Protetores Auditivos: vida útil e benefícios
Qual
é a vida útil de um protetor auditivo? Essa pergunta vem sendo colocada com
frequência nos últimos dois anos, não só
pelos responsáveis pelo Programa de Conservação da Audição e usuários, como
também por advogados e juízes sem ter uma resposta convincente.
O
Prof. Samir Gerges esteve em Berlim-Alemanha, representando o Brasil na reunião
do grupo de trabalho WG17 da ISO sobre os protetores auditivos. Aproveitou a
presença de 15 participantes de todo o mundo e fez essa pergunta para eles.
Infelizmente não obteve resposta.
Será
que existe um período da vida útil do protetor auditivo para todas as marcas e
modelos e para todos os usuários? Podemos fazer uma pergunta similar: qual é a
vida útil de seu sapato?
Pode-se
fazer uma analogia com a seguinte história para tentar entender a questão. Por
exemplo: João tem pé torto e anda depressa, batendo os sapatos com força nas
pedras e, quando volta para casa, tira-os e joga-os, sujos e molhados, num
canto. Mas nosso elegante amigo, Batista, anda corretamente com os pés retos e
cuida de sua postura, mantendo os sapatos sempre limpos e bem guardados. O
Batista é pão-duro, não quer gastar em sapatos novos, então engraxa os que já
têm todas as noites, e até deixa de acelerar o carro, não brecar e gastar a
pastilha de freio.
Os
sapatos de Batista duram anos, enquanto os de João só duram seis meses. Agora
apliquemos esse exemplo a nosso assunto. Um trabalhador que cuida de seu
protetor auditivo, lavando-o (se for do tipo pluge), trocando a almofadas (se
for do tipo concha) e guardando-o em lugar limpo, terá um protetor cuja vida
útil será muito mais longa do que seria sem esses cuidados, como por exemplo:
deixar o protetor auditivo cair no chão sujo sem lavá-lo depois e guardá-lo em
lugar úmido e sujo. Será que temos a resposta à pergunta
Qual
é a Vida Útil do Protetor Auditivo?
NÃO TEMOS, porque não existe. Mas temos
algumas pesquisas e trabalhos muito limitados em estatísticas e feitos por
pessoas que utilizaram poucos tipos de protetores auditivos.
Então,
temos apenas alguma idéia do período de tempo de uso do protetor. Assim, quando
afirmamos que um par de sapatos pode durar um período que varia de 6 meses a 2
anos, podemos dizer que um protetor tipo concha pode durar de 6 meses a 3 anos,
o tipo plugue de
espuma
expandida com superfície selada (não permite a penetração de líquidos) pode
durar até 15 dias. Um plugue de espuma expandida, descartável, com superfície
porosa pode durar apenas um ou dois dias, e o plugue de silicone ou borracha
pode ser utilizado de um mês a dois anos.
São
períodos nos quais se deve considerar que as características que o protetor
auditivo pode perder até 3 dB de sua atenuação original (quando era novo). É
recomendado que o trabalhador leve seu protetor quando vai fazer testes
audiométricos periódicos (a cada 6 meses ou um ano) e mostrar para o(a)
fonoaudiólogo(a) como ele usa e coloca o protetor auditivo. Além disso, é interessante
que sejam ministradas aulas particulares sobre a colocação, o uso e a manutenção
do protetor nesse momento.
Além
disso, o fonoaudiólogo(a) pode ajudar na decisão de trocar ou não o protetor
auditivo ou até mesmo só trocar a almofada (caso seja do tipo concha). Agora
podemos fazer mais levantamentos e pesquisas em uma determinada empresa em um
ambiente específico, utilizando certas marcas e modelos de protetores
auditivos, com uma população de trabalhadores específicos para determinar o
período de troca dos protetores auditivos.
1.
PROBLEMAS DE UTILIZAÇÃO DOS PROTETORES AUDITIVOS
Na
maioria das situações industriais, conforto e durabilidade são fatores mais
importantes do que um ganho de poucos decibéis de atenuação, considerando‑se
que a atenuação alcançada já é razoável. Os projetos e instruções de uso de
protetores auditivos devem considerar os seguintes fatores:
1.1.
HIGIENE
A
maioria dos problemas de higiene está associada ao uso dos tampões que podem
provocar infecções ou doenças no ouvido. Tampões devem ser sempre guardados
limpos e devem ser colocados com as mãos limpas, livres de produtos químicos,
óleo, graxa, etc. Os tampões do tipo pré-moldado, incluindo seu estojo de
transporte e guarda, devem ser limpos no mínimo uma vez por semana. Para
realizar essa limpeza, fervem-se por quinze minutos em água o estojo e os tampões.
Em determinados ambientes de trabalho, os protetores auditivos do tipo concha
podem causar certa transpiração no usuário que pode ser reduzida com a
utilização de materiais do tipo gaze cirúrgica ou similar entre as conchas e a
cabeça. Os protetores auditivos do tipo concha raramente causam infecções no
ouvido e representam uma boa alternativa quando isso ocorre com os tampões.
1.2
DESCONFORTO
O
desconforto surge como decorrência da firmeza com que os protetores devem ser
colocados. Afinal, o protetor auditivo é, na realidade, um elemento estranho ao
corpo, mas com o tempo, as pessoas acostumam-se a usá-los. Os tampões de espuma
expandida são menos desconfortáveis.
Os
protetores auditivos do tipo concha e os tampões moldados são razoavelmente
confortáveis, embora as alças de fixação causem um certo desconforto.
1.3
EFEITOS NA COMUNICAÇÃO VERBAL
Em
ambientes com níveis de ruído em torno de 95 dB(A), em faixas de frequências
distintas da faixa da fala humana, as atenuações dos protetores auditivos não
devem interferir com a inteligibilidade da comunicação, quando a voz for
mantida razoavelmente alta – na realidade, podem até melhorá-la. A implantação
do uso regular de protetores auditivos deve ser precedida por um treinamento
dos usuários quanto às dificuldades originadas do seu uso.
Na
prática, o usuário se adapta à nova situação e usa os movimentos dos lábios,
das mãos e/ou do rosto como complementos da comunicação.
1.4.
EFEITO NA LOCALIZAÇÃO DIRECIONAL
É
evidente que pessoas que estejam utilizando o protetor auditivo do tipo concha
percam, um pouco, o senso de localização das fontes de ruído. No caso dos
tampões de ouvido, por não cobrirem todo o ouvido externo, o efeito é menor,
sendo que o senso de localização ocorre no cérebro por processo de correlação
cruzada. Se o senso de localização for importante para a segurança, deverá ser
referido o uso de tampões.
1.5 SINAIS
DE ALARME
Nas
áreas onde os trabalhadores utilizam protetores auditivos é necessário que os
sinais de alarme sejam modificados de maneira a permitir que as pessoas sejam
adequadamente alertadas nos casos de risco. Sinalização luminosa e colorida
pode ser usada em conjunto com a sinalização auditiva, especialmente para
trabalhadores com alta perda de audição.
1.6.
SEGURANÇA
Todos
os protetores auditivos devem ser projetados de modo a minimizar os possíveis
riscos de lesões a seus usuários. Portanto, não devem possuir componentes
pontiagudos ou serem fabricados com material granulado que pode se desprender e
contaminar o ouvido. Quando protetores auditivos do tipo concha e capacetes
forem utilizados conjuntamente, ambos devem ser construídos de modo que cada um
atenda a seu objetivo sem que haja interferência de um sobre o outro.
Uma
das vantagens dos protetores auditivo do tipo concha em relação aos tampões é a
facilidade na fiscalização de seu uso, pois as conchas coloridas são facilmente
visualizadas a longa distância.
1.7
EFEITO DA PERCENTAGEM DO TEMPO DE USO
O
uso constante do protetor auditivo durante toda a jornada de trabalho é muito
importante. A Figura 1 mostra a atenuação real fornecida por protetores
auditivos em função da porcentagem do tempo de uso. Por exemplo, imagine que um
trabalhador use um protetor auditivo que fornece 25 dB(A) de atenuação. Se esse
protetor for usado em somente 95% do tempo, apresentará atenuação de 20 dB(A).
Agora se for usado em somente 50% do tempo, apresentará um atenuação de apenas
3 dB(A), conforme ilustra a Figura 1.
2 SELEÇÃO,
USO, CUIDADOS E MANUTENÇÃO
Uma
vez que existem muitos tipos diferentes de protetores auditivos que podem ser
usados em diversos ambientes de trabalho, é desejável que se escolha o protetor
auditivo mais adequado a cada caso. Essa seleção deve levar em consideração
fatores como:
■ Certificado de
aprovação do protetor auditivo.
■ Atenuação necessária de
ruído do ambiente.
■ Conforto do protetor
auditivo para o usuário.
■ Ambiente e atividade de
trabalho.
■ Distúrbios médicos.
■ Compatibilidade com
outros EPIs, tais como: capacetes, óculos, etc.
Existem
cerca de 2.000 tipos, modelos e marcas de protetores auditivos em nível
internacional. Assim torna‑se difícil escolher o protetor auditivo adequado.
Conforto e aceitação do usuário devem ser considerados como os parâmetros mais
importantes para a seleção do protetor auditivo. Essa seleção deve ser feita
envolvendo o usuário.
Uma
forma prática é selecionar vários tipos de protetores e fornecê-los aos
usuários para que experimentem e escolham o tipo a que melhor se adaptam.
3 CERTIFICADO
DE APROVAÇÃO
Devem
ser selecionados apenas protetores auditivos com Certificado de Aprovação do
Ministério do Trabalho e Emprego em conformidade com a NR-6.
ATENUAÇÃO
NECESSÁRIA DE RUÍDO DO AMBIENTE
É
desejável que o protetor auditivo reduza o nível de ruído acústico a valores
abaixo do nível de ação; entretanto, deve-se também evitar o isolamento do
usuário pela dificuldade em perceber sons. Cuidados devem ser tomados para que
não se selecionem protetores auditivos que forneçam atenuação mais alta que a
necessária. Tais protetores podem causar dificuldades na comunicação ou serem
menos confortáveis do que protetores auditivos com atenuação adequada e, conseqüentemente,
os usuários tenderão a usá-los por menos tempo.
AMBIENTE
DE TRABALHO E ATIVIDADE
1 -
Alta temperatura e umidade
Trabalho
físico, especialmente em ambientes com altas temperaturas e/ou umidade, pode
causar sudorese severa e desconforto quando do uso de protetores tipo concha.
Nesses casos, os protetores tipo inserção são preferidos. Se forem usados protetores
tipo concha, devem ser usadas finas coberturas de absorventes.
Como
não é possível julgar subjetivamente a alteração na atenuação que pode ser
causada pelo uso de coberturas sobre as almofadas, devem-se procurar produtos
que possuam dados de atenuação para a combinação de concha e cobertura.
2 -
Poeira
Quando
se trabalha em ambientes com poeiras, uma camada de sujeira pode se acumular
entre as almofadas e a pele o que pode, eventualmente, causar irritação da
pele. Nesses casos, deve‑se dar preferência aos protetores de inserção
descartáveis ou de conchas com coberturas.
3 -
Exposição repetitiva por curtos períodos de tempo
Deve
ser dada preferência a protetores tipo concha e protetores tipo capa de canal
em casos de exposição repetitiva por curtos períodos de tempo, porque a
colocação e a remoção são rápidas e fáceis.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
No
custo da implantação de protetores auditivos, como solução para conservação da
audição, devem ser incluídos os seguintes parâmetros:
1 -
Custo dos protetores.
2 -
Custo de manutenção ou reposição dos protetores.
3 -
Custos administrativos (pedidos de compra, exames audiométricos, etc).
4 -
Custo de conscientização e educação (filmes, palestras, treinamentos, etc). Quando se faz um levantamento desses custos para
um determinado período (por exemplo, dois anos), o montante deverá ser
comparado com o investimento para a implantação de outros tipos de soluções
para a redução do ruído.
O
controle individual da exposição ao ruído pelo uso de protetores auditivos implica
uma série de vantagens e de desvantagens, conforme o caso. Quando se planeja um
programa de implantação de proteção individual, o usuário deve aparecer em
primeiro lugar. É claro que não adianta implantar um programa de utilização de
protetores auditivos quando os trabalhadores dão preferência aos rendimentos
extras por insalubridade.
Uma
campanha de conscientização deve ser feita em todos os níveis hierárquicos da
empresa, com palestras, filmes, estudo de casos, demonstrações práticas,
apresentação de dados de exames audiométricos, etc, antes da execução de
qualquer programa de uso de protetores auditivos. A escolha do melhor protetor
auditivo no mercado deve ser baseada na aceitação dos usuários em usá-los 100%
do tempo da jornada de trabalho, isto é, cada usuário escolhe seu protetor
preferido entre os tipos recomendados. Fonte: Revista
ABHO / Edição 34 2014 - Samir N. Y. Gerges
Rafael N. C. Gerges e Roberto Alexandre Dias
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