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sábado, fevereiro 02, 2008

Veiculo é arrastado por correnteza e deixa sete mortos

Por volta das 17h de domingo, 27 de janeiro de 2008, 13 pessoas voltava da comemoração de um batizado em uma fazenda, quando o veículo, um Sportage, da Kia, foi atravessar o Córrego do Prata no município de Araçaí (a 361 quilômetros de Montes Claros e a 60 de Sete Lagoas, estado de Minas Gerais), e acabou sendo levado pelas forte correnteza do córrego. O córrego estava mais cheio em função das últimas chuvas que atingiram a região.

Testemunhas
Contaram que o motorista, Pedro Paulo Monteiro de Castro, aventurou-se a cruzar o córrego, mas, na metade da travessia, o veiculo atolou (ou apagou) e começou a ser arrastado pela correnteza.

Vítimas
Sete pessoas morreram; o motorista Pedro Paulo, Adriana Aparecida da Silva, de 28 anos (grávida), Marcelly Caroline da Silva Pereira, de 2 anos, Jorge Paula da Silva, de 38 anos, Geralda da Conceição Pereira Oliveira, de 50, Rosângela Pereira Silva, de 43, e Rafael de 8 anos.

Foto - As faixas em amarelo, indica o local em que o motorista tentou atravessar o córrego.




Mulher quebrou o vidro da janela
A costureira Rosângela Maria Martins de Matos conseguiu salvar o filho de 8 anos, a neta de 5 e outras três crianças. "Primeiro, eu dei muitos murros na janela. Vi que não quebrou o vidro, peguei o aparelho de som que levava e bati na janela e quebrou na terceira vez", diz ela. "Os dois maiorzinhos saíram, mandei subir no capô. Por último, puxei a minha netinha, que já estava desacordada. Eu chupei a boca dela, aí ela começou a chorar, abracei bastante e ficamos rezando, pedindo a Deus para aparecer alguém para salvar a gente."
A costureira afirmou que conseguiu enfrentar a correnteza "por um milagre", pois não sabe nadar. "Eu queria ter salvado todo mundo", disse Rosângela.

Veículo e carona
O veículo pertencia a Morais, que morava no Rio de Janeiro com a mulher, Tatiane, ela estava na cidade mineira, mas não foi à festa porque estava indisposta.
Segundo familiares, Morais foi com a filha, a sogra (Rosângela Maria Martins de Matos) e o filho dela à festa do batizado, que ficava em uma fazenda a cerca de dez quilômetros de onde estavam. Na volta, como chovia, alguns conhecidos resolveram pegar uma carona.

Entrevista dada pela costureira Rosângela Maria Martins de Matos à Folha de São Paulo, lembrando os momentos que passou para salvar as crianças

Quando percebeu que o carro não passaria pelo córrego?
ROSÂNGELA MATOS - Eu estava no porta-malas com as crianças e meu genro começou a gritar, dizendo que a gente ia morrer. Primeiro pensei que era brincadeira, mas depois vi que era sério. Aí comecei a esmurrar o vidro do porta-malas, mas ele não quebrava. Aí usei um aparelho de som que a gente tinha levado. Só na terceira tentativa é que consegui fazer um buraco, mas aí o rádio caiu para fora do carro. Saí e puxei as duas crianças maiores e depois subi no capô do carro.

A água já tinha inundado todo o carro?
MATOS - Já. O carro já estava cheio. Eu tentei tirar mais pessoas, mas como não estava conseguindo dar pé, resolvi subir no carro. Aí puxei meu filho pelo braço. Depois tirei outro menino e, depois de um tempo, a minha netinha, que já estava roxinha. Aí eu fiquei chupando a água de dentro da boca dela. Então, ela começou a chorar.

Ainda tentou tirar as outras pessoas do carro?
MATOS - Tentei. Eu queria ter tirado eles de lá. Não tinha como quebrar os vidros, porque o som tinha caído no rio. Tentei abrir as portas, mas não sei nadar e estava com medo de deixar as crianças sozinhas. Uma das meninas ficou dentro do carro abraçada com a mãe. Não queria sair de lá. Uma das mulheres tentou sair e, não sei se porque ficou presa no buraco, acabou entalando. Eu também estava com medo de deixar as crianças sozinhas em cima do carro. Tinha menino querendo pular no rio, gritando para eu salvar os pais deles. Foi horrível. Aí eu fiquei abraçada com eles, chorando, rezando e esperando socorro. Foi por ajuda de Deus que me salvei e salvei as crianças, mas queria ter salvado mais gente.

O socorro demorou?
MATOS - Um homem viu a gente e disse que ia buscar ajuda. Para mim, demorou muito, mas não sei se foi muito tempo depois que ele chegou com outro homem e uma corda. Aí eles tiraram a gente de lá.

Perícia no veículo
O carro passou por perícia técnica e, segundo a Polícia Civil, o laudo será anexado ao inquérito criminal, que deve ser finalizado em 30 dias. O caso está sendo investigado pela delegacia de Araçaí.

Fontes: Folha de São Paulo, Montes Claros, G1 e O Tempo, 28 de Janeiro de 2008

Comentário:
O que podemos imaginar do motorista tentando atravessar um córrego com forte correnteza devido às ultimas chuvas? Com o carro repleto de pessoas; parentes e conhecidos (13 pessoas)?
Como ele estava dirigindo um carro, um utilitário tipo SUV (Sport Utility Vehicle), mistura de carro (conforto e tecnologia) e algumas características de jipe, imaginou que poderia atravessar o córrego com certa tranqüilidade?
Talvez ele não conhecesse bem as características do carro, como a maioria dos motoristas, não é um veículo off-road, com projeto para trafegar qualquer terreno. Um carro SUV dá sensação ao motorista, que é um carro para qualquer terreno, mas tem sua limitação. É um carro que tem a altura do solo variando de 20 a 25 cm, com cano de escapamento na horizontal, quase na altura da roda e um motor transversal que tem um perfil baixo, para alguns componentes; como a correia da bomba d´água que pode levar mais água no motor, bateria, etc.
Faltou ao motorista a percepção do perigo e principalmente transportando passageiros (13) acima da capacidade de 5 ocupantes, de acordo com o fabricante do carro.
É comum na cidade de São Paulo o motorista tentar atravessar uma rua ou avenida alagada e o carro parar no meio do caminho.

Como agir diante de alagamento e inundação
Antes de tentar atravessar um trecho com muita água, verifique as condições do local e a distância a ser atravessada. Só cruze o local se o nível da água estiver abaixo da metade da roda. Mesmo assim é melhor não arriscar. A avaria mecânica mais comum nos dias de enchente é conhecida como calço hidráulico, que consiste na entrada de água no motor. Com o sistema encharcado, o pistão empena a biela e, conseqüentemente, trava o motor. Isso acontece porque quando o carro morre o motorista, quase que instintivamente, dá novamente na partida. Pronto, o motor puxará a água que estiver em contato com o sistema e é formado o calço.

Para que isso não aconteça, o nível de segurança é baseado de acordo com as tomadas de ar e filtros do veículo. Como isso é diferente em cada modelo, não é recomendável ultrapassar o nível de água superior a 30 centímetros. A água pode entrar tanto pelos filtros como pelo escapamento.
Um dos erros mais comuns nos dias de chuva é seguir filas nas ruas alagadas. Se o carro da frente parar no meio do alagamento, o que vem atrás parará também. O ideal é deixar uma distância segura para o outro veículo, de modo que seja possível desviar. É sempre bom deixar alguém passar primeiro, para observar se há algum buraco na via e se o nível de água não está alto demais.

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posted by ACCA@6:42 PM