Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

segunda-feira, outubro 27, 2014

Acidente de trabalho provoca a morte do trabalhador

Um acidente de trabalho registrado na terça-feira, 14 de outubro, provocou a morte de um rapaz, por volta das 6 horas, em Apucarana, Paraná.

QUEDA DO TANQUE
De acordo com informação preliminar do Corpo de Bombeiros, um funcionário de estabelecimento industrial situado à margem do Contorno Sul, na BR-376 (km 2) teria caído em compartimento dentro da empresa e morrido no local.
Segundo os Bombeiros, o trabalhador estava realizando manutenção em um dos tanques localizado na empresa, e teria caído dentro do compartimento - com profundidade aproximada de 4 m - que estava cheio de água com produtos químicos, utilizados no tratamento de peças de couro.

VÍTIMA
O corpo do trabalhador foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Apucarana para exame de necropsia.  O  IML informou que a vítima foi identificada como sendo DFA, de 24 anos, residente no Jardim Colonial, na zona leste de Apucarana.

NOTA DA EMPRESA DE ESCLARECIMENTO
A empresa divulgou uma nota, sobre o acidente: Segundo relatos de testemunhas e colegas de trabalho, o funcionário DFA, 24 anos, estava em procedimento operacional na estação de tratamento de efluentes, em local aberto e arejado, quando da manutenção de limpeza da peneira, de maneira involuntária, a peneira caiu em tanque de adensamento de lodo próximo a uma área restrita e protegida. A vítima colocou uma escada e adentrou indevidamente no tanque que estava praticamente vazio, apesar de apelos do colega de trabalho para que não fizesse tal procedimento inseguro e não permitido.   No fundo do tanque, a vítima veio a desfalecer, possivelmente ocasionado por asfixia de gases da fermentação do lodo orgânico.   Imediatamente os colegas de trabalho tentaram retirá-lo, mas devido aos riscos conhecidos de tal operação não foi possível efetivar com sucesso, portanto acionaram os bombeiros rapidamente para  sua retirada e tentativa de reanimação.
Fonte: TN Online - 14 de Outubro de 2014

Comentário:
Sem levar em consideração o mérito de conscientização de segurança, o que podemos analisar o ser humano em relação a percepção do perigo. O que faz uma pessoa entrar num tanque, sabendo dos seus perigos? Por que o perigo, às vezes,  é invisível? Ou o perigo está oculto?
Ou algumas pessoas têm a  incapacidade de detectar e evitar situações ameaçadoras, o que provavelmente contribuem  para a frequência com acidentes ou incidentes?
Temos duas válvulas de escape no nosso comportamento; o medo e ansiedade.
Ansiedade e medo são formas mais intensas de se demonstrar uma preocupação. O medo está na interface do mundo exterior com o mundo interior. Exteriormente, começa pela consciência de fatores de risco que variam fora do controle da pessoa.

O risco é uma probabilidade de dano relacionado ao acaso: significa uma ameaça às pessoas e aos seus valores. Cabe ao indivíduo reagir a esses fatores para preservar a sua própria segurança e das pessoas pelas quais é responsável. Portanto, à consciência do risco está associada a percepção interna da pessoa sobre a sua vulnerabilidade a esses fatores e sua capacidade de reação com êxito.

Assim, pode-se dizer que o medo compõe-se de três elementos básicos:
■Percepção de risco: a consciência de que algo negativo ou danoso pode acontecer;
■Vulnerabilidade: o sentimento de que a própria pessoa pode ser atingida por esses fatores;
■Capacidade de resposta: se os recursos disponíveis e as habilidades  serão suficientes para tratar com êxito a incidência desses fatores sobre o problema apresentado.

O medo varia na medida da alteração desses três fatores. Por exemplo, quanto maior a habilidade e a competência para a resposta, menor a percepção de vulnerabilidade e, portanto, menor a preocupação com o medo. Se cresce o sentimento de vulnerabilidade e de incapacidade de resposta, aguça-se proporcionalmente a intensidade do medo. O medo é a preocupação com o risco e a incerteza sobre a possibilidade de êxito em determinadas situações. 
Medo e ansiedade são usados como sinônimos na vida prática. Mas há uma distinção importante. Por ser a avaliação mental de estímulos ameaçadores, o medo é um processo cognitivo e não uma reação emocional. A ansiedade é a reação emocional a situações de risco.

Medo e ansiedade são conceitos correlatos e, na vida prática, freqüentemente usados como sinônimos. No entanto, há uma distinção importante. O medo é um julgamento de que há um perigo real ou potencial em determinada circunstância: surge com a percepção de risco, ou seja, a possível ocorrência de algo danoso. Por ser normalmente percebido como um perigo, involuntário e, em parte, incontrolável, o risco naturalmente provoca o medo. Uma pessoa sente medo quando se aproxima do perigo ou se imagina lá; portanto, o medo pode aumentar diante de fatores que não estão presentes, mas que poderão ocorrer no futuro. Assim, o medo pode ser realista, explicável por premissas lógicas e razoáveis e por observação objetiva ou irrealista, baseado em premissas falsas e imaginações contrárias à observação. Por definição, imaginações são irrealistas: derivam de crenças falsas sobre a realidade e, normalmente, são frutos de informações incorretas, incompletas ou inadequadas.

Por ser a avaliação mental de estímulos ameaçadores, o medo é um processo cognitivo e não uma reação emocional.
A ansiedade é a reação emocional a situações de risco. Caracteriza-se por ser normalmente um sentimento desagradável de tensão, nervosismo e perturbações físicas. A ansiedade é a resposta natural e instantânea ao medo e, portanto, não pode ser classificada de irrealista ou realista porque é emocional. Ativa-se a ansiedade quando se percebe ou se imagina a situação ameaçadora.
Na maioria das pessoas, a ansiedade resulta em alterações comportamentais visíveis, como ações inusitadas de agressividade ou de inibição; em outras, mantém-se nos limites da vivência interna. Em alguns momentos, a ansiedade adquire uma intensidade maior, resultando em pânico.
Normalmente, a ansiedade se antecipa aos eventos, mas surge também a respeito de algo já passado quando se reativa a imaginação. A ansiedade também pode originar-se de percepções de risco no próprio comportamento, como uma intervenção pública ou uma interação pessoal nova.

O medo e a ansiedade são acompanhados por tentativas de evitar ou escapar da situação que os produz. A tendência ao escape aumenta o sentimento de ansiedade sem necessariamente alterar a situação promotora do medo.

Fatores de decisão
A percepção de risco, o medo e a sua manifestação emocional – a ansiedade – são fontes de perturbações comportamentais que afetam a forma de a pessoa decidir. O processamento de informações é afetado por diversos fatores internos e externos à mente humana, que alteram não só a percepção de dados externos como a forma de valorizá-los e utilizá-los no processo de escolher. A mente humana é repleta de dados e de julgamentos onde se formam associações e as reações de medo e ansiedade podem promover enganos e formulações incorretas de conceitos. Esse processamento confuso de informações ocorre em todas as fases do processo decisório, deixando as pessoas suscetíveis às más decisões.
Quanto mais complexas são as decisões, mais se buscam e se analisam dados e, portanto, maiores as chances de distorções. Fonte: Adaptação do artigo Ansiedade e medo na empresa,
Paulo Roberto de Mendonça Motta, PhD pela Universidade of North Carolina (USA).

Hoje no Mundo de Segurança do Trabalho no Brasil, o governo está criando normas ou melhorando-as  numa velocidade incrível, que durante as  implantações nas empresas, algumas se tornam desatualizadas, não há tempo analisar sua eficácia. Está criando o controle do controle do controle. É a fiscalização de papel.
São prontuários, siglas mais siglas, questionários, tudo preenchido   conforme às normas, tudo nos leva crer sabemos tudo, mas nos leva a não fazer nada, pois os acidentes acontecem, estão acontecendo e acontecerão em um ciclo vicioso.  
Não dá para organizar a vida de segurança do trabalhador num Manual de Instruções de Segurança.

Voltando a realidade da empresa onde ocorreu o acidente: O trabalhador estava fazendo a manutenção e deixou cair a peneira no tanque. O trabalhou pegou uma escada e entrou no tanque quase vazio para pegar a peneira, mas sendo alertado por outros trabalhadores do perigo. O trabalhador veio a desfalecer devido aos gases e morrer.
Podemos indagar; O trabalhador realmente recebeu treinamento?  Ele conseguiu absorver os ensinamentos básicos de segurança? Ele conhecia os perigos existentes no tanque?

TREINAMENTO DE EMPREGADO
Quanto ao treinamento de empregado sobre os riscos de tanques são úteis, pois podem  encontrar-se a execução de serviços em mãos de empregados não treinados ou de terceiros. Isto reforça a necessidade para etiquetagem adequada e chamativa. Em geral, a pessoa leiga não treinada acredita intuitivamente que menos liquido/resíduo,  significa menos risco, quando o oposto é verdadeiro.

Este caso envolve as seguintes normas e recomendações;
·Comunicação de Riscos
·Norma de segurança (espaço confinado)
·Fatores humanos – treinamento
·Manual de Produtos Químicos
·Etiqueta de aviso de perigo

Finalidade da Comunicação de Riscos
·Identificação dos riscos
·Procedimentos de segurança para trabalhar com produtos químicos
·Procedimentos de comunicação de riscos
·A Importância das Etiquetas de Identificação /Etiqueta de alerta
·Equipamentos de Proteção Individual
·Reação a uma Emergência
·Riscos Químicos e Como Controlá-los
·FISPQ – Manual de Produtos Químicos

Marcadores:

posted by ACCA@8:00 AM