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quarta-feira, agosto 18, 2010

Incêndio atinge depósito do Ponto Frio em Guarulhos

Um incêndio de grandes proporções atinge um centro de distribuição de eletrodomésticos da rede de lojas Ponto Frio, em Guarulhos, na Grande São Paulo, na tarde de quarta-feira, 12 de maio de 2010.

O fogo teve início por volta das 16h30, de acordo com os bombeiros. O depósito fica na Avenida João Paulo I, 5.500, próximo do km 215 da Rodovia Presidente Dutra e do Aeroporto Internacional de Guarulhos

No depósito em chamas trabalham cerca de 130 funcionários. Eles foram retirados do local pela brigada de incêndio da empresa. Ainda não se sabe quais as causas do fogo. De acordo com o Ponto Frio, o depósito abrange uma área de cerca de 31 mil m².

INICIO DO INCÊNDIO
- Estávamos dentro do galpão quando a fumaça começou a aparecer. Rapidamente a gente fez o procedimento para esvaziar o CD. A gente sabe que foi interno, mas onde o fogo começou a gente não sabe - diz um funcionário, que ressaltou que o galpão - responsável por distribuir produtos a lojas e clientes da Grande São Paulo - estava cheio.

CAUSAS DO INCÊNDIO
As causas do incêndio ainda são desconhecidas. Segundo curiosos que estavam próximos ao local, não foram ouvidos barulhos de explosões. O incêndio só foi percebido depois que a fumaça já saía pelo teto de um dos lados do galpão.

CORPO DE BOMBEIROS
O Corpo de Bombeiros de Guarulhos afirma que mais de 20 equipes foram enviadas ao local para trabalhar na contenção das chamas - 80 homens foram mobilizados.

DIFICULDADE DE ACESSO
O trânsito na região onde está instalado o Centro de Distribuição (CD) do Ponto Frio, em Bonsucesso, dificultou a chegada dos carros do Corpo de Bombeiros e outros caminhões enviados para auxiliar no combate às chamas.
A entrada do galpão fica na Avenida Papa João Paulo 1°, que ficou totalmente congestionada com a chegada dos carros dos bombeiros e também com a lentidão dos veículos de curiosos que passavam pelo local. O mesmo aconteceu no km 215 da Rodovia Presidente Dutra (onde fica a outra portaria da empresa).
Segundo Fernando Francisco de Oliveira, gerente do Posto Sakamoto 2, que fica ao lado do galpão, foi difícil mandar ajuda para os bombeiros. “Os dois caminhões pipa que enviamos para ajudar no combate ao incêndio demoraram cerca de uma hora para dar a volta e chegar à avenida”, disse.
Funcionários do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) e bombeiros fizeram uma adaptação de um registro de água do lado de fora da empresa para facilitar o reabastecimento dos caminhões pipa e o dos bombeiros. Até as 20h de hoje os caminhões precisavam sair do local para reabastecer em uma unidade do Saae próxima da empresa.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO DEPÓSITO INSUFICIENTE
“Não há hidrante perto da empresa e a caixa d’água lá de dentro não está dando conta”, explicou um bombeiro que não quis se identificar.

EVACUAÇÃO – VIZINHANÇA – FUMAÇA TÓXICA
No início da noite, a Defesa Civil evacuou dois condomínios de classe média vizinhos ao depósito do Ponto Frio. Um dos condomínios é formado por cerca de 60 casas térreas e o outro tem cerca de 100 apartamentos. De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Guarulhos, Paulo Victor de Novaes, o incêndio não afetou as moradias. A desocupação momentânea foi feita por precaução em razão do excesso de fumaça.
Segundo Paulo Victor Novaes, coordenador da Defesa Civil, não havia risco do fogo chegar às residências, mas a fumaça que sai do depósito é tóxica. A região foi tomada por um forte cheiro de plástico queimado.
"O problema é a fumaça densa e tóxica que passa por cima das casas. O vento pode levar para dentro. O risco de intoxicação é grande e vamos controlar a situação até que a fumaça atinja um nível aceitável", disse.
Os moradores foram alojados em áreas comuns dos próprios condomínios, como salões de festa.

FUMAÇA AMEAÇA AEROPORTO
Apesar da proximidade com o Aeroporto de Guarulhos, a Infraero disse que as operações não foram afetadas. Porém, a fumaça podia ameaçar o funcionamento do aeroporto, mas o vento afastou a grande nuvem negra para longe da rota dos aviões.

MATERIAL COMBUSTÍVEL
Segundo os bombeiros, havia no galpão eletroeletrônicos, eletrodomésticos e muito material plástico e papelão. O gás presente em geladeiras pode ter colaborado para que o fogo se espalhasse com mais facilidade.

DESTRUIÇÃO DO GALPÃO
Por volta das 17h40, pôde ser ouvido o estrondo de parte do teto desabando. O depósito foi totalmente destruído.

CONTROLE DO INCÊNDIO
Equipes do Corpo de Bombeiros de Guarulhos (Grande São Paulo) controlaram o fogo por volta das 19h30. A operação de rescaldo na área atingida foi iniciada pelos bombeiros que estão no local.

DEFESA CIVIL LIBERA AS RESIDÊNCIAS
A Defesa Civil de Guarulhos informou que, por volta das 22h de quarta-feira, liberou as residências que tinham sido esvaziadas no começo da noite para evitar possíveis intoxicações causadas pela fumaça do incêndio.

SEGURO
O seguro é da Itaú Unibanco. A apólice de seguros multiriscos tem cobertura global de cerca de R$ 470 milhões para estoques e R$ 854 milhões para o prédio. O estoque total do Ponto Frio registrou R$ 600 milhões no balanço de 2009. Cerca de 60% do seguro é do Centro de Distribuição de São Paulo.
O estoque abrigava produtos de linha branca, eletroeletrônicos, móveis, colchões e bazar.

Foto: Antes do incêndio
PREJUÍZOS
R$ 50 milhões em mercadoria. O estoque que estava armazenado no galpão corresponde a quase 15 dias de venda.
Elevação nos custos de logística ou em despesas não recorrentes como forma de normalizar as operações deste centro de distribuição. O centro em questão era um dos maiores da rede Ponto Frio e suas operações estavam diretamente relacionadas a outros centros de distribuição da rede e também do grupo Pão de Açúcar.

PRAZO DA OBRA
As obras devem demorar de oito a dez meses.

CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO DE GUARULHOS
O centro de distribuição atende a 118 lojas no Estado de São Paulo e tinha produtos da linha branca, eletrônicos, móveis, colchões e bazar (produtos para casa).

CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO
O Ponto Frio possui 7 centros de distribuição de produtos, estrategicamente localizados nos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal, alem de Centros de Distribuição Avançados nos Estados de Santa Catarina, São Paulo (Campinas), Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo. Tudo isso para atender com agilidade os compromissos de entrega firmados com os clientes e de abastecimento das lojas.
Os centros possuem sistemas de informações integrados às lojas, permitindo uma gestão eficiente dos estoques da Companhia e o abastecimento dos pontos de venda em tempo hábil, e contribuem para a entrega das mercadorias aos clientes dentro do prazo contratado.

PLANO DE CONTIGÊNCIA
Uma central de emergência foi montada pelo grupo para enfrentar mais essa crise. "Tão logo tivemos a má notícia, acionamos o comitê de crise da companhia que foi liderado pelo diretor financeiro do Ponto Frio, Orivaldo Padilha", afirma Hugo Bethlem, vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar e que coordenou o comitê, do qual participaram também Jorge Herzog, vice-presidente de operações do Ponto Frio, representantes das áreas de TI, logística, jurídico, administrativo, tributário e, principalmente, executivos das áreas comerciais do grupo.
A prioridade do comitê era de assegurar e dar assistência a funcionários e moradores da região e também garantir a continuidade da operação. Ninguém se feriu no incêndio.

No centro de distribuição (CD) de Guarulhos estavam móveis (70% do total), produtos de linha branca (25%), como geladeiras, fogões e máquinas de lavar, e televisores (5%).

Bethlem garante que apenas 1% do total de pedidos sofreu algum tipo de atraso. "Foram casos pontuais de modelo ou cor, que foram identificados previamente e os clientes contatados", diz. As novas compras também não estão tendo problemas.

Uma parte importante da área foi preservada: o escritório, liberado pela polícia técnica. "O centro tinha mais de 15 anos e toda a área de dados ficou intacta", diz o executivo.

APURAÇÃO DO INCÊNDIO
A empresa garantiu que “já instituiu uma comissão interna para apurar o ocorrido e tomará todas as medidas cabíveis para minimizar o impacto desse incidente.
A polícia ainda não informou o motivo do incêndio.

Fontes: Guarulhos Web, InfoMoney, Brasil Econômico, Diário de Guarulhos, G1, Folha Online, 12 de maio a 17 de maio de 2010

Foto: Destruição do depósito
COMENTÁRIO:
Os jornais não mencionam a atuação da brigada de Incêndio da empresa no combate inicial do incêndio, mas somente na evacuação dos funcionários.
O depósito deveria ter os equipamentos padrões de combate a incêndio, tais como; extintores e hidrantes.

Podemos indagar, por que motivo algumas empresas ocorrem desastres e outras não? Seria simplesmente fatalidade ou sucesso na definição clara de uma política de prevenção? De forma simplista, a diferença entre ganhar ou perder em um desastre é normalmente a presença ou ausência da capacidade de gerenciar a política de prevenção. As empresas que planejam a possibilidade de um desastre, que formulam estratégia para recuperação ou de funções críticas e que treinam os empregados para executarem essas estratégias geralmente sobrevivem a desastres.

Atualmente é comum, após um desastre, a empresa anuncia comunicado público, declarando que a empresa cumpre as normas de segurança. Mas cumprir a norma de segurança é a condição necessária e suficiente para fazer face ao desastre?
Mas que tipo de norma? Seria a norma para atender as condições ou requisitos técnicos para funcionamento da empresa? Ou através da implantação de uma política prevencionista, em que a norma é discutida sobre os aspectos estáticos (requisitos) e aspectos dinâmicos (peculiaridade do risco) onde a exigência de proteção ao risco, poderá estar acima da exigência da norma padrão, pois a discussão é feita sobre os fatores dinâmicos que envolvem os riscos (busca da qualidade de uma norma, que enquadra a proteção).

Deficiências do depósito:
■ inexistência de sistema de sprinkler
■ inexistência de sistema de detecção e alarme
■ falta de hidrantes públicos próximo ao depósito e
■ caixa d´água depósito insuficiente para atender a demanda de água para combate ao incêndio.

VIABILIDADE DO SISTEMA DE SPRINKLERS
Nesse incêndio mostra claramente a necessidade do sistema de sprinklers. Não houve combate inicial do incêndio por parte da empresa. Perceberam o foco de incêndio (fumaça) a brigada de incêndio evacuou os funcionários, agiu corretamente.
A perda total do galpão traz conseqüência a interrupção de vendas de no mínimo 8 meses, prazo de construção do depósito e que poderá não ficar pronto antes do Natal. O Natal é a data que mais aquece as vendas.
O estoque de mercadorias no momento do incêndio era de R$ 50 milhões, que correspondia vendas de 15 dias. Poderíamos estimar a venda de mercadoria por dia de 3,3 milhões de reais.

Qual seria o custo de implantação de um sistema de sprinklers?
Poderíamos estimar em US$ 1,5 milhões ou 2,7 milhões de reais, equivalente a menos de um dia de venda.
Em todas as instalações com sprinklers as perdas materiais foram quase 80% menores. Portanto existe uma eficiência do sistema de sprinklers, desde que não modifique a sua configuração quanto ao tipo de mercadoria predominante. O sistema de sprinkler é projetado conforme ao tipo de mercadoria predominante e prateleiras.

O QUE A EMPRESA PERDEU?
■ Elevação de custos de logística. O depósito localizava em local estratégico, próximo a via Dutra, de fácil acesso para outras regiões.
■ A empresa disse que o grupo absorveria essa logística, mas existe um custo de perda de alavancagem de vendas. Os demais depósitos ficariam com mais mercadorias que não faziam parte de sua especialidade.
■ Alterar o lay-out de alguns depósitos para atende o tipo de mercadoria (móveis, linha branca. etc).
■ O depósito poderá não ficar pronto antes do Natal, uma das datas que mais aquece as vendas do comércio

PRINCIPAIS MEDIDAS DE PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO

Precaução contra o início do incêndio
■ correto dimensionamento e execução de instalações de serviço
■ distanciamento seguro entre fontes de calor e materiais combustíveis
■ provisão de sinalização de emergência
■ correto dimensionamento e execução de instalações do processo
■ correta estocagem e manipulação de líquidos inflamáveis e combustíveis e de outros produtos perigosos
■ manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos e instalações que podem provocar o início do incêndio
■ conscientização do usuário para a prevenção do incêndio

Limitação do crescimento do incêndio
■ controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados aos elementos construtivos
■ controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos construtivos
■ controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados aos elementos construtivos

Extinção inicial do incêndio
■ provisão de equipamentos portáteis
■ provisão de sistema de hidrantes e mangotinhos
■ provisão de sistema de chuveiros automáticos (sprinklers)
■ provisão de sistema de detecção e alarme
■ provisão de sinalização de emergência
■ manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos de proteção destinados a extinção inicial do incêndio
■ elaboração de planos para a extinção inicial do incêndio
■ treinamento dos usuários para efetuar o combate inicial do incêndio
■ formação e treinamento de brigadas de Incêndio

Limitação da propagação do incêndio
■compartimentação horizontal
■ compartimentação vertical
■ controle da quantidade de materiais combustíveis incorporados aos elementos construtivos
■ controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos construtivos
■ manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a compor a compartimentação horizontal e vertical
■ controle da disposição de materiais combustíveis nas proximidades das fachadas

Evacuação segura do edifício
■ provisão de sistema de detecção e alarme
■ provisão de sistema de comunicação de emergência
■ provisão de rotas de fuga seguras
■ provisão do sistema de iluminação de emergência
■ provisão do sistema do controle do movimento da fumaça
■ controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos construtivos
■ manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos destinados a garantir a evacuação segura
■ elaboração de planos de abandono do edifício
■ treinamento dos usuários para a evacuação de emergência
■ formação e treinamento de brigadas de evacuação de emergência

Precaução contra a propagação do incêndio entre edifícios
■ distanciamento seguro entre edifícios
■ resistência ao fogo do revestimento dos edifícios
■ controle das características de reação ao fogo dos materiais incorporados aos elementos construtivos (no revestimento do edifício)
■ controle da disposição de materiais combustíveis nas proximidades das fachadas
Fonte: Livro: A Segurança Contra Incêndio No Brasil


Vídeo:
Mostra início do incêndio, com muita formação de fumaça (plume), com explosões.


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