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terça-feira, maio 31, 2016

Lembrança: Tornado em Florianópolis

Em 23 de março de 2006, quinta-feira à noite, um tornado que durou pouco mais de dez segundos, atingiu o norte da ilha de Florianópolis, deixando um rastro de destruição. 

CENÁRIO
A chuva, seguida de ventos, começou por volta das 23 horas e ganhou intensidade rapidamente. O tornado arrancou árvores inteiras do chão. Um automóvel foi virado de cabeça para baixo. Postes também foram afetados e toda a região ficou sem luz. Moradores relataram que o chão tremeu durante a passagem do tornado

CONFIRMADO - TORNADO
Segundo Clóvis Levien Corrêa, meteorologista do Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia) de Santa Catarina, o fenômeno é considerado um tornado pelas suas características. Ele sobrevoou a área atingida na sexta e disse que as árvores, caídas tanto para o norte como para o sul, são um indicativo. "Há outros fatores relatados pelos moradores, como nuvens girando e o barulho, um assovio como o de uma turbina."

GRAU DE DESTRUIÇÃO DO TORNADO – CATEGORIA 1 E 2
Os danos estruturais foram severos e em construções muito sólidas. Como não há anemômetro na região atingida, não é possível determinar a velocidade exata alcançada pelo vento. Entretanto, internacionalmente, a intensidade dos tornados é apurada a partir da análise dos danos. Por se tratar de uma análise subjetiva, apesar de estar baseada em critérios objetivos, é natural que existam divergências quanto à magnitude de um evento. No caso do fenômeno que atingiu a Praia do Santinho e a favela do Siri em Ingleses, a MetSul Meteorologia considera que o tornado tenha sido um F2 na escala de Fujita que vai de 0 a 5.
A grau de destruição parcial ou total de construções   muito sólidas numa área muito bem definida ao norte de Florianópolis é consistente com vento próximo ou acima de 200 km/h.
Além disso, pesa para a conclusão em torno da classificação como um F2 o fato de um veículo parado ter sido arrastado pelo vento e, ao final, ter parado com as rodas viradas para cima.

Um estudo intitulado Wind Speeds Required to Upset Vehicles de autoria de Thomas W. Schmidlin e Bárbara O. Hammer (Ohio Kent State University), Paul S. King (Boyce Thompson Institute, Ithaca, Nova York) e L. Scott Miller (Kansas Wichita State University) analisou os danos provocados por tornados em automóveis e a correlação com a magnitude do vento.
Foram estudados 291 episódios de tornados e realizadas simulações em túneis de vento. Conforme os pesquisadores norte-americanos, muito dificilmente um tornado F1 consiga virar um carro. Tal situação ocorre em alguns casos em eventos F2 e se torna comum a partir da categoria F3.

Os danos em alguns pontos da região afetada, portanto, são condizentes com um tornado F2 com vento apresentando velocidade até mesmo superior aos 200 km/h. Entretanto, é vital salientar, a intensidade de um tornado assim como a sua trajetória é errática, sendo muito provável que algumas áreas da zona atingida tenham suportado vento menos intenso e dentro da margem de um F1. Mesmo na nova Escala Aprimorada de Fujita (EF), que passou a ser utilizada em caráter operacional pelo NOAA nos Estados Unidos em fevereiro passado, os danos registrados em Santa Catarina são consistentes com um tornado no limite das categorias 1 e 2.

DANOS  INICIAIS
Segundo a Defesa Civil, 37 casas foram totalmente destelhadas. Outras tiveram parte da estrutura danificada. Foram afetados os bairros dos Ingleses e do Costão do Santinho, considerados dois dos mais nobres da capital.

TESTEMUNHAS DO EVENTO
A corretora de imóveis Glecy Maria Fedrizzi, teve a casa atingida pelo tornado. "Moro há dez anos aqui , (no Costão do Santinho) e nunca vi nada igual. Foi muito rápido e muito violento. As telhas ficaram fora do lugar, e são de barro, pesadas. Meu portão foi arrancado."

De acordo com ela, no entanto, os estragos não se comparam aos causados "as casas cinco, seis ruas à frente". "O vento derrubou tudo. As casas foram para o chão mesmo."



CHOQUE ENTRE AR QUENTE E AR FRIO CAUSA FENÔMENO
Santa Catarina é alvo de fenômenos naturais como o tornado ocorrido devido à sua localização: uma região de encontro de ventos quentes, provenientes da região central do país e do Norte, com massas frias vindas do Sul. É a avaliação do meteorologista Clóvis Levien Corrêa, do Ciram (Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia) de Santa Catarina. Neste ano, já é a segunda vez que um tornado destelha casas no norte da ilha. Ciclones extratropicais também causaram destruição em locais isolados do Estado. Além disso, Santa Catarina costuma registrar temporais de granizo, vendavais e, no verão, se depara com a seca. "Ultimamente, tem ocorrido temperaturas bastante elevadas. E as águas do Atlântico, das correntes das Malvinas, vêm até Laguna. Além de termos a corrente brasileira mais quente. Tudo isso influencia."

METEOROLOGISTA DIZ QUE FENÔMENO NÃO É PREVISÍVEL
Danos provocados pelo tornado em Florianópolis
 (Imagem: Clóvis Correa/CIRAM)
Tornados ocorrem em condições violentas de tempestade. Os ventos correm em diferentes direções dentro de um redemoinho. A força centrífuga joga o ar para longe do centro, deixando no meio um miolo de baixa pressão. Nesse miolo, os ventos podem alcançar 500 quilômetros por hora ou mais. Em cima, ele é esbranquiçado, mas, na parte de baixo é escuro, devido às partículas que carrega e os destroços de pedras, árvores e até mesmo pedaços de carros e prédios.

"O fenômeno é relacionado diretamente à tempestade e ocorre normalmente de forma localizada", explica o meteorologista Clóvis Corrêa. Ele informa que não é possível prever tornados. "Mesmo em países que possuem equipamentos sofisticados a tarefa é complicada."

FLORIANÓPOLIS DECRETA SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA
A prefeitura de Florianópolis decretou situação de emergência. Dados preliminares da Secretaria Municipal de Habitação apontam um prejuízo que ultrapassa os R$ 600 mil.

BALANÇO DOS DANOS
Imagem de arquivo de tornado ocorrido à noite sobreposta
 sobre a área afetada pelo tornado a partir da 
imagem de satélite do Google Earth. Foto - MetSul          
O tornado deixou mais de 100 casas destelhadas e 21 tiveram perda total. Dezessete famílias estão alojadas na sede do Conselho Comunitário da Praia dos Ingleses. Não houve vítimas.
As residências atingidas ficam na Praia do Santinho e na favela do Siri, em Ingleses.
Cerca 171 residências ficaram sem energia elétrica porque o temporal danificou um transformador  de distribuição. A energia só foi restabelecida às 5h.

TORNADOS NO SUL DO BRASIL
O tornado de Ingleses foi um dos mais intensos no Sul do Brasil recentemente, aliás o mais importante desde o tornado que arrasou a cidade de Muitos Capões no norte do Rio Grande do Sul no final de agosto de 2005.

Foi o segundo evento tornádico a atingir Florianópolis  em 2006. Na tarde de 2 de janeiro de 2006, vinte e seis casas da Barra do Sambaqui foram danificadas quando uma tempestade e um tornado de pequeno porte atingiram a região. Telhas e coberturas se desprenderam dos telhados, permitindo a entrada da água da chuva e o alagamento das residências.
A tampa de uma caixa d’água ficou presa junto a um poste. O tornado começou no vale, conforme o secretário de Defesa Civil, Francisco Cardoso. Em seguida, subiu para o morro e passou por cima da igreja, arrancando a cobertura da casa paroquial. Após, desceu para a outra ponta do morro, onde atingiu algumas residências. Chuva de granizo precedeu o tornado, como é comum nestes eventos.

Registros de tornados e trombas d'água em Santa Catarina nos últimos anos

Tornados
Tromba d'água
1999 - Joinville e Forquilhinha
2000 - Florianópolis e Itapoá
2002 - Piçarras
2003 - Palhoça
2004 - Xanxerê
1996/1999/2002 - São Francisco do Sul
2005 - Criciúma (duas vezes), Florianópolis (duas vezes) e Itapoá
2005 - São Francisco do Sul (três vezes)
2006 - Florianópolis


Fontes: @ZR; Agência Folha - 24/03/2006; Diário Catarinense- 25 de março de 2006; A Noticia – Florianópolis, 25 de março de 2006; Folha de São Paulo - 25 de março de 2006  

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posted by ACCA@7:00 AM