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segunda-feira, agosto 19, 2013

Motociclista acidentado e uso de droga ou álcool

A pesquisa coletou dados de 326 vítimas de acidentes de moto que aconteceram entre fevereiro e maio. Os dados referem-se aos acidentes que aconteceram na zona oeste da capital - região que engloba as duas marginais (do Pinheiros e do Tietê), parte do Corredor Norte-Sul, Avenida Rebouças e outras vias de movimento. É nessa região que fica o complexo do HC, referência no atendimento de politraumatizados no trânsito.
Dados da pesquisa realizada pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo revelam;
■1 em cada 5 vítimas de acidente de moto na capital paulista havia consumido algum tipo de droga ou álcool antes do acidente: 7,1% consumiram álcool e 14,2% usaram alguma droga ilícita - a cocaína e a maconha são as mais comuns. Os dados mostram ainda que entre os 7,1% que consumiram álcool antes de dirigir, apenas 1 estava com a dosagem considerada segura de álcool no sangue: menos de 0,6 g/l. Todos os outros condutores estavam com doses acima de 0,6 g/l - o que é considerado um fator de risco altíssimo para acidentes.
■“É assustadora a quantidade de álcool entre as vítimas. Também chama a atenção o uso de cocaína como agente estimulante. Isso ajuda a explicar a epidemia de acidentes com motos na cidade”, diz a fisiatra Júlia Greve, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e responsável pela pesquisa. “Os condutores confirmavam o uso de álcool ou droga, o que demonstra que eles não veem isso como um fator de risco para acidente.”

Esta foi a primeira vez que os pesquisadores coletaram amostras de saliva dos acidentados e as enviaram para análise num laboratório nos Estados Unidos, que avaliou a presença de álcool e de mais de 30 tipos de drogas no organismo deles. Também foi a primeira vez que a pesquisa realizou uma perícia técnica no local do acidente (referente a 141 vítimas), para analisar a dinâmica do caso.

SEM HABILITAÇÃO
De acordo com a pesquisa, 44% dos acidentados de moto na cidade sofreram lesões graves e politraumatismos, e 23% deles não tinham habilitação para dirigir moto. Apesar de 90% deles estarem usando capacete, só 17,8% estavam com o trio capacete, jaqueta e bota como segurança.

MAIORIA JÁ SE ACIDENTOU ANTES
A maioria dos acidentados com moto retratados na pesquisa do HC-SP é homem (92%), com 30 anos, em média, e estudou até o ensino médio -- 20% tinham ensino superior. Mais da metade (62%) ganha de 1 até 3 salários mínimos.
Do total, 73% disseram que usam a moto como transporte, dirigindo até 2 horas por dia e 33% se declararam motofretistas, pilotando até 8 horas por dia. Outros 4% não responderam. Mais da metade dos entrevistados disse que já havia sofrido acidente antes.

DE QUEM É A CULPA NO ACIDENTE?
Mais de 70% dos acidentes estudados envolveram dois ou mais veículos. A pesquisa apontou que motociclistas e motoristas "empataram" na questão de quem teve culpa no acidente. Em ambos os casos, a imprudência foi o fator que pesou.
Dos motociclistas entrevistados, 67% dizem que aprenderam a andar de moto sozinhos. E 23% não tinham habilitação (desses, 75% tinham menos de 32 anos).
O excesso de velocidade foi constatado em 13% dos casos -na maior parte deles, eram as motos que estavam acima do limite. A maior parte das ocorrências foi em ruas e avenidas de velocidade média; 34% foram nas marginais.
Problemas nas vias, como óleo ou areia na pista e má sinalização, levaram a 18% dos acidentes. De todas as ocorrências, 97% aconteceram em pista seca e 67% durante o dia.
Más condições dos veículos responderam por apenas 8% das colisões e quedas. Freios e pneus são os principais "vilões" nesses casos. Segundo o HC-SP, 69% das motos tinham menos de 6 anos de uso.

SEGURANÇA
Do total, mais de 90% usavam capacete, mas somente 17,8% usavam jaqueta e botas também. A lei obriga o capacete e vestimenta adequada para conduzir motos, mas até hoje não foram definidos critérios para os itens de vestimenta, por isso eles não são cobrados.
Motofretistas estavam mais equipados que os que usam a moto como transporte. A proteção depende ainda da energia do impacto. Segundo Júlia Greve, as jaquetas protegeram contra lesões mais graves nos membros superiores, mas as botas não influenciaram nas lesões de membros inferiores. "Talvez pela qualidade", diz a médica. A maioria (80%) dos acidentes envolveu motos de até 250 cilindradas.

TIPOS DE LESÕES
De acordo com a pesquisa, 44% dos acidentados de moto na cidade sofreram lesões graves e politraumatismos.
Nos acidentes estudados, 2% resultaram em morte de motociclistas. Entre feridos, 48% tiveram lesões graves, sendo 17% em pernas e pés e 12% em braços. Outros 23% tiveram outros tipos de trauma. A maioria teve alta após o pronto-atendimento; 18% tiveram de ser internados.

CURSO
Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) oferece o curso gratuitamente. O Detran-SP autoriza autoescolas e postos do Serviço Social do Transporte (Sest) a dar o curso, que é pago. "40 mil motofretistas já passaram pelos cursos dos Detrans", disse o diretor do Detran.
O número de motoboys é bem inferior ao da frota de motos na capital paulista. O sindicato da categoria diz que existem cerca de 200 mil motofretistas na cidade; o número de motos, segundo a CET, era de quase 1 milhão em 2012.

PROPOSTAS
O estudo do HC-SP recomenda a criação de um banco de dados de acidentes de trânsito nacional, envolvendo as polícias, Detrans e hospitais. Além disso, pede a melhoria no processo de habilitação dos motociclistas, com a inclusão da direção defensiva.
A associação das montadoras de motocicletas (Abraciclo) diz que é favorável a mudanças no processo de habilitação, inclusive a subdivisão da categoria A, de acordo com a cilindrada da moto (A1 para ciclomotores e motos de até 50 cc, A2, para até 350 cc, e A3 para as mais potentes), diz o diretor José Eduardo Gonçalves. O assunto tem sido discutido em câmara temática do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
A coordenadora da pesquisa, Júlia Greve, aponta ainda que  é preciso acabar com o "combate hipócrita" da embriaguez de motociclistas e motoristas, com menos leis e mais punição. O inspetor Marcio José Pontes, da Polícia Rodoviária Federal, que participou da apresentação do estudo, concordou. "O trabalho (de fiscalização) está sendo feito, mas as pessoas não estão deixando de dirigir embriagadas."
Daniel Annemberg, diretor do Detran-SP, lembrou que há 6 instâncias para que um condutor que causou um acidente estando embriagado pode recorrer antes de ter a CNH cassada. "O Detran não tem instrumentos legais para cassar a carteira. A legislação dificulta a punição." Fontes: G1 e Gazeta do Povo - 15/08/2013

Comentário:
Lesões que os motociclistas sofrem com mais frequência?
■ As pernas costumam ser a região mais comprometida nos acidentes de moto, principalmente a tíbia, osso muito exposto e desprotegido. Não importa como tenha ocorrido a acidente, o motoqueiro sempre cai da moto. Muitas vezes é lançado longe e sofre lesões graves com perda de pele que infeccionam e demandam longo tempo de tratamento ou até mesmo a amputação do membro.
■ Em segundo lugar, vêm os traumatismos da face e do crânio, em geral traumas mistos também com lesões graves. A propósito, é importante observar que alguns trabalhos de campo com motoqueiros mostram que as condições do capacete que usam deixam muito a desejar. Os protetores estão vencidos ou foram retirados, a mentoneira (cinta jugular) está quebrada ou não existe, e os capacetes servem, quando muito, para esquentar a cabeça e enganar a fiscalização. Quando arremessados da moto, os motoboys batem a cabeça que é pesada e está mal protegida e sofrem traumas de crânio de difícil e lenta recuperação. Eles ficam em coma durante muito tempo e nunca se sabe como será sua recuperação.
■ Em terceiro lugar, estão as lesões dos braços e do plexobraquial, nervos que enervam os membros superiores. Os motoqueiros podem sofrer trações violentas provocadas por movimentos bruscos da coluna cervical em relação ao tronco e que resultam em estiramento ou ruptura. O plexobraquial é arrancado na região da medula na altura da coluna cervical, o que resulta em paralisia do membro afetado. Às vezes, essas lesões são tão graves que nenhuma microcirurgia consegue reparar o dano e fazer o paciente recuperar os movimentos.

■ Por fim, vêm os acidentes que lesam tronco e coluna. Quando o motoqueiro está em velocidade e bate em alguma coisa ou se depara com um obstáculo, é lançado longe, porque a energia acumulada na moto é transferida para seu organismo. Dessa forma, tanto motoqueiros quanto pedestres recebem um impacto sem nenhum tipo de proteção o que explica a gravidade das lesões sofridas por esses indivíduos. Nos automóveis, o ocupante que usa o cinto de três pontas está muito mais protegido do que aquele que não o usa. Fonte: Júlia Greve, fisiatra, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)

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