Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

quarta-feira, abril 04, 2012

Incêndio destrói uma das alas do Mercado Público de Florianópolis

Um incêndio destruiu na manhã de sexta-feira, por volta das 8 h, 19 de agosto de 2005, uma das duas alas do Mercado Público de Florianópolis (SC), no centro da cidade.

HISTÓRICO DO MERCADO PÚBLICO MUNICIPAL
O prédio que hoje abriga o Mercado Público de Florianópolis foi construído em frente à Alfândega no ano de 1898, em substituição ao antigo mercado, o qual foi demolido em 1896 após 45 anos de funcionamento.

O Mercado Público Municipal foi construído em duas etapas: a primeira, em 1899, contava com apenas uma ala. Em 1915 foi construída em cima de um aterro a segunda ala, bem como as torres, as pontes que as interligam e o vão central.

A ala sul foi idealizada pelo governador Hercílio Luz e inaugurada em 1929. Esta área se destinaria à venda direta de pescado, hortaliças e gêneros coloniais. No final da década de 20, a primeira ala passou por reformas na área externa para se adequar ao padrão arquitetônico que permanece até hoje. As partes foram ligadas por duas pontes construídas sobre torrões. A área central era aberta ao tráfego de veículos e foi fechada para automóveis somente nos anos 80.

O prédio, com os diversos bares no vão central, é um ponto de encontro, tanto para os nativos quanto para os turistas, bem como palco de manifestações populares. O prédio conta com 140 boxes, onde é possível comprar roupas, utensílios, alimentos e artesanato.

CENÁRIO DO INCIDENTE:
■7h30min - A funcionária do box 15 chega para trabalhar e mantém a porta de atendimento ao público fechado
■7h40min - A mulher vai até a cozinha e liga a fritadeira na potência máxima (300°C) e duas bocas do fogão. Ela estava fritando três coxinhas e esquentando café e leite
■8h - Após desligar a fritadeira e o fogão a funcionária desce para abrir o box. Ela começa a limpeza do estabelecimento e o atendimento ao público
■8h10min - Uma pessoa vai até a funcionária e avisa que uma fumaça estranha está saindo da cozinha do box. Ela vai até o mezanino e vê um grande foco de incêndio
■8h15min - Comerciantes vizinhos e policiais militares tentam conter as chamas, mas não conseguem porque o foco já atingiu os três botijões de gás no mezanino do box 15
■8h20min - O Corpo de Bombeiros recebe o comunicado de incêndio no Mercado Público, quase 20 minutos após o início do fogo
■8h25min - A primeira equipe do Corpo de Bombeiros chega ao Mercado Público e encontra dificuldades com a falta de pressão dos hidrantes na região central
■8h35min - O incêndio se torna incontrolável quando também atinge o mezanino do box vizinho (Armazém Vando) que abriga um estoque de fogos de artifício

INICIO DO INCÊNDIO
Segundo testemunhas, as chamas começaram no box número 15, onde funciona o restaurante Ponto da Fruta. O pedido de socorro vinha de uma jovem do box vizinho, de número 15. Eram 8h15.
"Fomos até a cozinha com extintores, mas o fogo já havia tomado conta do teto. Ninguém imaginava que iria se propagar tão rápido", disse Amaro, filho do dono do estabelecimento, armazém Vando, no box 16
Segundo ele, a jovem que o procurou pedindo ajuda havia deixado uma frigideira de salgados no fogo aceso na cozinha, que funcionava no mezanino do box 15. A jovem, conta, havia descido ao andar de baixo para atender o telefone e só quando retornou ao local se deu conta do incêndio.
Em poucos minutos, o fogo se alastrou por toda a ala, facilitado pela presença de estoques de roupas, calçados de couro e borracha, brinquedos e outros artigos de plástico, além da madeira da cobertura e divisórias internas.

CORPO DE BOMBEIROS
As primeiras viaturas do Corpo de Bombeiros chegaram ao local cerca de 20 minutos após o início do incêndio, enquanto dois vigias tentavam combater as chamas com duas mangueiras, mas os jatos de água não chegavam até as chamas. Já por volta das 10h20, já estavam no local cerca de 90 homens do Corpo de Bombeiros, 40 guardas municipais e aproximadamente cem policiais militares, que cuidaram do isolamento da área, além de seis integrantes da Defesa Civil. A essa altura, o fogo já estava controlado. Foram deslocadas viaturas e bombeiros de Balneário Camboriú, Tijucas, Itapema, Biguaçu, Palhoça e São José, num total de nove carros de combate a incêndio e duas ambulâncias, além de viaturas de apoio.

ENERGIA ELÉTRICA É DESLIGADA
Os dois transformadores da área localizada no entorno do Mercado Público foram desligados por volta das 9h20 pelas Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) para evitar maiores danos no local.

RISCO – GLP E FOGOS DE ARTIFÍCIOS
Houve momentos de tensão. Primeiro, quando o fogo se aproximou de seis botijões de gás industriais usados pelo restaurante Pirão. Os bombeiros encharcaram toda a área com o objetivo de resfriar as paredes e impedir que fossem atingidos. Depois, a explosão de fogos de artifício numa loja no vão central provocou temor de danos maiores.

DANOS MATERIAIS
Todo interior da ala norte e telhado foram destruídos pelo fogo. Quase 70 boxes foram totalmente destruídos.
Nos boxes atingidos, vendiam-se brinquedos, peças para confecção, calçados e artesanato. Havia ainda bares, uma papelaria e um ponto de venda de caldo de cana.
A ala sul, que não sofreu danos, tem 46 boxes. São peixarias, açougues, bares, restaurantes, confeitarias, quitandas e lojas de artigos para festas, de calçados, de panelas e de material para pesca.

COMERCIANTES CONTABILIZAM PREJUÍZOS
Comerciantes que não foram vítimas diretas do incêndio também contabilizaram prejuízos. Proprietários das peixarias - instaladas na ala oposta ao local das chamas, não puderam vender e, ainda, precisaram transferir todos seus produtos para câmaras frigoríficas em outros locais da cidade. Segundo os comerciantes, as vendas de uma sexta-feira correspondem a 30% do rendimento de toda a semana.

CORPO DE BOMBEIROS ALERTOU SOBRE O RISCO DE INCÊNDIO
O coronel do Corpo de Bombeiros José Cordeiro Neto, disse o que houve foi um "incêndio anunciado". Foram feitas reiteradas vistorias e encaminhados relatórios à direção do mercado e à Prefeitura de Florianópolis, que não tomaram providências.
"O sistema preventivo de combate a incêndio era obsoleto e nunca foi submetido a testes", afirma o coronel
A prefeitura diz que, por contrato, a responsabilidade pela segurança no prédio é de cada comerciante.

CIRCULAÇÃO DE PESSOAS E FUNCIONÁRIOS
Cerca de 12 mil pessoas passam pelo local todos os dias e 68 comerciantes e quase 300 funcionários trabalham no mercado.

PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO – FATORES QUE CONTRIBUÍRAM
■Existência de fogos de artifício no “Armazém do Vando”, box localizado ao lado do box 15. A venda destes produtos é proibida e sua comercialização depende de autorização.
■Três botijões de gás acondicionados no sótão do box 15 que alimentaram o fogo.
■Matérias de fácil combustão existente no local, tais como; brinquedos, peças para confecção, calçados e artesanato

INCÊNDIO CONTROLADO
O principal foco de incêndio foi contido quatro horas depois,

OPERAÇÃO RESCALDO
A operação rescaldo do Corpo de Bombeiros começou ainda na noite de sexta-feira. Durante a manhã de sábado, 40 bombeiros se revezavam nos trabalhos. Uma parte utilizava mangueiras para resfriar o prédio e evitar o reinício do fogo. Segundo o diretor de operações do Corpo de Bombeiros, coronel José Cordeiro Neto, as chances do incêndio recomeçar são remotas, mas os soldados jogavam água no local como medida de segurança. Pequenos focos de incêndio têm se formado desde sexta-feira à noite, mas são rapidamente controlados. Várias viaturas permanecem nas proximidades do mercado para entrar em ação caso necessário.
Com o auxílio de caminhões e retroescavadeiras, os funcionários da Prefeitura faziam a retirada dos entulhos. .

LAUDO DO CORPO DE BOMBEIROS
O incêndio na ala norte do Mercado Público de Florianópolis foi acidental e causado pela combustão de óleo vegetal com resíduos de salgados aquecidos a uma temperatura de 300°C, na fritadeira, segundo laudo do Corpo de Bombeiros.

De acordo com o laudo, a situação ficou incontrolável porque no box vizinho (Armazém Vando) havia um estoque de fogos de artifício que alimentou as chamas. Outro agravante tem relação com a demora no acionamento no Corpo de Bombeiros, 20 minutos após o princípio de fogo.

A vistoria constatou que na cozinha do box 15 (mezanino) havia uma fritadeira, um fogão e uma chapa. Estes utensílios estavam com as válvulas desligadas, comprovando que não houve imperícia por parte da funcionária do estabelecimento - explicou o perito de incêndios e explosões, tenente Charles Fabiano Acordi. Diante do depoimento da funcionária e de uma hipótese de combustão o laudo foi construído. Isso porque o óleo vegetal estava na fritadeira havia uma semana e estava saturado.
Segundo o tenente, a mistura que gerou a combustão não teria "força" para propagar as chamas para o box vizinho se não estivessem os três botijões de gás no sótão. Sem o GLP, as chamas seriam controladas com facilidade, mesmo atingindo a divisória de madeira entre o mezanino e o sótão.

INQUÉRITO POLICIAL
O perito criminalista do Instituto Geral de Perícias (IGP), Miguel Acir Colzani, afirmou que não há indícios de uma ação criminosa, mas mesmo assim o laudo levará em conta a negligência e imprudência de alguns proprietários. Cabe ao delegado encerrar o inquérito policial e encaminhar o procedimento ao Ministério Público. O promotor vai avaliar a investigação e optar pelo arquivamento ou indiciamento dos envolvidos pela omissão.

RECONSTRUÇÃO DO MERCADO: A PREFEITURA ESTIMA EM 6 MESES O PRAZO PARA RECONSTRUÇÃO
Segundo o secretário de Transportes e Terminais, a reconstrução deve estar pronta em 180 dias, com uma área de aproximadamente 1,9 mil metros quadrados. Segundo ele, toda a parte interna será refeita, enquanto as paredes externas terão que passar por um tratamento. As passarelas e as torres do Mercado também vão ser reformadas.
A Prefeitura deve adotar um projeto de remodelação do Mercado elaborado em 1998, por iniciativa da associação dos comerciantes, com consultoria do arquiteto Dalmo Vieira Filho, diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O projeto prevê uma nova distribuição interna dos boxes, a mudança de atividade de alguns lojistas, resgatando o perfil do Mercado, e sistemas modernos de segurança e prevenção de incêndio, inclusive com a instalação de passarelas suspensas que permitam aos bombeiros agirem dentro do Mercado. As características históricas da edificação serão respeitadas. A obra custará cerca de R$ 2,5 milhões (US$1,7 milhões).

INAUGURAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO
A Prefeitura de Florianópolis inaugurou em 02 de fevereiro de 2006, às 11 horas, a reconstrução da ala norte do Mercado Público. Os trabalhos foram iniciados no dia 12 de setembro, e o término, dia 15 de dezembro.

A ala norte do Mercado Público, voltado para a Rua Conselheiro Mafra, possui uma área de 2.796,8 metros quadrados. O prédio abriga 51 boxes, 22 lojas, três lanchonetes, além de uma sala de administração e de atendimento ao turista. Como novidade, a prefeitura determinou a construção de um caixa eletrônico e de banheiros masculinos e femininos com adaptação para portadores com deficiência física. A pintura interna do monumento histórico é em cor creme palha. Já a pintura externa é em amarelo ocre.

A estrutura para suporte do telhado foi executada em aço galvanizado seguindo o mesmo padrão da antiga estrutura em madeira. A cobertura é com telhas cerâmicas do tipo francesa.

No combate a incêndio foi adotado;
■ sistema sprinklers, nos depósitos internos dos boxes,
■ hidrantes com sistema de alarme,
■ sinalização de abandono de local e pára-raios.

O investimento feito pelo governo estadual e prefeitura foi de R$ 2 milhões 525 mil . O município entrou com R$ 1 milhão 275 mil e o executivo estadual com R$ 1 milhão 250 mil.

Fontes: Folha Online, A Noticia – Joinville, Folha de São Paulo, Jornal Metropolitano – Florianópolis, e Tribuna Catarinense, no período de 19 de agosto de 2005 a 1 de setembro de 2005, Jornal Metropolitano – Florianópolis, 2 de fevereiro de 2006

Comentário:
No Brasil, após um grande incêndio, indagamos: O que houve de errado? E nunca preocupamos com a prevenção. O que pode dar errado?
Passado algum tempo, voltamos à rotina das deficiências dos órgãos competentes, isto é, a procura dos culpados.
No caso em questão, o Corpo de Bombeiros apontou as deficiências de segurança do local , encaminhando o relatório a prefeitura para tomar as providências necessárias. A prefeitura alega que o mercado é público, mas a utilização da área é particular, os comerciantes pagam aluguel.
Culpa de quem? A prefeitura será responsável pela reconstrução do mercado municipal, obviamente ela teria responsabilidade na fiscalização para atender as recomendações do Corpo de Bombeiros.

Análise da causa: fritura e óleo de soja
As temperaturas críticas das gorduras variam segundo as suas características, não devendo nunca ser ultrapassadas sob pena de, a decomposição das mesmas, originar o aparecimento de substâncias tóxicas. Em geral a temperatura de fritura para os alimentos situa-se numa faixa de 175o C a 190ºC. Algumas frituras poderão atingir a temperatura de 205o C.
Uma fritadeira com termostato é o ideal, mas na sua falta poderá ser usado um termômetro de cozinha. Pode ainda recorrer-se ao sistema de introduzir um pedacinho de pão na gordura aquecida: se vier imediatamente à superfície, a gordura está no ponto.

Características físicas do óleo de soja
O óleo de soja tem um ponto de fumos ou fumaça (emanação de vapores, smoke point) elevado, 227o C (218°C é o mínimo para óleo de fritura). O ponto de fulgor é de 327°C e seu ponto de combustão é de 365° C. (baseado em um óleo de soja com nível de ácido graxo livre de 0,02 %). Os óleos de soja com níveis ácidos graxos livres mais elevados do que 0,02% terão os pontos de fumos, fulgor e de combustão mais baixo. No Brasil o nível de acido graxo pode chegar até 2% (dependendo da qualidade do óleo).
O óleo de fritura quando alcança o ponto de ebulição é muito perigoso. Se o óleo inicia o borbulho, retirar imediatamente da fonte quente. Simplesmente desligar da fonte quente pode não ser suficiente para reduzir imediatamente a temperatura, quando utiliza um aparelho elétrico (fritadeira), porque esse tipo de equipamento retém calor, mesmo após seu desligamento.
Um óleo alcança o seu ponto de fulgor em 315o C, quando pequenos filetes de fogo começam saltar de sua superfície. Se o óleo alcançou seu ponto de combustão de 370o C , para maioria dos óleos, sua superfície começará vaporizar-se e ignição espontânea surgirá imediatamente.

Obs::
O ponto de fumos ou de fumaça (smoke point) é a temperatura em que o óleo poder ser aquecido antes de emitir vapores ou alterar sua cor, indicação de sua decomposição. Quando estiver fritando com óleo e começar a emitir vapores, o óleo alcançou o seu ponto de fumos. No ponto de fumos, o óleo começar emitir odor desagradável e também interfere no sabor do alimento.

Marcadores:

posted by ACCA@11:47 PM