Espuma de poluição do rio Tietê invade ruas de Pirapora do Bom Jesus
A espuma da poluição do rio Tietê avança, desde a
segunda-feira, 22 de junho, sobre áreas urbanas de Pirapora do Bom Jesus (54 km
de São Paulo). O tráfego de veículos chegou a ser prejudicado. Outras cidades
da região de Itu também registraram casos semelhantes.
A espuma, além de
detergente, tem produtos químicos e pode ser prejudicial à saúde.
FORMAÇÃO DA ESPUMA
A espuma se forma quando a água passa pelos vertedouros de
uma usina hidrelétrica, localizada a poucos quilômetros de Bom Jesus de
Pirapora. De acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a formação da
espuma está relacionada principalmente a baixa vazão da água, a presença de
esgotos domésticos não tratados que dificultam a decomposição de detergentes
domésticos.
Como o rio Tietê corta o centro da cidade, com pouco espaço
entre as margens e as construções, a situação fica ainda mais grave, com a
espuma atingindo construções e, em alguns casos, invadindo ruas.
Na terça-feira, 23 de junho, a espuma chegou a encobrir uma
ponte nas proximidades do centro da cidade. O tráfego teve que ser controlado
por agentes municipais, mas, segundo a prefeitura, não houve nenhum incidente
de gravidade no local.
MORADORES RECLAMAM
Moradores em Pirapora do Bom Jesus relatam ainda que a espuma
deixa manchas em roupas e chega até a causar danos à pintura de carros. Também
é recorrente a reclamação de mau cheiro.
Se cair na roupa, mancha tudo. É terrível. O inverno mal
começou e já está desse jeito. Esse ano vai ser complicado, avalia a professora
Bernadete Souza, 42, que mora na cidade há 15 anos.
PROBLEMA ANTIGO E RECORRENTE
O problema na região não é novo e já foi reconhecido pela
Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), ligada à Secretaria
do Meio Ambiente. Segundo relatório da instituição, as descargas
indiscriminadas de detergentes nas águas levam à formação de espumas, como
ocorre no rio Tietê ao longo das cidades de Santana do Parnaíba, Salto e
Pirapora do Bom Jesus.
"Um dos casos mais críticos de formação de espumas,
talvez no mundo inteiro, ocorre no município de Pirapora do Bom Jesus, que
recebe seus esgotos em grande parte sem tratamento. A existência de corredeiras
leva ao desprendimento de espumas que formam continuamente camadas de pelo
menos 50 centímetros sobre o leito do rio. Sob a ação dos ventos, a espuma,
contaminada biologicamente, se espalha sobre a cidade, impregnando-se na
superfície do solo e dos materiais, tornando-os oleosos", diz a entidade,
em relatório.
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que o
problema é recorrente na região e que só poderá ser resolvido com a implantação
dos sistemas adequados de coleta e tratamento de esgoto e a responsabilidade pertence
a municípios e empresas concessionárias do setor de saneamento básico. Fonte: @ZR,
UOL-23/06/2015
Comentário: Como o rio Tietê ficou poluído?
O rio Tietê nasce a uma altitude de 1.030 metros da Serra do
Mar, no município paulista de Salesópolis, a 22 km do oceano Atlântico e a 96
km da Capital. Ao contrário de outros rios, ele subverte a natureza: como não
consegue vencer os picos rochosos rumo ao litoral, em vez de buscar o mar -
como a maior parte dos rios que corre para o mar – o Tietê atravessa a Região
Metropolitana de São Paulo e segue para o interior do Estado, desaguando
posteriormente no rio Paraná, num percurso de quase 1.100 km.
O rio Tietê percorre 1.100 quilômetros, até o município de Itapura,
em sua foz no rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul. Banha 62
municípios ribeirinhos e sua bacia compreende seis sub-bacias hidrográficas:
Alto Tietê, onde está inserida a Região Metropolitana de São Paulo; Piracicaba;
Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê.
O lançamento de esgotos industriais inicia-se a 45 km da
nascente na cidade de Mogi das Cruzes. Na zona metropolitana o rio encontra o
mais complexo urbano-industrial do país, e conhece um de seus trechos mais
poluídos, a foz do Tamanduateí.
Como o rio que nasce limpo fica imundo, morre e renasce
O Tietê sofre a ação de três tipos de poluição: a
industrial, a difusa (formada pelo lixo de casas e das ruas levado pela chuva)
e a do esgoto doméstico.
Quase 10 milhões de litros de esgoto industrial são
despejado por hora, irregularmente, em rios e córregos da Região Metropolitana
de São Paulo. A estimativa feita por pesquisadores do Grupo de Economia da
Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O
volume, de acordo com o cálculo, equivale a 28% do total de efluentes
produzidos pelas 58.373 indústrias espalhadas em 39 municípios da RMSP.
Na comparação com os efluentes domésticos, que tem
tratamento de 69% da quantidade gerada, de acordo com a Sabesp, o volume
industrial é menor, mas considerando seu potencial poluidor, o impacto ao
ambiente e à saúde é maior, de acordo com os pesquisadores.
NASCENTE EM SALESÓPOLIS
Nesta cidade no interior paulista, a água brota limpa e
transparente por entre pedras, dentro da reserva ambiental Parque Nascentes do
Rio Tietê. Em plena serra do Mar, a nascente fica a 1.120 m de altitude. Há peixes, plantas e vários
animais vivendo no rio ou ao redor dele.
BIRITIBA MIRIM
Neste trecho já há vestígios de poluição, mas a maior parte
dela ainda é orgânica. O maior estrago aqui é feito por agrotóxicos e
fertilizantes jogados na água por hortifrutigranjeiros da região. Eles
literalmente fertilizam a água (principalmente quando contém fosfato) e fazem
as plantas aquáticas proliferar e competir com os peixes e outros seres vivos
por oxigênio
MOGI DAS CRUZES
O rio começa a receber esgotos domésticos das cidades da
região. Os dejetos chegam à água sem tratamento nenhum, fator que mais
contribui para a poluição.
GUARULHOS
Na Grande São Paulo são 680 toneladas de esgoto (medidas em
oxigênio necessário para consumir a poluição) diárias. A partir daqui, são 100 km
de rio morto: com a sujeira, nenhum peixe ou planta sobrevive - sobram apenas
bactérias anaeróbias.
PIRAPORA DO BOM JESUS
Neste trecho, há espumas brancas que se formam quando restos
de detergente são agitados pelas cachoeiras. Essas quedas auxiliam o rio a
recuperar vida: ajudam a barrar naturalmente a poluição e a movimentar e
oxigenar a água, em um processo natural chamado autodepuração. Além disso,
novos afluentes jogam água, mas limpa, no Tietê.
CONCHAS
Com mais oxigênio, voltam a surgir peixes, plantas, algas e
micro-organismos. Antes de chegar aqui, o rio ainda recebe água de boa
qualidade de afluentes como o rio Sorocaba e o rio Capivari, ganhando cara de
rio "normal" novamente.
BARRA BONITA
Quando chega por aqui, o Tietê já se recuperou da poluição e
virou um belo rio. A qualidade das águas ainda não é ideal, mas, com um bom
tratamento, já serve até para abastecer algumas cidades. Mas nada é perfeito.
Daqui até chegar à sua foz, no rio Paraná, na bacia do Baixo Tietê, em mais 600
quilômetros de curso, não há medição sistemática da poluição, apenas controles
esporádicos.
Saiba como o Índice de Qualidade de Águas (IQA) mede a poluição
do rio
OXIGÊNIO DISSOLVIDO (OD): Quanto menos oxigênio, mais poluído.
DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (consumo de oxigênio pela
água): Quanto maior quantidade, mais poluído.
COLIFORMES TERMOTOLERANTES: (grupo de bactérias encontradas
nas fezes)-Quanto maior quantidade, mais poluído.
NITROGÊNIO AMONIACAL (NH4): Encontrado na urina, no esgoto
doméstico e nos agrotóxicos. Quanto maior quantidade, mais poluição.
FÓSFORO: Também encontrado no esgoto, nos saponáceos
(detergente, sabão) e nos agrotóxicos. Quanto maior, mais poluído.
TURBIDEZ: Tudo quanto é sujeira sólida, terra e sedimentos
vindos de assoreamento. Quanto maior, mais poluído.
RESÍDUO: Assim como a turbidez, são de sujeiras dissolvidas
na água. Quanto maior, mais poluído.
TEMPERATURA E PH: Isoladas, não têm influência direta na poluição.
Fontes: DAEE - Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo,
Mundo Estranho, edição 91.
Marcadores: Meio Ambiente
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home