Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

quinta-feira, abril 10, 2008

Problema no cinto de segurança foi a causa de morte em obra

No dia 12 de janeiro de 2008, o eletricista montador José Ribamar Muniz Oliveira fazia o reposicionamento de cabos elétricos da linha de transmissão Bandeiras I e II, uma modificação do projeto necessária para evitar a interrupção do fornecimento de energia de uma extensa área da capital paulista em razão da obra da ponte sobre o rio Pinheiros, na zona sul de São Paulo.

Falha do equipamento e queda fatal
Ele era funcionário da Montagens Projetos & Obras Ltda, de São Paulo, e caiu de uma altura de 19,5 metros, sobre concreto, sem nenhuma chance de sobrevivência.
No momento da queda, o operário usava todos os equipamentos de proteção necessários, o que surpreendeu a fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo (SRTE/SP). Suspeitando tratar-se de um episódio de falha do equipamento de proteção, o auditor do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) Joaquim Gomes Pereira emitiu um termo de apreensão dos equipamentos utilizados durante obra.

Análises das peças na Fundacentro
As peças apreendidas - dois cintos de segurança tipo paraquedista, um talabarte de posicionamento em "Y" e uma "trava quedas" - foram encaminhadas para análises à Fundacentro, órgão do MTE.

Laudo confirma falha do equipamento
O laudo da Fundacentro (de número 043/208-A), confirmou a hipótese da fiscalização, determinando que a causa da queda está ligada ao cinto de segurança, que apresentou deformação e não conformidade em suas costuras nos passantes de sustentação, resultando em irregularidades que causaram o acidente fatal.

Provável cassação do certificado de aprovação do equipamento
Diante da confirmação do problema com o equipamento de proteção, a SRTE/SP encaminhou ao MTE, em Brasília, a recomendação de cassar o Certificado de Aprovação (C.A. 18140) do cinto modelo CG760. Ocorrendo a cassação, o fabricante deverá recolher o produto do mercado para evitar novos acidentes, arcando com todos os custos do procedimento e podendo ser responsabilizado civil e criminalmente pelos clientes e trabalhadores lesados.
Fonte: Superintendência Regional do Trabalho e Emprego - SRTE/SP - 24 de março de 2008

Comentário:
Se entrarmos no site do Ministério do Trabalho, no tópico de certificado aprovado, o cinto em questão é da Carbografite.


Protege os usuários contra quedas por suspensão dorsal. Cinturão para trabalhos estacionários e em redes elétricas. Possui duas meia argolas na cintura, duas peitorais e uma dorsal.
Possui cinco fivelas de engate para regulagens: duas peitorais, duas nas pernas e uma na cintura.
Resistência aprovada em conformidade com a norma NBR 11370/2001, para usuários até 100Kg.
Peso: 1300g
CA: 18140CG 760E

Certificação de Aprovação
Nº do CA: 18140
Nº do Processo: 46016.000827/08-20
Data de Emisão: 5/6/2007 Validade: 05/06/2012

Tipo do Equipamento: cinturão tipo pára-quedista e talabarte de segurança
Natureza: Nacional
Fabricante: Carbografite Industrial de Soldas Ltda

O texto da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego oferece poucas informações técnicas do motivo ou provável deficiência do cinto de segurança. A única informação evidente é em relação ao laudo da Fundacentro que informa: “cinto de segurança, apresentou deformação e não conformidade em suas costuras nos passantes de sustentação, resultando em irregularidades que causaram o acidente fatal”. Trabalho em altura utiliza o sistema redundante de segurança, isto é, talabarte em Y e linha de vida ou cabo guia com trava‑quedas. Houve falha geral? Esse cinto tem argola peitoral, dorsal e de cintura para colocação do cabo guia ou linha de vida, falharam todos?

Pelo resultado do laudo, houve realmente baixa qualidade do material de proteção? Alguém precisa ser responsabilizado? .
Será que o material que é enviado para a Fundacentro para sua aprovação, continua com a mesma qualidade depois de sua certificação?

A manutenção e conservação do equipamento de segurança da montadora estavam de acordo com manual do fabricante do equipamento?
É comum a aquisição de cinto de segurança com acessórios de outros fabricantes? Deve ser esse caso em questão?

É um caso interessante em que às partes envolvidas deveriam ser mais transparentes na divulgação do real motivo da falha e transmitir um alerta aos profissionais da área de segurança das recomendações necessárias para evitar esse tipo de problema. Nos USA, é comum a OSHA emitir um boletim de alerta.
Não preocupamos com o procedimento de resgate de um trabalhador que está suspenso pelo cinto após uma queda e a colocação do cinto de modo adequado no corpo. Nos USA há muitos acidentes com cintos provocados por sufocação ou interrupção de circulação de sangue no organismo, devido à colocação inadequada do cinto (cinto frouxo ou apertado) durante a queda. As ordens de serviços sobre cinto de segurança estão apenas preocupadas com os dispositivos de segurança e esquece do procedimento adequado do cinto no corpo (treinamento de colocação e amarração). O trabalhador em geral coloca o cinto de segurança como se fosse um cinto normal de calça, esquecendo da inspeção do cinto e detalhes de amarração (atenção aos cortes aos desgastes devido à sua utilização), pois o cinto é o cordão umbilical de sua sobrevivência.
Encontramos mo mercado cinto de segurança tipo pára‑quedista desde 30,00 (18 dólares) a 600 reais (350 dólares). Como se diz a qualidade do EPI é para todos gostos.

Marcadores: ,

posted by ACCA@12:02 AM