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domingo, abril 11, 2010

Incêndio destrói depósito de gás

Um incêndio iniciou às 14h, 26 de agosto de 1991, de causas desconhecidas e uma seqüência de explosões destruiu o depósito e a plataforma de engarrafamento da Ultragaz localizado no bairro da Mooca, São Paulo.
O fogo ficou concentrado no setor onde estavam depositados 3.500 botijões de 13 Kg, além de centenas de cilindros de 45 e 90 Kg de uso industrial e que armazenavam mais de duas toneladas de gás.
Depois da primeira explosão, houve uma série de outras explosões provocadas pelo calor de 950 ºC que atingiu os outros vasilhames. Alguns, principalmente os de 45 e 90 quilos, foram arremessados a vários metros de distância.

OS CILINDROS VOARAM COMO MÍSSEIS
Ao explodirem, dez dos cilindros voaram como mísseis caindo sobre casas e fábricas localizadas até a 300 m de distância.

PLANO DE EMERGÊNCIA DA EMPRESA EM AÇÃO
Imediatamente após o incêndio iniciaram os procedimentos de emergência:
■ Ação da brigada de incêndio formada por onze funcionários, cada um em uma posição chave;
■ Evacuação de todo o restante do pessoal;
■ Retirada de todos os veículos internos;
■ Acionamento do plano de auxílio mútuo que foi montado em 1990 envolvendo 15 empresas da região, dentre elas, Antarctica, Tubos Tigre, Cia. União, Esso, Arno, Linhas Correntes, para combater eventuais acidentes.
■ Acionar o Corpo de Bombeiros com quem a Ultragaz mantém estreito vínculo e treinamento em conjunto.

BRIGADA DE INCÊNDIO E CORPO DE BOMBEIROS
A primeira providência dos funcionários da empresa foi fechar as válvulas que ligam a plataforma atingida aos seis reservatórios de 60 toneladas de GLP cada.
Quando as 20 viaturas do Corpo de Bombeiros chegaram, 15 minutos depois, os 35 homens da brigada de incêndio da empresa já combatiam as intensas labaredas. "A atuação deles evitou uma catástrofe", afirmou o Coronel Silas Sendin.
Segundo o major Alberto Rodrigues do Amaral, que comandou os 120 homens do Corpo de Bombeiros empregados no combate ao incêndio, a maior preocupação foi isolar os seis tanques com 360 toneladas de gás que compõem o reservatório da Ultragaz. Instalados a menos de 50 metros do foco principal do incêndio, os tanques foram resfriados com água durante mais de três horas. "Fizemos uma cortina de água sobre esses tanques que estavam próximos do incêndio", explicou o Coronel Sendin. "Usamos a mesma técnica para resfriar a plataforma, pois é impossível apagar o fogo com vazamentos de GLP".
O Coronel Sendin garantiu que o Terminal da Mooca é um local seguro, usado inclusive para treinamento de soldados do Corpo de Bombeiros. Coincidência ou não, 32 alunos do Centro de Ensino e Instrução da corporação participaram de um desses treinamentos na parte da manhã do dia do acidente, que terminou duas horas antes do incêndio.

SISTEMA DE SEGURANÇA DOS TANQUES
Nilcio José de Araújo, foi chefe do setor de segurança da Ultragaz (ocupa o cargo de gerente de promoções e eventos), afastou a possibilidade de esses tanques explodirem. "Entre os tanques e o setor de engarrafamento existem várias válvulas de segurança que se fecham automaticamente", explicou. Mesmo que um deles tivesse se incendiado, não teria explodido, disse Araújo "Existem nebulizadores para resfriar esses tanques e um sistema de vazão de gás que diminui a pressão e evita explosões", garantiu.

INTERDIÇÃO DE RUAS NUM RAIO DE 2 KM
Toda a área industrial da região – onde existem tanques de combustível da Esso e da Shell – foi isolada e várias ruas num raio de 2 quilômetros quadrados ficaram interditadas. Os moradores da região foram removidos pela Polícia Militar.

VIZINHANÇA, TESTEMUNHA DA EXPLOSÃO
Moradores da região e operários das fábricas vizinhas foram afastados cerca de 500 metros antes de as explosões começarem. "Foi essa retirada que salvou vidas", disse Ivone Capuano, proprietária da Fábrica de Panelas Clock, localizada na mesma rua. A indústria teve uma parede atingida por um cilindro e parte do telhado.
A rápida retirada faz parte de um programa comum de combate a incêndios desenvolvidos por 15 empresas da região.
Nove carros estacionados na rua Cadiriri foram atingidos pelas explosões e quatro ficaram totalmente carbonizados.
"Ouvimos as primeiras explosões 20 minutos depois de o fogo estar alto", disse Luiz Carlos D'Angelo, gerente de vendas da Fopame Materiais Siderúrgicos, localizada em frente ao depósito da Ultragaz.
"Um botijão de 90 quilos fez um rombo de 2m2 no teto e caiu dentro do departamento de informática, onde trabalhavam 10 pessoas", contou Luís Carlos D'Angelo, do setor de vendas da Fopame Materiais Siderúrgicos, outra empresa atingida.
Os moradores das ruas vizinhas a Cadiriri, entretanto, não aceitaram as justificativas da empresa. "É um absurdo a engarrafadora permanecer instalada nesta região", disse
Alexandre Petroni, que mora a 300 metros do depósito da Ultragaz. A casa dos pais de Alexandre foi atingida por um dos botijões e ficou com o telhado completamente destruído. Vitório Petroni, de 91 anos, precisou ser carregado para longe pelos vizinhos.
Rosana Nala, proprietária da Escola Maternal Gotinha de Gente, na mesma rua, também protestou contra o depósito naquele local. No momento do incêndio, 84 crianças entre 4 meses e 6 anos estavam na escola. "Parei um ônibus que passava vazio pela rua para levar as crianças para longe daqui", contou ela. "Foi pavoroso", disse.

CAUSA PROVÁVEL
As causas do início de incêndio serão apuradas por técnicos da Ultragaz e peritos criminais da Polícia Científica. Segundo a Diretoria da Empresa, sabe-se que o problema foi gerado no Sistema de Engarrafamento, não estando relacionado aos botijões.
O sistema "carrossel" de engarrafamento (utilizado no Brasil) é o mesmo usado em todo o mundo, sendo considerado o mais moderno sistema de que se tem conhecimento.

VÍTIMAS:
03 funcionários da Ultragaz sendo um funcionário com queimaduras de segundo grau e os demais com queimaduras leves

DANOS MATERIAIS:
05 caminhões da Ultragaz pegaram fogo, 08 automóveis estacionados na rua foram destruídos pelo fogo e explosão. Dezenas de casas tiveram seus telhados destruídos.

ESTIMATIVA DE PREJUÍZOS:
US $ 1.000.000,00

PARALISAÇÃO DAS OPERAÇÕES:
As operações realizadas pelo terminal, foram direcionadas para outras instalações da empresa, até a total normalização.
O terminal é responsável por 17% do engarrafamento na Grande São Paulo. Foi montado um sistema de emergência para abastecimento usando os terminais do Ipiranga e Capuava (ABC).
A unidade da Mooca, segundo informou o gerente de relações institucionais da empresa, Carlos Machado, tem capacidade engarrafar 12,5 mil botijões de 13 quilos, 724 de 45 quilos e 156 de 90 quilos, num terreno de 16,7 mil metros quadrados.
A empresa garante que não haverá problemas de abastecimento.

SEGURO:
A Ultragaz, segundo informou seu diretor de marketing, tem seguro total, que cobre danos internos, bens de terceiros e responsabilidade civil com operações.
A Ultragaz ainda não tem os números exatos, mas estima-se que o acidente tenha provocado estragos de, pelos menos, US$ 1 milhão. "Esse é o valor de uma plataforma de engarrafamento", alega Welman Curi, diretor industrial da empresa.

Fonte: O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil e Jornal da Tarde, no período de 27 a 29 de agosto de 1991.

Comentário:
Quando a empresa tem um plano de emergência definido, a sua resposta diante da ocorrência de um desastre é imediata, minimizando as conseqüências.
Objetivo do plano de Emergência: Fornecer um conjunto de diretrizes e informações visando à adoção de procedimentos lógicos, técnicos e administrativos, estruturados de forma a propiciar resposta rápida e eficiente em situações emergenciais.
Finalidade do Plano de Emergência:
■ A limitação dos danos é proporcional ao planejamento;
■ Não garante que não ocorra um desastre; entretanto, pode evitar que um acidente de pequeno porte se transforme em tragédia.
Plano de Emergência: Minimização dos danos
■ Restringir ao máximo os impactos numa determinada área;
■ Evitar que os impactos extrapolem os limites de segurança estabelecidos;
■ Prevenir que situações externas ao evento contribuam para o seu agravamento.
Essência do Plano de Emergência
■ Deve ser um instrumento prático, que propicie respostas rápidas e eficazes em situações emergenciais;
■ Deve ser o mais sucinto possível, contemplando, de forma clara e objetiva, as atribuições e responsabilidades dos envolvidos. Fonte: Cepis/OPS

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posted by ACCA@9:30 PM