Temporal isola cidades na Grande SP
Cenário
RIO TAMANDUATEÍ
O Rio Tamanduateí é um rio que corta a Região Metropolitana
de São Paulo, no estado de São Paulo..
No seu percurso original, o rio se encontrava com seu afluente
principal: o Rio Anhangabaú, no lugar onde atualmente se encontram a Avenida
São João e o Vale do Anhangabaú. Suas nascentes estão no Parque Municipal da
Gruta de Santa Luzia no município de Mauá, na região da Serra do Mar. Passa
pelos municípios de Mauá, Santo André e São Caetano do Sul e deságua no rio
Tietê, na cidade de São Paulo. Sua bacia hidrográfica possui 320 quilômetros
quadrados. Sua extensão é de 35 quilômetros.
RIO TAMANDUATEÍ NO SÉCULO PASSADO
O rio Tamanduateí teve seu curso alterado ao longo dos anos.
São Paulo começou a crescer e passou a enxergar o Tamanduateí de outro jeito.
Como o rio era muito sinuoso e ocupava espaço demais, surgiu a ideia de ocupar
essa área para construções e passagens de rua. As águas do Tamanduateí que
rasgavam a cidade foram desviadas para um curso artificial.
Os mapas abaixo mostram como era o curso do Tamanduateí de
metade do século XIX e início do século XX.
Em 1850, o Tamanduateí era sinuoso por toda cidade, que
praticamente cresceu grudada nele. A população usava o Tamanduateí para banho,
lavaras os cavalos e charretes.
1850
“Ele tem uma importância econômica grande no começo da
urbanização da cidade de São Paulo, principalmente porque você tem pescadores,
lavadeiras, o mercado dos caipiras e o Porto Geral”, relata a historiadora
Maira Rios.
A Ladeira Porto Geral era o caminho para o Porto Geral, onde
chegavam as mercadorias, inclusive escravos, trazidos pelo Tamanduateí até São
Paulo. A Rua 25 de Março era cheia de água. Fazia parte da várzea do
Tamanduateí e era chamada de Beco das 7 voltas.
Mas logo São Paulo cresceu. A cidade que em 1872 tinha 30
mil habitantes passou a ter 240 mil em 1900 - multiplicou a população por 8 em
menos de 30 anos. O mapa do Tamanduateí começou a mudar.
Em 1894 o mapa já mostra um canal do rio e as curvas
começaram a sumir.
O Tamanduateí foi ficando cada vez mais reto até chegar à
sua forma atual.
Outros rios também passaram pelo mesmo processo, como o
Tietê e o Pinheiros. A São Paulo úmida e pantanosa ficou para trás.
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DESASTRE – 10 A 11 DE MARÇO
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São Paulo |
A chuva que caiu na Grande São Paulo da noite de domingo
(10) ao amanhecer de segunda (11) deixou mortos na capital e em cinco cidades
vizinhas, prejuízos no comércio, árvores caídas e perdas não contabilizadas em
ruas, prédios, escolas, casas e carros inundados.
SÃO PAULO
Segundo o Corpo de Bombeiros, a corporação foi acionada para
698 ocorrências de enchentes..
Além dos transbordamentos, houve acionamentos para 78 quedas
de árvores e 76 desmoronamentos ou deslizamentos de terra.
REGIOES AFETADAS
Os lugares mais afetados foram os bairros de Vila Prudente e
do Ipiranga, ambos na capital, e as cidades do ABC.
■Marginal Tietê com alagamentos.
■ Córrego da Mooca e Rio Tamanduateí transbordaram.
CIDADES SEM ACESSO À CAPITAL
Saídas para a capital a partir de Diadema, Santo André, São
Bernardo do Campo e São Caetano do Sul ficaram interditadas em razão do
alagamento.
Um trecho da Via Anchieta, principal via de ligação do ABC
Paulista com São Paulo, também tem a passagem de carros impossibilitada na
altura da antiga Uniban.
PRECIPITAÇÃO DE CHUVA
■O índice médio de chuva na cidade nessas 12 horas foi de
57,8 mm, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura, ou
quase 1/3 dos 177,4 mm esperados para março e o maior volume registrado na
cidade desde 2006.
■No Jabaquara (zona sul de São Paulo), o volume chegou a 109
mm, o suficiente para encher 615 piscinas olímpicas.
■Em Santo André, na Grande São Paulo, 130 mm
■ Em São Bernardo do Campo, 142 mm.
INTERRUPÇÃO DE TRÁFEGO E TRANSPORTE
■ A linha 10 - turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos), que passa pelo ABC, parou porque a água invadira as estações.
■As principais vias de ligação do ABC com a capital também
sofreram alagamentos e muitos trechos foram interditados. a rodovia Anchieta,
na altura do km 13, em São Bernardo, as pistas centrais e marginais ficaram
bloqueadas devido ao transbordamento do córrego Ribeirão dos Couros.
CONSEQUENCIAS
Carros submersos, residências alagadas, desabamento de
residência, deslizamento de terra, shoppings invadidos pela água, moradores
ilhados, moradores desabrigados..
CORPO DE BOMBEIROS
O Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar atenderam mais
1.261 ocorrências. Bombeiros resgataram moradores ilhados com botes e com o
helicópteros.
Voluntários ajudar resgataram moradores ilhados na região do
Ipiranga, na Zona Sul.
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São Caetano do Sul |
GRANDE SÃO PAULO – REGIÃO ABC
Pouco mais de 36 horas depois das fortes chuvas que caíram na região metropolitana da capital, a
cidade de São Bernardo do Campo ainda tinha ruas alagadas, pessoas ilhadas e
áreas sem eletricidade. Em São Caetano do Sul, lama, lixo e móveis estragados
estão espalhados pelas ruas.
DESABRIGADOS
Mais de 500 famílias estão desabrigadas.
CORPO DE BOMBEIROS
Os bombeiros haviam recebido 864 chamados para enchentes,
175 para desabamentos e 135 para quedas de árvores.
DESTRUIÇÃO EM SÃO CAETANO DO SUL
Em São Caetano do Sul, o cenário é de lama e destruição.
Lixo e móveis estragados pela chuva estão espalhados por calçadas. Três pessoas
morreram afogadas na cidade.
A Rua Major Aderbal de Oliveira, no bairro Fundação, está
quase intransitável com muita lama e entulho. O rio Tamanduateí transbordou com
a chuva, e a altura da água no local superou os 2 metros, danificando até a
estrutura de imóveis.
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São Bernardo do Campo |
DANOS EM SÃO BERNARDO DO CAMPO
A Rua Doutor Gabriel Nicolau, em Rudge Ramos, São Bernardo
do Campo, permanecia inundada na manhã de
terça-feira (12), e a água vai baixando lentamente. No final da rua há
um piscinão que transbordou. Segundo moradores, as bombas do piscinão não
funcionavam há algum tempo. A prefeitura diz que a água invadiu a casa de
máquinas e queimou as bombas.
Pela manhã, um caminhão-pipa da prefeitura limpava uma rua
do bairro. Bombeiros estão no local por precaução, caso volte a chover e a água
volte a subir.
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São Caetano do Sul |
PREJUÍZOS NA REGIÃO ABC
Estimativa da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do
Sul) dá conta de que os prejuízos na região com as enchentes que ocorreram
entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira (dias 11 e 12) podem
chegar a R$ 1,3 bilhão.
Além dos moradores, grandes empresas, como montadoras de
carros, hipermercados e também pequenos comerciantes, sofreram com as cheias,
sobretudo em Santo André, São Bernardo e Mauá. Isso sem falar nos gastos dos
poderes públicos municipais e estaduais, com resgate e atenção às vítimas,
tanto na área de saúde como social, limpeza de ruas e isenções de impostos.
Ainda entram na soma aos gastos de combustível de quem ficou parado nos
congestionamentos, dos consertos de carros atingidos, danos em residências,
falta de funcionários no trabalho e fechamento de escolas e universidades.
CONSEQUÊNCIAS
■Residências, comércio e indústrias foram invadidas pela
água.
■ A fábrica de caminhões da Mercedes-Benz, em São Bernardo
do Campo, foi inundada na madrugada de
segunda-feira (11). A produção foi interrompida, de acordo com a
montadora.
■A Bridgestone, em Santo André também foi afetada.
■Na concessionária Primarca, em São Caetano, a enchente
atingiu carros novos que estavam no showroom e também mesas e computadores. A
loja permaneceu fechada e só reabriu quinta‑feira (14).
■A Apetece, situada na avenida Guido Aliberti, em São
Caetano, ainda calcula os prejuízos. Em nota, relata que perdeu equipamentos,
estoque de alimentos e materiais. A empresa faz 8 mil refeições por dia.
■Na rua Jurubatuba, em São Bernardo, os lojistas tiveram
prejuízos.
Transbordamento dos córregos Curral Grande e do Ribeirão dos
Couros em São Bernardo do Campo
■A água invadiu o hipermercado Extra de São Caetano, e
mercadorias ficaram boiando.
■O supermercado Sam's Club de São Caetano também foi
invadido pela água. Gôndolas inteiras foram derrubadas com a força da
água.
ENTULHO DAS VIAS DO GRANDE ABC
Pelo menos 506 toneladas de entulho foram recolhidas de ruas
do Grande ABC.
VÍTIMAS FATAIS
Os óbitos aconteceram em cidades da Grande SP e na capital
paulista:
■Quatro em deslizamento de terra em Ribeirão Pires;
■Uma criança soterrada após deslizamento de terra em Embu
das Artes;
■Três pessoas afogadas em São Caetano do Sul, duas na
Avenida dos Estados e uma no bairro Taboão;
■Duas pessoas afogadas em Santo André;
■Uma afogada em São Bernardo do Campo;
■Uma afogada no Ipiranga, na capital.
VÍTIMAS-FERIDOS:
■Dois no desabamento em Ribeirão Pires;
■Na Zona Leste, um deslizamento de terra atingiu uma casa –
a mãe e duas crianças ficaram feridas (uma delas em estado grave).
■Dois feridos sem especificação do local
Fontes: TV Globo-29/03/2017, UOL Noticias - 11/03/2019, G1 SP - 12/03/2019, Diário do Grande ABC
-13/03/2019, Jornal Repórter Diário - 15 mar. 2019
Comentário:
Esse um padrão de urbanismo que ainda predomina nas cidades,
encaixar um rio num leito retificado, com as margens impermeabilizadas e
muretas. Ao longo do rio ou córrego constrói avenidas e edificações. O rio
perde toda sua característica natural, ficando engessado numa calha artificial
Suas margens e regiões limítrofes são modificadas por construções, avenidas, de
maneira desordenada. Quando há chuvas torrenciais o rio procura sua forma
anterior, natural, para escoar a água ou manter a vazão do rio de modo
continuo. Com esse engessamento do rio, acrescido pela vazão do rio virtual
provocado pela impermeabilização do solo e desmatamento, ele forçosamente sairá
de seu leito artificial construído pelo homem, para aliviar a pressão e volume
de água existente nesse leito que não comporta esse volume de água.
A cidade vai crescendo, mais impermeabilização, mais água é
direcionado ao rio, que mantém a mesma vazão anterior numa situação crescente
de ocupação urbana, sem ao menos aumentar o leito do rio, que se torna inviável
devido a ocupação de suas margens por infraestrutura urbana.
Esse tipo de desastre obedece a um padrão semelhante em
todos os países.
As principais causas de inundação seriam:
■ A morfologia da cidade a região tem relevo altamente
acidentado, formado por serras, morros, fundo de vale, e encostas íngremes.
■ O clima: chove torrencialmente na época de verão
■ Uso e ocupação do solo de maneira desordenada
■ Não há mapeamento das áreas inundáveis quanto a:
1-Conhecimento da relação cota x risco de inundação
2- Definições dos riscos de inundação de cada superfície
3- Incorporação a Legislação Municipal de uso e ocupação do
solo em zona de risco
4- Uso de Sistema de Informações Geográficas na análise de
projetos de edificações e equipamentos urbanos.
5- Controle público da ocupação regular e irregular
■ A prática legalizada da construção ilegal e construção de
obras públicas que não respeita o ecossistema.
■O aumento da vulnerabilidade é atribuível ao uso do solo e
da água que é muitas vezes ainda não considera as limitações impostas pela
hidrogeologia. É comum no país como padrão, canalizar córrego, retificar e
construção de avenidas ao logo das margens dos córregos e rios. Em conseqüência
disso há uma ocupação desordenada do solo, principalmente construções,
aumentando ainda mais a impermeabilização do solo.
Infelizmente a historia de desastre natural demonstra que
tais acidentes se repetem após um ciclo de poucos anos. Não aprendemos ou as pessoas mudam e as lições são
esquecidas, com os erros dos que nos antecederam. Infelizmente, muita gente não
consegue enxergar nem tirar proveito dos fatos que já aconteceram, os erros repetirão. A natureza tem suas
próprias leis para provocar desastre
Marcadores: alagamento, inundação
