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quarta-feira, março 19, 2008

Lembrança - Incêndio na Ilha Barnabé leva medo a moradores de Santos


Um incêndio na empresa Brasterminais, localizada na Ilha Barnabé, na margem esquerda do Porto de Santos, provocou no início da tarde de quinta-feira, 3 de setembro de 1998, muita apreensão na área central da cidade. O acidente ocorreu no momento em que um caminhão descarregava produtos químicos diretamente no tanque, fora da plataforma construída para essa finalidade.
As labaredas chegaram a atingir o canal do estuário, obrigando a Capitania dos Portos a impedir o tráfego marítimo naquela região. Além da nuvem de fumaça provocada pelo incêndio, o fogo também podia ser avistado mesmo do outro lado do canal, em Santos. Do meio do estuário, a visão ainda era mais assustadora. O acidente foi considerado gravíssimo pela Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).

Rápida intervenção – Plano Integrado de Emergência (PIE)
Não fosse a rápida ação do Corpo de Bombeiros, que atuou com as indústrias que integram o Plano Integrado de Emergência, as conseqüências do incêndio seriam piores.
Foram usados 100 mil litros de água e 5 mil litros de extrato de espuma, para impedir que o fogo atingisse um dos tanques de diciclopentadieno, um solvente usado na fabricação de tintas, que vazou durante a transferência para o tanque.
Segundo informou o coronel Marco Antonio Moyses, comandante do 6º Grupamento de Incêndios de Santos, que coordenou a operação de combate ao fogo, a preocupação maior era com o resfriamento dos tanques. "Os danos poderiam ter provocado um efeito dominó, tendo em vista a proximidade dos tanques", alertou. O incêndio, que começou por volta das 12h30, só foi controlado às 14 horas. Mais de 100 homens trabalharam no combate ao incêndio

Sistema de segurança dos tanques
O sistema de resfriamento foram acionados automaticamente. O risco de explosão desses compartimentos foi descartado pelo Corpo de Bombeiros, ainda que toda a camada que reveste os tanques, para protegê-los contra incêndio, tenha sido queimada pelas chamas.

Vítimas – não houve

Danos Materiais
Segundo o engenheiro de Segurança da Brasterminais, a empresa mantém seis casas de bombas no local. Com a explosão, um segundo compartimento também foi atingido, mas não provocou maiores estragos. Dois tanques foram atingidos pelo fogo.

Dano ambiental
A substância em combustão atingiu o mangue, provocando a queima de cerca de 300 m2 de vegetação e em decorrência do combate ao incêndio, água residual contaminada atingiu o Estuário de Santos, através do sistema de drenagem do terminal.

Multa
O gerente regional da Cetesb, Sérgio Pompéia, revelou que, independentemente de qualquer avaliação técnica, a empresa deverá ser multada. "Como é a primeira vez que ocorre um acidente na Brasterminais, a multa deverá oscilar entre R$ 40 a R$ 80 mil", antecipou.

Causa
O incêndio foi provocado por um vazamento na casa de bombas instalada ao lado de 66 tanques, todos com líquidos inflamáveis, na área da empresa Brasterminais.

Brasterminais
Uma média diária de 50 a 60 caminhões operam no transporte de produtos na Brasterminais.

Seguro
A empresa aguardará relatório oficial do Corpo de Bombeiros para acionar a seguradora.

Acidente
O último acidente na Ilha Barnabé ocorreu em 1991, quando um raio atingiu um dos tanques de armazenagem da Granel Química, vizinha à Brasterminais. Por causa disso, foi idealizado o Plano Integrado de Emergência.

Ilha Barnabé
No trecho onde ocorreu o acidente estão estocados cerca de 41 mil m³ desses produtos. Há ainda outros 77 tanques gerenciados pela empresa Granel e outros cinco, da Midwesco.
Na ilha, onde se concentra o maior volume de produtos químicos do País, estão depositados mais de 170 milhões de litros desses componentes.

Fonte: O Estado de S. Paulo - 4 de setembro de 1998, A Tribuna de Santos, e Cetesb

Acidentes na Ilha


■ O primeiro grande acidente na Ilha do Barnabé, ou simplesmente Ilha Barnabé, como ficou conhecida popularmente, aconteceu em 24 de janeiro de 1951. O petroleiro Cerro Gordo, que descarregava óleo diesel, petróleo bruto, querosene e gasolina de aviação, pegou fogo a poucos metros da ilha. O navio, que era cinzento e ficou totalmente vermelho devido às chamas, foi levado ao largo para domínio do fogo, enquanto a população temia que o combustível vazado no estuário pudesse causar incêndio nos tanques da ilha.



Foto: petroleiro Guaporé


Em 2 de setembro de 1969, outro petroleiro, o Guaporé, incêndiou-se e obrigou a equipe de segurança da ilha a trabalhar rápido no resfriamento dos tanques de estocagem.
■ Em 29 de julho de 1974, novo acidente causou a morte de um operário e ferimentos em outros, durante uma explosão mecânica na própria ilha. Cerca de 3.150 mil litros de tolueno foram despejados no mar.








Foto: queda de raio


■ Em 10 de outubro de 1991, dois tanques da Granel Química, com acetato de vinila e acrilonitrila, se incendiaram na Ilha Barnabé, causando grande apreensão em toda a Baixada Santista. O fogo começou minutos depois das 6 horas, quando um tanque com acetato foi atingido por um raio. Não houve vítimas.



Origem da Ilha
O capitão-mór Braz Cubas transformou a Ilha Pequena, que recebera de Martim Afonso de Souza, em uma fazenda produtiva, plantando ali a cana-de-açúcar, trigo, milho e criando gado, em meados do século XVI. A ilha passou a chamar-se Ilha de Braz Cubas, mais tarde Ilha dos Porcos, dos Padres (por ter pertencido aos jesuítas), até que o santista Francisco Vaz Carvalhaes, que possuía o título de Comendador Barnabé, registrou a ilha que acabou levando o seu nome: Ilha Barnabé e cujo solar em ruínas ainda existe em seu ponto mais alto - e no qual havia intensa movimentação social, com festas memoráveis que ele ali fornecia.
Em seu testamento, de 1892, além de outras posses, Carvalhaes legou parte das suas propriedades à Câmara Municipal de Santos (incluindo a Ilha do Barnabé), uma vez que a Prefeitura só surgiria em 1908. Três anos depois, em 17 de fevereiro de 1911, a Municipalidade permitiu que o Clube de Regatas Vasco da Gama utilizasse uma parte da área da ilha. Posteriormente, os terrenos foram permutados com a empresa Guinle & Irmãos, que se tornaria a Companhia Docas de Santos, hoje Codesp.
As poucas habitações da ilha foram desaparecendo no final da década de 20, quando a Companhia Docas começou a instalar o terminal de combustíveis, inaugurado em 26 de janeiro de 1930.

Comentário:
A Ecotoxicidade da água residual de incêndio;
Nas situações onde os incêndios em instalações químicas, depósitos, ou grandes instalações comerciais são combatidos, os perigos e os riscos ao ecossistema são muito maiores, tais como;
■ Sandoz Chemical Company - Basle, Suíça, 1 de novembro de 1986, incêndio no depósito de produtos químicos (pesticidas, herbicidas, etc.). Água contaminada do incêndio escoou para os córregos que desembocam no rio Reno. Houve desastre ambiental.
■ Allied Colloids Chemical Company, South Bradford, Reino Unido, em 21 de Julho de 1992, que fabrica uma variedade de produtos químicos utilizados em tratamento de água, em indústria de papel, têxtil, pintura e agrotóxico. O depósito principal localizado numa elevação, rompeu um incêndio devido ao armazenamento de produtos oxidantes. Foram utilizados 16 milhões de litros de água para combater o incêndio. A água utilizada no incêndio reagiu com materiais estocados no depósito, formando polímeros viscosos. Esse polímero bloqueou o sistema de drenagem do local e a água contaminada fluiu para rio próximo. O efeito ecológico foi catastrófico, numa distância de 30 km.
■ Plastimet Inc. Hamilton, Ontário, Canadá, 12 de setembro de 1997 - Empresa de reciclagem, tinha cerca de 400 t de PVC sólido. Um incêndio começou propagando-se no material estocado. A queima do PVC liberou uma série de substâncias altamente tóxicas, tais como, dioxinas, PCB, acido clorídrico, benzeno. O incêndio queimou durante três dias. No terceiro dia, houve a evacuação de 650 moradores da vizinhança. No início o incêndio foi considerado como um incêndio normal, sem a preocupação com meio ambiente e contaminação. Os bombeiros foram expostos a essas substâncias tóxicas, sem equipamentos adequados (quando o suprimento de ar esgotou, trabalharam sem máscaras). Os moradores queixaram-se de irritação na garganta, olhos, respiração. Nas semanas seguintes, após o incêndio, centenas de bombeiros queixaram-se de problemas nos olhos e respiratório, erupção cutânea, e problemas gastrintestinais. Após o incêndio o meio ambiente foi contaminado por benzeno, etilbenzeno, xileno, tolueno e metais tais como; alumínio, cádmio, cromo, cobre, ferro, chumbo, molibdênio, níquel, prata, vanádio e zinco.
Como demonstraram nesses incidentes, que exigem gerenciamento e planejamento cuidadosos.

Em primeiro lugar, é vital executar a identificação e a priorização dos respectivos perigos. A identificação e a priorização dos perigos de água residual de incêndio incluem três componentes:
■ o tipo e a quantidade dos produtos químicos armazenados ou no uso na instalação ,
■ na proximidade de áreas humanas, e
■ na proximidade de ecossistemas sensíveis.

É importante a avaliação do ecossistema da vizinhança para instalações de depósitos ou que usam volumes elevados de substâncias perigosas ecologicamente, especificamente, nas proximidades de canais, costa litorânea , devido a risco de incêndio químico. Algumas instalações podem armazenar ou usar volumes elevados de produtos químicos perigosos distantes dos locais ecologicamente sensíveis. Fonte: The Ecotoxicity of Fire-Water Runoff - New Zealand Fire Service Commission

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posted by ACCA@9:59 AM