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sábado, setembro 22, 2012

Incêndio atinge prédio comercial no centro de Taubaté

Um incêndio atingiu  um prédio na Praça Dom Epaminondas, no Centro de Taubaté, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo, na tarde de quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011. O incêndio começou por volta de 12h, no departamento de informática de uma loja de eletrodomésticos, que fica no térreo.  
O prédio tem oito andares. Algumas pessoas que estavam no edifício não conseguiram sair e subiram para o terraço. 

PROPAGAÇÃO DAS CHAMAS
As chamas atingiram rapidamente os pisos superiores. Dez pessoas que trabalhavam no edifício não conseguiram sair e ficaram presas.

FOGO CONTROLADO
O fogo foi controlado por volta das duas e meia da tarde, mas ainda os focos de incêndio só foram totalmente eliminados depois das quatro horas da tarde. Ao mesmo tempo, foi feito um trabalho de ventilação, para resfriar o prédio e também para que a fumaça que tomou os oito andares pudesse ser eliminada.

Equipes de resgate fizeram uma varredura no prédio em busca de mais vítimas, mas não encontraram nada.

PERÍCIA
A Polícia Científica esteve no edifício Central Offices na manhã de sexta-feira. De acordo com os peritos, o imóvel não sofreu danos estruturais. Ainda não se sabe a causa do incêndio, mas existe a suspeita de curto-circuito. O laudo da perícia deve ficar pronto em 30 dias.

RESGATE
Dez pessoas foram resgatadas pelo helicóptero Águia, da Polícia Militar, do terraço. De acordo com a PM, o resgate foi feito com o auxílio de um cesto. As pessoas que ficaram presas no edifício foram levadas para um local seguro e depois encaminhadas para atendimento médico.

TESTEMUNHAS
A quinta-feira transcorria normalmente quando o advogado Aluísio de Jesus, que trabalha com três irmãos e o filho no oitavo andar do edifício, ouviu as sirenes dos carros dos bombeiros. “Quando ouvi as sirenes, pensei que o problema era na praça”, afirmou o advogado. Porém, ao notar que a fumaça continuava a subir e o incêndio era no prédio, o grupo começou a descer pelas escadas de emergência. O advogado  orientou os familiares a pegarem e molharem toalhas, o que possibilitou que se deslocassem pelos corredores tomados pela fumaça. Na descida, o grupo encontrou o advogado Onivaldo de Freitas Junior  e suas funcionárias, que passaram a acompanhá-los na busca por socorro.

DESCIDA INTERROMPIDA PELA FUMAÇA
Ao chegarem ao quinto andar, era impossível continuar a descida. “Caiu uma parede e a escada virou uma verdadeira chaminé. Era uma fumaça preta, com cheiro tóxico”, disse Matheus Mello Nobre de Jesus, filho de Aluísio.

Aluísio e Onivaldo mantiveram contato com os bombeiros e com a Polícia Militar pelo celular. O grupo foi orientado, então, a subir até  cozinha que fica entre o oitavo andar e a laje do edifício. Depois de ficar cerca de meia hora na cozinha, a fumaça os obrigou a subir até a laje. “A fumaça era tanta que o jeito foi subir, pelo menos daria para respirar lá em cima”, contou o auxiliar de escritório William Nobre, de 30 anos.

Com a visibilidade comprometida, o grupo andava de mãos dadas. E para complicar a situação, o acesso à laje exigiu que o grupo escalasse uma grade de arames e abrisse uma porta à força.  

RESGATE PELO HELICÓPTERO
Os bombeiros contaram a Aluísio que seria preciso acionar o helicóptero da PM, mas ele não quis falar para todos os integrantes do grupo para evitar que o desespero das pessoas aumentasse. “Falei que achava que os bombeiros já estavam conseguindo chegar até nós pelas escadas, como eles realmente conseguiram. Foi uma mentira ‘santa’ só para tranquilizar as meninas”, disse.
Já na laje, ficou mais fácil respirar, mas o grupo tinha que caminhar com cuidado. “Tinha cabos de alta tensão para todo lado”, disse Aluísio.
O socorro dos bombeiros chegou, enfim, por volta das 14h. “Para mim aquele sufoco foi interminável”, disse Sandra. Os dez integrantes do grupo foram retirados um a um com auxílio de um cesto. “Eu achei melhor ter sido retirado de helicóptero. Eu tenho medo de altura. Se fosse para descer pela escada magirus, eu ia ficar lá em cima”, disse Matheus.

CORPO DE BOMBEIROS
De acordo com o síndico do prédio,  funcionários da Loja Marabraz acionaram o Corpo de Bombeiros, mas a equipe demorou a chegar.
Além disso, os equipamentos levados pela primeira guarnição não foram suficientes para conter as chamas. Somente alguns minutos depois é que outras equipes chegaram para dar reforço.

AJUDA
A intensidade das chamas e a velocidade com que elas se alastravam mobilizaram mais de 120 homens dos Bombeiros de Caçapava, São José e Taubaté, além da brigada de incêndio do Cavex (Comando de Aviação do Exército), que também auxiliou com três helicópteros, homens da Defesa Civil, policiais militares e voluntários.

DEMORA DA CHEGADA DOS BOMBEIROS
A demora de mais de 30 minutos do Corpo de Bombeiros para chegar ao local foi motivo de críticas de comerciantes, população e vítimas.
A Marabraz informou que, assim que as primeiras chamas e a fumaça apareceram, a empresa acionou a polícia, que chegou rapidamente ao local. Segundo a loja, os Bombeiros só teriam chegado meia hora depois com um único caminhão. Só depois de ver a gravidade da situação, os Bombeiros teriam pedido reforço.
O síndico do prédio Central Office, também reclamou da demora dos Bombeiros. "Consideramos uma situação absurda já que o Corpo de Bombeiros fica a menos de cinco minutos daqui. Eu acionei os Bombeiros, a loja acionou e eles não chegavam. Felizmente não correu uma tragédia ainda maior", disse.

O QUE DIZ  OS BOMBEIROS.
O Corpo de Bombeiros negou qualquer tipo de demora na ocorrência.
De acordo com o capitão Ulisses Pereira, assim que a corporação foi acionada, imediatamente passou a mobilizar os homens para atender à ocorrência e inclusive solicitando o apoio das brigadas de incêndio das empresas automobilísticas da região e do Exército.
Cerca de 40 homens dos Bombeiros atuaram no trabalho contra o incêndio.

LOJA E PRÉDIO
O espaço de mil metros quadrados ficou completamente destruído. Na manhã seguinte ao incêndio, o local onde os produtos, como sofás, camas e colchões eram expostos estava tomado por cinzas. As investigações apontam que o fogo provavelmente surgiu num canto da loja, onde é possível ver o que sobrou dos extintores usados pelos funcionários para tentar controlar as primeiras chamas.

No segundo andar há mais marcas da destruição. O laudo que vai confirmar as causas do acidente deve sair em 30 dias, mas a principal suspeita é que tenha havido um problema elétrico na sobreloja. Os andares mais afetados foram os primeiros onde ficam a sobreloja da Marabraz e o segundo, que ficaram completamente destruído. O chão destes dois andares estava inteiro coberto de cinzas que se misturavam a pedaços de paredes e moveis queimados. “O prédio não teve abalo estrutural,  mas determinamos que seja colocado imediatamente uma tela de proteção em todo o prédio para evitar que a estrutura externa afetada despenque e atinja pedestres”, disse o perito Rogério Gonçalves.

FUMAÇA INVADIU TODO O PRÉDIO
 Apesar de o fogo só ter alcançado os três primeiros andares, a fumaça invadiu todo o prédio.
A estimativa de reforma do prédio é de  três meses. “O prejuízo foi muito grande e ainda não conseguimos avaliar o tamanho da destruição, agora é trabalhar para recomeçar”, disse a advogada Katia Souza, que tem um escritório no 2º andar.

EQUIPAMENTOS DE INCÊNDIO COM PROBLEMAS
A falta de equipamentos e o péssimo estado de conservação dos veículos da unidade dos Bombeiros de Taubaté chamou a atenção de autoridades e da população.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados da Brasil), Aluísio Nobre, que foi uma das vítimas que precisou ser resgatada pelo terraço do prédio e integra a Comissão de Segurança do município, disse que a situação precária será debatida pela comissão. "Todos viram a situação dos Bombeiros de Taubaté, não tinham escadas, não tinham máscaras suficientes e os homens subiam quase sem ar em meio as fumaças, uma situação insustentável para uma cidade do porte de Taubaté", afirmou.
Enquanto os homens da corporação lutavam para conter as chamas, voluntários auxiliavam o trabalho tentando conter vazamentos das mangueiras e direcionavam os jatos para o prédio.

Fonte: O Vale -  3 a 5 de fevereiro de 2011 

Vídeo:
Nota-se pelo vídeo, incialmente, os bombeiros estavam com pouquíssimos equipamentos  adequados para combate ao fogo.



Taubaté
É  um município da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, no estado de São Paulo, no Brasil. Dista 130 quilômetros da capital do estado, São Paulo.
A população da sub-região de Taubaté no ano de 2011 é de 563.647 habitantes e PIB de quase 15 bilhões de reais.
É o segundo maior polo industrial e comercial de sua mesorregião, abrigando empresas automobilísticas, eletrônicas, aeronáuticas, metalúrgicas e centro de distribuição, entre outras.  
Segundo a estimativa de 1º de julho de 2012 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o município possui 283 899 habitantes, ocupando a décima posição dentre os municípios mais populosos do interior de São Paulo.

Comentário:
Atualmente estão sendo construídos edifícios e fábrica, sem levar em conta a infraestrutura urbana de proteção contra incêndio da cidade.
Há cidades com prédios de até 35 andares, sem bombeiros ou com bombeiros, mas sem viaturas e equipamentos adequados (escada mecânica, plataforma, etc). Na cidade de Gravataí, Rio Grande do Sul, será construído um prédio comercial de 42 andares. A prefeitura e o Corpo de Bombeiros da cidade estarão preparados para atuar em caso de algum desastre?

Em vários estados não existem bombeiros. Em Minas Gerais, 801 municípios estão sem grupamento de bombeiros; no Paraná, 349; em Goiás, são 215; e em São Paulo, 506 cidades sem grupamentos de bombeiros.

Edifícios altos
A problemática do incêndio nos edifícios altos tende a ser amplificada devido às dificuldades específicas inerentes a esse tipo de construção. A localização do incêndio, a rápida saída dos ocupantes, o acesso ao edifício pelo exterior e a condução das operações de combate e salvamento são ações que se tornam mais complexas e que exigem cuidado redobrado tanto no projeto quanto no edifício em funcionamento, ou seja: no planejamento prévio, no treinamento de brigadas e nas manutenções e inspeções periódicas do edifício e dos equipamentos e sistemas de proteção instalados.
Para efeito da segurança contra incêndio, edifícios altos são definidos como aqueles em que o pavimento mais elevado (último andar) excede a capacidade de alcance dos equipamentos e veículos para operações de combate ao fogo e salvamento estacionados no piso de descarga (térreo). Por exemplo, no Regulamento de Segurança contra Incêndio do Estado de São Paulo, considera-se como edifício alto aqueles com mais de trinta metros de altura.

No prédio em questão o incêndio não foi tão grave, pois a fachada tinha compartimentação, alvenaria e vidro, que dificultou a passagem do fogo externo de uma andar para o outro.

IMPORTÂNCIA DE ELEMENTOS RESISTENTES AO FOGO EM FACHADAS
Na fachada do edifício, deverá haver uma distância mínima entre verga e peitoril, construída por materiais resistentes ao fogo, de forma a impedir a propagação do incêndio para os pavimentos superiores.
Em razão do projeto arquitetônico, esse elemento vertical entre as janelas poderá ser substituído pelo prolongamento da laje dos pisos, constituindo uma aba que impede a propagação vertical do fogo.
Nas situações em que toda a fachada do edifício possuir acabamento em vidro (“pele de vidro”), devem ser observadas as exigências para instalação de elementos resistentes ao fogo na parte interna da fachada.

COMPARTIMENTAÇÃO
Tanto a compartimentação horizontal como a vertical tem como objetivo impedir a propagação do fogo entre ambientes e pavimentos adjacentes, sendo aplicada em situações em que é desejável limitar o crescimento  do incêndio no interior da edificação.

SELAGEM DE ABERTURAS
As passagens de cabos elétricos e tubulações por meio das paredes de compartimentação devem ser protegidas com selos corta-fogo que apresentem resistência ao fogo no mínimo igual à da parede. O mesmo se aplica aos registros corta-fogo que devem ser instalados nos dutos de ventilação e de exaustão, além de outros meios de comunicação entre setores compartimentados.

COMPARTIMENTAÇÃO VERTICAL
A compartimentação vertical consiste em dividir a edificação em pavimentos capazes de suportar o incêndio, impedindo a sua propagação para pavimentos consecutivos. Um elemento importante da compartimentação vertical é a laje dos pisos e de cobertura, que deve ser projetada para suportar ao índice de resistência ao fogo previsto para a estrutura do edifício, impedindo a propagação do fogo e o seu eventual colapso.
Para compartimentação vertical de fachadas deve existir separação entre as aberturas de pavimentos consecutivos, que tem como objetivo impedir que as chamas que saem da abertura de um pavimento atinjam aberturas do pavimento logo acima. Esses elementos de separação podem ser constituídos de parapeitos, vigas ou prolongamentos de lajes com resistência ao fogo compatível com o restante da edificação. As fachadas pré-moldadas devem ter os elementos de fixação protegidos contra a ação do fogo e as frestas entre as vigas e lajes devidamente seladas, para garantir a resistência ao fogo do conjunto.
A compartimentação vertical das aberturas do interior das edificações pode ser garantida por meio de selos, registros e vedadores (portas) corta-fogo.

GERAÇÃO DE FUMAÇA E CALOR
Os produtos da combustão sobem e podem se propagar por meio de aberturas interiores, preenchendo os pavimentos superiores com fumaça e calor, criando o “efeito cogumelo” em razão da falta de ventilação natural. Daí a importância da compartimentação vertical e horizontal.

O eventual acúmulo de calor com ausência de ventilação potencializa a ocorrência do “back draft” (inflamação explosiva), que se dá quando os gases desprendidos dos materiais combustíveis atingem o ponto de ignição, porém não inflamam devido à falta de oxigênio para a sua combustão. Quando uma quantidade suficiente de oxigênio adentra esse local, ocorre o “back draft”, resultado da inflamação repentina dos gases quentes, que pode gerar graves conseqüências ao edifício, a seus ocupantes e também à equipe de socorro. Nos edifícios altos, isso pode ocorrer e envolver, simultaneamente, múltiplos pavimentos.

A propagação de calor entre pavimentos pode ocorrer caso as janelas estejam abertas ou não haja proteção adequada por meio de peitoris ou abas (compartimentação vertical das fachadas). Mesmo quando as chamas não atingem aberturas do pavimento superior, podem ocorrer danos devido ao calor gerado nos andares inferiores, por condução. Assim, a correta compartimentação horizontal e vertical nos edifícios altos é imprescindível para conter a propagação de calor, de fumaça e gases tóxicos.

Outro fator a ser considerado nos edifícios altos é o efeito chaminé, fenômeno resultante da existência de aberturas verticais internas como escadas, dutos de serviço, dutos de elevadores e que pode arrastar o calor, fumaça e gases quentes pelos pavimentos por convecção. Nesse caso, é muito importante que os dutos sejam selados adequadamente, e que os elevadores e escadas utilizem portas corta-fogo com resistência adequada à severidade do incêndio para impedir a propagação de seus efeitos e a contaminação das saídas de emergência.

O modo comum de propagação do fogo em um edifício é por meio de portas abertas, escadarias e shafts não fechados, aberturas não protegidas e espaços confinados que abrigam materiais combustíveis.  

COMPARTIMENTAÇÃO VERTICAL
É necessário assegurar a estanqueidade, de forma que todos os vãos abertos e instalações que atravessam os vedos (shafts, dutos, eletrodutos, etc.) sejam protegidos por materiais resistentes ao fogo.
 A compartimentação vertical é obtida internamente pelos elementos horizontais de compartimentação:
• entrepisos corta-fogo.
• enclausuramento de escadas por meio de parede corta-fogo de compartimentação.
• enclausuramento de elevadores e monta-carga.
• poços para outras finalidades por meio de porta pára-chama.
• selos corta-fogo.
• registros corta-fogo (dampers).
• vedadores corta-fogo.
• elementos construtivos corta-fogo/pára-chama de separação vertical entre pavimentos consecutivos.

Fonte: Livro: A Segurança contra Incêndio no Brasil: Alexandre Itiu Seito • Alfonso Antonio Gill • Fabio Domingos Pannoni • Rosaria Ono  • Silvio Bento da Silva • Ualfrido Del Carlo • Valdir Pignatta e Silva

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