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segunda-feira, fevereiro 17, 2020

EDIFICIO GARAGEM - RISCOS DE INCÊNDIO -PLÁSTICOS EM VEÍCULOS

Os veículos modernos apresentam um risco de incêndio maior do que nunca. Para lidar com esse risco, os especialistas analisam o projeto e os elementos de segurança dos edifícios‑garagem, comuns nas paisagens urbanas do mundo inteiro

PLÁSTICOS EM VEÍCULOS 
Os materiais utilizados na construção de praticamente todos os veículos mudaram drasticamente ao longo das décadas. Os construtores de carros, submetidos à pressão de cumprir os padrões mínimos estabelecidos pelo governo para a eficiência no uso do combustível e a segurança, trocaram sistematicamente partes metálicas por novos plásticos duráveis para tornar os veículos mais leves e mais seguros, mais resistentes à ferrugem e mais baratos. Os veículos contêm também mais elementos eletrônicos e fiações de plástico do que antes, acrescentando potenciais fontes de ignição.

"A transição começou nos anos 60 no interior dos veículos, quando materiais mais macios e painéis de controle acolchoados suplantaram os painéis metálicos para a proteção em caso de choque", disse Dan Madrzykowski, pesquisador de longa data do Instituto Nacional de Normas e Tecnologia (NIST) que trabalha agora no Firefighter Safety Research Institute do UL.

Na década de 1970, os carros começaram a perder seus para-choques metálicos, que foram substituídos por para-choques de uretano. Com a necessidade crescente de melhorar o rendimento do combustível e a resistência à corrosão, a chapa metálica foi substituída por plástico ou fibra de vidro. Hoje, até os componentes dos motores de ferro fundido ou alumínio, como o coletor de admissão, são feitos de plásticos de alta temperatura.

RISCO DE INCÊNDIO MAIOR DO QUE OS VEÍCULOS MAIS VELHOS
Essas mudanças significam que os veículos modernos podem apresentar um risco de incêndio maior do que os veículos mais velhos, situação comparável com o problema dos incêndios nas casas modernas. Na década de 1950 as casas eram usualmente construídas com elementos de madeira maciça que queimavam lentamente e estavam cheias de materiais como a mobília de madeira dura e as telas naturais.

As casas modernas, pelo contrário, são agora usualmente construídas em materiais de madeira leve que queima mais rapidamente e contêm mobília feita de aglomerado, de espuma de polietileno e plásticos altamente combustíveis. Os testes científicos, junto com as provas circunstanciais dos bombeiros e dos defensores da segurança pública, demonstram que os incêndios residenciais queimam hoje mais rápido e mais forte do que faziam uma geração atrás.

Uma tendência similar parece ter surgido na indústria automotiva. De acordo com o American Chemistry Council, a metade do volume dos veículos modernos é composto por materiais plásticos, mas os materiais plásticos representem apenas 10 por cento do peso médio do veículo.

MAIS PLÁSTICOS NOS CARROS 
Os especialistas da indústria acreditam que, à medida que surjam melhores tecnologias e padrões mais altos de eficiência em relação ao uso de combustível, a percentagem de plástico nos carros só vai aumentar. Nos Estados Unidos, por exemplo, o padrão da média corporativa de rendimento do combustível (corporate average fuel efficiency - CAFE) exige que as frotas de veículos de passageiros dos fabricantes de carros cumpram com uma média de 54,5 milhas por galão até 2025. Para cumprir essas exigências e requisitos similares europeus, o carro médio vai incorporar quase 350 kg de plásticos até 2020, contra 200 kg em 2014, de acordo com uma análise da IHS Chemical, um grupo de pesquisa da indústria química.



INCÊNDIO EM EDIFÍCIO GARAGEM  KING’S DOCK  EM 2017
King’sDock,  estava cheio de visitantes na tarde da virada do ano 2017. Além das atividades usuais antecipando a celebração da noite, milhares de pessoas tinham vindo a King’sDockpara assistir ao popular show internacional de cavalos de Liverpool, realizado na EchoArena, com 11 mil lugares, no coração do bairro. Até às 16h30, quase todas as vagas do estacionamento com múltiplos andares de King’sDock, localizado perto da arena, estavam ocupados por veículos, muitos dos quais caminhonetes grandes e veículos utilitários esportivos.

Merseyside Fire & Rescue foi alertado da situação às 16h42 e chegou oito minutos mais tarde. Quando as equipes de bombeiros chegaram com as linhas de mangueira até o terceiro andar, aproximadamente 18 de 20 veículos estavam completamente incendiados. Os veículos queimavam a uma temperatura tão alta que as três linhas de mangueiras que o departamento costuma mobilizar nesse tipo de incidente não eram suficientes para apagar o incêndio, explicou Barry Moore, diretor do Merseyside Group.

"Se a absorção de calor da água ultrapassar a emissão de calor do fogo, será possível apagar o incêndio - se não, estaremos perseguindo esse incêndio para sempre e essa era a situação naquela noite," ele disse. "Com a carga combustível dos veículos modernos e o tamanho dos veículos que se encontravam na garagem naquela noite, o incêndio só continuava a crescer e crescer e nós não conseguimos travar esse crescimento. A situação ultrapassou a nossa capacidade de extinguir o incêndio."

Os bombeiros de Merseyside rodearam o incêndio e lutaram durante quase uma hora, acrescentando continuamente recursos para o combate, mas eles nunca puderam levar a melhor. As temperaturas superaram os 1100º C na proximidade do fogo, os pneus dos veículos incendiados começaram a explodir. Os tanques de combustível de plástico – que se encontram agora em aproximadamente oitenta por cento dos veículos - se derreteram e quebraram, deixando vazar a gasolina incendiada no chão de concreto, que começou a se desintegrar devido ao calor intenso.

Como muitos edifícios-garagem, o de King’s Dock tinha um sistema de drenagem em cada andar para captar o excesso de água de escoamento e levá-la fora da garagem. Uma fenda de 15 mm de largura corria ao longo do piso da garagem entre as filas de carros estacionados e a água que passava por essa abertura era captada por uma calha de alumínio situada abaixo da abertura e transportada para fora do edifício.

Aproximadamente duas horas depois do início do incêndio, a calha se derreteu, deixando cair livremente uma chuva de gasolina incendiada através da fenda sobre os veículos estacionados no andar de baixo. Ao mesmo tempo, a fenda situada no andar de cima funcionava como uma chaminé que aspirava o gás superaquecido e a fumaça até os veículos do andar de cima. Em poucos minutos, dezenas de carros e caminhonetes situados acima e abaixo dos bombeiros estavam em chamas e foi tomada a decisão de retirada do edifício que corria o risco de um colapso estrutural.

"Quinze minutos depois de nos termos retirado, houve um crescimento muito importante do incêndio e todo o edifício ficou envolvido," disse Moore.
Enquanto o incêndio ardia com fúria, os edifícios na área circundante foram evacuados e os bombeiros mudaram o enfoque da extinção para a contenção.

INCENDIO EXTINTO
Finalmente, às 19h 45 do dia 2 de janeiro, quase 40 horas depois da chegada ao local dos bombeiros de Merseyside, o incêndio se tinha extinguido. Até então a garagem era pouco mais que um monte de concreto chamuscado, sepultando os restos retorcidos de quase 1200 carros, caminhonetas e veículos utilitários esportivos.

VEICULOS EMPILHADOS E ADENSADOS
A popularidade crescente das instalações de tipo rack para a armazenagem de carros causa preocupações emergentes em relação aos incêndios entre especialistas da segurança

AS ESTRUTURAS DE ESTACIONAMENTO
Estão evoluindo rapidamente de forma a poder atulhar muito mais veículos em muito menos espaço de forma a minimizar os custos e maximizar a eficiência.

O FUTURO DO ESTACIONAMENTO
Como muitos estacionamentos urbanos no mundo, o Autostadt em Wolfsburg, na Alemanha, utiliza sistemas automatizados para posicionar e armazenar com precisão os veículos em edifícios altos.
O estacionamento de Houston, projetado por uma empresa chamada U-tron, alcança esse nível notável de eficiência utilizando robôs para empilhar veículos em estantes mecânicas com uma altura de 10 andares. Os robôs da U-tron podem estacionar veículos com uma separação horizontal de quatro polegadas e uma separação vertical de seis polegadas.Atualmente, a empresa tem oito estacionamentos automatizados em operação, a maioria em edifícios residenciais de luxo em Nova York e Nova Jersey.
U-tron não é a única empresa que constrói esses estacionamentos da nova era - em todos os Estados Unidos e no mundo, configurações de estacionamentos em racks estão se espalhando rapidamente à medida que a mecanização e a automatização se tornam mais avançadas e mais acessíveis e os mercados imobiliários nas cidades procuram soluções de estacionamento em áreas onde a terra é tão valiosa como o ouro.

PROTEÇÃO CONTRA INCENDIO
Os benefícios em termos de espaço desses novos estacionamentos são claros, mas muitos pesquisadores e pessoas que elaboram os códigos estão preocupados pelas consequências na proteção contra incêndio de arranjos de armazenamento de veículos tão apertados. Atualmente existem poucas orientações na NFPA 13, Norma para a Instalação de Sistemas de Sprinklers, ou a NFPA 88 A, Norma para Estruturas de Estacionamento, que tratem essas novas configurações de estacionamento. O motivo disso é que houve poucas pesquisas para ver como esses incêndios podem queimar e se propagar em estacionamentos tão densamente lotados e que tipo de projeto e densidade de sprinklers seriam suficientes para apagar os incêndios.

INCÊNDIOS RECENTES EM ESTACIONAMENTOS  

NEWARK, NEW JERSEY
Em janeiro, 17 veículos foram destruídos num incêndio no último andar ao ar livre dum edifício garagem no aeroporto internacional de Newark.

BROOKLYN, NEW YORK
Um incêndio em setembro passado no estacionamento de um centro comercial (acima) destruiu mais de 130 veículos e feriu 21 pessoas incluindo 18 bombeiros, e fechou o centro comercial por dois dias

REINO UNIDO
Em 2015, um incêndio se declarou no porão dum navio que transportava aproximadamente 600 veículos novos e usados atravessando o Canal da Mancha. De acordo com um relatório do US National Transportation Safety Board, um arco elétrico no sistema de frenagem automática de um veículo foi responsável pelo início do incêndio, que resultou na perda de 90 milhões de dólares em carga e a destruição do navio com um valor de 10 milhões de dólares.

PARIS, FRANÇA
Em 2012, um incêndio no estacionamento subterrâneo de cinco andares do Ritz Carlton destruiu pelo menos 50 veículos e causou danos por aproximadamente 5,3 milhões de dólares. Fonte: NFPA Journal Latinoamericano.





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posted by ACCA@7:20 PM