Zona de Risco

Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia

terça-feira, junho 16, 2009

Descobrindo as causas de incêndios em depósitos


Os incêndios em depósitos, geralmente não podem ser controlados em sua fase inicial e tendem a ser bastante severos.
Num armazenamento em blocos sólidos ou em prateleiras, o fogo se inicia normalmente na face exterior e se propaga para cima, desenvolvendo-se em forma de leque.
O fogo na base aquece o material imediatamente acima, dando início à sua combustão, além disso, o calor gerado entra em contato com outros blocos ou prateleiras que são separados por corredores e também começam a arder.
A velocidade de propagação vertical do fogo depende em grande parte do material da embalagem, porém a duração do incêndio depende principalmente dos materiais contidos nas embalagens.

Os fatores que determinam a extensão dos danos são os seguintes:
■ Tempo transcorrido para o descobrimento do incêndio;
■ Velocidade de propagação que aumenta consideravelmente em função do espaço existente dentro das pilhas de armazenamento, devido à existência de ar que favorece a combustão.
■ A velocidade de propagação horizontal aumenta em função do menor espaço entre as pilhas de armazenamento;

As principais causas de incêndio são:

1-Processo de combustão espontânea ou ignição espontânea/ ação química
Alguns materiais oxidam-se e liberam calor. Se esses materiais estiverem confinados, o calor não pode escapar e pode haver ignição. Alguns produtos que se aquecem espontaneamente (processo exotérmico de fermentação) são óleos animal e vegetal, e produtos agrícolas como alfafa, fubá, algodão, que contem óleos ou são sujeitos a oxidação bacteriana.
Depósitos de tintas que contem óleos secantes podem inflamar espontaneamente da mesma forma que estoque úmido de carvão de madeira, onde foco de incêndio latente é comum.
Uma boa organização é a principal proteção contra a ignição espontânea. Evite o acúmulo de trapos e outros materiais contaminados por óleos.

No caso da fermentação do algodão é denominado de cavitoma. O fogo tem início e desenvolvimento muito lento, desencadeando‑se de forma violenta quando chega a superfície do empilhamento com combustão alimentada pelo ar.
Cavitoma é um termo inventado na década 50 para descrever os danos microbiológicos à fibra do algodão ou à decomposição da celulose na fibra por micro-organismos.
Esta atividade microbiológica prejudicial começa no campo, quando o caroço maduro aberto está exposto ao tempo úmido ou chuvoso e pode continuar enquanto a semente do algodão estiver no caroço e quando a fibra é armazenada em fardo.
Os sintomas dos danos da fibra incluem o pH elevado, redução no comprimento e na resistência, e reduz a afinidade para tinturas.
Quando a colheita é atrasada pela chuva é importante manter índices de umidade do caroço e do fardo a um mínimo.

Os danos microbiológicos às fibras podem ser observados microscopicamente após a colocação das fibras em uma solução de hidróxido de potássio em 10%. As fibras não afetadas são cilíndricas enquanto as fibras afetadas são distorcidas, inchadas e obviamente danificadas.

2-Incêndios provocados (criminoso);
As áreas de estocagem, como armazéns, são os alvos mais freqüentes de incêndios criminosos, pois normalmente abrigam poucos funcionários.
Segurança adequada, cercas, iluminação interna externa, alarmes de intrusão, serviços de vigia e portas e janelas (e outros meios de acesso) eficientes podem ajudar a minimizar as chances de um incêndio criminoso. Implemente medidas de segurança para garantir que apenas empregados e visitantes acompanhados tenham acesso restrito a determinadas áreas da instalação.

3-Operações de corte, solda ou trabalhos a quente em geral no local ou próximo;
Trabalhos a quente incluem cortes, soldas e o uso de maçaricos para aplicações de materiais de revestimento ou qualquer operação que envolva chamas expostas ou produza calor ou fagulhas.
Fagulhas originadas em trabalhos a quente podem ser lançadas ou rolar por grandes distâncias, passar por fendas ou aberturas na construção do prédio, caindo sobre estoques combustíveis, acúmulos de pó ou resíduos não visíveis de óleo.
Esse material pode então alimentar um incêndio latente que termina por produzir chamas, mesmo depois que o trabalho foi concluído e o pessoal foi embora. Às vezes, trabalhos de corte ou soldagem conduzem calor para materiais combustíveis adjacentes.

A realização de trabalhos a quente com segurança contra incêndio requer preparo e supervisão antes, durante e após o trabalho.

Utilize a Permissão de Trabalho, com as precauções prescritas. Essas precauções incluem a verificação da área programada para o trabalho a quente quanto à construção e conteúdo combustíveis, e a renovação destes ou seu isolamento com coberturas ou barreiras não combustíveis.
Quaisquer pequenos buracos no piso paredes próximas à área de trabalho a quente devem ser cobertos a fim de se evitar que as fagulhas passem para outras áreas ou espaços confinados.
Molhe a área sempre que possível. Providencie um vigia de incêndio equipado com extintores e uma mangueira de incêndio disponível na área. Após o término de trabalhos de corte e soldagem, tenha alguém para verificar as áreas adjacentes quanto à existência de incêndios latentes.

4-Risco externo
Um incêndio pode começar em um prédio pela irradiação de calor de incêndio em uma estrutura vizinha, estoques em pátios, vegetação vizinha ou bosques. A distância entre os dois contribui para o grau de risco externo, assim como a combustibilidade das paredes externas do prédio exposto e o tamanho das janelas ou de outras aberturas.
A proteção mais efetiva de um prédio é à distância de estruturas combustíveis e estoques em pátios.
Use portas corta-fogo para proteger passagens. Mantenha caçambas e outros grandes receptáculos externos do lixo tampados e longe dos prédios. Não permita crescimento extensivo do mato ou madeira perto dos prédios. Onde houver necessidade de estocagem combustível em pátios, subdivida o estoque em pilhas com o maior espaço possível entre elas (geralmente, pelo menos 15 m).

5-Fumo
Todo fósforo ou cigarro aceso é uma fonte potencial de ignição. Pode-se, entretanto, minimizar a ameaça por meio de controle e educação.
Proíba fumo e coloque cartazes de "Proibido Fumar" em áreas com riscos potenciais, como líquidos inflamáveis, estoques e pós-combustíveis e em áreas de armazenagem. Incêndios por imprudência de fumantes são mais freqüentes em áreas de armazenagem do que em qualquer outra localidade devido à presença de materiais de embalagem facilmente inflamáveis.
Providencie cinzeiros fora de áreas de armazenagem e de outras áreas de risco para que os fumantes apaguem cigarros e fósforos antes de entrar. Reforce políticas de proibição ao fumo nessas áreas e certifique-se de que a posição da gerência em relação a esse risco é conhecida de todos.
Nos locais onde for permitido fumar, providencie recipientes seguros a fim de minimizar descartes imprudentes, como jogar cinzas em brasa em cestos de lixo. A equipe de limpeza também deve esvaziar os cinzeiros de forma segura.

6-Fricção
Incêndio provocado por transporte e manipulação de fardos (faíscas provenientes de empilhadeiras e outros equipamentos móveis, provocadas por defeitos no funcionamento ou derrames de combustível ou atrito com o piso).
A fricção gera calor; quando esfregamos duas varetas, fazemos surgir uma pequena chama. Mas, no maquinário, partes móveis frouxas ou gastas que se friccionam umas contra as outras podem gerar calor suficiente para inflamar combustíveis próximos (por exemplo, depósitos de algodão em maquinário têxtil, pó de papel em máquinas do papel). Correias propulsoras e transportadoras mal alinhadas podem pegar fogo. Rolamentos gastos ou com lubrificação insuficiente podem sobreaquecer.
A manutenção adequada é a chave da prevenção de incêndios causados por fricção. Use lubrificantes apropriados com a devida freqüência. Verifique o alinhamento dos componentes do maquinário. Os operadores podem minimizar as chances dos problemas do falta do alinhamento observando e comunicando sons incomuns ou outros sinais de operação defeituosa.

7-Instalação elétrica
Como a eletricidade provoca um incêndio? Normalmente, a corrente elétrica circula por um condutor, encontrando resistência. Essa resistência gera calor que, em um condutor adequadamente dimensionado, é dissipada.
No entanto, há geração de calor excessivo prejudicial por sobrecarga, formação de arco, defeitos de alta ou baixa impedância, alta resistência (baixa condutividade) em conexões mal feitas ou por resfriamento ou dissipação inadequados de calor normal.
O risco de ignição do equipamento elétrico pode ser minimizado assegurando e mantendo um programa de manutenção formalizado executado por uma equipe de funcionários qualificados.
A manutenção deve ser acrescida por inspeções regulares (uma combinação de inspeções visuais e termográficas são essenciais) e um sistema eficaz de ordem de serviço para assegurar que os problemas são resolvidos prontamente.

Observa-se um número elevado de incêndios em grandes depósitos que foram causados por falhas de equipamento de iluminação. As luminárias estarão posicionadas invariavelmente, diretamente acima do estoque, apresentando uma fonte de ignição constante se a luminária apresentar defeito e puder liberar o material quente. Este risco é comum a cada área de armazenamento e a revisão dos suportes das luminárias e manutenção devem ser vista como um aspecto importante da prevenção de incêndio.

Luminárias:
As lâmpadas de descarga de alta intensidade (HID-High intensity discharge)
Como a tecnologia das lâmpadas melhorou, as pressões internas das lâmpadas HID alcançaram 4,8 bar, com temperaturas acima de 1000°C.
Falhas violentas de lâmpadas HID podem descarregar fragmentos grandes e quentes sobre a mercadoria vulnerável e nas tais lâmpadas foram identificados como a causa provável da ignição em diversos incêndios recentes.
Tais suportes devem ser revistos para assegurar que os protetores são fornecidos para impedir a descarga de fragmentos quentes. De outro modo, as lâmpadas de descarga de alta intensidade devem ser especificamente projetadas para o uso sem protetores.

Lâmpadas fluorescentes
A temperatura máxima de superfície de componentes típicos de uma lâmpada fluorescente é de 90°C. Se posicionado perto da mercadoria ou se a poeira for permitida acumular nos componentes, um incêndio pode resultar. Além disso, se as unidades forem usadas além de sua vida útil prevista, as falhas elétricas podem causar arcos e superaquecimento.
A boa pratica aceita para a manutenção contínua de operação de descarga elétrica do sistema de iluminação é desligar as lâmpadas por 15 minutos por semana. As lâmpadas que se aproximam do fim de sua vida útil falharão para reiniciar e podem ser substituídas antes que tenham a oportunidade de falhar durante o serviço.

Medidas de segurança
Housekeeping
Áreas desorganizadas e sujas fornecem combustíveis suficientes para qualquer fonte de ignição. E, em geral, contribuem para que os combustíveis aproximem-se, muito mais de fontes potenciais de ignição do que o bom senso prescreveria. Mantenha as áreas limpas, dê destino apropriado ao lixo e verifique suas práticas de limpeza. Os empregados desempenham um papel chave neste fator.
Empilhamento
Com espaçamento e altura adequada, evitando o empilhamento excessivo próximo a estrutura da cobertura, da luminária e da instalação de sprinklers.
Extintores de incêndio
Adequado ao combate a incêndio de acordo com o tipo de ocupação
Rede de hidrantes
A rede de hidrante deve ser projetada e instalada de acordo com as normas técnicas vigentes no país.
Sistema de sprinklers
Para determinar a demanda de água, deve ser levada em conta a classificação da ocupação (fardo de algodão), e demais parâmetros técnicos, tais como; tipo de armazenamento (prateleiras, pallets, etc.) altura de empilhamento, corredores entre prateleiras ou pilhas, tipo de prateleira, altura do edifício, etc. O sistema sprinklers deve ser projetado e montado de acordo com as normas técnicas vigentes no país.

Compartimentação horizontal
Constituída de elementos construtivos resistentes ao fogo, separando ambientes, de tal modo que o incêndio fique contido no local de origem e evite a sua propagação no plano horizontal. A compartimentação também auxilia na divisão de áreas (fracionando) com intuito;
■ de fixar o valor máximo estabelecido para cada área compartimentada, considerando o custo da edificação e conteúdo
■ minimizar os prejuízos decorrentes da paralisação do setor sinistrado
■ sistema de detecção de incêndio

Sistema de detecção de incêndio
As áreas de armazenagem são extremamente dependentes dos recursos manuais dos bombeiros para limitar a propagação do incêndio e para executar o seu controle final. Durante os estágios críticos iniciais de um incêndio, qualquer atraso no aviso do incidente impedirá severamente a eficácia da resposta da brigada de incêndio e do resultado do aumento significativo no impacto do incêndio.
É, entretanto, importante que um fogo seja detectado no inicio e o alarme aciona prontamente a brigada de incêndio.

Além do aspecto desfavorável de incêndios na área de armazenagem, os registros de incêndios indicam que mais de 60 por cento dos incêndios ocorrem entre 18 h e 6 h.

Nesse período as instalações estão com pouco pessoal ou desocupadas, aumentando à probabilidade de que o incêndio crescerá sem a sua detecção. Estes fatores combinam para destacar a necessidade fornecer alguma forma de detecção de incêndio contínua em conjunto com os procedimentos de notificação da emergência para áreas de armazenamento.
Os incêndios podem ser detectados em seu estágio incipiente por quaisquer sistemas de detecção de incêndio automáticos, pelos vigias e/ou funcionários da área. Um nível apropriado de ronda de incêndio (ronda com relógio) deve ser considerado para todas as instalações de armazenamento e os procedimentos desenvolvidos para assegurar que os avisos serão rapidamente transmitidos ao centro de controle de incêndio.

Fonte: An Insight into Warehouse Fires - Willis Global Property & Casualty; Recognizing the Causes of Fire Ignition Sources – FM Global

Vídeo:
O incêndio ocorreu no depósito de uma loja de móveis. Causa provável cigarro no depósito, nas docas. Morreram nove bombeiros. Os bombeiros de Charleston por tradição tinha um lema “Jamais retroceder diante do fogo” e as normas de segurança contra incêndio ficavam em segundo plano.. O incêndio foi agravado pela carga de incêndio no local, muito material de fácil combustão, não tinha sistema de sprinklers (era um a prédio antigo) e a estrutura do telhado era metálico (tipo treliça), considerado pelos bombeiros americanos como um dos mais frágeis diante do fogo.

Marcadores:

posted by ACCA@10:30 PM