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domingo, dezembro 14, 2008

Acidentes de trabalho fatais entre brasileiros em Massachusetts

Os brasileiros compõem o maior grupo de recém-chegados a Massachusetts após 1990. De acordo com dados do Centro de Estudos para Mercados de Trabalho da Northeastern University, entre 2000 a 2003, 19% de todos os novos imigrantes do estado eram brasileiros. Os brasileiros vêm a Massachusetts em busca de trabalho, mas assim como vários outros imigrantes, em comparação a trabalhadores norte-americanos, têm uma probabilidade maior de ser empregados em trabalhos perigosos onde o controle dos riscos é inadequado. Acredita-se também que há outros fatores contribuintes ao risco dos imigrantes sofrerem acidentes de trabalho.
Estes incluem
■ falta de supervisão e treinamento de segurança adequados, geralmente combinados às barreiras lingüística,
■ grau de instrução,
■ falta de informação dos trabalhadores imigrantes sobre padrões de segurança e de saúde e sobre seus direitos legais.
■ longas jornadas, insegurança trabalhista, e discriminação étnica e racial no local de trabalho podem também contribuir ao risco elevado de acidentes de trabalho.

Casos de Acidentes Fatais
Desde 1991, quando o Programa de Vigilância de Saúde Ocupacional (OHSP pelas suas siglas em inglês) do Departamento de Saúde Pública de Massachusetts começou a manter um registro dos acidentes de trabalho fatais, não foi registrada nenhuma fatalidade entre trabalhadores de origem brasileira até 1998. Em contraste, entre 1999 e 2007, 15 trabalhadores de origem brasileira sofreram acidentes de trabalho fatais em Massachusetts.

Construção Civil
■ Um carpinteiro de 42 anos, de uma construtora caiu de uma altura de 6 metros do segundo andar de um prédio residencial.
■ Um montador de telhados de 24 anos, de uma construtora caiu de uma altura de 5 metros do andaime onde reparava as telhas de uma casa.
■ Um carpinteiro de 57 anos, de uma montadora de estrutura de telhado, caiu de uma altura aproximada de 4 metros da varanda do segundo andar de um prédio residencial novo. Ele estava re-instalando as grades da varanda que haviam sido originalmente instaladas de forma incorreta.
■ Um trabalhador de construção de 27 anos, de uma empresa de alvenaria caiu de uma altura aproximada de 39 metros de um andaime que ele e um colega estavam desmontando. O andaime desmoronou quando o último apoio de metal que fixava a estrutura ao prédio residencial foi removido.
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Outras Indústrias
■ Um jardineiro de 36 anos, trabalhando como diarista de uma empresa de paisagismo subiu em uma árvore e estava cortando alguns dos galhos superiores quando a base da árvore cedeu fazendo com que a vítima caísse de uma altura aproximada de 9 metros na entrada pavimentada da garagem.
■ Um trabalhador de 48 anos, empregado em uma padaria caiu de uma escada de mão que estava usando para poder alcançar a estante superior dentro de uma câmara frigorífica.
■ Um trabalhador de 41 anos, de uma empresa de ventilação, aquecimento e ar condicionado, caiu de uma altura de 6 metros de uma escada de extensão enquanto fazia uma abertura de ventilação no telhado de um prédio residencial novo.

Características das vítimas
■ Todas estas vítimas eram homens entre 18 e 59 anos de idade, e mais da metade (56%) trabalhava em construção.
■ Quedas corresponderam a 50% das fatalidades.
■ Três dos trabalhadores em construção foram mortos por veículos em movimento.
■ Duas fatalidades foram resultado de violência no local de trabalho.

Medidas para Prevenir Acidentes de Trabalho Fatais
Um fato importante é considerar que além dos fatores demográficos e de exposição que ocasionaram esses incidentes, muitas das fatalidades poderiam ter sido evitadas se houvessem medidas de segurança, tais como;
■ treinamentos sobre procedimentos de segurança no trabalho,
■ sistemas de comunicação de alerta e
■ uso de equipamento de proteção pessoal.

Prevenção
Em Massachusetts, o OHSP, pesquisadores, organizações comunitárias e a Administração de Saúde e Segurança Ocupacional (OSHA) estão trabalhando juntos para reduzir o risco e os acidentes fatais entre trabalhadores brasileiros.

Algumas dessas atividades incluem:
■ O OHSP, o Centro do Imigrante Brasileiro (CIB) e o Projeto Colaboração para um Ambiente Melhor de Trabalho para os Brasileiros (COBWEB) estão trabalhando juntos para aprimorar os dados coletados sobre acidentes de trabalho fatais. Isso representa um esforço para melhor identificar os antecedentes e as causas dos acidentes fatais, e de forma mais específica, identificar fatores que podem receber intervenções.
■ O Centro do Imigrante Brasileiro criou uma Aliança com a Região I da OSHA para oferecer treinamento de segurança e saúde ocupacional a trabalhadores da área de construção que falam português. Esta iniciativa resultou no treinamento de mais de 180 trabalhadores no curso de 10 horas oferecido pela OSHA.
■ Ativistas e jornalistas da comunidade brasileira têm chamado a atenção da população de forma enfática à morte de trabalhadores brasileiros, colaborando assim com meios de comunicação da comunidade (rádio, jornal e televisão) para fazer com que segurança ocupacional seja um assunto discutido na comunidade.
■ O OHSP, em colaboração com o CIB e o COBWEB, produz Alertas de Segurança em português/inglês que descrevem e discutem casos de fatalidades trabalhistas entre brasileiros. Estes materiais têm sido usados para educar a comunidade brasileira sobre riscos no local de trabalho e estratégias de prevenção.
Outros materiais sobre saúde e segurança em português criados pelo OHSP incluem:
■ Seguro contra Acidentes de Trabalho em Massachusetts (Workers’ Compensation in Massachusetts)
■ Quedas: A Maior Causa de Acidentes Fatais em Obras de Construção (Falls: The Leading Killer on Construction Sites)
■ Medidas de Segurança no Trabalho com Escadas (Ladder Safety for Residential Contractors)
■ Medidas de Segurança no Trabalho com Andaimes (Scaffold Safety for Residential Construction Contractors)

Fonte: Este folheto informativo foi preparado pelo Programa de Vigilância de Saúde Ocupacional do Departamento de Saúde Pública de Massachusetts com fundos do Instituto Nacional para a Saúde e Segurança Ocupacional.

Comentário
Neste artigo publicado nota-se a diferença de mentalidade prevencionista americana preocupada com a pequena empresa ou trabalhador autônomo, buscando ferramentas (prevenção, treinamento, informação, etc) para que eles possam trabalhar de modo seguro. Aqui no Brasil o governo não se preocupe com esse nível detalhe de segurança.
A norma brasileira relativa à Segurança e Medicina de Trabalho foi criada em 1978 e OSHA americana no início da década de 80. As duas caminharam em sentidos opostos. A norma brasileira desde o seu início dá ênfase à fiscalização e penalização as empresas infratoras, porém os resultados são irrisórios, não há uma diminuição substancial nos acidentes de trabalho. É um modelo que chegou a exaustão.
A redução de acidentes é um processo de aprendizagem que passa por diversas etapas; nível cultural do trabalhador, entidades de segurança, sindicato do trabalhador, órgão fiscalizador e justiça de trabalho. No Brasil essas etapas não funcionam direito.
Há muitos anos os governos mudam as leis, normas, para melhorar a segurança, ou melhor, o sistema de arrecadação, mas o país continua com índice de acidentes sempre crescente.
As alterações realizadas pelo Ministério do Trabalho lembram muito uma frase em espanhol; Quando tínhamos todas as respostas, mudaram as perguntas.
Enquanto a OSHA americana dá ênfase a prevenção e a norma é a ferramenta para atingir esse objetivo. Esse modelo busca sinergia entre organizações, entidades sindicais, visando reduzir risco e acidentes fatais. Por exemplo, em 2006, a OSHA enviou milhares de cartas para as empresas que apresentaram elevado índice de acidentes, dando ênfase para reforçar a política de prevenção de acidentes nessas empresas. A OSHA não mencionou nada sobre cumprimento de normas.
No Brasil, as entidades estão mais preocupadas na implantação de normas, na discussão de normas, etc, do que na divulgação de prevenção de acidentes, educação de trabalho, etc.

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