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quarta-feira, dezembro 19, 2012

Comportamento humano nos incêndios

O estudo do comportamento humano em situações de incêndio, é um estudo complexo, pelo fato de serem impraticáveis as realizações de certos experimentos que venham a demonstrar as reais reações e comportamentos, sem que venha a se expor a riscos a integridade física dos envolvidos nestes, e com isto os estudos existentes fornecem apenas partes das situações reais experimentadas por vítimas em situações reais de incêndio. Estes estudos têm sido conduzidos nos últimos 40 anos iniciando-se na década de 60 nos Estados Unidos e na Inglaterra, sido intensificados a partir da década de 70, pela ocorrência do incêndio do edifício Joelma em São Paulo em 1974. Cenas bem vivas até hoje de pessoas se lançando ao espaço na tentativa de escapar as chamas percorreram todo o mundo, via televisão, se tornando uma referência trágica mundial e aguçando a curiosidade científica mundial.
De todos os fatos observados uma coisa é certa: - de que o treinamento prévio de como agir ou sobreviver em meio a um incêndio, realizado com uma certa periodicidade, pelo menos uma vez ao ano, é a forma mais segura de se reduzir as fatalidades e os acidentes decorrentes dos incêndios.

RESPOSTA FISIOLÓGICA
As reações humanas são condicionadas por um mecanismo fisiológico, no qual o homem ao ser informado de uma situação de perigo, o qual ele identifica com base em experiências, cognitivas anteriores ou de conhecimento adquirido através da informação e de relatos, o qual lhe permite estabelecer comparações. As reações, estas as mais típicas são:
■ a fuga, na maior parte dos comportamentos ou,
■ a luta da situação de perigo, ou a ausência dela,
■ a inércia, em que nada mais é de um processo total de negação do fato relacionado com o perigo, motivado por uma situação maior e mais complexa que a capacidade individual de ser tomada qualquer ação, quer fugir ou lutar. A resposta fisiológica ao medo é um dos fenômenos fisiológicos mais básicos, inerentes às espécies animais, e a garantia de sua sobrevivência e evolução. Os seres vivos, em especial os animais, cujo homem é parte integrante da espécie, ao perceberem da ocorrência de um determinado perigo, pelos seus sentidos, sendo os mais importantes e influentes: a visão, a audição, o olfato, e o tato, têm o seu processamento lógico-sensorial baseado na definição ou não de uma situação de perigo como visto anteriormente. Esta situação sendo identificada como uma situação de perigo é transmitida um impulso elétrico pelo Sistema Nervoso Central (o qual corre em grande parte pelo interior da coluna vertebral) a um conjunto de glândulas situadas sobre os rins - as glândulas supra-renais, as quais se incumbem de liberar o hormônio adrenalina (ou epinefrina) para a corrente sanguínea.

Em momentos de "stress", as supra-renais secretam quantidades abundantes deste hormônio que prepara o organismo para grandes esforços físicos, estimula o coração, eleva a tensão arterial, relaxa certos músculos e contrai outros.

Quando lançada na corrente sanguínea, devido a quaisquer condições do meio ambiente que ameacem a integridade física do corpo (fisicamente ou psicologicamente, medo), a adrenalina aumenta a freqüência dos batimentos cardíacos (cronotrópica positiva) e o volume de sangue por batimento cardíaco, eleva o nível de açúcar no sangue (hiperglicemiante). Esta reação minimiza o fluxo sanguíneo nos vasos e no sistema intestinal enquanto maximiza o tal fluxo para os músculos voluntários nas pernas e nos braços e "queima" gordura contida nas células adiposas, promovendo uma relativa insensibilidade das extremidades bem como possibilita uma coagulação rápida de pequenos ferimentos.

Também promove a dilatação pupilar (midríase) o que aumenta o campo angular de visão, e consequentemente o campo visual para fuga, luta ou percepção do perigo. Para reações de curta duração, decorrentes de uma situação ou sensação de perigo rápido (um escorregão, ou susto por exemplo) esta substância é secretada pela parte exterior da glândula supra-renal.

Para situações de stress ou perigo mais duradouro, como por exemplo: um incêndio, um tiroteio ou uma ameaça constante, esta substância é excretada pelo córtex (ou seja, a parte interior) da glândula supra-renal, a qual libera quantidades menores porém intervaladas em um tempo maior, proporcional a ameaça e a sua duração. O fato da percepção de uma situação de risco pode passar por conjunto de julgamentos iniciais que levam à dúvida ou a incredibilidade, em geral sempre através de um processo de negação, com pensamentos do tipo "eu não acredito que isto esteja acontecendo" ou "não pode ser verdade".

DEMORA NA TOMADA DA DECISÃO
Via de regra há uma demora significativa entre a tomada de qualquer decisão entre lutar e ou fugir, o que por vezes se torna fatal, pois os desdobramentos dos eventos, em especial dos incêndios, se desenvolvem com velocidades rápidas ( em geral a partir de 3 min e 42 seg. experimentos do NIST – National Institute of Standards and Technologies – E.U.A. a produção de elementos tóxicos e a temperatura de um incêndio a menos de 2,10m já se tornam críticos à vida) em termos de produção de fumaça, com a liberação de produtos tóxicos, opacidade e liberação súbita de calor ( a ocorrência de um "flashover" ).

FUGA DESCONTROLADA
Na fuga, a qual é um processo descontrolado, e em geral é a causa maior de acidentes e fatalidades. Entretanto na desocupação, o qual é um processo controlado ou sob comando, as pessoas tendem a seguir os padrões das instruções previamente recebidas, quer por treinamentos ou exercícios simulados, e ainda seguindo as informações contidas em sinais ou plantas de emergência, com isto as pessoas devem nestas situações serem sempre informadas para onde ir e como agir. Ao contrário do que se pensa, e do muito que se tem divulgado ao longo dos anos, é raro nos incêndio ocorrer o chamado pânico, que é uma resposta de inadaptação a uma determinada situação não controlada ou não controlável.

Entretanto há uma profunda e significativa relação de pré-disponibilidade para estas situações em eventos esportivos ou religiosos, aonde associado a elevada densidade ocupacional, e ao reduzido número e as dimensões das vias de saída, há o forte apelo emocional, como elemento latente.

As pessoas de uma forma geral seguem os caminhos e as ações as quais estão acostumadas ou foram treinadas, é um padrão típico dos animais, incluindo formigas, abelhas e até bactérias. Experiências demonstram na elaboração de Planos de Escape, que apesar de uma determinada via de fuga se encontrar mais próxima ou adequada, as pessoas em situação de perigo tendem a utilizar aquela que estejam mais acostumadas, em um processo hoje denominado Dinâmica das Multidões (Crowd Dynamics).

PULAR, OPÇÃO LÓGICA
Mesmo em situações em que as pessoas se lançam pelas janelas em um incêndio, tal visão de quem está do lado de fora sugere a ocorrência de pânico, entretanto sob a lógica decisória comportamental dos envolvidos, tal ação era um resultado de uma escolha entre ficar e morrer em meio as chamas cuja probabilidade de sobrevivência seria nenhuma, a uma probabilidade ainda que infinitamente pequena: a de saltar e sobreviver, portanto tal atitude é baseada em uma opção lógica, apesar de parecer o contrário.

OCORRÊNCIA OU NÃO DE PÂNICO
O evento corrido no World Trade Center (WTC) em 11 Setembro de 2001, lançou novas luzes sobre o fato e demonstrou que mesmo sobre eminência e conhecimento do perigo em que estavam expostas as pessoas, não houve pânico, e as pessoas procuravam ajudar uma às outras. Um grande número de cardiopatas, obesos, com restrições de locomoção, asmáticos, grávidas etc. para escaparem daquela situação, uma vez que as escadas, isto é aquelas que ainda se mantinham desobstruídas, e possibilitavam tal conduta e geravam em virtude de sua dimensão e sinalização um relativo conforto e segurança psicológica..

Na ocorrência do pânico, após várias tentativas de ação frustradas por uma determinada reação, p. ex. tentar várias vezes escapar por uma porta que se encontra fechada, dá lugar a tentativas de quebra da mesma, ou mesmo devido a raros eventos, como o exemplo ocorrido no Station Nightclub, em West Warnick, Rhode Island, EUA, em 20 de Fevereiro de 2003, quando 100 pessoas entre empregados e clientes perderam a vida, ficando um grande número presos as portas por retenções corpo a corpo. Estas ações por vezes individuais, por vezes coletivas se processam a velocidades cada vez maiores, uma vez que há um perigo em desenvolvimento e constante aproximação: - o fogo e com isto as ações tendem a ser mais rápidas e portanto levam a uma descoordenação motora, psicológica e sensorial de onde resultando no pânico, o qual se manifesta ou por choros compulsivos, gritos, ações inesperadas, ou bloqueio psicológico do tipo inercial - paralisia e apatia total.

AÇÃO DO MONÓXIDO DE CARBONO NO ORGANISMO
Em muitos casos de incêndios, entretanto esta situação na realidade não chega a se  manifestar, pois a própria ação dos compostos da fumaça, em especial o monóxido de carbono (CO) levam ao entorpecimento das ações por meio da sonolência e dos  desmaios. Isto decorre em razão dos efeitos fisiológicos da combinação do CO com a hemoglobina no sangue através de um processo químico ocorrido a nível celular em atmosferas normais.

CONSCIÊNCIA COLETIVA
 Na realidade as pessoas em uma situação de emergência tendem a seguir padrões comportamentais regidos por uma "consciência coletiva", a qual pode ser definida como um arcabouço cultural de idéias morais e normativas, adquiridos pela humanidade ao longo de sua evolução, tendo padrões típicos comportamentais assim denominados:
■ Aglutinação - fenômeno pelo qual o ser humano se sente melhor protegido quando em grupo do que isolado e, portanto, em situações de perigo as pessoas tendem a se agrupar umas as outras, cujo sentimento  remota a mais básica das sensações emocionais do ser humano: a proteção pelo abraço materno, em uma determinada área, em geral um saída, a qual por vezes podem não ser a mais adequada para fins de escape, e,
■ Convergência- Quando tal mecanismo de “Aglutinação” inverte-se, e observando que a oportunidade de sobrevivência será tão e exclusivamente única para poucos, em função das limitações ao livre escape, as pessoas lutam pela sua sobrevivência, agredindo umas as outras, pisoteando-as, como é muito comum em estádios esportivos.

 O AMBIENTE DO INCÊNDIO
Um dos elementos fundamentais de toda estratégia da Proteção Contra Incêndios é a Proteção a Vida (Life Safety), e neste conceito há três direções:
■ a prevenção da ignição,
■ o controle do incêndio e
■ o terceiro que é o de isolar as pessoas dos efeitos impactantes da combustão pelo: tempo, distância e abrigo.
Os fatores específicos que determinam um maior ou menor sucesso durante uma desocupação estão ligados a três parâmetros básicos: Tempo, Tempo-Crítico e Intervalo para ação.

Tempo
Como o incêndio se desenvolve ao longo de uma linha do tempo, e nesta linha vimos que a fumaça é o elemento impactante, que primeiro surge e por mais tempo se mantém, mesmo depois da extinção das chamas e da redução do calor (a nível de tolerância fisiológica). A ameaça está diretamente relacionada com a velocidade de propagação do fogo (Flame Spread Rate), esta consideravelmente maior aonde existe uma determinada carga mobiliária (p.ex. cadeiras, sofás, camas, em geral como quase tudo hoje à base de polímeros sintéticos) bem como revestimentos (p.ex. divisórias, forros, pisos) estes também a base de polímeros sintéticos, como espumas, poliestireno etc.

Em alguns casos como o caso do incêndio do Hotel MGM em Las Vegas, ocorrido em 21 de Novembro de 1980, em Las Vegas, EUA, o fator de difícil identificação ligado as características (inodoro, incolor, insípido) do monóxido de carbono (CO), fez com que não pudesse ser percebida a propagação da fumaça em decorrência de um incêndio que lavrava no restaurante do Hotel, tendo se propagado pela juntas de dilatação sísmica e penetrado nos vários quartos, deixando um saldo de 85 mortos, sem que houvesse neles a identificação de menor esforço ou posição indicativa de percepção do risco ou de escape.

Tempo-crítico
O tempo crítico para a sobrevivência humana, e consequentemente para o escape é composta de três condições que interagem entre si:
■ as temperaturas elevadas do ambiente,
■ as condições tóxicas e
■ as atuais ou pré-existentes condições psico-fisiológicas dos ocupantes.

Temperaturas elevadas do ambiente podem causar queimaduras ou stress térmico (intermação) que mesmo lentas podem comprometer o equilíbrio homeostático e levar à morte, bem como golpes súbitos de calor radiante proveniente de "flashovers" - inflamação generalizada do ambiente ou "backdrafts" - explosões súbitas de fumaça.

As condições tóxicas podem ser criadas em função da composição química do material que se encontra presente e de suas concentrações (carga de incêndio).

As atuais ou pré-existentes condições psico-fisiológicas dos ocupantes são diretamente afetadas pelas temperaturas elevadas do ambiente e pelas condições tóxicas do local, sendo um exemplo comum a de problemas cardíacos anteriores, o que leva a inúmeras fatalidades nos incêndios.

 Intervalo para ação
O intervalo entre a descoberta do fogo e a estimativa de seu risco, pode ser definido como o tempo disponível para serem tomadas as ações que previnam os ocupantes de estarem expostos aos riscos do incêndio.
Esta ação pode ser através da ativação do equipamento automático de extinção ou pelo confinamento do incêndio (compartimentação) , saída dos ocupantes (desocupação) ou ambos. Quanto mais cedo for descoberto o fogo mais tempo se terá para as ações de controle, e neste aspecto os sistemas automáticos de detecção e de extinção de incêndios (detectores,  sistema de sprinklers) ocupam preponderante papel. O risco nem sempre cresce com a mesma velocidade do incêndio. A ação de um destes sistemas pode reduzir a velocidade de propagação deste risco.

 O FATOR HUMANO
Duas pessoas reagem de forma diferente a uma mesma situação quando ela ocorre, e mesmo assim, uma destas pode agir de uma determinada forma hoje e diferentemente daqui a algumas horas, dias ou semanas. Há certos fatores que podem determinar como nós agiremos em determinadas situações. Como nós agimos frente ao calor, fumaça e chamas é baseado nos seguintes fatores:

■  Idade - Os mais novos devido ao desconhecimento e as restrições de mobilidade, e os mais velhos ( por isso as faixas de maior vulnerabilidade nos incêndios é até os 5 anos e acima dos 65 anos) além destas restrições de mobilidade, devido a outros problemas de ordem sensorial e neurológica tem a sua capacidade de lidar com o incêndio reduzida tornando-se um fator crítico de sobrevivência,
■ Tamanho - Pessoas de maior massa muscular podem tolerar melhor altas doses de materiais tóxicos gerados nos incêndios, entretanto no tocante ao condicionamento cardio-respiratório, crucial nestas condições de sobrevivência, estas pessoas em geral mal condicionadas podem tornar-se vítimas potenciais,
■ Condições físicas pré-existentes - A condição geral de um indivíduo poderá ter um efeito na sua sobrevivência em um incêndio, Nestas podemos incluir: - estabilidade cardíaca ( determinada pela condição anatomo-fisiológica do sistema cardio-circulatório),
■ Condição Aeróbica (associada ao condicionamento cardio-respiratório) - Mobilidade (ligada ao biotipo, peso, altura, flexibilidade articular, doenças músculo-esqueléticas), neste aspecto temos também de considerar grávidas, pessoas com restrição motora, visual e auditiva, em especial cadeirantes,
■ Capacidade Respiratória - A maior parte das "causas mortis" nos incêndios decorre da inalação de fumaça. Por esta razão a capacidade respiratória é uma condição crítica de sobrevivência na situação de um incêndio. Quaisquer doenças crônicas pré-existentes como efisema pulmonar e asma (devido a alteração respiratória por conta da alteração e da elevação da freqüência respiratória, em decorrente da obstrução dos músculos pulmonares contraem-se, interrompendo o ciclo respiratório e provocando vasoconstrição - diminuição do calibre das vias aéreas pulmonares. Fatores estes associados a fumaça, stress, calor etc.), podem reduzir consideravelmente esta capacidade.
Fatores agudos como Resfriados, Gripes ou Pneumonias podem vir a afetar esta capacidade. E no caso de fumantes as condições pulmonares, bem reduzidas em geral, dificultam a ações de troca pulmonar a nível alveolar, em termos de absorção de O2, e consequentemente dificultando uma boa irrigação sanguínea cerebral, indispensável para a tomada de ações, quer quanto ao critério, quanto a velocidade das mesmas, quer quanto ao impulso neurológico em uma situação de incêndio.
■ Medicação, drogas e álcool - estes elementos reduzem substancialmente a capacidade de avaliação e da percepção dos riscos inerentes a um incêndio, alterando  substancialmente a capacidade de se tomar a decisão adequada frente a emergências. Estatísticas recentes (United States Fire Administration – USFA , Abril, 17 , 2008) citam que pelo menos 10% das fatalidades em incêndios residenciais tem como causa principal o uso de drogas ou álcool, em especial nas comunidades mais pobres. Neste aspecto a faixa etária envolvida neste tipo de evento se situa entre 20 a 64 anos, cujos índices são duas vezes maiores que as outra faixas etárias, e os homens são os mais predominantes neste aspecto.

 RISCOS DO INCÊNDIO
Como as pessoas reagem ao incêndio é determinado pelos riscos provenientes da situação do incêndio, estes são determinados pela:
■temperatura, calor, fumaça e
■ redução da taxa de oxigênio.

Temperatura - os efeitos podem variar com a duração da exposição. A umidade e respirabilidade também têm efeito. As condições mais severas podem ocorrer mais entre 50°C até 65°C e são consideradas incapacitantes. Temperaturas acima de 100°C podem causar a morte.
A tabela ao lado mostra os efeitos fisiológicos do calor:

■ Fluxo de Calor e queimaduras - Esta é a medida de quanto calor é disponível para ser transferido a pele humana ( ou outra superfície). O limite superior é 2.5kW/m2 por 3 minutos sem dor severa. Isto é equivalente a colocação da mão a poucos centímetros  de uma lâmpada de 100 watts por cerca de 3 minutos. O ponto alto da temperatura será quanto mais rápido a queimadura ocorrer.

■  Obscurecimento pela Fumaça - A fumaça tem diversos efeitos negativos - a redução da visibilidade para menos de 4 metros, a irritação e a toxidez causada pela inalação, causa lacrimejamento e medo, e consequentemente reduz a capacidade da pessoa escapar.

■  Redução do nível de oxigênio (O2) – O índice de oxigênio na atmosfera é da ordem de 21%, portanto,  quando este valor é reduzido vários efeitos fisiológicos ocorrem, bem como psicológicos. Quando ocorrem a redução do nível de O2 podemos  relacionar a valores porcentuais quanto a valores associados à pressão. Quando temos a redução dos valores quantitativos temos os efeitos associados à anoxia, a qual pode resultar em comportamentos irracionais e que por vezes são sugeridos de estarem ligados ao fator pânico, entretanto com a redução do percentual de O2 no cérebro, há  o aumento dos valores de dióxido de carbono (CO2), o qual produz um efeito sedante e por vezes dependendo da concentração alucinógeno, fazendo com que se feche uma porta ao invés de abrí-la para fugir de um incêndio.

CONCENTRAÇÃO DE OXIGÊNIO NO LOCAL
A quantidade de O2 no ambiente determina ou não a sobrevivência em um incêndio;
■ concentrações menores que 9% levam a inconsciência imediata, e a
■ partir do terceiro minuto nestas condições restritivas caem as chances de sobrevivência em um incêndio.

Há muitos gases resultantes do processo de combustão, entretanto o mais comum e consequentemente o mais problemático é o monóxido de carbono (CO), que é responsável por mais da metade das mortes relatadas nos incêndios, devido a sua extrema compatibilidade com a hemoglobina (Hb) conforme citado anteriormente. Além de perigoso em pequenas quantidades, as concentrações de CO tendem a ser cumulativas, ou seja isto significa que diversas exposições em curtos intervalos de tempo podem fazer com que sejam acumuladas consideráveis concentrações de CO, o que pode se tornar fatal em alguns casos.

Em 1979 Walter Berl e Byron Halpin do Johns Hopkins University analizaram 463 mortes decorrentes de incêndios em Maryland, nos E.E.U.U. e apresentaram a primeira estatística que evidenciava a relação destas mortes diretamente a inalação de CO.  

A presença de partículas sólidas de carvão, resultante da combustão incompleta, se alojam nas vias respiratórias e criam espasmos musculares, do tipo tosse, enjôo e vômitos devido a sua toxidez. Em contato com a retina ocular provocam coceira, e lacrimejamento o que pode levar a acidentes em decorrência da perda temporária da visão.

 O COMPORTAMENTO HUMANO DURANTE OS INCÊNDIOS
Da forma que um indivíduo é informado de que um incêndio está se desenvolvendo próximo a si tem um impacto direto sobre as suas ações. Há diversas formas nas quais as pessoas possam ser alertadas da ocorrência de um incêndio, em via de regra são:
■ sistemas de alerta - Através de sons ou luzes específicas, uma vez já reconhecidas através de programas informativos, de treinamento ou exercícios simulados levam a pessoa a identificar como um alerta de incêndio. É importante que estes sinais, possuam intensidade sonora acima do ruído de fundo em especial nas indústrias (acima de 95Db), podendo por vezes serem conjugados com sistemas luminosos. Sistemas de Ar Condicionado tendem a absorver ruídos e com isto quando no funcionamento destes sistemas em especial em hotéis, os sinais tendem a passar desapercebidos.

Crianças e idosos possuem em geral sono mais profundo o que vem a dificultar a percepção destes sinais. Entretanto estes sistemas apenas informam que está ocorrendo um incêndio, entretanto não informam como agir e para onde se dirigir, portanto devem ser seguidos de instruções dadas por sistemas de notificação sonora. Estes alertas devem apenas ser utilizados, no sentido geral, ou seja para o público, uma vez que a situação está de difícil controle e para a segurança dos ocupantes é imprescindível a desocupação ( controlada) ou o abandono ( por ação própria)

■ Sistema de Notificação Sonora - Este sistema deve ser complementar aos sistema de alerta, uma vez que uma mensagem pura e simples, pode passar desapercebida em meio a pessoas, trabalhando, conversando com máquinas funcionando, em ambientes com grande concentração de público, como shopping centers, na fase ainda controlável do incêndio, as mensagens devem ser apenas em código e destinadas apenas às equipes de emergência, evitando-se assim ansiedade e condutas descontroladas e inapropriadas.
   As mensagens devem ter uma elaboração prévia, e algumas palavras como “Calma”, “Não Corra”, podem vir a ser problemáticas, gerando um entendimento inverso ao esperado. O volume da mensagem, o tom de voz também tem um efeito direto na forma pela qual as pessoas percebem a ameaça.

■  Cheiro de fumaça - O cheiro da fumaça é um outro fator importante  na percepção que um incêndio está em desenvolvimento, o que leva a maior parte das pessoas a tentar a localização exata de sua origem.

■ Notificação pessoal - A notificação pessoal constitui a forma direta e em geral a tida como a mais confiável pela maior parte das pessoas, especialmente se esta notificação for dada por familiares ou colegas de trabalho.
 
■ Barulhos - Um outro modo de percepção da ocorrência de um incêndio pode ser a de pessoas subindo ou descendo escadas, no corredor, vozes altas, gritos, apitos, viaturas do Corpo de Bombeiros chegando etc.
    
Nos estudos realizados na Inglaterra e Estados Unidos, entre 1987 e 1991 sob a forma de questionários, chegaram algumas conclusões importantes:
■  A maior parte das pessoas 39% acredita durante o acionamento de um alarme de incêndio tratar-se apenas de um exercício simulado, e outra quantidade significativa 23% pensa estar relacionado o som com as atividades de manutenção dos sistemas, apenas 14% consideram a hipótese de um incêndio real;
■ As razões que levam as pessoas a considerar que mesmo após terem percebido o sinal de alarme de incêndio, consideram que se trata de um incêndio,  34% informaram que com somente uma informação oral adicional, 18% devido a familiaridade com o som e 14% na incerteza consideram-no como um alarme real;
 ■ Quanto a reação ao alarme,
- um número significativo de pessoas 24%, ignora o alarme,
-enquanto outros 24% procuram localizar o alarme,
-13% procuram comprovar se o incêndio é real e
-outros 13% avisam terceiros para deixar o edifício;
■ Uma vez tendo sido cientificados por terceiros, ou seja, por outras pessoas que ouviram o alarme, e repassaram a informação,
- 38% procuraram deixar o edifício em resposta as instruções,
enquanto 18% preferiram ignorar o alarme e
- 13% preferiram manter suas atividades rotineiras, ao invés de abandonar o local;
■Entretanto após uma situação de incêndio real, feita uma avaliação teve como resultado:
 - 68% das pessoas ligaram o som ao incêndio real em andamento,
- entretanto mesmo assim 32% das pessoas não ligaram o alarme ao incêndio;

Estes dados tendem a provar que via de regra: “AS PESSOAS NÃO ACREDITAM QUE OS INCÊNDIOS POSSAM  OCORRER, A NÃO SER QUANDO ELE ESTÁ REALMENTE OCORRENDO.”

■ Quanto a real percepção da ocorrência de um incêndio a certeza foi dada:
- Para 26% das pessoas, através do cheiro da fumaça, para outras
- 21% através da notificação direta e
- 18% pelo barulho associado;
 Cinco processos seqüenciais foram identificados como padrões-resposta a situações de emergência, predecessores do pânico os quais se alternam sucessivamente em uma espiral crescente, são eles:
RECONHECIMENTO
Da forma que um indivíduo é informado ou tem a sensação de "que algo não corre bem", ou seja, de que um incêndio está se desenvolvendo próximo a si, tem um impacto direto sobre as suas ações.
VALIDAÇÃO
Este processo consiste na tentativa de avaliar o quão séria representa a ameaça a que ele está exposto, quando são colocadas questões do tipo: - "Devemos desocupar o prédio ou aguardar as instruções?", "Este cheiro de fumaça será de algo que realmente está queimando?".
DEFINIÇÃO
Este processo consiste basicamente no conhecimento da informação sobre o perigo ao qual o indivíduo está exposto, dentro de certas variáveis qualitativas, como a natureza da ameaça, a magnitude do risco, e o contexto temporal de desenvolvimento da emergência, neste caso do incêndio. Neste aspecto o indivíduo pode determinar o curso de andamento da situação, com questões do tipo "A quantidade de fumaça que ainda poderemos ver?" ou "Quantidade  de calor que ainda poderemos sentir?"
AVALIAÇÃO
Este processo pode ser descrito como um conjunto de atividades cognitivas e psicológicas requeridas para que o indivíduo venha a responder à ameaça. A habilidade individual de se controlar a ansiedade e o stress torna-se fatores preponderantes, e neste processo a ameaça causada pelo incêndio determinará, segundo o padrão psicológico ou vivencial do indivíduo a ação subseqüente: a de fugir ou a de lutar contra o fogo.
EXECUÇÃO
Esta parte do processo é relativa ao conjunto de mecanismos os quais o indivíduo lançará mão, o qual foi estabelecido previamente, durante o processo de avaliação, e que será a garantia de sua sobrevivência.
REAVALIAÇÃO
Este é o processo mais estressante para o indivíduo, em especial quando uma última tentativa tem acabado de falhar, e a subseqüência destas tentativas ( p. ex. tentar escapar de locais aonde as portas se encontram fechadas ou obstruídas), pode levar devido a recorrência do stress, cansaço à perda subseqüente da coordenação motora ao incremento da possibilidade de sucesso, tornando as decisões cada vez menos racionais e daí ao pânico como elemento final.
Fonte: Sérgio Baptista de Araujo, Ten. Cel. BM .

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