Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

sábado, outubro 07, 2023

RIO NEGRO: VAZANTE HISTÓRICA DEIXA TRECHO DO RIO TOTALMENTE SECO EM MANAUS

Porto de Manaus

Na quinta-feira (5), o Rio Negro atingiu a cota de 14,90 metros e alcançou a marca de 9ª pior seca da história. As águas escuras que banham Manaus fazem parte de um dos afluentes do Rio Amazonas, maior bacia hidrográfica do mundo.

 Desde o dia 17 de junho, o Rio Negro vem descendo continuamente. No início, as águas baixavam uma média de 1 cm a 2 cm, por dia. Atualmente, o rio desce cerca de 10 cm a 20 cm, diariamente

No entanto, apesar do alerta do CRPM de que Manaus deve enfrentar uma seca severa, a estiagem deste ano deste ano ainda não alcançou as 13 maiores registradas pelo órgão.

Na maior de todas, em 2010, o Rio Negro chegou a 13,63 metros, o menor índice já registrado desde então. Cinco anos antes, em 2005, o rio alcançou 14,75 metros.

Veja as maiores secas registadas até hoje pelo CPRM:

·        13,63m (2010);

·        13,64m (1963);

·        14,20m (1906);

·        14,34m (1997);

·        14,42m (1916);

·        14,54m (1926);

·        14,74m (1958);

·        14,75m (2005);

·        14,97m (1936);

·        15,03m (1998);

·        15,04m (1909);

·        15,06m (1995);

·        15,39m (1907).

FALTA DE TRABALHO, CAMINHOS MAIS LONGOS E DIFICULDADES DE LOGÍSTICA.

Onde antes era o Rio Negro, há uma grande faixa de
terra devido a seca
Esses são alguns dos relatos de quem depende do Porto de Manaus nesse período de seca, que afeta todo o Amazonas. Com um trecho do Rio Negro seco em frente a orla da capital amazonense, a seca vem afetando a vida das pessoas que trabalham e passam pelo local diariamente.

O Porto de Manaus é a porta de entrada e saída da capital amazonense por meio fluvial. No local, além de receber passageiros, os barcos transportam insumos da capital para os municípios do interior do estado.

Para realizar o trabalho de levar essas cargas até o barco, carregadores são contratados para realizar esse serviço. No entanto, com o Rio Negro cada vez mais seco, o trabalho não está mais sendo feito com frequência e tem afetado a vida dos trabalhadores. Há uma faixa de terra com mais de 600 metros de distância entre as embarcações e a via que dar acesso ao local.

O carregador Genivaldo Ferreira da Silva, que trabalha no Porto de Manaus na região do Educandos, conta que em época de cheia eles retiram as cargas das balsas que chegam e saem durante o dia todo. Entretanto, nesta seca, a balsa encalhou e não tem mais a rotatividade de antes. Trabalhando há 13 anos na função, ele revelou que nunca viu uma seca tão severa quanto essa.

"Está afetando para nós todos que trabalha aqui direto, nós estamos sem condições de trabalhar porque não tem movimento. O que tem é a balsa parada aí, o resto está tudo parado e com essa seca não sei como vai ficar. [...] . Essa foi a pior seca que eu já vi no Amazonas. Ela está afetando todos nós", disse o carregador.

AGRICULTORES E FEIRANTES AFETADOS

Os carregadores de carga não são os únicos afetados. Pescadores e agricultores que trazem insumos do interior do Amazonas, estão enfrentando uma intensa logística para chegar em Manaus e transportar seu material de venda.

O agricultor e pescador Berlamino Pereira é morador da Ilha da Marchantaria, em Iranduba, traz diariamente peixes, verduras e frutas para a capital amazonense em uma embarcação de porte médio. O material é vendido para feirantes da Feira Manaus Moderna.

Em época de cheia, consegue trazer uma carga grande. No entanto, na vazante deste ano, o número caiu pela metade pois precisa navegar em uma pequena embarcação.

"Antes a gente trazia 100 frutas, agora 50 melancias, porque a embarcação é pequena. Tanto a dificuldade para embarcar, para chegar na canoa porque é uma longa distância, quanto para trazer para cá. Peixes estão morrendo demais. Caiu quase 70% meu faturamento. Até água para os animais é ruim para carregar", contou o agricultor.

LONGOS PERCURSOS

Com a longa faixa de areia, em torno de 300 metros, que se formou em frente ao Porto de Manaus, os embarques para os barcos também estão sendo afetados.

Passageiros que precisam embarcar para sair de Manaus descrevem uma série de dificuldades para chegarem até o barco.

Além de lidar com a distância, os passageiros carregam bagagens pesadas até a embarcação, em uma caminhada de 8 minutos. A areia quente, devido as altas temperaturas que Manaus vem enfrentando, é outro problema. Se não tiver com o sapato adequado, a terra pode até causar queimaduras nos pés de quem passa por ali.

RIO NEGRO

Trecho do Rio Negro antes da seca de 2023. 
O trecho, por onde grandes embarcações trafegavam, se transformou em chão repleto de rachaduras. Agora, é possível fazer o trajeto a pé.

A típica coloração escura, uma das principais características do Rio Negro, também sumiu na área. No lugar, agora há um córrego, com uma cor barrenta.

O biológo Guillermo Estupiñán, que é especialista em recursos pesqueiros e paisagens aquáticas da Wildlife Conservation Society (WCS) Brasil, explicou que o Rio Negro perdeu a coloração nesse trecho por causa da vazante.

A cor escura do rio é atribuída à química da água, formada, em parte, pela decomposição de folhas que caem das árvores. Como o rio está distante da margem, e não entra em contato com as folhas, perde a cor escura.

"Ele tem essa coloração por conta de processos químicos, por conta das folhas das árvores da floresta. Ao longo do seu curso, o rio acaba tendo várias colorações devido ao ambiente que é formado. [...] ele também sofre alteração na sua cor devido à concentração de água. Atualmente, por conta da seca, ele está perdendo vazão [volume]. Está dessa cor", disse o especialista.

De acordo com o especialista, o comportamento da seca deste ano indica que esta será a maior vazante da história, superando a de 2010, quando o Rio Negro baixou para 13,63 metros.

"Falta menos de 2 metros para que o rio alcance a maior seca registrada no Rio Negro. Considerando que ainda falta um mês para o rio secar e que as previsões são de chuvas não muito fortes esse ano, então a gente, pode sim, superar o recorde negativo da maior seca", afirmou o biológo.

Com a nascente na Colômbia, o Rio Negro tem um percurso 2.500 km de extensão e é a terceiro maior da Amazônia, em tamanho.

Além disso, é a segunda maior sub-bacia do Amazonas, com um pouco mais de 10% da drenagem da bacia do Amazonas. O primeiro é o Solimões.

Juntos, Rio Negro e Solimões, formam o fenômeno natural "Encontro das Águas", um dos principais atrativos turísticos do Amazonas.

Com uma fauna diversa, o Rio Negro é lar de mamíferos, aves, botos e mais de 1.100 espécies de peixes que compartilham o espaço com uma extensa flora.

"O Rio Negro abriga uma fauna e uma flora muito diversa, tanto por mamíferos, aves. Abriga muitas espécies ameaçadas, como as antas, onça, peixe-boi, os botos. A bacia do Rio Negro tem mais ou menos 1.100 espécies de peixes, o que torna ela a segunda bacia mais diversa em fauna. Isso se deve a grande variedade de ambientes, corredeiras, de praia, a própria água que muda", explicou o especialista da WSC Brasil.

Além disso, a bacia banha Manaus, a capital do Amazonas, e exerce um importante papel na navegação do estado.

"Em termos de locomoção é o mais importante para o estado, porque o transporte entre carga e passageiros ocorre entre as cidades.

No entanto, para o turismo do Amazonas a bacia ganha relevância. Muitos passeios turísticos na região metropolitana de Manaus envolvem o Rio Negro. Com a seca, o setor começa a ser afetado.

"O Rio Negro é muito importante para o turismo, então, isso sim vai acabar afetando muitas pessoas que dependem dessa atividade", disse Guillermo. Fontes: g1 AM - 05/10/2023; g1 AM-02/10/2023; g1 AM - 29/09/2023

posted by ACCA@7:06 PM