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sexta-feira, dezembro 05, 2008

Salva-vidas resgatados por Salva-vidas


Em treinamento para salvar vidas no próximo verão, um grupo de bombeiros e policiais militares esteve perto de se tornar vítima do mar na quarta-feira, à tarde, 3 de dezembro de 2008. Parte da equipe que nadava na praia do Cassino, em Rio Grande, foi arrastada por uma correnteza e teve de ser resgatada do mar por embarcações. Todos se salvaram.

O grupo de 47 homens treinava na praia para atuar como salva-vidas. A equipe e o instrutor entraram na água por volta das 16h para a parte prática do exercício. Com flutuadores e bóias, eles nadavam. Após passarem à arrebentação, acabaram puxados por uma corrente marítima que os conduzia para dentro do mar. Do grupo, 17 conseguiram retornar a nado para a terra, saindo do mar por volta das 17h. Os outros 30 ficaram na água à espera de resgate.

Correnteza forte
Com nadadeiras e uma pequena bóia de plástico, os salva-vidas enfrentaram ondas de até três metros e nadaram mais de 500 metros, além da última das cinco linhas de arrebentação das ondas. Quando tentavam retornar, tiveram uma surpresa: davam braçadas, mas não saíam do lugar. Nadávamos e não saíamos do lugar. A sensação era de que eu era sempre o último do grupo — contou Vagner Gonzales, 28 anos, de Pelotas, explicando a sensação de desespero do momento em que estavam na água. A água estava muito violenta e começou a separar os homens. Uns têm mais velocidade do que os outros, então, resolvemos permanecer juntos, disse José Carlos Rodrigues Martins, 47 anos, de São Gabriel.

Ao ver colegas sem poder dar braçadas, os salva-vidas decidiram se dividir. A maioria ficou junto, boiando em grupos de oito, enquanto 17 retornavam, no braço, até a praia. Um dos que conseguiu nadar para a costa foi o soldado Anderson Arriens, 26 anos. Ele diz que se deixou levar em paralelo ao longo da praia e, quando a corrente perdeu força, nadou em diagonal.
O capitão Riomar dos Santos, 48 anos de idade e 21 como salva-vidas, foi um dos primeiros a chegar à praia. Veterano, acionou o pedido de socorro.

Uma corrente de retorno nos pegou e impedia nossa volta à costa. É exaustivo, se é ruim para a gente, imagina para um cidadão que não tem nossa forma física e nem está acostumado, descreve o capitão Ben-Hur Pereira da Silva, 37 anos, 20 como nadador experimentado.

Ajuda e resgate
Para auxiliar no resgate, foram mobilizados três botes do Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio Grande, da Marinha, uma lancha da praticagem da Barra e os bombeiros do Cassino. O salvamento terminou por volta das 19h. Os homens resgatados passaram por uma avaliação no momento em que chegavam à terra. Para aquecer o corpo, recebiam cobertores.

Hospitalizados
Cinco tiveram de ser levados para o hospital com suspeita de hipotermia. Como passaram quase três horas no mar, eles sofreram queda da temperatura corporal e foram levados ao hospital. Até às 23h, os cinco permaneciam no Pronto Socorro da Santa Casa sem previsão de serem liberados.
A hipotermia ocorre quando o corpo enfrenta baixas temperaturas ambientes por tempo prolongado, o que ocorreu no caso dos salva-vidas porque o mar estava frio.

Salva-Vidas experientes
O instrutor, capitão Riomar dos Santos, explica que, como o grupo era formado por salva-vidas experientes e que estavam com equipamentos, não havia risco de afogamento.
A nossa preocupação é que logo ficaria escuro e seria difícil localizar o grupo. Eles poderiam morrer de hipotermia, diz o capitão, que conseguiu voltar nadando para a beira da praia.
Coordenador de treinamento da Operação Golfinho do Litoral Sul, o major Adilomar Silva explica que, em busca do melhor treinamento, são escolhidos propositalmente dias em que mar esteja mais agitado. A idéia é simular uma situação de veraneio. Infelizmente, a corrente traiçoeira arrastou o grupo para dentro. Fica a experiência, disse.

Como estava o mar
Segundo o relato dos salva-vidas, o mar estava revolto. A corrente arrastava as pessoas para longe da costa O vento sul era, com rajadas, de 50 km/h, considerado forte.

Alerta para os ventos
Um alerta da praticagem da Barra (órgão que controla a entrada das embarcações na barra de Rio Grande), de terça-feira, já avisava sobre a força dos ventos no litoral sul. Por isso, a barra ficou fechada desde as 19h40min de terça-feira até às 15h30min de quarta-feira. Neste intervalo de tempo, embarcações não entraram nem saíram pelo canal.

Fontes: Zero Hora – 04 de Dezembro de 2008 e Jornal Agora - Rio Grande, 05 de Dezembro de 2008

Comentário:
Esse acidente é interessante mostra que qualquer tipo de treinamento em cenário próximo ao real deverá ter uma equipe de prontidão para qualquer tipo de imprevisto, tais como; acidente, indisposição de pessoal, etc. A auto‑suficiência ou a impetuosidade do tipo de treinamento ou desconhecimento do local, em que os lideres acham que controlam todas as variáveis que concorrem para o acidente, é quando acontece o desastre.
Conhecendo o inimigo: Em 400 a.C o general chinês Sun Tzu escreveu um livro sobre “A arte da guerra” e um dos tópicos do livro ele disse "Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada batalha vencida você sofrerá uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...". Ele quis dizer; que a falta de planejamento, falta de conhecimento do cenário ou do local, falta de conhecimentos dos riscos presentes no cenário, tudo isso concorrem para a derrota ou desastre.
No caso do grupo de salva-vidas, concorreram várias falhas durante o treinamento, tais como;
■ Falta de uma equipe de emergência para eventual acidente
■ Falta de bote inflável ou barco no local do treinamento
■ Única informação correta da região de treinamento, que não foi levada em conta, no sentido de precaução durante o treinamento: Alerta da praticagem da Barra (órgão que controla a entrada das embarcações na barra de Rio Grande), avisava sobre a força dos ventos no litoral sul. Por isso, a barra ficou fechada desde as 19h40min de terça-feira até às 15h30min de quarta-feira. Neste intervalo de tempo, embarcações não entraram nem saíram pelo canal.
Eles erraram ao entrar na água gelada, quando havia alerta de ondas grandes e ventos de até 50 km/h?
As falhas humanas são as principais causas dos acidentes, tais como;
■ deficiência de julgamento,
■ de supervisão e planejamento,
■ aspectos psicológicos e
■ indisciplina
Na maioria das vezes a pessoa com muita experiência subestima os riscos latentes.

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posted by ACCA@2:59 PM