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sábado, maio 10, 2008

Líquidos inflamáveis e combustíveis em laboratórios

Como é determinada a inflamabilidade das substâncias?
A inflamabilidade é definida levando em conta a temperatura na qual o líquido emite vapores capazes de sustentar a combustão, chamada de “ponto de fulgor” (flash point).
É a menor temperatura em que um líquido fornece vapor suficiente para formar uma mistura inflamável quando uma fonte de ignição (faísca, chamas abertas, etc.) está presente. Dois testes são usados para determinar o ponto de fulgor: Recipiente aberto e recipiente fechado.

Quanto menor for essa temperatura, maior o risco!
Exemplos de líquidos altamente inflamáveis: acetaldeído, éter etílico, dimetílico e de petróleo, óxido de etileno, propano, acetona, etanol, isopropanol, ciclo-hexano, acetonitrila, benzeno, etc.
Por exemplo, o éter de petróleo pode emitir gases combustíveis a -46o C ! (46 graus abaixo de zero !).

Procedimentos de prevenção a serem adotados para evitar acidentes com líquidos inflamáveis em laboratórios

a) A estocagem de líquidos inflamáveis não deve ser feita em geladeiras domésticas, dados os riscos envolvidos. A refrigeração não evita a formação de vapores altamente inflamáveis, e a estocagem deve ser feita em recipientes adequados (apropriados para inflamáveis), em armários destinados a essa finalidade, e em local afastado e bem ventilado. O pequeno efeito da temperatura de refrigeração sobre a evaporação do líquido não justifica os riscos. As geladeiras apropriadas para estocagem de líquidos inflamáveis são chamadas “blindadas” (explosion-proof).

Um exemplo de recipiente adequado é o “contêiner de segurança” (safety can), com sistema corta-chamas. Dependendo do líquido a ser contido, pode se escolher entre os fabricados em metal ou em polietileno.
Recipientes desse tipo devem ser estocados em armários para líquidos inflamáveis que podem inclusive ter fechamento automático.

Os armários contendo líquidos inflamáveis podem ser colocados em local ventilado, de forma a evitar o acúmulo de eventuais vapores emanados dos recipientes.

b) Os procedimentos laboratoriais de todos os envolvidos com a manipulação de líquidos inflamáveis devem obedecer às normas de segurança.

c) Deve ser adotada uma política de segurança em relação aos produtos inflamáveis, que inclua pelo menos:
■ A minimização da quantidade de substâncias inflamáveis nos laboratórios, agendando as compras de acordo com o consumo;
■ Usar líquidos inflamáveis somente na capela, não na bancada, utilizando equipamento de proteção individual (luvas, óculos de proteção, avental de algodão, etc.);
■ Rotular todos os recipientes contendo substâncias inflamáveis e combustíveis com letras e cores chamativas, e o Diagrama de Hommel ou Diagrama do Perigo;
■ Guardar as substâncias inflamáveis e combustíveis em recipientes e armários adequados, em locais bem ventilados;
■ Manter as substâncias inflamáveis e combustíveis afastadas o máximo possível de fontes de calor, chama (bicos de Bunsen) e de ignição (faíscas, eletricidade estática, máquinas, equipamento elétrico, etc.);
■ Instalar chuveiros de segurança e lava-olhos em locais de rápido acesso;
■ Proibir de fumar em qualquer dependência laboratorial ou próxima;
■ Proibir o despejo de líquidos inflamáveis ou combustíveis na rede de esgotos;
■ Desobstruir os corredores e saídas das edificações ;
■ Proibir a estocagem de substâncias inflamáveis ou combustíveis nos corredores;
■ Desobstruir o acesso a equipamentos de combate a incêndios (extintores, mangueiras, etc.) e painéis de eletricidade;
■ Aterrar os recipientes que contenham líquidos inflamáveis para evitar eletricidade estática;
■ Treinar de forma regular as pessoas envolvidas no trabalho laboratorial em relação aos procedimentos de segurança, de destinação de resíduos e de emergência, obrigando os docentes e técnicos de laboratório, em particular, a comparecer aos cursos de treinamento;
■ Manter uma brigada de prevenção e combate a incêndios devidamente treinada e equipada;
■ Efetuar a instalação de detectores de fumaça e alarmes contra incêndio em todos os laboratórios que ofereçam maior risco de incêndios;
■ Treinar os vigias para saber como proceder no caso de sinistros (eles devem fazer parte da brigada de incêndios);
■ Não aceitar que pessoas deixem recipientes de qualquer tipo, devendo comunicar aos responsáveis imediatamente as ocorrências desse tipo.

A adoção de uma política de segurança permitirá minimizar os riscos de acidentes. Todos os esforços e recursos destinados à prevenção de acidentes têm um custo irrisório comparados à perda de vidas ou a seqüelas causadas por negligência ou fatalidade.

Líquidos inflamáveis e produtos químicos combustíveis associados às suas classes de inflamabilidade pela National Fire Protection Association (NFPA).

Líquido inflamável – Classe IA

Classe IA: Têm Ponto de Fulgor abaixo de 22,7o C e ponto de ebulição abaixo de 37,7o C:

Líquido inflamável –Classe IB
Classe IB: Têm Ponto de Fulgor abaixo de 22,7o C e ponto de ebulição acima de 37,7o C

Líquido inflamável – Classe IC

Classe IC: Têm Ponto de Fulgor entre 22,7o e 37,7o C

Líquido Combustível – Classe II
Classe II: Têm Ponto de Fulgor entre 37,7o e 60o C

Líquido combustível – III A
Classe III A: Têm Ponto de Fulgor entre 60 o e 93,3o C

Líquido combustível – Classe III B

Classe III B: Têm Ponto de Fulgor acima de 93,3o C




Quantidades máximas recomendadas para estocagem em laboratório






Exemplos de recipientes para líquidos inflamáveis:











Fonte:
■Material Safety Data Sheets and the National Fire Protection Agency document "NFPA 321: Classification of Flammable and Combustible Liquids, 1991 Edition." (adaptado)
■Boletim Mensal da Comissão Interna de Segurança Química – CISQ - Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP) - Setembro de 2003


Comentário:
Por que os acidentes acontecem?
A variedade de riscos nos laboratórios é muito ampla, devido à presença de substâncias letais, tóxicas, corrosivas, irritantes, inflamáveis, além da utilização de equipamentos que fornecem determinados riscos, como alteração de temperatura, radiações e ainda trabalhos que utilizam agentes biológicos e patogênicos.
As causas para ocorrência de acidentes nos laboratórios são muitas, mas resumidamente são instruções não adequadas, uso incorreto de equipamentos ou materiais de características desconhecidas.

1-Acidente em laboratório

Uma prática muito comum consiste na estocagem de materiais voláteis, alguns dos quais inflamáveis, em geladeiras de uso doméstico (comerciais).
Essas geladeiras não são fabricadas para essa finalidade, em virtude do que podem gerar faíscas seja no acendimento da luz interna, seja no motor, e causar um grave acidente.
A foto mostra as conseqüências de um acidente que poderia ter sido muito pior. Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE) - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP) - Setembro de
2003
Guarde materiais voláteis inflamáveis em geladeiras apropriadas (para essa finalidade) ou em local muito bem ventilado e sem fontes de ignição, sempre em recipientes adequados, como os contêineres de segurança (safety cans) e armários para líquidos inflamáveis.



2-Incêndio destrói laboratório de Química da USP
Em 19 de fevereiro de 1989, um incêndio destruiu o laboratório de Química Orgânica do Instituto de Química da USP, na cidade Universitária. Não havia ninguém trabalhando no local. O fogo foi percebido às 12 h pelos estudantes de pós-graduação trabalhando em outros laboratórios.
A área do laboratório era separada por divisórias de madeiras que contribuiu para aumentar a extensão dos danos.
O Corpo de bombeiros chegou rápido ao local, com 06 viaturas e 20 bombeiros, iniciando o combate ao fogo com extintores e posteriormente tiveram que usar água com risco de reação com substâncias (sódio, em contato com água pega fogo), cianeto de potássio (em contato com ácido libera vapor altamente venenoso). O hidrante instalado no local não funcionou.

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posted by ACCA@7:25 AM