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quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Lixo e lama fazem surgir uma ilha na Baía de Guanabara


A combinação das fortes chuvas dos últimos dias com a velha ineficiência do poder público na solução dos problemas ambientais produziu um triste cenário neste verão na Baía de Guanabara,.
Num sobrevôo realizado no início desta semana para o projeto de monitoramento Olho Verde, o biólogo Mário Moscatelli identificou uma enorme ilha formada por lixo, lama e sedimentos, resultado do assoreamento dos rios Iguaçu e Sarapuí. Também encontrou resíduos sólidos sufocando manguezais e esgoto em pontos onde o governo do Estado afirmou já ter feito saneamento, como a Marina da Glória. Moscatelli, que sobrevoa a região mensalmente, ficou impressionado com a degradação da Baía.
Foto - A imagem ampliada mostra uma enorme ilha formada pela lama e o lixo que descem dos rios Sarapuí e Iguaçu;
Fonte: Globo Online – 11 de fevereiro de 2009

Comentário:
A Baía de Guanabara já perdeu 60 quilômetros quadrados, ou 15% da sua superfície, por causa de assoreamento gerado pela degradação ambiental, mostram estudos feitos pelo geólogo Elmo Amador. O pesquisador estima que, em cem anos, um terço da área da baía terá secado.
Estudo realizado pelo geólogo Elmo da Silva Amador mostra que 60 quilômetros quadrados de sua área estão completamente assoreados nas marés secas. São 15,7% de toda a água transformados em lama, por erros históricos do poder público: no passado, devido ao saneamento equivocado dos rios e, hoje, pela maré de esgoto e por montanhas de resíduos que chegam diariamente à baía.

Elmo, autor do livro "Baía de Guanabara e ecossistemas periféricos: o homem e a natureza", chegou ao valor da área já assoreada - equivalente a 50 vezes o Aterro do Flamengo ou a metade de Niterói, depois de atualizar prognósticos feitos na década passada. Na ocasião, ele já apontava a perda de um terço da baía nos próximos cem anos:

As previsões estão mantidas e são conservadoras. A baía perde até cinco centímetros de profundidade por ano em alguns pontos, enquanto o natural seria 18 centímetros por século. Numa atualização, cheguei à estimativa de 60 quilômetros quadrados já assoreados, em situação de maré de sizígia (baixa-mar nas luas nova e cheia). Imagens aéreas revelam entre a Ilha do Governador e o litoral de Caxias uma extensa planície de maré, cortada por alguns sulcos e canais que convergem para um mais profundo com água. O mesmo quadro é observado no litoral de São Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim, Magé e na região do Complexo da Maré.

Sem resultados no desassoreamento e no esgoto, ainda vale na baía a antiga máxima "joga no rio, que o rio leva para o mar", criada pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). A drenagem de rios carreou para o mar sedimentos que jamais sairiam de um leito de curso irregular. E transporta uma carga orgânica que aumenta na proporção do crescimento populacional da Região Metropolitana. Segundo monitoramento da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) feito entre 1999 e 2002, saíram dos rios do entorno da baía até 850 mil toneladas de sedimento por ano, incluindo matéria orgânica.

O esgoto, diz Elmo, contribui sensivelmente para o assoreamento: - A matéria orgânica em decomposição se transforma em lodo e vai para o fundo da baía. É também comum o esgoto servir de alimento para algas, que proliferam excessivamente e, quando morrem, também transformam em sedimento no assoreamento.

Também são causas do assoreamento, afirma o geólogo, os sucessivos aterros na baía (equivalentes a 30% da área existente na época em que foi descoberta), a redução em 68% dos manguezais, a ocupação das margens de quase todos os 55 rios da bacia, o desmatamento de florestas no entorno e, ainda, a ação do mar.

O assoreamento tem impactos na navegação e na atividade portuária, entre outras áreas, mas quem sofre diretamente é o pescador.

Degelo alterou a paisagem há sete mil anos atrás
A Baía de Guanabara seca, afundada em sedimentos, não é apenas uma projeção catastrófica provocada pela velocidade do assoreamento. Era um fato, até sete mil anos atrás. O diretor do Instituto de Geociências da UFF, André Ferrari, explica que somente após o degelo da última era glacial o mar invadiu o golfo:

- Havia uma drenagem dos rios para o mar, mas sem a baía. Os sedimentos mais antigos relacionados ao mar que foram pesquisados no fundo da baía indicam a idade. Como a última era glacial terminou há 15 mil anos, o degelo progressivo causou um aumento do nível do mar e, sete mil anos atrás, surgiu a baía.

A diferença para as projeções futuras é que, no passado sem a baía, o que existia era um estuário formado por lagunas, dunas, restingas, canais e rios. Se mantidas as tendências de assoreamento nos próximos 200 anos, a paisagem será bem diferente, árida e sem vida, como já ocorre hoje em algumas áreas.

Ferrari explica que, 15 mil anos atrás, por causa da era glacial, o nível do mar chegou a ser 120 metros abaixo do atual. Segundo o geólogo Elmo Amador, a inundação do chamado Vale da Guanabara deve ter sepultado registros preciosos da ocupação pré‑histórica do local.

Antes disso, até 50 milhões de anos atrás, o entorno da baía era cheio de vulcões. As erupções ajudaram a formar o relevo da Serra do Mar. Já a Baixada Fluminense foi gerada a partir de um afundamento causado por falhas geológicas.
Fonte: Degradação secou 15% da Baía de Guanabara - Paulo Sérgio Marqueiro - O Globo -janeiro de 2005

Vídeo
Vídeo de junho de 2007, mostra a poluição da Baía de Guanabara.


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posted by ACCA@6:08 PM