Lembrança: Incêndio na casa de Shows Canecão
CAUSA PROVÁVEL
A queima de uma cascata de fogos
de artifício sobre o palco de shows, pouco antes de um grupo de pagode se
apresentar.
No momento em que o grupo de
pagode Armadilha iniciaria o seu show, por volta das 2 h, a cascata de fogos
foi acesa. O isopor no teto usado para melhorar a acústica do galpão pegou fogo
e as chamas se alastraram com facilidade pelos fios e pelas paredes revestidas
de espuma, altamente inflamáveis.
PROIBIÇÃO DE FOGOS DE ARTIFÍCIO
O recurso cênico da
chuva-de-prata (espetáculo pirotécnico) utilizado freqüentemente pelo grupo de
pagode Armadilha, no interior da casa de show Canecão Mineiro, nunca foi
contestado pelos proprietários do local. Mas o chefe do Setor de Engenharia do
Instituto de Criminalística, Éder Mascarenhas, enfatiza que é proibida a
utilização de fogos de artifício no interior de qualquer estabelecimento.
PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO
PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO
Instantes antes do começo do show
da Banda Armadilha, pouco antes das 2 horas da madrugada, um funcionário da
casa acendeu algumas piras de fogos de artifício conhecidos como
“chuva-de-prata", que desciam do teto e iluminavam o galpão que estava com
as luzes apagadas, para anunciar o show da Banda Armadilha. Foi quando os fogos
lançaram labaredas no forro de madeira, isopor e plástico. Em menos de três
minutos a tragédia estava consumada.
O pânico que tomou conta de mais
de mil pessoas que estavam no interior do galpão. Enquanto as chamas avançavam
pelo teto, partículas de plástico e isopor incandescentes caíam sobre as
pessoas e incendiavam os cabelos e as roupas de homens e mulheres que pisavam
uns sobre os outros, em busca de uma saída.
O escuro e a fumaça intoxicante,
que tomaram conta do interior do prédio, só fizeram aumentar o terror. Em menos
de cinco minutos, com a maioria das pessoas ainda em busca de refúgio, o que
restou de parte do teto incendiado desabou sobre a multidão.A temperatura do
fogo alcançou 600º graus centígrados na altura do telhado.
CANECÃO MINEIRO
CANECÃO MINEIRO
O Canecão Mineiro era um local de shows populares, com
área construída de 2.400 m2 e com capacidade para 3.000 pessoas.
Cerca de 1.500 pessoas estavam no local.
VÍTIMAS
VÍTIMAS
Segundo a Polícia Militar, os
números oficiais de vítimas foram sete mortos e 340 feridos.
ATENDIMENTO MÉDICO
ATENDIMENTO MÉDICO
Os dois principais
prontos-socorros de Belo Horizonte, o hospital João XXIII, da rede estadual, e
o Odilon Bherens, da rede municipal ficaram lotados com o atendimento às
pessoas que estavam na casa noturna incendiada.
No João XXXIII, foram convocados
45 médicos para ajudar os plantonistas. Pacientes com ferimentos de menor
gravidade foram colocados em macas improvisadas nos corredores, já que as áreas
de atendimento ficaram lotadas. Foram atendidas 132 pessoas, e
cerca de 67 continuavam internadas. As demais 28 vítimas foram transferidas
para hospitais particulares.
Segundo a médica Beth Kophi,
coordenadora do setor de emergência, o maior número de casos foi de pessoas com
queimaduras e problemas de intoxicação por causa da fumaça. "Nós temos
aqui dez pacientes em estado grave, sendo que quatro deles têm uma situação que
pode ser considerada gravíssima", disse ela.
Muitas pessoas que chegaram ao
hospital com problemas de intoxicação, mesmo aparentando boa condição
respiratória após o atendimento, tiveram que ficar ao menos 12 horas em
observação.
No Odilon Bherens, foram 122
entradas no hospital e mais 32 casos tratados em um lugar improvisado no
Odilon. Os pacientes também foram atendidos nos corredores.
Segundo informou a coordenadora
de plantão, a cirurgiã Paula Martins, foram atendidos pacientes com queimaduras
de todos os tipos, desde leves até graves. Ela informou que a equipe que atende
normalmente foi dobrada para conseguir atender todos os pacientes e desobstruir
os corredores.
Nos casos mais simples, foram
feitas assepsia e curativos, retirado o tecido necrosado e receitada a
medicação. Se o paciente estivesse estável, as pessoas iam sendo liberadas, com
indicação de postos de saúde para dar prosseguimento ao tratamento.
Segundo Paula, mais de 50% das
vítimas já haviam tido alta até o final da manhã de sábado, e as outras
continuariam no Hospital, em observação, sendo que seis pessoas estavam
internadas no setor de emergência, com queimaduras de 3º grau (quando são
retiradas muitas camadas da pele), queimaduras graves (em grande porcentagem do
corpo) e obstruções das vias respiratórias.
Para o atendimento, foram
mobilizados 11 clínicos, seis cirurgiões gerais, sendo um deles residente,
cinco cirurgiões plásticos e um reforço de 12 auxiliares de enfermagem e três
enfermeiros.
EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA
EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA
A casa de shows Caneco Mineiro
não atendia às condições mínimas de segurança. Os cinco extintores, apesar de
estarem carregados, não estavam funcionando, segundo o Corpo de Bombeiros. Além
disso, não havia saídas de emergência, portas corta-fogo e nem hidrantes.
Além da falta de estrutura contra
incêndios, a tragédia foi causada pela obstrução da única saída existente no
local. "A porta possuía quatro metros de largura. A partir dela se abriam
duas rampas laterais, em forma de "s", que chegavam à outra porta. Só
então as pessoas tinham acesso à área onde era realizado o show.
O Canecão Mineiro não tinha saída
de emergência, o que poderia diminuir o número de vítimas. O comandante geral
do Corpo de Bombeiros, coronel José Maria Gomes, disse que sinalização e saída
de emergência, abertura compatível com o fluxo de pessoas e com a capacidade do
local, são normas que devem estar previstas no projeto de prevenção contra
incêndio, e ser elaborado pelo estabelecimento.
SAÍDA DE EMERGÊNCIA
SAÍDA DE EMERGÊNCIA
O Canecão Mineiro não tinha
estrutura de emergência para funcionar como casa de shows, segundo o capitão
Antônio Rocha, do Corpo de Bombeiros. "Não havia saídas de emergências e
outros itens obrigatórios de segurança, como iluminação própria para esses
casos e sinalizações de saídas", disse ele. .
Por isso, cada um tentou sair
como pôde. Quando o fogo aumentou, a luz do galpão foi cortada, o que fez com
que as pessoas tivessem que encontrar a saída no escuro. A única saída era um
acesso com aproximadamente quatro metros de largura.
PÂNICO NO MOMENTO DO INCÊNDIO
PÂNICO NO MOMENTO DO INCÊNDIO
Quando o fogo aumentou, a luz do
galpão foi cortada, o que fez com que as pessoas tivessem que encontrar a saída
no escuro. A única saída era um acesso com aproximadamente quatro metros de
largura.
"Algumas pessoas tentavam
escalar as paredes para alcançar o telhado. Não se enxergava nada por causa da
falta de luz e da fumaça", diz o comerciário Aristides Silva, 24, que
sofreu escoriações leves.
"Vi muita gente gritando,
pedindo socorro e sem saber para onde correr. Foi um desespero total",
disse Demilson Nunes, um dos integrantes da banda de pagode Nova Geração, que
faria a última apresentação da noite.
Fábio Roberto Moreira, 25,
internado com queimaduras e escoriações no hospital João 23, disse que o pânico
foi geral dentro da casa noturna Caneco Mineiro. Além da fumaça e da escuridão,
o material do teto que pegava fogo desabava sobre a cabeça do público.
"Foi algo que nunca vi."
FUGA NO ESCURO
FUGA NO ESCURO
No rastro da destruição provocada
pelo incêndio, a única rota de fuga possível para as pessoas encurraladas pelo
fogo e pela fumaça era a escadaria, em ambiente escuro e sem luz.
Para chegar à portaria, elas
tiveram que descer corredores de escada com 16 degraus e um metro e meio de
largura. Depois, mais 17 degraus com largura de quatro metros. Vencida essa
fase, atravessaram as cancelas e percorreram mais 12 metros, até chegarem à
portaria, onde também houve aglomeração.
Algumas pessoas conseguiram sair
pelo telhado, com a ajuda de uma escada de madeira encontrada no local.
RESGATE
RESGATE
O resgate de todas as vítimas do
Canecão Mineiro demorou pelo menos duas horas. É que pelo menos 40 pessoas,
segundo a Polícia Militar, arrancaram as telhas e conseguiram ir para o
telhado, em uma outra parte do galpão onde as chamas não alcançaram. Como o
socorro foi priorizado para as pessoas em estado grave, somente por volta das 4
horas da manhã (sábado) é que os
bombeiros conseguiram retirar todos que estavam no telhado.
FALTA DE ALVARÁ
FALTA DE ALVARÁ
O Canecão Mineiro, não tinha a
licença da prefeitura para funcionar, além da falta de um plano de segurança. A
ausência do alvará foi confirmada pelo procurador-geral do município, Marco
Antônio Teixeira.
O proprietário da casa de shows,
Rubens Resende Martins, usava o alvará da antiga casa noturna que funcionava no
mesmo local, o Trem Caipira, que foi expedido pela prefeitura em fevereiro de
2000, o
Canecão funcionava havia sete meses.
Martins confirmou a falta do
licenciamento. "Como o Trem Caipira era também uma casa de shows, eu
pensei que o alvará continuasse valendo". Ele disse ainda que não tinha
seguro, mas que fará "o possível para indenizar todas as vítimas".
Mesmo a concessão do alvará para
o Trem Caipira não teve a fiscalização do Corpo de Bombeiros, que é competente
para analisar o plano de segurança, verificar saídas de emergência e hidrantes,
além de outros itens.
"Na época em que o alvará
foi concedido, a lei não exigia a fiscalização do Corpo de Bombeiros. Essa
mudança ocorreu em agosto de 2000, quando a lei municipal foi alterada",
disse o procurador-geral do município.
INQUÉRITO POLICIAL
INQUÉRITO POLICIAL
O resultado da perícia que
apontará as irregularidades no funcionamento da casa noturna Canecão Mineiro,
serão apresentados oficialmente a partir da conclusão do laudo técnico,
previsto para 30 dias. Mas os peritos do Instituto de Criminalística, que
trabalharam durante todo o final de semana no levantamento físico da casa de
shows, constataram a evidência de falhas no sistema de prevenção de incêndios
que poderia ter evitado a tragédia.
De acordo com o perito Gérson
Campera, a casa noturna contava apenas com quatro extintores e nenhum hidrante
para abastecer os equipamentos, nem sistema de sprinkler. Além disso, possuía
apenas uma saída de emergência.
FALTA DE FISCALIZAÇÃO EM ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS
FALTA DE FISCALIZAÇÃO EM ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS
O Corpo de Bombeiros garante que,
para fiscalizar os cerca de quatro mil estabelecimentos comerciais de BH,
precisaria usar todo o seu efetivo de 3,5 mil homens em atividade no Estado,
por um período ininterrupto de um ano. Os peritos confirmaram que o Canecão
Mineiro não oferecia a mínima segurança quando um incêndio provocou a morte de
sete pessoas e ferimentos em mais de 300. A Prefeitura alega que, somente no
ano passado, a legislação passou a exigir projeto de prevenção e combate a
incêndio para a liberação de alvarás.
JUSTIÇA
JUSTIÇA
A Defensoria Pública de Minas
Gerais fará um mutirão para atender os feridos e familiares das sete pessoas
que morreram na tragédia do “Canecão Mineiro". Será o primeiro passo para
a ação que será impetrada na Justiça pelos defensores públicos para cobrar dos
proprietários do Canecão uma indenização por danos morais, materiais ou
estéticos. A Defensoria Pública estuda a possibilidade ainda de cobrar a
indenização da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Nesse caso, vai depender da
apuração do Ministério Público de quem é a responsabilidade pela tragédia.
FALTAM EQUIPAMENTOS AOS BOMBEIROS
FALTAM EQUIPAMENTOS AOS BOMBEIROS
Na avaliação de oficiais do Corpo
de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMG), a tragédia ocorrida no Canecão
Mineiro, na madrugada de sábado, pode ser considerada pequena, face às deficiências
que a corporação apresenta em todo o Estado. Faltam equipamentos, veículos,
escadas e efetivo suficiente para atender a uma grande demanda ou a uma
tragédia de grande porte. O comando da corporação admite que existe essa
precariedade, mas alega que está sendo preparado um concurso público para a
contratação de 300 bombeiros, e que há projetos para aquisição de equipamentos
e uma licitação para compra de viaturas. Para se ter idéia, a idade média da
frota de veículos é de 12 anos.
O presidente da Associação dos
Oficiais da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, major Domingos Sávio de
Mendonça, aponta que em Belo Horizonte há apenas uma auto-escada, de 44 metros,
e nove postos, sendo que um fica à disposição do Aeroporto da Pampulha. “Tem
que haver postos mais próximos. Além disso, se houver mais de um incidente na
capital ao mesmo tempo não há como atender.
O oficial observa que pelas
determinações da Organização das Nações Unidas (ONU) é necessário um bombeiro
para cada mil habitantes. Em Minas, o efetivo é de 3600 homens, enquanto o
necessário seria 17 mil.
Um outro oficial, que não
quis se identificar, afirmou que as escadas disponíveis no Estado só alcançam
um prédio de 13 andares. “Se o prédio for maior não dá para salvar as
vítimas", disse.
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO INDICIA 16 POR INCÊNDIO NO CANECÃO
CONCLUSÃO DO INQUÉRITO INDICIA 16 POR INCÊNDIO NO CANECÃO
A Polícia Civil de Belo Horizonte
indiciou 16 pessoas, entre elas, os músicos da Banda Armadilha por serem
apontados como responsáveis pela apresentação de fogos pirotécnicos, os
proprietários da Casa de Show, secretários e fiscais da prefeitura, um oficial
da PM e um detetive da própria polícia, pelos crimes de homicídio culposo e
lesões corporais no inquérito que investigou o incêndio na casa noturna Canecão
Mineiro.
O relatório final aponta ainda
que, além da morte de sete pessoas, o incêndio causou ferimentos em mais de 360
freqüentadores.
Baseado nos depoimentos e
investigações feitos na fase de confecção do inquérito, na Delegacia de
Vigilância Geral, o delegado Carlos Antônio dos Santos revelou, no relatório,
que, em muitos depoimentos prestados, sobretudo por funcionários públicos
municipais, ficou evidenciada a omissão do poder público, que concorreu
indiretamente para a ocorrência do incêndio.
Segundo detalhes do relatório do
inquérito, em todos os depoimentos prestados pelos funcionários da PBH
(Prefeitura de Belo Horizonte) existem alegações de inexistência de
fiscalização na casa noturna.
Mas o ex-secretário municipal de
Atividades Urbanas, Délcio Antônio Duarte, foi especialmente citado pelo fato
de ter recebido, muito antes da ocorrência do incêndio no Canecão Mineiro, o
ofício de número 6.061/2000, oriundo do Grupo de Prevenção e Vistoria do Corpo
de Bombeiros Militar, no qual existiam informações sobre irregularidades no sistema
de prevenção e combate a incêndios do galpão onde funcionava a casa noturna.
O Corpo de Bombeiros informou
ainda, nesse ofício, que havia notificado, por duas vezes, o comerciante Rubens
Resende Martins, sem que ele corrigisse as irregularidades. Isso, segundo o
Corpo de Bombeiros, era o suficiente para que a casa noturna fosse interditada.
Fontes: Hoje em Dia, Folha de São
Paulo e O Estado de São Paulo no período de 25 de novembro a 29 de dezembro de
2001
Comentário: O cenário é o mesmo o
que ocorreu na Boate Kiss em 2013. As características são semelhantes: fogos de
artifícios, materiais combustíveis, falta de segurança.
Infelizmente não aprendemos com as tragédias. Os acidentes
se repetem após um ciclo de anos e as lições são esquecidas.
O incêndio na boate Kiss foi um acidente que matou 242
pessoas e feriu 116 outras em uma discoteca da cidade de Santa Maria, no
estado brasileiro do Rio Grande do Sul. O incêndio ocorreu na madrugada do dia
27 de janeiro de 2013 e foi causado por fogos de artifícios (sputnik) por um
integrante de uma banda que se apresentava na casa noturna. A imprudência e as
más condições de segurança ocasionaram a tragédia.
No Brasil, após uma grande tragédia, indagamos: O que houve
de errado? E nunca preocupamos com a prevenção. O que pode dar errado?
Passado algum tempo, voltamos à rotina das deficiências dos
órgãos competentes, isto é, o ciclo dos quatro F’s;
■Falta de recursos dos órgãos responsáveis,
■Falta de fiscalização,
■Falta de aplicação das normas de segurança e
■Falta de prevenção. Marcadores: incêndio

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