Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

domingo, maio 23, 2010

Inferno na fábrica

O incêndio que começou por volta das 16 horas, em 26 de agosto de 2002, destruiu a fábrica de solventes Luztol Indústria Química Ltda., localizada na BR-153, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia, e levou medo aos moradores vizinhos.

Foto: Fumaça densa no início do incêndio e início muito provável, da vaporização de solventes superaquecidos (bola de fogo, flash fire)



CHAMAS E LABAREDAS
As chamas atingiram cerca de 40 metros de altura e a grossa coluna de fumaça preta pôde ser vista de vários pontos da Grande Goiânia. Das 18 horas até por volta das 20 horas o local foi sacudido por várias explosões. Mas não houve informações sobre vítimas.

INTERDIÇÃO
A BR-153 foi interditada nos dois sentidos, causando engarrafamento de cerca de 10 quilômetros, conforme a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Durante o incêndio, quatro quadras da área próxima à fábrica foram interditadas. As pessoas foram orientadas pela Defesa Civil a deixar suas casas e a energia foi desligada. Por volta das 23 horas, a situação já havia sido controlada e os moradores tinham sido autorizados a retornar para suas residências.


Foto: Muito provável , a vaporização de solventes superaquecidos (bola de fogo, flash fire)

CORPO DE BOMBEIROS
Praticamente todo o efetivo – cerca de 80 homens, seis carros do Corpo de Bombeiros e 10 caminhões-pipa do Corpo de Bombeiros de Goiânia, Aparecida, Trindade e Senador Canedo foi deslocado para o combate ao incêndio.
Cento e sessenta policiais militares de Aparecida de Goiânia e da capital deram apoio aos bombeiros.

FOGO DEBELADO
O fogo foi debelado por volta das 22h30 horas, ficando os bombeiros restritos ao trabalho de rescaldo, para evitar o aparecimento de novos focos. O trânsito foi liberado no sentido Goiânia–Hidrolândia às 21h45 e o trecho de acesso a Anápolis, às 23 horas.

ÁREA DE TANCAGEM
O maior desafio dos bombeiros, nesse que foi um dos maiores incêndios já ocorridos na região metropolitana de Goiânia, foi resfriar os nove tanques com cerca de 300 mil litros de produtos altamente inflamáveis, como solventes e verniz, instalados a poucos metros do foco das chamas.

EVACUAÇÃO DA VIZINHANÇA
Ao constatar que o incêndio ocorria em uma fábrica de material altamente inflamável, o Corpo de Bombeiros tratou de evacuar as empresas vizinhas e dois motéis que ficam em frente. Centenas de moradores vizinhos correram até o local para ver de perto o espetáculo das chamas. A cada explosão – foram quatro em menos de uma hora – a correria era geral.
Ao lado da Luztol, outras três indústrias de produtos químicos corriam o risco de ser atingidas pelas chamas, tornando o incêndio de proporções bem maiores.
Os bombeiros isolaram uma grande área próxima à indústria – incluindo casas e estabelecimentos comerciais da Vila Brasília, do Bairro Santo Antônio e Vila Sul – para proteger moradores e transeuntes.

RISCO DE CATÁSTROFE
Segundo informações de um funcionário da fábrica, disse à polícia que havia solvente suficiente para queimar até as 22 horas. Numa previsão catastrófica, ele declarou que, se os tanques explodissem, todos os prédios num raio de 100 metros iriam pelos ares. A dimensão das chamas impedia qualquer tentativa de debelar o fogo.

ESCOAMENTO DE SOLVENTE PELA REDE DE ESGOTO
Às 17 horas, grande quantidade de solvente escorreu pelo esgoto da Rua 20, na Vila Brasília, que passa nos fundos da fábrica, provocando outra explosão. Tampas de concreto dos bueiros da rua foram jogadas longe, até uma nas proximidades do Afrodite Motel, que fica a quase 500 metros de distância do incêndio. Houve pânico entre os moradores vizinhos e muitas pessoas deixaram suas casas às pressas. Também na BR-153, cerca de 100 metros abaixo do local do incêndio, houve explosões nas bocas-de-lobo, por causa do material inflamável que escorria pelas galerias pluviais.

RISCO DE AGLOMERAÇÃO DE PESSOAS
Muitos curiosos se juntaram nas proximidades da indústria para assistir ao espetáculo. Policiais militares e bombeiros tentavam convencê-los a recuar, já que o fogo atingiu as redes elétricas e de esgoto, e havia grande probabilidade de que toda área, em um raio de um quilômetro, voasse pelos ares.
Novamente o grande número de curiosos se dispersou em debandada geral, para fugir do fogo que brotava dos bueiros e espalhava calor. Foi quando centenas de pessoas começaram a correr sem rumo, ciclistas se chocavam com carros e motos e muitos pulavam sobre os veículos parados no meio do congestionamento.

INTOXICAÇÃO
O cheiro de solvente tomou conta de extensa área no entorno da empresa atingida pelo incêndio. O odor era tão forte que alguns policiais militares do 8º Batalhão começaram a passar mal sentindo náuseas, tonturas e ardor nos olhos.

ATIVIDADE DA LUZTOL INDÚSTRIA QUÍMICA LTDA.
A empresa tem 40 empregados e gera outros 20 empregos indiretos. A empresa, que pertence a Karluz Silva e Tadeu Luz Silva, trabalha com solventes e vernizes.
A Luztol está instalada numa área de 8 mil metros quadrados, no quilômetro 8 da BR-153, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia.
Durante o incêndio, os proprietários foram para o local acompanhar o trabalho do Corpo de Bombeiros. Eles planejavam a transferência da empresa para o Pólo Empresarial Goiás, também em Aparecida, onde a sede ocuparia uma área de 21 mil metros quadrados. Outro plano era dar início à fabricação de tintas.

Foto: As setas mostram a área de tancagem que não foi envolvida pelo incêndio.

ORIGEM DO FOGO
O funcionário José Raimundo Ribeiro, do setor de produção da Luztol Indústria Química Ltda., disse que o fogo começou no galpão, onde havia 50 tambores com 200 litros de solvente cada um. “Eu e um colega ainda tentamos apagar as chamas com uma mangueira, dessas usadas pelos bombeiros, mas o fogo se espalhou rápido e tivemos de sair correndo”, relata. José Raimundo lembra que foi um dos últimos a sair, quando os bombeiros já haviam chegado. “Teve gente que pulou o muro da fábrica na hora do medo.” O funcionário lembra que há cerca de dois anos houve um princípio de incêndio na Luztol, mas foi controlado ainda no início.

CAUSA PROVÁVEL
A falta de aterramento aliada à baixa umidade da região provocou este tipo de ocorrência.

RELATOS, PÂNICO E EVACUAÇÃO DOS PRÉDIOS PELOS BOMBEIROS
O comerciante Leonardo estava na casa de um amigo quando ouviu a primeira explosão. Ao sair, viu uma coluna de fumaça preta subindo. “A informação era de que a explosão havia sido provocada por um curto-circuito”, afirmou, acrescentando que em poucos minutos os bombeiros chegaram e bloquearam o trânsito na BR-153. O passo seguinte foi evacuar os prédios vizinhos.
A dona Aparecida que trabalha bem em frente à fábrica, disse que só ficou sabendo que alguma coisa grave estava acontecendo quando os bombeiros chegaram para retirar funcionários e clientes às pressas. “Quando vi o tamanho da coluna de fumaça fiquei preocupada, pois no motel há grandes reservatórios de gás e caldeiras. Se as chamas atingissem o prédio poderia ocorrer uma grande tragédia”, assinalou. Segundo ela, algumas colegas de trabalho entraram em pânico, mas foram tranqüilizadas pelos bombeiros.
O bloqueio da BR-153 acabou tumultuando o trânsito nos bairros adjacentes, que passaram a receber o tráfego pesado da rodovia. O vaivém de carros da polícia e dos bombeiros aumentou ainda mais o caos na região. A PM tentava pôr um pouco de organização no tráfego. As ruas dos bairros deixavam lento o escoamento do grande número de carros, carretas e caminhões desviados da BR.

VIZINHOS RELATAM PÂNICO DO INCÊNDIO
Durante o incêndio, os moradores das proximidades da fábrica tiveram de abandonar suas casas, pois o risco de explosões era muito alto. Segundo depoimentos dos próprios moradores, o pânico foi geral. A onda de calor também podia ser sentida a muitos metros de distância do foco.
A dona de casa Maria José, que mora na mesma rua onde se localiza a empresa Luztol, estava na cozinha quando ouviu o primeiro estrondo. “Acho que era umas 16h30. Graças a Deus e aos bombeiros, as chamas não ultrapassaram o outro lado, que fica em frente à minha casa. Não iria sobrar nada.”
Maria José conta que houve um pânico generalizado dos moradores. “Era gente correndo pra todo lado, com muito medo das explosões. Saí correndo com meus filhos, netos e noras. Passei muito mal, pois sofro de pressão alta. Precisei tomar remédio.”

CALOR INSUPORTÁVEL E EXPLOSÃO
Flávia Cândida moradora do Residencial Florença, Jardim Bela Vista, conta que mal chegara em casa e já teve de sair correndo junto com o marido. “Os bombeiros orientaram todos os moradores a abandonarem as casas. Todos estavam em pânico. Rezamos muito para que nada de mais grave pudesse acontecer.” Flávia conta que o chão tremia no momento das explosões.
Flávia disse que quando ainda estava no Setor Urias Magalhães, em Goiânia, já podia avistar a fumaça preta que se elevava no horizonte. “Quando fui chegando próximo de casa, o cheiro de thinner era insuportável. Pensei que algum caminhão tivesse pegado fogo.”

FOI UM HORROR
Edemir Sales, gerente de uma empresa de transportes localizada atrás da Luztol, conta que assim que viu as primeiras chamas, avisou os seis funcionários que trabalhavam no local. “Todos saíram correndo. Não deu tempo nem de fechar as portas da empresa. O desespero dos moradores foi total. Um passava por cima do outro. Foi um horror.”
Na opinião de Edemir, o trabalho do Corpo de Bombeiros foi fundamental para que as chamas não se alastrassem ainda mais. “Os bombeiros são os heróis do fogo. Se não fossem eles, estaríamos perdidos.”

FUMAÇA SÓ CAUSA DOR DE CABEÇA
A fumaça emitida pelo incêndio na fábrica de solvente Luztol poderá causar, no máximo, dores de cabeça nos moradores de regiões próximas. Essa é a principal conseqüência prevista pelo subdiretor da Defesa Civil, Luis Roberto Ferreira Lopes, para a grande emissão de monóxido de carbono na combustão dos produtos.
A combustão do solvente libera monóxido de carbono, que causa dor de cabeça e até perda de consciência momentânea, se inalado em grande quantidade. A explicação é do médico Alonso Monteiro da Silva, do Centro de Informações Toxicológicas (CIT). Ele lembra que, nesta época do ano, a fumaça leva mais tempo para se dissipar, o que pode ocasionar estes problemas.
O subdiretor da Defesa Civil descarta o risco de grandes intoxicações. Segundo Lopes, a direção do vento durante o incêndio fez com que a fumaça fosse levada para longe das regiões habitadas, evitando a intoxicação. Por isso, explica Luís Roberto, não foi necessário manter a área interditada. No final da noite depois de controlado o incêndio, o cheiro forte e a fumaça ainda podiam ser percebidas na região vizinha à fábrica.

EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA
O diretor-técnico do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Paulo Rocha Arantes, não soube precisar o número de fábricas existentes em Goiânia com alto risco de explosões. Segundo ele, todo estabelecimento necessita de certificado de funcionamento expedido pelos Bombeiros.
“É condição para que a empresa funcione”, falou. De acordo com ele, graças à parceria do Estado com os municípios, é possível controlar a liberação de funcionamento. Arantes ressaltou que, antes mesmo de construir uma empresa, o projeto tem de passar pela Diretoria Técnica do Corpo de Bombeiros.
O diretor-técnico diz que existem ainda os estabelecimentos clandestinos. “Não temos controle sobre eles”, disse. Segundo Arantes, se o estabelecimento estiver irregular, uma equipe, se for o caso, faz a interdição, paralisa as atividades ou remove materiais perigosos.
O comandante do Segundo Subgrupamento de Incêndio (2º SGI) de Aparecida de Goiânia, tenente José Borges Filho, informou que a Luztol Indústria Química Ltda apresentava todos os dispositivos de segurança necessários, como extintores de incêndio, rede interna de hidrantes e bacias de contenção em caso de vazamentos.

RETORNO ÀS ATIVIDADES
A Luztol Indústria Química Ltda., só deve retomar suas atividades daqui a seis meses. Esse será o tempo gasto para a construção da nova sede da empresa, afirma Karluz Silva, um dos proprietários da fábrica de solventes.
A mudança de endereço já estava programada, mas ainda não tinha data certa para se concretizar. Com a destruição de praticamente toda a atual sede, as obras do novo prédio serão aceleradas. A empresa será transferida para uma área de 21 mil metros quadrados, localizada no Pólo Empresarial Goiás, também em Aparecida de Goiânia.

PREJUÍZO
Um dos proprietários da Luztol Indústria Química Ltda., Tadeu Luz Silva, disse que os prejuízos podem chegar a R$ 3 milhões (US $ 1.000.000,00). Desolado, Tadeu afirmou que a empresa está no seguro, mas que o contrato só cobre pequena parte do patrimônio da fábrica. Ele não sabia dizer o que poderia ter provocado o incêndio e descartou a hipótese de fagulha produzida por energia estática. “Seguimos todas as normas de segurança. Foi uma fatalidade”, lamentou.

SEGURO PARCIAL
Um dos proprietários, Karluz visitou o local do incêndio. A imagem é de total destruição. Agora, é partir para a reconstrução. Karluz lembra ainda que a vistoria da seguradora, o seguro cobre 50% do valor da fábrica, ainda está sendo aguardada.

PERÍCIA
O perito criminal Roberto Pedrosa, que comandou a vistoria nas instalações da fábrica, acredita que a hipótese mais provável para a causa do acidente é a formação de cargas estáticas, que deram origem a labaredas. “No local, havia o manuseio de líquidos inflamáveis que carregam cargas estáticas. Um funcionário relatou que estava manuseando um solvente e, durante o movimento de uma lata para outra, sentiu a lata quente e um estalar”, conta.
Pedrosa recolheu as duas latas utilizadas pelo funcionário. “Examinei todo o prédio e não encontrei nenhuma outra possibilidade”, frisa o perito.

CONSUMO DE MATERIAL INFLAMÁVEL PELO FOGO
De acordo com o tenente Pedro Carlos, foram consumidos pelo incêndio seis tanques de thinner, querosene, acetato de etila, álcool e tolueno. O assessor de Comunicação do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Siqueira, acredita que, dos 500 mil litros de líquidos diversos existentes na fábrica, 300 mil foram salvos das explosões devido à ação rápida dos bombeiros.

RETIRADA DE PRODUTO QUÍMICO E TERRA CONTAMINADA
Pela manhã, a equipe do Corpo de Bombeiros fez a retirada de todo o material químico (tolueno, um solvente bastante volátil) que vazou para o exterior da fábrica durante o incêndio. A terra utilizada para conter o vazamento foi misturada ao solvente e removida. O chefe de operações da Defesa Civil, tenente Pedro Carlos Borges de Lira, informou que o material de alta periculosidade que ainda se encontrava na empresa seria retirado pelos proprietários.

Fonte: O Popular (Goiânia), Diário da Manhã (Goiânia) e Folha de São Paulo, no período de 26 a 28 de agosto de 2002

COMENTÁRIO:
Fator ambiental que propicia a eletricidade estática
De acordo com o Ministério de Agricultura, os meses de junho, julho, agosto e setembro, as condições climáticas, especialmente em relação à umidade relativa do ar reduzem consideravelmente no período, representando risco à propagação não controlada do fogo, provocando queimadas ou incêndios florestais, com prejuízos consideráveis ao produtor rural e à sociedade.
A umidade no Centro-Oeste reduz a 40%. Dependendo de eventos macro-climáticos periódicos ou eventuais, podem descer ainda mais, a exemplo de Brasília, onde atingem menos de 15%.
A geração de cargas estáticas pode ocorrer de muitas maneiras. Entre elas podemos citar eletrização por contato, eletrização triboelétrica, eletrização por indução, etc. Compreendendo os mecanismos da eletrização estática, é mais fácil evitar o aparecimento das cargas estáticas, ou então reduzi-las a níveis seguros.
Dentre todos os processos de geração de carga estática, o mais comum é o carregamento triboelétrico, o qual é causado pelo atrito entre duas superfícies. A eletrização triboelétrica se refere à transferência de cargas devido a contato e separação de materiais. A quantidade de carga gerada por esse processo depende de muitos fatores, como a área de contato, pressão de contato, umidade relativa, velocidade com que uma superfície é atritada sobre a outra.
Cargas eletrostáticas formam-se sempre que duas superfícies de contato entram em movimento relativo. Por exemplo, quando um líquido escoa em contato com as paredes da tubulação, partículas líquidas ou sólidas movem-se através do ar, ou quando um homem anda, levanta-se de um assento ou remove peças de seu vestuário. Cargas elétricas fluem rapidamente para a terra assim que se formam, mas se carga é formada em material não condutor ou em superfície não aterrada, então ela pode permanecer no local por certo tempo. (Trevor A. Kletz)

Marcadores: , ,

posted by ACCA@4:26 PM

2 Comments:

At 4:07 PM, Anonymous Anônimo said...

Eu trabalhava na cosplatic bem ao lado foi muito assustador esse acidente tivemos que tirar as reservas de solvente que estava dentro da fábrica porque avia um grande risco das chamas atingir toda a quadra, tambores de solvente que explodiam e saia labaredas de fogo de dentro dos esgotos eu pensei que seria o fim de todos nós muito pânico

 
At 4:26 PM, Anonymous Anônimo said...

Eu trabalhava na cosplatic bem ao lado foi muito assustador esse acidente tivemos que tirar as reservas de solvente que estava dentro da fábrica porque avia um grande risco das chamas atingir toda a quadra, tambores de solvente que explodiam e saia labaredas de fogo de dentro dos esgotos eu pensei que seria o fim de todos nós muito pânico

 

Postar um comentário

<< Home