garoto deslizasse em direção a abertura de escoamento do milho.
3- O garoto ficou preso pelos ombros no interior do duto, por onde passam os grãos. Apenas sua cabeça ficou do lado de fora.
4-Os operários e voluntários retiraram os grãos com pás-carregadeiras e latas, até conseguirem libertar o garoto. Devido a posição da cabeça do garoto, foi possível levar oxigênio. Ele recebeu 8 cilindros de oxigênio.

Fonte: O Popular – Goiânia, 15 e 16 de setembro de 2003

COMENTÁRIO:


TIPOS DE ACIDENTES EM SILOS
As ocorrências mais comuns são afogamento e sufocamento. As vítimas são submetidas à asfixia mecânica por ação da massa de grãos. Sendo que no primeiro caso as vitimas são arrastadas enquanto no segundo as vitimas são encobertas.


AFOGAMENTOS
Em casos da ocorrência de superfícies horizontais, conforme a Figura 1, estas poderão entrar em colapso caso um indivíduo às utilizem como ponto de apoio. Ocorrendo o colapso a vitima é tomada pela massa de grãos. Caso esta não seja removida rapidamente poderá entrar em óbito. Desde modo, é recomendado que a camada superior da massa de grãos nunca seja utilizada como ponto de apoio, pois não há como prever os riscos destas afundarem.



DESCARREGAMENTO DE SILOS
Afogamentos também podem ocorrer no descarregamento de silos. Nestes casos, o fluxo de grãos apresenta por perfil o demonstrado na Figura 2. Sendo que na parte central é que se tem maior velocidade de deslocamento massa de grãos.
Caso um indivíduo inadvertidamente apoie-se sobre a massa de grãos em movimento, este poderá ser arrastado e afogar-se em poucos minutos. Portanto, são recomendando o desligamento e bloqueio dos equipamentos de transporte de grãos quando operários estiverem dentro de silos.


SUFOCAMENTO
Operários ao tentarem romper as superfícies horizontais e, ou, remover as placas verticais de produtos compactados, estando posicionados sob estas, Figura 2, podem ser sufocados mediante ao desmoronamento da massa de grãos. Desde modo, caso não sejam removidos rapidamente óbitos podem ocorrer.





CARREGAMENTO DOS SILOS
Outra forma de sufocamento dá-se quando do carregamento dos silos. Neste caso, se os equipamentos de transporte de grãos forem inadvertidamente acionados, estando um indivíduo dentro de um silo este poderá ser sufocado em um período de tempo menor que 10 minutos.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO
As medidas a serem citadas aplicam-se para evitar afogamento e sufocamento em silos armazenadores, podendo ser estendidas a outros tipos de estruturas de acondicionamento de grãos como: moegas, silos-pulmão, silos de expedição e armazéns graneleiros. São também aplicáveis ao manuseio de materiais granulares, particulados e pulverulentos como: carvão, areia, cimento, sal, farinhas e rações.
PORTANTO, AO ADENTRAR EM SILOS SÃO RECOMENDADOS:
■ paralisar a carga e, ou, descarga de produtos;
■ desligar a alimentação de energia elétrica dos equipamentos de transporte de grãos;
■ fechar os registros de carga e descarga dos silos;
■ utilizar meios físicos para bloquear o acionamento dos equipamentos de transporte de grãos de forma inadvertida;
■ equipar os operários com cintos e, ou, coletes de segurança. E estes devem ser atados a cabos, que preferencialmente sejam tracionados por carretilhas mecânicas que permitam a rápida elevação dos indivíduos em casos de acidentes;
■ ventilar o ambiente do silo para remover gases tóxicos e renovar o ar;
■ evitar o acesso de pessoas estranhas, principalmente crianças, desacompanhadas de pessoas que conheçam as normas de segurança; e
■ fixar a avisos alertando os perigos de ocorrência de afogamento e sufocamento.
Fonte: Prof. Luís César Silva - Universidade Estadual do Oeste do Paraná

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