Motociclista acidentado e uso de droga ou álcool
A pesquisa
coletou dados de 326 vítimas de acidentes de moto que aconteceram entre
fevereiro e maio. Os dados referem-se aos acidentes que aconteceram na zona
oeste da capital - região que engloba as duas marginais (do Pinheiros e do
Tietê), parte do Corredor Norte-Sul, Avenida Rebouças e outras vias de
movimento. É nessa região que fica o complexo do HC, referência no atendimento
de politraumatizados no trânsito.
Dados da
pesquisa realizada pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das
Clínicas (HC) de São Paulo revelam;
■1 em
cada 5 vítimas de acidente de moto na capital paulista havia consumido algum
tipo de droga ou álcool antes do acidente: 7,1% consumiram álcool e 14,2%
usaram alguma droga ilícita - a cocaína e a maconha são as mais comuns. Os
dados mostram ainda que entre os 7,1% que consumiram álcool antes de dirigir,
apenas 1 estava com a dosagem considerada segura de álcool no sangue: menos de
0,6 g/l. Todos os outros condutores estavam com doses acima de 0,6 g/l - o que
é considerado um fator de risco altíssimo para acidentes.
■“É assustadora a quantidade de álcool entre
as vítimas. Também chama a atenção o uso de cocaína como agente estimulante.
Isso ajuda a explicar a epidemia de acidentes com motos na cidade”, diz a
fisiatra Júlia Greve, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP) e responsável pela pesquisa. “Os condutores confirmavam o uso
de álcool ou droga, o que demonstra que eles não veem isso como um fator de
risco para acidente.”
Esta foi
a primeira vez que os pesquisadores coletaram amostras de saliva dos
acidentados e as enviaram para análise num laboratório nos Estados Unidos, que
avaliou a presença de álcool e de mais de 30 tipos de drogas no organismo
deles. Também foi a primeira vez que a pesquisa realizou uma perícia técnica no
local do acidente (referente a 141 vítimas), para analisar a dinâmica do caso.
SEM
HABILITAÇÃO
De acordo
com a pesquisa, 44% dos acidentados de moto na cidade sofreram lesões graves e
politraumatismos, e 23% deles não tinham habilitação para dirigir moto. Apesar
de 90% deles estarem usando capacete, só 17,8% estavam com o trio capacete,
jaqueta e bota como segurança.
MAIORIA
JÁ SE ACIDENTOU ANTES
A
maioria dos acidentados com moto retratados na pesquisa do HC-SP é homem (92%),
com 30 anos, em média, e estudou até o ensino médio -- 20% tinham ensino
superior. Mais da metade (62%) ganha de 1 até 3 salários mínimos.
Do
total, 73% disseram que usam a moto como transporte, dirigindo até 2 horas por
dia e 33% se declararam motofretistas, pilotando até 8 horas por dia. Outros 4%
não responderam. Mais da metade dos entrevistados disse que já havia sofrido
acidente antes.
DE QUEM
É A CULPA NO ACIDENTE?
Mais de
70% dos acidentes estudados envolveram dois ou mais veículos. A pesquisa
apontou que motociclistas e motoristas "empataram" na questão de quem
teve culpa no acidente. Em ambos os casos, a imprudência foi o fator que pesou.
Dos
motociclistas entrevistados, 67% dizem que aprenderam a andar de moto sozinhos.
E 23% não tinham habilitação (desses, 75% tinham menos de 32 anos).
O excesso
de velocidade foi constatado em 13% dos casos -na maior parte deles, eram as
motos que estavam acima do limite. A maior parte das ocorrências foi em ruas e
avenidas de velocidade média; 34% foram nas marginais.
Problemas
nas vias, como óleo ou areia na pista e má sinalização, levaram a 18% dos
acidentes. De todas as ocorrências, 97% aconteceram em pista seca e 67% durante
o dia.
Más
condições dos veículos responderam por apenas 8% das colisões e quedas. Freios
e pneus são os principais "vilões" nesses casos. Segundo o HC-SP, 69%
das motos tinham menos de 6 anos de uso.
SEGURANÇA
Do
total, mais de 90% usavam capacete, mas somente 17,8% usavam jaqueta e botas
também. A lei obriga o capacete e vestimenta adequada para conduzir motos, mas
até hoje não foram definidos critérios para os itens de vestimenta, por isso
eles não são cobrados.
Motofretistas
estavam mais equipados que os que usam a moto como transporte. A proteção
depende ainda da energia do impacto. Segundo Júlia Greve, as jaquetas
protegeram contra lesões mais graves nos membros superiores, mas as botas não
influenciaram nas lesões de membros inferiores. "Talvez pela
qualidade", diz a médica. A maioria (80%) dos acidentes envolveu motos de
até 250 cilindradas.
TIPOS DE
LESÕES
De acordo
com a pesquisa, 44% dos acidentados de moto na cidade sofreram lesões graves e
politraumatismos.
Nos
acidentes estudados, 2% resultaram em morte de motociclistas. Entre feridos,
48% tiveram lesões graves, sendo 17% em pernas e pés e 12% em braços. Outros
23% tiveram outros tipos de trauma. A maioria teve alta após o
pronto-atendimento; 18% tiveram de ser internados.
CURSO
Em São
Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) oferece o curso
gratuitamente. O Detran-SP autoriza autoescolas e postos do Serviço Social do
Transporte (Sest) a dar o curso, que é pago. "40 mil motofretistas já
passaram pelos cursos dos Detrans", disse o diretor do Detran.
O número
de motoboys é bem inferior ao da frota de motos na capital paulista. O
sindicato da categoria diz que existem cerca de 200 mil motofretistas na
cidade; o número de motos, segundo a CET, era de quase 1 milhão em 2012.
PROPOSTAS
O estudo
do HC-SP recomenda a criação de um banco de dados de acidentes de trânsito
nacional, envolvendo as polícias, Detrans e hospitais. Além disso, pede a
melhoria no processo de habilitação dos motociclistas, com a inclusão da
direção defensiva.
A
associação das montadoras de motocicletas (Abraciclo) diz que é favorável a
mudanças no processo de habilitação, inclusive a subdivisão da categoria A, de
acordo com a cilindrada da moto (A1 para ciclomotores e motos de até 50 cc, A2,
para até 350 cc, e A3 para as mais potentes), diz o diretor José Eduardo
Gonçalves. O assunto tem sido discutido em câmara temática do Conselho Nacional
de Trânsito (Contran).
A
coordenadora da pesquisa, Júlia Greve, aponta ainda que é preciso acabar com o "combate
hipócrita" da embriaguez de motociclistas e motoristas, com menos leis e
mais punição. O inspetor Marcio José Pontes, da Polícia Rodoviária Federal, que
participou da apresentação do estudo, concordou. "O trabalho (de
fiscalização) está sendo feito, mas as pessoas não estão deixando de dirigir
embriagadas."
Daniel
Annemberg, diretor do Detran-SP, lembrou que há 6 instâncias para que um
condutor que causou um acidente estando embriagado pode recorrer antes de ter a
CNH cassada. "O Detran não tem instrumentos legais para cassar a carteira.
A legislação dificulta a punição." Fontes: G1
e Gazeta do Povo - 15/08/2013
Comentário:
Lesões
que os motociclistas sofrem com mais frequência?
■ As
pernas costumam ser a região mais comprometida nos acidentes de moto,
principalmente a tíbia, osso muito exposto e desprotegido. Não importa como
tenha ocorrido a acidente, o motoqueiro sempre cai da moto. Muitas vezes é
lançado longe e sofre lesões graves com perda de pele que infeccionam e
demandam longo tempo de tratamento ou até mesmo a amputação do membro.
■ Em
segundo lugar, vêm os traumatismos da face e do crânio, em geral traumas mistos
também com lesões graves. A propósito, é importante observar que alguns
trabalhos de campo com motoqueiros mostram que as condições do capacete que
usam deixam muito a desejar. Os protetores estão vencidos ou foram retirados, a
mentoneira (cinta jugular) está quebrada ou não existe, e os capacetes servem,
quando muito, para esquentar a cabeça e enganar a fiscalização. Quando
arremessados da moto, os motoboys batem a cabeça que é pesada e está mal
protegida e sofrem traumas de crânio de difícil e lenta recuperação. Eles ficam
em coma durante muito tempo e nunca se sabe como será sua recuperação.
■ Em
terceiro lugar, estão as lesões dos braços e do plexobraquial, nervos que
enervam os membros superiores. Os motoqueiros podem sofrer trações violentas
provocadas por movimentos bruscos da coluna cervical em relação ao tronco e que
resultam em estiramento ou ruptura. O plexobraquial é arrancado na região da
medula na altura da coluna cervical, o que resulta em paralisia do membro
afetado. Às vezes, essas lesões são tão graves que nenhuma microcirurgia
consegue reparar o dano e fazer o paciente recuperar os movimentos.
■ Por
fim, vêm os acidentes que lesam tronco e coluna. Quando o motoqueiro está em
velocidade e bate em alguma coisa ou se depara com um obstáculo, é lançado
longe, porque a energia acumulada na moto é transferida para seu organismo.
Dessa forma, tanto motoqueiros quanto pedestres recebem um impacto sem nenhum
tipo de proteção o que explica a gravidade das lesões sofridas por esses
indivíduos. Nos automóveis, o ocupante que usa o cinto de três pontas está
muito mais protegido do que aquele que não o usa. Fonte: Júlia Greve, fisiatra, professora da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP)
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