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domingo, junho 27, 2010

As Prioridades Operacionais em Incêndios de Edifícios Altos

Um chefe de operação tem poucas escolhas quando enfrenta um incêndio nos últimos andares de um edifício alto.

Na maior parte de incêndios em edifícios, a melhor maneira de se atingir o objetivo principal, o salvamento de vidas, é atender a prioridade secundária: a extinção do incêndio. Isto é mais verdadeiro ainda no caso de edifícios altos, onde existem pessoas presas acima do andar de ocorrência do incêndio.
A extinção do fogo é geralmente a única opção tática e prática para o salvamento de vidas nessa situação. A extinção aumenta dramaticamente as chances de sobrevivência das vítimas e dos bombeiros.

Felizmente, a maior parte dos edifícios altos é protegida por sistemas de chuveiros automáticos. Os prédios mais antigos, que não têm proteção plena por chuveiros automáticos são, geralmente, feitos para resistir a incêndios de grandes proporções. Existem, entretanto, edifícios altos que não foram construídos para resistir a um incêndio prolongado e não contam com a proteção de chuveiros automáticos. São esses prédios que representam os maiores riscos para bombeiros e ocupantes.

As opções táticas à disposição dos bombeiros são bastante limitadas quando o fogo localiza‑se fora do alcance de uma escada. O resgate de pessoas pela parte externa do prédio, usando escadas ou equipamento aéreo, não é possível nesses casos. Quando isso ocorre, o chefe da operação só tem como opções o uso de uma estratégia agressiva ou uma estratégia de não‑combate.

TEMPO DE PREPARAÇÃO LIMITADO
O transporte de pessoal e equipamentos para os andares superiores de um prédio pode aumentar enormemente o tempo de preparação, especialmente se os elevadores não puderem ser usados. O tempo de preparação para o lançamento de uma frente de ataque, que geralmente não ultrapassa dois ou três minutos, facilmente passa a ser de dez minutos ou mais, pois os bombeiros precisam chegar ao andar do incêndio pelas escadas.

Após carregar todo seu equipamento escada acima, os primeiros bombeiros a subir provavelmente estarão exaustos. O pessoal de apoio nas escadas e o uso de procedimentos de reabilitação podem minimizar esse problema, mas as primeiras brigadas a preparar uma ofensiva nos andares superiores de um edifício alto têm que se virar sozinhas.

A IMPORTÂNCIA DA REDE DE ÁGUA DE INCÊNDIO
Quanto mais alto for o andar do incêndio, mais importante se torna a tubulação interna de incêndio. A instalação de uma linha de mangueiras no 10o andar de um prédio já se constitui um desafio, mas posicionar uma no 30o , 50o ou no 100o andar é muito mais difícil.

Em termos práticos, o chefe de emergência precisa levar em consideração as variáveis hidráulicas necessárias para superar a perda de carga o efeito da altura, além do pessoal adicional necessário.
A perda de pressão por elevação corresponde a 0,03 kgf/cm2 para cada 30 cm de altura. Embora a altura de cada andar varie de prédio para prédio, e os primeiros andares sejam geralmente mais altos que os superiores, para efeitos práticos calcula-se que cada andar tem 3 metros de altura.

Conseqüentemente, o bombeamento para um sistema de mangueiras no segundo andar gera uma perda de pressão de aproximadamente 0,3 kgf/cm2.
Um bombeamento para o 51o andar corresponde a uma perda de pressão de 18,4 kgf/cm2, e o bombeamento para o 101o andar resulta em uma perda de 29,5 kgf/cm2. Para se conseguir superar estas perdas elevadas seria necessário empregar-se pressões de bombeamento muito acima das pressões recomendadas para as mangueiras e bombas de incêndio existentes.

O incêndio no hotel One Meridian Plaza, na Filadélfia, em 1991, é um bom exemplo de quanto depende o corpo de bombeiros da rede de água de incêndio do edifício. No instante do sinistro, a rede de incêndio do prédio desocupado tinha válvulas redutoras de pressão, o que resultou em baixa pressão no sistema. Para tentar obter as pressões e vazões necessárias, o chefe da operação considerou a possibilidade de mandar bombeiros transportarem mangueiras de grande diâmetro até o incêndio, que havia iniciado no 22o andar e se espalhado até o 29o .
Se considerarmos que cada andar tem 3 metros de altura, e que o 22o andar está localizado a 64 de altura, a perda de pressão por elevação equivalia a 6,2 kgf/cm2. O uso de mangueiras de 13 cm iria reduzir a perda de carga, mas seria difícil transportá-las 21 andares escada acima.

O cálculo hidráulico indica que seria necessária uma pressão de descarga na faixa de 55 a 65 lpm (litros por minuto) para se suprir o esguicho automático. Esguichos de jato sólido operam a pressões menores para o mesmo nível de vazão e, por esse motivo, exigem menos do equipamento de bombeamento e das mangueiras. Essa tática seria possível em termos hidráulicos, mesmo com esguichos automáticos que requerem pressão de 6,8 kgf/cm2.
Entretanto, poucos corpos de bombeiro dispõem do número de bombeiros necessário para programar semelhante estratégia, que exige muito trabalho.
No final das contas, 316 bombeiros combateram o incêndio no One Meridian Plaza. Três deles morreram antes que o chefe da operação decidisse retirar o seu pessoal, optando por uma estratégia de não-combate.

PERIGO DE INCÊNDIOS EM EDIFÍCIOS ALTOS
Incêndios em edifícios altos podem dominar completamente as equipes de combate e ameaçar um número grande de ocupantes e bombeiros. Esses incêndios representam um dos maiores desafios para os combatentes de incêndios em edifícios, porque exigem a modificação de técnicas padrão de combate a incêndios e também porque limitam o leque de opções do chefe da operação.

Fonte: NFPA Journal - Ben Klaene e Russ Sanders
Russ Senders serviu no Corpo de Bombeiros de Louisville, no estado americano de Kentucky, por 29 anos, sendo que nos últimos 9 anos ocupou o cargo de Comandante. Ele hoje é gerente da Região Central dos EUA da NFPA. Após 30 anos de serviços prestados no Corpo de Bombeiros de Cincinnati.
Bem Klaene se aposentou como comandante de Treinamento e Segurança e passou a lecionar no Curso de Extensão em Ciência de Incêndios da Universidade de Cincinnati.
Esta artigo foi adaptada do livro Structural Fire Fighting . O propósito do livro é preparar o chefe da operação para assumir o controle das operações de combate a incêndios em edificações, por meio do uso dos recursos disponíveis, de forma segura e eficiente.

Vídeo:
Esse vídeo chama à atenção da complexidade da evacuação de pessoas com incapacidades permanente ou temporária.durante um incêndio.
Frequentemente em situações de emergência as preocupações das pessoas com deficiências temporárias ou permanentes, são ignorados ou deixados de lado ou são esquecidas. É importante que as pessoas tenham acesso a essas informações de emergência para a evacuação de edifícios que envolvem urgência em responder a essas preocupações com planejamento, preparação e resposta.

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posted by ACCA@8:53 PM