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domingo, fevereiro 23, 2014

Número de mortes em acidente com moto sobe em 10 anos

O número de mortes em acidentes de trânsito com motos no Brasil aumentou 263,5% em 10 anos, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), criado pelo Ministério da Saúde.

MORTES
Em 2011, foram 11.268 mortes no país, contra 3.100 usuários de motos mortos em 2001. O Ministério da Saúde informa que os dados de 2011 são os mais recentes disponíveis, visto que o processo de registro de óbito é demorado, levando até dois anos para contabilizar todos os casos.
O salto no número de vítimas fatais em acidentes com motos é bem maior que o aumento do número de mortos por acidentes de trânsito em geral, que envolve carros, motos, caminhões, ônibus, pedestres. Em 2011, foram 42.425 mortes contra 30.524 registradas em 2001 – alta de 39%.

FROTA DE MOTOS AUMENTOU
No mesmo período, a frota brasileira de veículos de duas rodas aumentou 300%, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas e Similares (Abraciclo), com base em números divulgados pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). A quantidade de motos emplacadas no Brasil saltou de 4.611.301 unidades, em 2001, para 18.442.413, em 2011.

FATOR HUMANO
Especialistas apontam que o despreparo de motociclistas e motoristas de carro como as principais causas de  acidentes, apesar de não haver pesquisas mais precisas sobre seus motivos no Brasil.
O fator humano está presente em grande parte, além do crescimento rápido da frota. Existe também a falta de habilitação, ignorância sobre regras de segurança, não uso de equipamentos e imprudência associada com falta de políticas de transporte adequadas para o uso da motocicleta no trânsito do país, aponta Júlia Greve, coordenadora do HC em Movimento, um programa de prevenção de acidentes do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Segundo os médicos do Hospital das Clínicas,  a maioria das mortes de motociclistas é motivada por lesões na cabeça. Ao instituto são encaminhadas as vítimas sem ferimentos internos, com foco no tratamento ósseo, muscular e de articulações.

AFASTADO DO TRABALHO
Usuário de motos há mais de 15 anos, MGC, de 46 anos, faz tratamento desde 2011 no HC, após sofrer uma queda. "Estava em uma via de mão dupla quando apareceu um carro com farol de xênon. Com a luz nos olhos não vi nada e acabei batendo em um caminhão que estava estacionado", explica César, que está afastado do trabalho de prensista devido a sequelas do acidente. Ele diz que buscou na moto uma alternativa para o transporte público falho. "Meu trabalho ficava a 25 km de casa e não tinha como ir de ônibus, pois era muito fora de mão", relata o baiano radicado em São Paulo. "Fazia este percurso há mais de dez anos e nunca aconteceu nada".
Ainda tentando se recuperar de lesão que comprometeu os movimentos da mão direita, ele afirma que não vai deixar de andar de moto. "Quem anda de moto é igual a peão de rodeio: mesmo caindo, não tem como abandoná-la", diz. “Não me arrependo de andar de moto, porque nunca fui imprudente. Não sou de abusar e andar correndo."

INTERNAÇÕES CUSTAM R$ 96 MILHÕES
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2011 houve 155.656 internações por acidentes de trânsito, com custo de R$ 205 milhões. Os acidentes de moto corresponderam a 77.113 delas, totalizando gasto de R$ 96 milhões.

Marcelo de Rezende, médico do IOT (Instituto de Ortopedia e Traumatologia)e coordenador do HC (Hospital das Clínicas) em Movimento, afirma que 44% dos atendimentos no pronto-socorro do HC são de motociclistas.
Segundo ele, o atendimento rápido da vítima é crucial. "Normalmente, o indivíduo chega ao local e fica esperando para fazer o tratamento, pois nem sempre existe um especialista para seu caso. A rapidez no atendimento traz menos infecção, recuperação mais rápida e menor quantidade de sequelas", esclarece Rezende.

MOTOCICLISTA NÃO VÊ SITUAÇÃO DE RISCO
Para o médico, o motociclista não vê a situação de risco e 80% dos acidentados dizem que não tiveram culpa. O motoboy MT, outro que está em tratamento no HC, foge dessa regra: "A culpa foi minha, não vi o carro e bati nele".
Com 10 anos de profissão, o motoboy  sofreu uma fratura no fêmur após queda com a moto. Este foi seu acidente mais grave, de três que já teve. Apesar da lesão severa, também não pensa em deixar a moto. Não quero morrer em cima de uma moto, mas com certeza vou continuar andando, explica.

O médico Rezende também é motociclista, com 29 anos de experiência. "É um transporte mais perigoso, sem dúvida. Quem quiser utilizá-lo tem de fazer uma direção defensiva. São vários conceitos, desde a velocidade que se deve andar até o local".

PERFIL DOS ACIDENTADOS
"A maioria dos acidentados vem de uma classe baixa economicamente, tem de 18 a 30 anos e cerca de 50% usa a moto como meio de transporte", diz Rezende, traçando um perfil dos motociclistas atendidos no HC.
Cerca de 30% de nossos atendimentos são de fora do estado de São Paulo. Não existem centros como este para tratamento especializado espalhados pelo país, diz o médico Rezende.
RMT, de 30 anos, veio do Amazonas para tratar a mão no local. "Um pedestre bêbado atravessou minha frente e acabei caindo", explica.

POLÊMICA DO CORREDOR
Para a médica Júlia Greve, o deslocamento de motos nos chamados "corredores", o espaço  entre duas filas de outros veículos, é agravante nos acidentes. "Principalmente na velocidade em que se anda quando os outros veículos também estão em movimento", opina.
De acordo com o Denatran, o artigo que previa a proibição de motos no corredor foi vetado em 1997 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar de não ser ilegal o uso do corredor, o órgão alerta que as motos devem seguir as regras de circulação geral de todos veículos e que deixar de guardar distância de segurança, lateral ou frontal, de outro veículo pode ser interpretado com infração e o usuário pode ser multado, o que, na prática, não se observa nas ruas brasileiras.
"Se o corredor for proibido vai aumentar o número de mortes de motociclistas. Sem mencionar o caos no tráfego urbano", afirma André Garcia, instrutor de pilotagem, advogado e especialista em gestão de trânsito.
"No Brasil, o motociclista é marginalizado pelo próprio estado. Se em países como França, Itália, Espanha a motocicleta é vista como um importante veículo para tornar eficaz a política de mobilidade, o Brasil caminha na contramão", acrescenta.
Na Europa, apesar de algumas vias  serem restritas à circulação de motos no corredor, o ato é comum na Itália, França e Espanha. Nos Estados Unidos, onde as leis de trânsito são diferentes em cada estado, o chamado "lane splitting" é permitido apenas na Califórnia. Apesar do endurecimento americano para a circulação nos corredores, muitos estados não obrigam todos os motociclistas a usar capacete.
  
ESTATÍSTICA

Acidentes com motos no Brasil
Ano
Frota de motos
Mortes com motos
Total de mortos no trânsito
2001
4.611.301
3.100
30.524
2002
5.367.725
3.744
32.753
2003
6.221.579
4.271
33.139
2004
7.123.476
5.042
35.105
2005
8.155.166
5.974
35.994
2006
9.446.522
7.126
36.367
2007
11.158.017
8.078
37.407
2008
13.084.099
8.898
38.237
2009
14.695.247
9.268
37.594
2010
16.500.589
10.825
40.610
2011
18.442.413
11.268
42.425

Fonte: G1-02/06/2013

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