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quinta-feira, julho 23, 2015

Rastros de tornados no sudoeste do Brasil

O presente trabalho trata do estudo de  uma série de rastros de tornados que foram identificados pelo autor numa região que compreende parte do leste do Paraguai, sudoeste  do Brasil e nordeste da Argentina. Os rastros são claramente observáveis sob a forma de faixas desmatadas lineares, essencialmente em fotografias aéreas tiradas em 1965 na escala 1:60.000 e em algumas imagens de Landsat do início da década de 70. A investigação multitemporal da região em consideração  por meio de levantamentos aerofotográficos de diversas épocas mostrou que a maioria dos tornados atingiu a região entre junho de 1964 e julho de 1965; alguns ocorreram antes desse período e um, época posterior.
Os rastros mais longos do presente estudo, um no Paraguai e outro no Brasil, possuem 70 km de extensão, enquanto que o mais largo apresenta cerca de 2 km. O intenso desmatamento que tomou conta da região a partir de meados da década de 60,  desapareceu, quase que totalmente, nos produtos de sensoriamento remoto mais recentes, as marcas das passagens dos tornados.  
Por meio de uma varredura na literatura meteorológica pertinente a região sudoeste do Brasil e da Argentina foram encontrados alguns registros da passagem de tornados, os quais se encontram devidamente referenciados no presente trabalho.


INTRODUÇÃO
A região abordada pelo presente trabalho abrange parte do leste do Paraguai, do sudoeste do Brasi1 e do nordeste da Argentina, e é aproximadamente balizada pelas seguintes coordenadas geográficas: 52º a 56º 30'W e 24º a 27º 30’ Sul.
Neste trabalho são apresentados os resultados das investigações conduzidas pelo autor, que é geólogo e especialista em fotointerpretacão, por meio da análise de produtos de sensoriamento remoto (fotografias aéreas e imagens Landsat) e que permitiu a identificação de um grande número de rastros de tornadas na região em epígrafe, e que são pelo menos em relação  ao território brasileiro, ainda completamente desconhecidos do público em geral.
Obs: Relacionei apenas os estudos das ocorrências  no sudoeste do Brasil.

HISTÓRICO
Em 1979, o autor executou um programa de  fotointerpretação geológica cobrindo toda a região do Paraguai oriental, o que foi feito, essencialmente, com o emprego de fotografias aéreas na escala de 1:60.000 oriundas do levantamento efetuado pela USAF em 1965  e secundariamente por meio de imagens de Landsat originadas, no começo da década de 70.
Durante os trabalhos, o autor teve a sua atenção despertada para uma série de irregularidades da fitofisionomia regional,  ocorrendo sob a forma de faixas alongadas, orientadas de NW a NHW, praticamente destruídas de vegetação arbórea e que contrastavam fortemente com as áreas adjacentes, ainda densamente cobertas de mata.

Em meados de 1984, Julio de Castro, da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM; Rio de Janeiro, ao se interessar pelo assunto e examinar fotos da mesma cobertura (1965), logrou detectar diversas outras feições similares jazendo em território brasileiro, no oeste do Estado do Paraná e regiões fronteiriças.
Após a descoberta das feições anômalas em território brasileiro, procedeu-se a um verdadeiro monitoramento multitemporal daquelas áreas por meio de exame de produtos fotográficos (fotografias aéreas e mosaicos) de levantamentos anteriores a 1965, numa tentativa de se descobrir a época aproximada da ocorrência do fenômeno que motivou a derrubada da mata das áreas anômalas em consideração.

Assim foram examinadas: fotografias aéreas de levantamentos feitos em 1943 (USAF) durante a 2ª Guerra Mundial e representando os produtos aerofotogramétricos mais antigos do país; fotos dos levantamentos de 1952 -57; 1960; 1962 e finalmente, 1964. Devido à disponibilidade mais franca de fotos de diversas épocas que cobriram a área aqui convencionada como 19 (figuras 2 e 3), foi ela a mais sistematicamente estudada.
Nas fotos tiradas em junho de 1964 (figura 2), essa área situada entre a cidade de São Miguel do Iguaçu e o Rio Paraná, ainda não se mostrava afetada pelo fenômeno. Já nas fotos tiradas em julho de 1965, se observava perfeitamente a faixa desmatada de 20 km de comprimento e 600 m de largura, aqui denominada área 19.

Dessa  maneira, a  investigação multitemporal para determinação da data aproximada do evento, concluiu que pelo menos para aquela área,  o acontecimento se deu entre junho de 1964 e julho de 1965.  Ficava provado desta maneira, que no período em referência, alguma ação teria sido  responsável, naquela área, pela destruição de extensa faixa de floresta primitiva, até então  totalmente intocada pela atividade humana.

OS RASTROS DOS TORNADOS.
■ Em maio de 1957, quando a ação de um tufão da largura de 300 m a 400 m atingiu as fazendas de Guarapuava até Cascavel destruindo centenas de casas. A ventania gravou sua trilha bem delimitada nas matas onde as arvores e copas das araucárias se amontoaram umas sobre as outras.
■ Em 27 de maio de 1965, outro forte tufão castigou os campos de Guarapuava nas proximidades de Ente Rios e Pinhão, destruindo Aldeias e faixas de mata além de 200 km para oeste até a cidade de Planalto. Sua força atingiu tais proporções que arrancou arvores com raízes de 30 cm de diâmetro, bem como centenas de casas. Os troncos de araucárias ainda em pé revelaram com seus galhos a direção do vento. Sob os escombros de uma escola em Entre Rios encontravam‑se os cadáveres de uma professora com seu filho, registrando-se centenas de feridos em toda a região.
■ 9 de Julho de 1965 – O ultimo tufão destruidor acompanhado de trovoadas ininterruptas e forte chuva com uma frente de 50 km atingiu o norte do Paraná entre Apucarana e Maringá a noite. Pitanga, Marialva e Manoel Ribas foram fortemente atingidas. O vendaval arrancou pés de café com raízes, destruiu florestas e centenas de casas, registrando-se oito mortos em Pitanga e Marialva e mais de oitenta feridos. O tufão foi tão forte que arremessou uma casa inteira com seus habitantes na estrada Keller a 148 m de distância, matando duas pessoas e ferindo gravemente uma criança (notícias da imprensa de 13 a 14 de julho de 1965)
Estas informações pareciam, finalmente, indicar que as notáveis faixas desmatadas investigadas nas fotos de 1965 representavam as trajetórias devastadoras de alguns tornados ocorridos entre 1964 e 1965, conforme a perfeita descrição de R. Maack. A fim de corroborar essa nova versão, o autor, sempre coadjuvado por Julio de Castro, reexaminou as fotografias aéreas de 195, tiradas em algumas áreas mencionadas por Maack e, numa delas, nos arredores da cidade paranaense de Planalto, situada nas proximidades da fronteira com a Argentina, ficou perfeitamente caracterizado o rastro destruidor do tornado de 27 de maio de 1965. Essa área está assinalada no mapa da figura, numero 17.

No mapa da figura estão cartografados de maneira sumária, 24 dos principais rastros destruidores dos tornados ocorridos na região em epígrafe. 
O exame estereoscópico das aerofotos utilizadas no presente trabalho mostra que ao longo dos mesmos quase não restou cobertura arbórea. A maioria das fotos não permite, porém, uma boa definição quanto à existência de troncos de árvores desfolhadas e desgalhadas efetivamente de pé. Esporadicamente, são observados alguns troncos ainda de pé provavelmente representando árvores mais robustas que ocorriam no seio da mata pluvial subtropical. Que a maioria das árvores ocorrentes ao longo das trajetórias dos tornados em consideração,  foi efetivamente extinta não há dúvida, pois o monitoramento multitemporal de algumas áreas por meio de fotos tiradas posteriormente à passagem dos tornados e em escala mais adequada mostrou que a vegetação arbórea primitiva foi extinta ao longo das faixas devastadas, tendo havido, após algum tempo uma regeração da mata atingida com o crescimento de uma mata secundária, mais baixa e de características diferentes da original.

RASTRO NO 23
Este rastro, de  aproximadamente 70 km de extensão e representando um dos mais longos do presente estudo situa-se no extremo oeste do Estado do Paraná, entre as cidades principais de Cascavel e Guaíra.
No mapa, o rastro se inicia ao sul pouco ao norte de Bragantina, com uma largura média em torno de 400 m, e em direção noroeste.
Passa entre Pérola Independente e Vila Nova, já com largura bem menor. Ao atingir o Rio Dezoito de Abril sofre uma inflexão para a esquerda acompanhando  por alguns quilômetros, o vale desse rio. Pouco depois de passar pelas proximidades de Nova Sta. Rosa, na altura da foz do Rio Dezoito de Abril no Arroyo Guaçu, sofre um incremento de sua largura, que vai aumentando até atingir o máximo ele 1,2  km, pouco ao norte de Sta. Rita do Oeste.  Daí para a frente sua largura vai diminuindo até desaparecer em cunha  nas proximidades de Bela Vista do Oeste, cerca de de 10 km do Rio Paraná. A intensa atividade de agricultura nesta área situada nas proximidades do Rio Paraná impede nas fotografias aéreas em questão (1965), uma melhor avaliação sobre a continuidade do rastro no 23 para oeste.  Do outro lado da fronteira, já no Paraguai, ocorre um outro rastro, aqui denominado no 15, perfeitamente alinhado com o primeiro, sendo bem possível se assumir que os dois constituem uma única trajetória de tornado, com cerca de 120 km de extensão. Na foto aérea tem-se um magnífico rastro da destruição.

RASTRO NO 19
Este rastro de 20 km de extensão e largura máxima de 600 m conforme foto aérea, apresenta como feições marcantes os limites extremamente bruscos e retilíneos entre a zona com mata e aquela desmatada, o que levou  o autor aventar, no início dos estudos, uma origem geológica para o evento. Estes limites tão bruscos,  são uma das características típicas de tornados.
A área 19 foi monitorada por meio de fotografias aéreas mais recentes, tais como as fotos infravermelhas, falsa cor, tiradas em 1974 para o estudo de Itaipu, e nelas foi possível constatar que a faixa desmatada; em zonas ainda  não atingidas pela atividade de agricultura, ainda conservava as características evidenciadas nas fotos de 1965, sem que houvesse sido regenerada qualquer vegetação arbórea mais possante.

CONCLUSÃO
Uma varredura da bibliografia pertinente a tornados e afins nos arquivos do Serviço Nacional  de Meteorologia, Rio de Janeiro, não evidenciou  grandes contribuições aos assunto.
Enquanto no Brasil as referencias bibliográficas são muito restritas no que diz respeito a tornados, na Argentina, ao contrário, já se encontram vários trabalhos tratando do tema e divulgando seus efeitos catastróficos.  Na Argentina há registros de tornados desde 1816.
Pelo que foi apresentado no trabalho em pauta, depreende-se que a região da Bacia do Paraná (Bacia do Prata) é propensa a ocorrência de tornados, os quais podem se fazer presente de maneira fraca até catastróficas. Os seus efeitos, de um modo geral, só se fazem sentir quando suas trajetórias passam por alguma cidade ou aglomerado urbano, resultando então perdas materiais e humanas dignas de menção.
Os tornados indicados no mapa  mostra que a represa de Itaipu encontra-se encravada em área de ocorrência de um grande numero desses sinistros, alguns dos quais, com rastro de 70 km e largura de 1,5 km, certamente teriam causado grandes estragos, caso suas trajetórias tivessem atingidos regiões mais urbanizadas. Os tornados devem ser considerados como uma constante ameaça  a rede elétrica de transmissão ligada a usina de Itaipu.  Fonte: @ZR;  Rastros de tornados no sudoeste do Brasil, leste do Paraguai e nordeste da Argentina – Roberto C. Dyer –BP Mineração Ltda.

Comentário: É importante o registro histórico de desastres naturais. Infelizmente a história dos desastres naturais demonstra que tais acidentes se repetem após um intervalo de período. Os desastres voltam acontecer e geralmente não estamos preparados para esses eventos, pois as lições são esquecidas.

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posted by ACCA@7:00 AM

1 Comments:

At 11:29 AM, Blogger Unknown said...

Muito interessante. Tinha um video no you tube falando destes rastros mas não encontro mais.

 

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