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domingo, junho 28, 2009

Sushi, Sashimi, sem atum ?

A exibição do documentário “End of The line” (O Fim da Linha) na Europa está chamando atenção da pesca predatória do atum azul. O filme é baseado no livro do jornalista Charles Clove, que denuncia a pesca ilegal do atum azul.
O atum azul é o peixe que a maioria dos restaurantes japoneses serve em seus saborosos sushi e sashimi. O peixe também entra em receitas de outros tipos de culinária, na forma de atum grelhado, cozido e outros. O filme destaca que a enorme popularidade do sushi em todo o mundo, o que era uma raridade fora do Japão, hoje criou um lucrativo mercado mundial do atum azul.
A pesca desenfreada e os métodos empregados estariam exterminando a espécie, cujos peixes podem nadar a velocidade de 64 km/h e atingir o tamanho de um carro pequeno. Mas hoje, segundo Charles Clove, pelo menos um terço do atum azul que vai parar nos pratos é pescado ainda na idade da desova.

As conclusões do documentário são sombrias para o atum azul. Ele pode desaparecer em três anos.

Nos últimos tempos, a pesca predatória nos oceanos reduziu o estoque de vários peixes de forma dramática;
■ No Mediterrâneo, doze tipos de tubarão estão comercialmente esgotados.
■ No Mar do Norte, o bacalhau praticamente desapareceu.
Agora, a ameaça recai sobre um dos peixes mais apreciados do mundo, o atum-azul, cuja carne macia e saborosa - principalmente na região da barriga - é usada na confecção dos melhores sushis e sashimis.

A pesca do atum-azul cresceu em proporção geométrica na década de 90, à medida que a culinária japonesa se popularizou na Europa e nos Estados Unidos.

Tecnologia sofisticada para captura do atum
Para localizarem os cardumes e aumentarem o volume de captura do atum, empresas pesqueiras passaram a lançar mão de recursos tecnológicos como sonares, aviões de reconhecimento e satélites. Ao mesmo tempo, surgiram em vários países do Mediterrâneo as fazendas de cultivo do atum-azul, para onde são levados os cardumes, vivos, após a captura. Nelas, os peixes permanecem dentro de gaiolas, em processo de engorda, até atingir o peso ideal para ser abatidos e comercializados.

Ocorre que a pesca em excesso não deixa tempo para que os estoques de atum-azul possam se renovar. Os exemplares da espécie levam uma década para se tornar aptos a procriar. Na maioria das vezes, são capturados muito antes disso.

Estoque reduzido
As duas principais áreas de pesca do atum-azul são o Mediterrâneo e o Atlântico. Em ambas as regiões, estima-se que o estoque do peixe esteja hoje reduzido a 10% do que era em meados do século passado. Nos oceanos Pacífico e Índico, nos quais os japoneses tradicionalmente capturavam o atum-azul para uso doméstico, a espécie está quase extinta. Nas costas da Escandinávia, ela já desapareceu. Nas fazendas de cultivo, a quantidade de atum-azul estocada caiu 25% no ano passado em relação a 2005. Seis fazendas na Espanha tiveram de encerrar as operações por falta do peixe.

No Japão, o atum-azul foi descoberto como ingrediente inigualável na composição de sushis no início dos anos 60, mas seu consumo explodiu no fim da década de 90.

O risco de faltar atum-azul tem deixado os japoneses alarmados. Eles consomem um quarto de todos os exemplares da espécie pescados no mundo e a consideram uma instituição cultural do país. "Sushi sem atum não é sushi", diz Tadashi Yamagata, vice-presidente do sindicato de sushimen do Japão. "É como se os Estados Unidos ficassem sem hambúrguer", ele compara.

O controle não é rigoroso
Em 2002, a Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT), que estipula regras para a pesca do atum-azul, determinou que a indústria pesqueira não poderia capturar mais do que 32.000 toneladas da espécie no Atlântico e no Mediterrâneo por ano. Segundo as entidades ambientalistas, essa cota não foi respeitada. Estima-se que, nos últimos dois anos, o total de atum capturado tenha superado o limite estabelecido pela entidade em 40%. Em novembro do ano passado, o ICCAT reduziu ainda mais o limite na tentativa de frear a pesca em excesso.

Até 2010, só será permitido pescar 25.500 toneladas anuais. Como parte do plano de recuperação dos cardumes de atum-azul nos oceanos, a União Européia decidiu colocar inspetores nas áreas de pesca, para evitar os abusos. Os países europeus também prometeram banir a utilização de aviões localizadores na pesca do atum. Segundo os ambientalistas, essas medidas não vão resolver o problema.

Pesca desenfreada - temporada de pesca
A entidade ambientalista WWF (Fundo Mundial para a Natureza), em 14 de abril de 2009, afirmou que só uma dramática redução da pesca poderá salvar o atum azul, um dos maiores e mais rápidos predadores do oceano, caso contrário, poderá desaparecer dentro de três anos a população desse peixe em idade de procriação no Atlântico.

"É absurdo e indesculpável abrir uma temporada de pesca quando os estoques da espécie-alvo estão acabando. Na véspera do início da temporada de pesca no Mediterrâneo, que dura dois meses, a WWF disse que, no atual ritmo, suas análises demonstraram que os atuns azuis com 4 anos de idade ou mais, a idade da desova, irão desaparecer até 2012. "Há anos as pessoas se perguntam quando irá ocorrer o colapso dessa atividade pesqueira, e agora temos a resposta", disse Sergi Tudela, diretor de Atividades Pesqueiras da WWF Mediterrâneo.

O peixe, que pode alcançar mais de meia tonelada e é mais rápido do que um carro esporte. "O atum azul do Mediterrâneo está acabando enquanto falamos, e mesmo assim a pesca vai começar novamente, de forma normal. É absurdo e indesculpável abrir uma temporada de pesca quando os estoques da espécie-alvo estão acabando", acrescentou Tudela.

Grupos ambientalistas condenaram um acordo assinado em novembro de 2008, por vários governos, especialmente europeus, para estabelecer quotas de pesca do atual azul. O grupo considera as quotas "um desastre" e "uma desgraça", e diz que os países novamente preferiram ignorar seus próprios cientistas, já que as quotas são 47 por cento superiores ao que foi recomendado. De acordo com o WWF, dados oficiais mostram que o tamanho médio dos atuns adultos caiu a menos da metade desde a década de 1990, e que isso teve um impacto ainda maior sobre a espécie, pois peixes maiores produzem mais crias. A WWF e outras ONGs dizem que o atum azul só será salvo se a pesca parar completamente nos meses de maio e junho, quando o peixe atravessa o estreito de Gibraltar e se espalha pelo Mediterrâneo. O colapso do atum-azul parece inevitável.

Fonte: BBC Brasil - 24 de junho de 2009, Globo Onlie, 14 de abril de 2009 e Revista Veja, 4 de julho de 2007

Comentário:
A atividade pesqueira virou uma indústria altamente especializada, para atender o consumismo desenfreado de uma parte da população mundial, não para saciar a fome e sim para degustar um prato da moda. Hoje um navio pesqueiro, pode estar em qualquer oceano, utilizando equipamentos eletrônicos sofisticados de localização para captura de determinados peixes.

O colapso dos recursos pesqueiros está associado a desperdícios gerados por uma produção em grande escala para atender interesses econômicos e do mercado consumidor. É só observamos em shopping´s a quantidade de restaurantes, cadeias de fast-food especializados em frutos do mar e peixes e em supermercados, prateleiras repletas de pratos e produtos à base de peixe.

Apenas como exemplo, o mercado de peixe de Tóquio no Japão comercializa 3.000 toneladas de produtos marinhos por dia. Na Austrália, a captura de atum vivo para engorda em fazenda pode render dezenas de milhões dólares no mercado japonês. Por exemplo, captura de 240 toneladas de atum para engorda em fazenda, vale no mercado japonês cerca de 20 milhões de dólares.

Devido a falta de consciência ecológica do mercado consumidor, a demanda de recursos pesqueiros é muito maior do que a capacidade de reposição da natureza (rios, mares e oceanos).
E ainda agravada pela poluição das águas e falta de política de conservação e de conscientização. Na natureza existe um ciclo de criação (procriar, criar, desenvolver) que o próprio homem está interferindo.

Vídeo
Mostra um dos maiores navios pesqueiros do mundo em atum. O navio “Albatun Tres”, propriedade da empresa espanhola Albacora, pode capturar mais de três mil toneladas de atum em apenas uma única viagem.


Vídeo
Trecho do filme The End of the Line

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posted by ACCA@3:10 PM