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quinta-feira, julho 02, 2015

Espuma de poluição do rio Tietê invade ruas de Pirapora do Bom Jesus

A espuma da poluição do rio Tietê avança, desde a segunda-feira, 22 de junho, sobre áreas urbanas de Pirapora do Bom Jesus (54 km de São Paulo). O tráfego de veículos chegou a ser prejudicado. Outras cidades da região de Itu também registraram casos semelhantes. 

A espuma, além de detergente, tem produtos químicos e pode ser prejudicial à saúde.


FORMAÇÃO DA ESPUMA
A espuma se forma quando a água passa pelos vertedouros de uma usina hidrelétrica, localizada a poucos quilômetros de Bom Jesus de Pirapora. De acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a formação da espuma está relacionada principalmente a baixa vazão da água, a presença de esgotos domésticos não tratados que dificultam a decomposição de detergentes domésticos.
Como o rio Tietê corta o centro da cidade, com pouco espaço entre as margens e as construções, a situação fica ainda mais grave, com a espuma atingindo construções e, em alguns casos, invadindo ruas.
Na terça-feira, 23 de junho, a espuma chegou a encobrir uma ponte nas proximidades do centro da cidade. O tráfego teve que ser controlado por agentes municipais, mas, segundo a prefeitura, não houve nenhum incidente de gravidade no local.

MORADORES RECLAMAM
Moradores em Pirapora do Bom Jesus relatam ainda que a espuma deixa manchas em roupas e chega até a causar danos à pintura de carros. Também é recorrente a reclamação de mau cheiro.
Se cair na roupa, mancha tudo. É terrível. O inverno mal começou e já está desse jeito. Esse ano vai ser complicado, avalia a professora Bernadete Souza, 42, que mora na cidade há 15 anos.

PROBLEMA ANTIGO E RECORRENTE
O problema na região não é novo e já foi reconhecido pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), ligada à Secretaria do Meio Ambiente. Segundo relatório da instituição, as descargas indiscriminadas de detergentes nas águas levam à formação de espumas, como ocorre no rio Tietê ao longo das cidades de Santana do Parnaíba, Salto e Pirapora do Bom Jesus.
"Um dos casos mais críticos de formação de espumas, talvez no mundo inteiro, ocorre no município de Pirapora do Bom Jesus, que recebe seus esgotos em grande parte sem tratamento. A existência de corredeiras leva ao desprendimento de espumas que formam continuamente camadas de pelo menos 50 centímetros sobre o leito do rio. Sob a ação dos ventos, a espuma, contaminada biologicamente, se espalha sobre a cidade, impregnando-se na superfície do solo e dos materiais, tornando-os oleosos", diz a entidade, em relatório.
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que o problema é recorrente na região e que só poderá ser resolvido com a implantação dos sistemas adequados de coleta e tratamento de esgoto e a responsabilidade pertence a municípios e empresas concessionárias do setor de saneamento básico. Fonte: @ZR, UOL-23/06/2015

Comentário: Como o rio Tietê ficou poluído?
O rio Tietê nasce a uma altitude de 1.030 metros da Serra do Mar, no município paulista de Salesópolis, a 22 km do oceano Atlântico e a 96 km da Capital. Ao contrário de outros rios, ele subverte a natureza: como não consegue vencer os picos rochosos rumo ao litoral, em vez de buscar o mar - como a maior parte dos rios que corre para o mar – o Tietê atravessa a Região Metropolitana de São Paulo e segue para o interior do Estado, desaguando posteriormente no rio Paraná, num percurso de quase 1.100 km.

O rio Tietê percorre 1.100 quilômetros, até o município de Itapura, em sua foz no rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul. Banha 62 municípios ribeirinhos e sua bacia compreende seis sub-bacias hidrográficas: Alto Tietê, onde está inserida a Região Metropolitana de São Paulo; Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê.
O lançamento de esgotos industriais inicia-se a 45 km da nascente na cidade de Mogi das Cruzes. Na zona metropolitana o rio encontra o mais complexo urbano-industrial do país, e conhece um de seus trechos mais poluídos, a foz do Tamanduateí.

Como o rio que nasce limpo fica imundo, morre e renasce
O Tietê sofre a ação de três tipos de poluição: a industrial, a difusa (formada pelo lixo de casas e das ruas levado pela chuva) e a do esgoto doméstico.
Quase 10 milhões de litros de esgoto industrial são despejado por hora, irregularmente, em rios e córregos da Região Metropolitana de São Paulo. A estimativa feita por pesquisadores do Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O volume, de acordo com o cálculo, equivale a 28% do total de efluentes produzidos pelas 58.373 indústrias espalhadas em 39 municípios da RMSP.

Na comparação com os efluentes domésticos, que tem tratamento de 69% da quantidade gerada, de acordo com a Sabesp, o volume industrial é menor, mas considerando seu potencial poluidor, o impacto ao ambiente e à saúde é maior, de acordo com os pesquisadores.

NASCENTE EM SALESÓPOLIS
Nesta cidade no interior paulista, a água brota limpa e transparente por entre pedras, dentro da reserva ambiental Parque Nascentes do Rio Tietê. Em plena serra do Mar, a nascente fica a 1.120 m  de altitude. Há peixes, plantas e vários animais vivendo no rio ou ao redor dele.

BIRITIBA MIRIM
Neste trecho já há vestígios de poluição, mas a maior parte dela ainda é orgânica. O maior estrago aqui é feito por agrotóxicos e fertilizantes jogados na água por hortifrutigranjeiros da região. Eles literalmente fertilizam a água (principalmente quando contém fosfato) e fazem as plantas aquáticas proliferar e competir com os peixes e outros seres vivos por oxigênio

MOGI DAS CRUZES
O rio começa a receber esgotos domésticos das cidades da região. Os dejetos chegam à água sem tratamento nenhum, fator que mais contribui para a poluição.

GUARULHOS
Na Grande São Paulo são 680 toneladas de esgoto (medidas em oxigênio necessário para consumir a poluição) diárias. A partir daqui, são 100 km de rio morto: com a sujeira, nenhum peixe ou planta sobrevive - sobram apenas bactérias anaeróbias.  

PIRAPORA DO BOM JESUS
Neste trecho, há espumas brancas que se formam quando restos de detergente são agitados pelas cachoeiras. Essas quedas auxiliam o rio a recuperar vida: ajudam a barrar naturalmente a poluição e a movimentar e oxigenar a água, em um processo natural chamado autodepuração. Além disso, novos afluentes jogam água, mas limpa, no Tietê.

CONCHAS
Com mais oxigênio, voltam a surgir peixes, plantas, algas e micro-organismos. Antes de chegar aqui, o rio ainda recebe água de boa qualidade de afluentes como o rio Sorocaba e o rio Capivari, ganhando cara de rio "normal" novamente.

BARRA BONITA
Quando chega por aqui, o Tietê já se recuperou da poluição e virou um belo rio. A qualidade das águas ainda não é ideal, mas, com um bom tratamento, já serve até para abastecer algumas cidades. Mas nada é perfeito. Daqui até chegar à sua foz, no rio Paraná, na bacia do Baixo Tietê, em mais 600 quilômetros de curso, não há medição sistemática da poluição, apenas controles esporádicos.

Saiba como o Índice de Qualidade de Águas (IQA) mede a poluição do rio

OXIGÊNIO DISSOLVIDO (OD): Quanto menos oxigênio, mais poluído.
DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (consumo de oxigênio pela água): Quanto maior quantidade, mais poluído.
COLIFORMES TERMOTOLERANTES: (grupo de bactérias encontradas nas fezes)-Quanto maior quantidade, mais poluído.
NITROGÊNIO AMONIACAL (NH4): Encontrado na urina, no esgoto doméstico e nos agrotóxicos. Quanto maior quantidade, mais poluição.
FÓSFORO: Também encontrado no esgoto, nos saponáceos (detergente, sabão) e nos agrotóxicos. Quanto maior, mais poluído.
TURBIDEZ: Tudo quanto é sujeira sólida, terra e sedimentos vindos de assoreamento. Quanto maior, mais poluído.
RESÍDUO: Assim como a turbidez, são de sujeiras dissolvidas na água. Quanto maior, mais poluído.
TEMPERATURA E PH: Isoladas, não têm influência direta na poluição.
Fontes: DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo, Mundo Estranho, edição 91.

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