Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

segunda-feira, agosto 18, 2008

Zonas mortas dos oceanos tornam-se um problema mundial

Como uma doença crônica que se propaga através do corpo, “as zonas mortas” com muito pouco oxigênio para a vida marinha estão expandindo-se nos oceanos em todo o mundo.
"Temos de admitir que a hipóxia não é um problema local. É um problema mundial e tem graves conseqüências para os ecossistemas.Está chegando a ser um problema de tal magnitude que está começando a afetar os recursos que retiramos do mar para alimentar-nos”, disse Robert J. Diaz do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade William and Mary, na Virgínia

Esta foto cedida pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, uma tartaruga verde está embaraçada em uma rede de pesca abandonada e destroços, a noroeste da ilha do Havaí em 2002.

Zonas mortas
As zonas mortas eram raras. Agora são comuns. Cada vez mais há em mais lugares. O aumento das zonas mortas no mar transformou-se no principal agente de pressão sobre os ecossistemas marítimos, no mesmo nível da pesca excessiva, perda de habitat e outros problemas ambientais. Segundo os cientistas, seu aumento se deve também a certos nutrientes, especialmente o nitrogênio e o fósforo, que ao entrarem em excesso nas águas litorâneas causam a morte de algas. Ao morrer, essas plantas microscópicas afundam e se transformam em alimento de bactérias que, durante a decomposição, consomem o oxigênio a sua volta. Na linguagem científica, esse processo da diminuição progressiva de oxigênio chama‑se 'hipoxia'.

Golfo do México - Em 16 de Julho de 2008 os pesquisadores estimaram a zona morta em 22.704 km quadrados. A área é maior do que o Estado de Sergipe.
Aumento das zonas mortas
Segundo Robert Diaz, e Rutger Rosenberg, cientista da Universidade de Gotemburgo, atualmente existem 405 zonas mortas em águas próximas às costas em todo o mundo, o que representa uma superfície de mais de 26.500 km².
Diaz, que começou a estudar as zonas mortas em meados da década de 1980, após advertir sobre o problema nas águas da Baía de Chesapeake (costa atlântica dos Estados Unidos), afirma que;
■ no início do século passado só havia quatro zonas mortas,
■ na década de 1960, o número passou para 49;
■ na década de 1970, número passou para 87;
■ na década de 1980, passou para 162;
■ em 1995, já havia 305 zonas mortas no mundo todo.

As mais recentes áreas mortas estão sendo encontradas no hemisfério sul - América do Sul, África, partes da Ásia. Um pouco do aumento é devido à descoberta de áreas de baixo oxigênio e que possam ter existido por anos e estão apenas a ser encontrado, mas outras são, na realidade, recém‑desenvolvidas.

Fertilizantes
As algas alimentadas por poluição, que privam outras vidas marinhas de oxigênio, são as causas da maior parte das zonas mortas do mundo. Os cientistas culpam principalmente os fertilizantes e outros cultivos dos solos pelo escoamento dos resíduos em direção ao mar, despejo de esgoto e queima de combustível fóssil.
“É necessário que cientistas e agricultores trabalhem em conjunto para desenvolver métodos agrícolas que reduzam a transferência de nutrientes da terra para o mar. Como os fertilizantes tornam-se cada vez mais caros, os agricultores começarão a preocupar-se seriamente em conservá-los na terra”, disse Diaz.

Diaz e Rosenberg, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, concluem que seria irrealista para tentar voltar aos níveis pré-industriais de escoamento superficial.
"Os agricultores não estão fazendo isso de propósito. Os agricultores prefeririam certamente ter os seus fertilizantes sobre a terra, em vez de escoar para o rio", disse Diaz.

Diaz e Rosenberg declaram que em muitas ocasiões só se dá importância à hipoxia quando esta começa a dizimar os organismos que, em última instância, servem de alimento à população. Como exemplo, eles citam o desaparecimento de algumas espécies ictiológicas e os surtos crônicos de epidemias bacterianas em outras.

Por outro lado, ao impedir o desenvolvimento de alguns habitantes dos fundos marítimos, como as amêijoas e alguns vermes, a hipoxia elimina uma importante fonte de nutrição para outros depredadores, assinala o estudo. Segundo os cientistas, a chave para frear o aumento de zonas mortas é manter os adubos em terra e impedir que cheguem ao mar.

As novas áreas de baixo oxigênio e fazendas de criação de peixes e camarões
As novas áreas de baixo oxigênio foram informadas na Baia de Samish em Puget Sound, Baia de Yaquina em Oregon, nas lagoas de cultura de camarão em Taiwan, o rio San Martin, no norte da Espanha e de alguns fiordes da Noruega, disse Diaz.
Uma parte da Baia Big Glory na Nova Zelândia se tornou hipóxica devido a criação de salmões em gaiolas, mas começou a recuperar quando as gaiolas foram removidas do local.

“Uma zona morta foi recentemente informada distante da foz do rio Yangtze na China, mas a área tem sido provavelmente hipóxica desde a década de 1950. Nós simplesmente não sabíamos sobre ela", disse Diaz,

As zonas mortas são muito mais
Nancy N. Rabalais, diretor executivo do Consorcio de Marinha das Universidades de Louisiana, disse que não foi surpresa no aumento das zonas mortas.
"Houve muito mais casos registrados, mas há realmente muito mais. O que aconteceu nas nações industrializadas com o agronegócio, que também levaram ao aumento do fluxo de nutrientes da terra para os estuários e para os mares estão agora acontecendo nos países em desenvolvimento," disse Rabalais.
Disseram-me, que durante uma visita à América do Sul em 1989, que os rios eram demasiados grandes para ter os mesmos problemas que o rio Mississipi. "Agora muitos dos seus estuários e mares costeiros estão sofrendo o mesmo mal."
"O aumento é um sinal preocupante para as águas costeiras e estuarinas, que estão entre algumas águas mais produtivas do planeta", disse ela.

Fonte: San Francisco Chronicle - August 14, 2008
Comentário:
No Brasil os principais rios estão afetados por resíduos industriais, mineração, esgotos e pesticidas, etc. E consequentemente os deltas dos rios, baías e o litoral estão contaminados;

Águas contaminadas
Praticamente todas as grandes e médias cidades brasileiras têm suas águas contaminadas por esgotos, lixo urbano, metais pesados e outras substâncias tóxicas.
Na Amazônia, o maior dano é provocado pelo mercúrio, jogado nos rios à média de 2,5 kg para cada grama de ouro extraído dos garimpos. Os rios Tapajós, Xingu, Taquari, Miranda e Madeira são os mais afetados. Em São Paulo, em alguns trechos do rio Tietê dentro da capital existe apenas bactérias anaeróbicas. O excesso de cargas orgânicas em suas águas consome todo o oxigênio, mata os peixes e qualquer outra forma de vida aeróbica.

Poluição do mar
Dejetos industriais e orgânicos são jogados em vários pontos do litoral. Vazamentos de petróleo em poços das plataformas submarinas e acidentes em terminais portuários e navios-tanques têm provocado graves desastres ecológicos. O litoral do Pará e as praias da ilha de Marajó estão contaminados por pentaclorofeno de sódio, substância tóxica usada no tratamento de madeira. Os pólos petroquímicos e cloroquímicos localizados em quase todos os estuários dos grandes rios lançam metais pesados e resíduos de petróleo nos manguezais e na plataforma continental. A baía de Todos os Santos, na Bahia, está contaminada por mercúrio. A baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, recebe diariamente cerca de 500 toneladas de esgotos orgânicos, 50 toneladas de nitratos e metais pesados, além de 3 mil toneladas de resíduos sólidos – areia, plásticos, latas e outras sucatas.

Degradação da superfície
O principal fator de poluição do solo, subsolo e águas doces é a utilização abusiva de pesticidas e fertilizantes nas lavouras. A média anual brasileira é duas vezes superior à do mundo inteiro. Ainda são usados no Brasil produtos organoclorados e organofosforados, proibidos ou de uso restrito em mais de 50 países devido a sua toxicidade e longa permanência no ambiente. As regiões mais atingidas por esses agrotóxicos são a Centro-Oeste, a Sudeste e a Sul, responsáveis por quase toda a produção agrícola para consumo interno e exportação.
A cultura da soja, hoje espalhada por quase todas as regiões do país, também faz uso acentuado de fosforados. A médio e longo prazo esse produto destrói microrganismos, fungos, insetos e contaminam animais maiores.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) a produção mundial de alimentos precisa aumentar em 50% até o ano de 2030 para atender a demanda da população em crescimento. Isto quer dizer, mais fertilizantes, mais pesticidas, mais desmatamento, etc. Todo o excesso de resíduos em que o solo não consegue absorver será escoado superficialmente para os rios, chegando aos oceanos. É o efeito dominó da degradação ambiental.

Marcadores: ,

posted by ACCA@8:50 PM