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quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Profissão: perigo

Como é a vida dos operários que se equilibram a dezenas de metros do chão para executar suas tarefas.
Com a mesma tranqüilidade de quem trabalha atrás de uma mesa de escritório, esses operários se equilibram a dezenas de metros do chão para executar suas tarefas.

Acima, uma linha de alta tensão de 88 000 volts; abaixo, um vazio de l4 metros. Sebastião Granjeiro ainda estava subindo, por isso seu cinto de segurança estava aberto, quando um arame preso ao cinto aproximou-se da linha energizada e provocou a descarga. Na explosão, Sebastião foi atirado para longe, da altura equivalente a um prédio de cinco andares. Ele teve sorte: sofreu queimaduras graves, mas quebrou apenas o dedo mínimo do pé. Dias depois de receber alta do hospital, lá estava Sebastião novamente, colocado em cima de uma torre de alta tensão. Granjeiro, como seus colegas, parece não ter medo das alturas.

Quem não tem medo morre cedo,
Tenho medo, sim. Tive muito medo quando comecei e até hoje, cada vez que subo, tenho medo de novo, lembra Manoel Lima, chefe de Granjeiro no setor de manutenção de linhas de transmissão da Eletropaulo, empresa de energia elétrica paulista. Nós, que trabalhamos lá no alto, temos um ditado: quem não tem medo morre cedo, explica Lima.

Estranha herança genética dos Navajos
Na verdade, o único grupo conhecido até agora que não sofre de vertigem das alturas é a tribo de índios navajos norte-americanos. Devido a essa característica, os navajos têm sido alvos da atenção dos antropólogos e empreiteiros norte-americanos.
Uns, por motivos científicos, para estudar sua estranha herança genética; outros, por motivos econômicos: operários ultra-especializados, os navajos são presença obrigatória em todas as grandes obras nos Estados Unidos. Nas pontes e arranha-céus, eles trabalham tão tranqüilamente quanto se estivessem no chão.

Sem a natural aptidão dos navajos, há quem considere o trabalho a dezenas ou centenas de metros de altura um prazer. Como Leonel Brites, que treina operários que fazem esse tipo de trabalho e já foi duas vezes à Antártida em missões semelhantes a convite da Marinha. Nas horas de folga, Brites é balonista e alpinista.

Os trabalhadores treinados por Brites utilizam uma técnica semelhante à dos alpinistas. Uma vez junto à obra, instalam firmemente seus ganchos e estacas. Da solidez desse equipamento depende a vida, quando balançam no vazio. A todo momento apertam os suportes pessoais, soltam cabos de fio duplo e deslizam em queda quase livre. Um bloqueador de cordas lhes permite ficar com as mãos livres para fazer o trabalho. Até hoje sinto um friozinho na barriga quando estou descendo, conta Aguinaldo Ferreira Guilherme, um desses operários. Mas tenho uma certeza: vou morrer de qualquer coisa, menos de queda.

Normas de segurança
Uma certeza comum a todos os trabalhadores nas alturas; para eles, só cai quem desobedece às normas de segurança. Uma prova disso são seus colegas da França. Lá, ao contrário dos operários que trabalham com os pés no chão, os trabalhadores das alturas não registraram um único acidente nos últimos trinta anos.

Alemanha
Apesar de muito distante da perfeição francesa, a Alemanha é um dos países do mundo com menor índice de acidentes entre os trabalhadores das alturas. Wolfram Kinne, encarregado de consertar o material eletrônico no alto da torre de telecomunicações de Essen, tem uma explicação para o baixo índice de acidentes nesse tipo de trabalho: a boa qualidade do equipamento de segurança. Kinne lembra- se apenas de um acidente, com um rapaz que participava de um exercício de descida de emergência e, tomado pela vertigem, confundiu os dois cinturões de segurança e abriu exatamente o que o protegia.

Os operários dos andaimes nunca cometem esse erro, pois precisam do cinturão de segurança para se moverem melhor, assegura o turco Huseyn Aker, na Alemanha, que manobra diariamente tubos metálicos de 12 toneladas no alto de um prédio em construção. Para Wolfram Kinne, o equipamento de segurança que usa é tecnicamente perfeito, o que o deixa tranqüilo para executar seu trabalho, apesar da falta de espaço e do forte vento, que o faz balançar-se perigosamente.

Fonte: Superinteressante – edição 77





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