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quarta-feira, junho 20, 2012

Baía de Guanabara: cartão-postal da beleza e do caos

Os grandes desafios da Baia de Guanabara, para despoluir o maior símbolo da sede da Rio+20

■ Sete mil toneladas de peixes são capturadas por ano. Há dez anos eram 18 mil toneladas.
■ Há 83 km2 de manguezais, mas somente 15 km2 são preservados.
■ A cada segundo 14 mil litros de esgoto são despejados sem tratamento
■ Nos ano 80, cerca de 500 golfinhos viviam na Baía. Hoje não passam de 40.
■ Das 40 praias da baía, 37 apresentam qualidade da água entre ruim e péssima.
■ O Rio tem o compromisso de recuperar a baía até os Jogos Olímpicos de 2016

BAÍA DE GUANABARA
A baía abriga dezenas de espécies botânicas, zoológicas e ictiológicas. Entre as espécies que habitam ou procuram a baía de Guanabara para se alimentar ou se reproduzir, destacam-se:
Golfinhos
Tartarugas-marinhas
Bagres
Paratis
Sardinhas
Tainhas
A baía integrava a rota migratória das baleias francas que buscavam as suas águas quentes para procriar, no inverno austral. Até ao século XVIII, a armação (pesca) de baleias foi uma atividade expressiva na baía de Guanabara.

ASPECTOS DE MEIO-AMBIENTE

Foto: Imagem aérea mostra lixo no canal Cunha, na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro

Diante da perda secular de áreas de manguezal, exploradas sob os mais variados aspectos, a baía atualmente agoniza, vítima da poluição dos esgotos domiciliares e industriais, além dos derrames de óleo e da crescente presença de metais pesados em suas águas. À época do Descobrimento, estima-se que essas áreas cobriam 300 km²; dados da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, em 1997, indicavam que elas se encontravam reduzidas  a apenas cerca de 60 km².
Embora as águas da baía se renovem em contato com as do mar, ela é a receptora final de todos os efluentes líquidos gerados nas suas margens e nas bacias dos 55 rios e riachos que a alimentam. Entre as fontes potenciais de poluição contam-se 14.000 estabelecimentos industriais, quatorze terminais marítimos de carga e descarga de produtos oleosos, dois portos comerciais, diversos estaleiros, duas refinarias de petróleo, mais de mil postos de combustíveis e uma intrincada rede de transporte de matérias-primas, combustíveis e produtos industrializados permeando zonas urbanas altamente congestionadas.


Foto: Imagem aérea da poluição no rio Suruí, que integra a Baía de Guanabara

A bacia que drena para a Baía de Guanabara tem uma superfície de 4.000 km², integrada pelos municípios de Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Nilópolis, São Gonçalo, Magé, Guapimirim, Itaboraí, Tanguá e partes dos municípios do Rio de Janeiro, Niterói, Nova Iguaçu, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito e Petrópolis, a maioria localizada na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Esta região abriga cerca de dez milhões de habitantes, o equivalente a 80% da população do estado do Rio de Janeiro. Mais de 2/3 dessa população, 7,6 milhões de habitantes, habitam na bacia da Baía de Guanabara.
A partir da década de 1990 vem sendo objeto de um dos maiores projetos de recuperação ambiental, com verbas do BID e do Governo do Japão, cujas obras, atualmente, encontram-se paralisadas.

OS ESGOTOS NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO:
Na Bacia hidrográfica da Baia de Guanabara pode-se estimar que a população de baixa renda envolve cerca de 4 milhões de habitantes urbanos (45% da população da bacia), que não são servidos por redes públicas de esgotamento sanitário, ou seja, essa população despeja seus esgotos nas águas da baia in natura, sem nenhum tratamento, vivendo assim em condições ambientais adversas, em que os índices de doenças de veiculação hídrica são muito alto altos.
As águas pluviais contaminadas são uma das principais fontes de carregamento e transporte de poluentes e sedimentos para dentro da baia, portanto merecem atenção. As águas pluviais de uma bacia hidrográfica sem edificações transportam sólidos à superfície do solo desnudo para os corpos d’água da bacia e também nutrientes das áreas vegetadas. Em zonas urbanizadas as chuvas acabam por transportar cargas que contenham sólidos suspensos, óleos e graxas, metais pesados, matéria orgânica, nutrientes e lixo.
O numero de favelas existentes em volta da Baia de Guanabara é outro grande problema relacionado às chuvas devido à dificuldade de escoamento das águas. Os esgotos gerados pela  população residente desses locais formam valas negras que acabam chegando os sistemas de drenagem urbana e conseqüentemente aos rios da baia.

 A POLUIÇÃO INDUSTRIAL NA BAIA DE GUANABARA
Cerca de 400 indústrias, do total de 14.000, são responsáveis pelo lançamento de quantidades expressivas de poluentes na Baía de Guanabara e nos rios da sua bacia.
Uma estimativa da carga diária de poluentes despejada na baía, considera:
400 toneladas de esgoto doméstico
64 toneladas de resíduos orgânicos industriais
7 toneladas de óleo
300 quilos de metais pesados

ATIVIDADE INDUSTRIAL É UMA DAS MAIS IMPORTANTES FONTES DE CONTAMINAÇAO
A atividade industrial é uma das mais importantes fontes de contaminação da Baia de Guanabara. Aproximadamente 20% da carga orgânica lançada em suas águas e quase toda a carga de substâncias tóxicas, são decorrentes dela. Aproximadamente 70% das indústrias do estado do Rio de Janeiro, 70% o numero de empregados, e 70% do valor da produção do setor, localizam-se na bacia hidrográfica Baia de Guanabara.

De forma geral as indústrias instaladas na bacia hidrográfica da Baia de Guanabara estão centralizadas nos ramos de processamentos de alimentos e bebidas, têxteis e vestuário, metalúrgicas, químicas e petroquímicas. É necessário destacar a Reduc e o pólo de outras unidades do mesmo gênero que se desenvolve ao redor da refinaria, quando falamos na poluição da baia, destacando o grande impacto das indústrias químicas e petroquímicas.
De aproximadamente 14 mil fábricas, algumas tiveram uma participação direta no processo de poluição das águas da Baia de Guanabara por períodos relativamente longos. São elas:

Refinaria Duque de Caxias (REDUC);
Localiza-se na margem esquerda do Rio Iguaçu, próxima a sua foz. A Reduc provavelmente destruiu grande parte do primitivo manguezal, gerando impacto pelo lançamento de óleo e outros resíduos em grandes quantidades.

Bayer do Brasil;
É uma indústria química de alto porte, fabrica biocidas, produtos veterinários e poliurêtanicos, corantes, sais de cromo etc. lança seus efluentes no rio Sarapui, no entanto um dos objetivos de suas unidades produtivas é minimizar geração de efluentes.

Refinaria de Petróleo de Manguinhos;
É a terceira Refinaria mais antiga do Brasil. Usa como corpo receptor o canal do Cunha, perto de sua desembocadura na Baia de Guanabara. Seus principais produtos são gasolina e derivados, gás liquefeito de petróleo, óleo combustível e diesel.

Companhia Eletroquimica Pan-Americana;
Segunda companhia a produzir cloro no Brasil. Usa como corpo receptor o rio Acari, afluente do rio Meriti. Durante muitos anos o principal problema da Pan- americana foi o lançamento de mercúrio nos rios Acari e Meriti e também na baia numa região de baixa circulação de água.

Petroflex;
Fábrica de borracha, o rio Estrela é o receptor de seus efluentes e deságua na Baia de Guanabara, porém não usa mais suas águas para fins de refrigeração.

Companhia Progresso Industrial do Brasil – Fabrica Bangu;
Considerada um dos mais antigos poluidores da Baia de Guanabara, fabricava tecidos e não possuiam nenhum tipo de preocupação ambiental. O principal formador do rio Sarapuí é até hoje conhecido como rio das tintas, pois  ao longo dos anos recebeu os efluentes coloridos dos processos de tingimento de seus tecidos. Hoje se encontra desativada e em seu lugar foi construído o Bangu shopping.

Companhia Brasileira de Antibióticos (Cibran);
Contribui com o lançamento de contaminantes líquidos com grandes concentrações de DBO (demanda Bioquímica de Oxigênio) e DQO(demanda química de oxigênio). Por lançar seus efluentes no Rio Cacerebeu, foi acusada da morte de animais a jusante do ponto de despejo.

Atlantic Indústrias de Conservas;
é uma fabrica de alimentos de médio porte localizada no município de Niterói. Seus principais agressores são as altas concentrações de BDO e DQO, óleos e graxas. Uma vez que essa indústria nunca implantou qualquer sistema de tratamento, a Baia de Guanabara é seu corpo receptor.

ACIDENTES AMBIENTAIS
Somam-se, ainda, os acidentes ambientais como vazamentos de óleo, que ocorrem com certa freqüência nas refinarias, portos comerciais, estaleiros e postos de combustíveis. Como exemplo, ocorreu em janeiro de 2000 um vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, causando grandes danos aos manguezais, praias e à população de pescadores, ou em março de 2006, diante de uma mortandade de peixes e óleo invadindo a praia de Ramos, os moradores da região acusando o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim por lavar os aviões e deixar óleo escoar para as águas da baía. Mas o maior vazamento registrado ocorreu em março de 1975 por ocasião do acidente de navegação protagonizado pelo navio Tarik Ibn Zyiad, quando 6 milhões de litros de óleo contaminaram as águas da baía.   

POLUICAO POR ÓLEO:
Os vazamentos são freqüentes na Baia, mostrando que os sistemas de prevenção não funcionam como deveriam. Os vazamentos ocorrem por falhas operacionais, rompimentos de tubos e válvulas, choque de navios em pedras, e as emissões fugitivas dos sistemas de armazenamento.

O PROBLEMA DO LIXO E SUAS INFLUÊNCIAS NAS ÁGUAS DA BAIA
Em um corpo d’água o lixo é a forma mais visível de poluição, pois se acumulam em suas margens, e os detritos que flutuam em suas águas causam prejuízos  ao banho de mar, a pesca, a navegação comercial e de lazer, ao turismo e até mesmo a estética da paisagem. Os resíduos sólidos que são lançados na Baia precisam ser retirados freqüentemente, pois podem acabar dispostos em córregos, valas e canais do sistema de drenagem, causando assoreamento e entupimento. Isso ocorre geralmente em favelas e área carentes das periferias da cidade, pois o  esquema de coleta de lixo é muitas vezes precária ou inexistente.

É sabido que o lixo prejudica muito a qualidade das águas dos rios e canais, e por extensão o espelho d’água da baia, provocando prejuízos estéticos e sanitários. Como a maioria dos seus elementos é flutuante e não submergem, terminam com freqüência formando ilhas de detritos nos trechos de menor velocidade da água. Essas ilhas de resíduos são formadas por galhos de árvores, pedaços de madeira, moitas de vegetação, misturadas com todos os tipos de plásticos, objetos imprestáveis a até animais mortos.

DESMATAMENTO NA BACIA HIDROGRAFICA
A Mata Atlântica, bioma o qual a Baia de Guanabara está inserida, é caracterizada por grande riqueza biótica. Infelizmente a floresta que cobria a região primitivamente, sofreu grandes danos, perdendo espaço como conseqüência da ação humana.
Matas e florestas são indispensáveis ao equilíbrio e a regularidade dos sistemas fluviais da Baia de Guanabara, com grande influência nos processos de regularização hidráulico-ecológica. Além de representar um fator básico para a regularidade do ciclo hidrológico dos rios que fluem para a Baia de Guanabara, os ecossistemas florestais contribuem para o reabastecimento dos aqüíferos e a manutenção do nível hidrostático adequado dos lençóis freático na região.

DESTRUIÇÃO DE MANGUEZAIS
Dos 260 km² originalmente cobertos por manguezais no entorno da baía, restam hoje apenas 82 km². A destruição desta formação vegetal causa a redução da capacidade de reprodução de diversas espécies de vida aquática e intensifica o processo de assoreamento que, ao longo do tempo, resulta na progressiva redução de profundidade da Baía.

OUTROS TIPOS DE AGRESSÃO  AMBIENTAL
Outros problemas também atingem a Baia de Guanabara, são eles: problemas de aterros, destruição de manguezais, problemas de assoreamento e poluição do ar.

O PROGRAMA DE DESPOLUIÇÃO DA BAIA DE GUANABARA (PDBG)
Em 1994 foi assinado o Programa de Despoluição da Baia de Guanabara (PDBG) em 1994. O objetivo era reduzir a poluição da Baía, o que não se limitava a limpar diretamente o corpo d’água e sim solucionar o conjunto de problemas ambientais da bacia, que determinam seu estado atual de degradação. Além dessas obras, o programa previa atuar em outras vertentes: racionalização do abastecimento de água, melhoria na coleta de lixo, controle de inundações, mapeamento digital da região e diversos projetos ambientais.

No orçamento original de 1994, os recursos disponíveis eram de US$ 793 milhões, dos quais US$ 350 milhões financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), US$ 237 milhões pela agência japonesa Japan Bank for International Cooperation (JBIC) e US$ 206 milhões provenientes do governo e s t a d u a l .

O conjunto de obras previstas na primeira etapa do PDBG foi voltado ao saneamento básico da bacia, com destaque para a coleta, tratamento e destino final de esgotos domésticos, ainda envolveu o abastecimento de água, coleta e destino final de lixo, drenagem, controle ambiental e mapeamento digital. Esperava-se que essas obras beneficiariam principalmente a população de baixa renda das áreas de influência dos projetos, diminuindo assim a transmissão de doenças de veiculação hídrica, acabando com as valas negras, tirando o esgoto que passavam diretamente na porta das pessoas, e melhorando a condição das águas das praias e do saneamento de forma geral.

O PDBG caracterizou-se então  por ser um programa de saneamento básico, com ênfase no tratamento e coleta de esgoto. Sendo assim apenas a parte do PDBG relativa à coleta, transporte e tratamento de esgoto doméstico eram orçados em 400 milhões de dólares, representando mais da metade da verba total.

Com relação aos resultados o PDBG deixa muito a desejar, pois grande parte de seus recursos estava voltado para aos sistemas de coleta e tratamento de esgotos domésticos, que não estão funcionando ou funcionam de forma precária. Como a implantação desses sistemas não tem sido feitas de formas adequadas, a qualidade dos rios continuam muito ruins e muitos deles se transformaram em esgoto a céu aberto.
Sendo assim, as fontes básicas de poluição continuam contaminando as águas. Em adição, as populações periféricas e residentes de favelas, continuam aumentando e gerando esgotos não tratados.  

Fontes: Fonte: Wikipédia - 18 de junho de 2012, Globo – 16 de junho de 2012, Associação dos Geógrafos Brasileiros – XVI Encontro Nacional dos Geógrafos - Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
  
Comentário:
A despoluição da Baía de Guanabara não saiu do papel e praias já agonizam. O espelho negro da Baía de Guanabara, emoldurado de lama e lixo, deixa à mostra que 1,2 bilhão de litros de esgoto produzidos por dia no Rio de Janeiro são jogados no mar sem tratamento. A quantidade equivale a 484 piscinas olímpicas. Vinte anos após serem lançadas na Rio-92 como a última chance de salvar a baía da poluição, as estações de tratamento de esgoto afundam à espera de novos investimentos. Das sete estações construídas e inauguradas, apenas três funcionam e, assim mesmo, com menos da metade da capacidade. Relatório do Ministério Público destaca a “ausência de melhorias” no mesmo período.
O resultado dessa equação é que só 30% do esgoto que cai na Baía de Guanabara são tratados (seis dos 20 mil litros produzidos por segundo). Falhas nos projetos, erros na construção e falta de equipamentos lançaram em um mar de lama a chance de ver a baía limpa na Rio+20. Duas das mais importantes estações nunca entraram em operação: Pavuna e São Gonçalo. A primeira é responsável por tratar as águas de um dos rios mais sujos, o Pavuna-Meriti. A segunda corresponde ao total dos detritos produzidos pelo segundo mais populoso município do Estado, com 1 milhão de habitantes. Em 20 anos foram gastos US$ 800 milhões. Fonte: O Dia -  17.06.2012 
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Dragagem do porto e o bota fora é o próprio leito oceânico
O que é o Bota-Fora?
O projeto Bota-Fora, sancionado pelo governo do Estado através da SEA (Secretaria de Estado do Ambiente – RJ), atualmente permite o despejo de todo lixo, lodo e metais pesados, acumulados no fundo da Baía de Guanabara durante décadas, na frente das praias oceânicas de Niterói para que possam aumentar o calado na Baía para a entrada de navios que irão triplicar em poucos anos.
Devido à sua proximidade da costa, os pontos utilizados para o descarte até agora trouxeram danos substanciais e documentados à biota marinha, aos que vivem da pesca e aos que frequentam as praias oceânicas de Niterói.

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