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sexta-feira, abril 03, 2009

Acidente fatal em fábrica de vidro

Na madrugada do último dia 14 de fevereiro de 2009, quando cumpria uma jornada de trabalho das 22h30 às 6h30 na fábrica LM Vidros Temperados, o assistente de produção Denner Mendes Dias, de 23 anos, se deparou com uma situação para o qual não recebeu treinamento, e, agindo apenas da forma que acreditava ser correta, morreu em decorrência de um acidente de trabalho.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou a ir até o local para prestar socorro, mas quando chegou ele já havia morrido. Segundo o serviço, o jovem havia perdido muito sangue.

Na ocasião, conforme o documento, o funcionário foi alertado que deveria colocar um pedaço de papelão entre as peças de vidros, atendendo uma exigência do controle de qualidade. Denner, então, pediu que um colega empurrasse as peças de vidro para que ele amparasse, contudo, não suportou o peso das oito lâminas, equivalente a mais de uma tonelada, caiu sobre ele e sofreu traumatismo craniano.

Procedimentos de segurança
“Não tinha uma norma de segurança de como ele deveria proceder. Como, por exemplo, transpor as peças de um carrinho para outro e corrigir a falha”, enfatiza engenheiro de segurança do trabalho, Erick Capobianco.

Além da falta de normatização dos procedimentos de segurança, o relatório do Cerest (Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador) cita uma série de falhas, tais como;
■ Conforme o documento, Denner Dias foi chamado pra cumprir às 8h da jornada de trabalho à noite porque o processo de fabricação ficou interrompido por três dias e a empresa tinha prazos a cumprir. Diante da interrupção do processo de tratamento de têmpera de vidros com a paralisação do forno demandou a produção extraordinária, executada com funcionários em número reduzido.
■ Houve falha de logística, pois as lâminas de vidros tiveram quer ser colocadas em um carrinho menor do que o usualmente utilizado. “Os colegas de trabalho do Denner disseram que ‘caçaram’ um carrinho. O que mostra que no dia não haviam provido o número suficiente de carrinho para transporte interno”.

Programa de prevenção de acidentes
Conforme Erick Capobianco, o programa de prevenção de acidentes da empresa, elaborado em setembro do ano passado pelo Sesi, é falho, com foco apenas no uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) e controle de qualidade do produto.
De acordo com o parecer, a assinatura de Denner consta na lista de presença de apenas um curso oferecido no dia 16 de dezembro, o tema era o uso de EPI.

Vidro, atividade de risco elevado
Se em vez dos 98 funcionários, a empresa tivesse 101 empregados, também seria exigida a contratação de um técnico de segurança de trabalho. A produção de vidros é considerada de grau de risco 3. A classificação do Ministério do Trabalho vai até 4.

Segundo a Cipa
O presidente da Cipa (Comissão Interna de Prevenção a Acidentes) da LM, Robson da Silva Martins, atribuiu toda responsabilidade pelo acidente ao funcionário morto e a um colega que fazia o procedimento em dupla com a vítima. Na avaliação de Robson Martins, Denner negligenciou os passos para o armazenamento do material no carrinho de transporte.

Fonte: Campo Grande News - Quinta-feira, 26 de Março de 2009

Comentário:
A empresa tem a certificação da ISO 9001:2000, reconhecida por uma das maiores certificadoras do mundo.

Um certificado ISO 9001:2000 comprova que o seu Sistema de Gestão de Qualidade foi certificado de acordo com uma norma de melhores práticas e foi aprovado. Emitido por uma organização de certificação após uma auditoria independente por terceiros.

Nota-se pelo vídeo que houve uma falha no processo, que em conseqüência provocou o acidente. O trabalhador estava colocando espaçadores de papelão entre as placas de vidro, que já deveria ter feito durante a colocação de cada placa de vidro.

A ISO 9001 sugere que a aplicação e a gestão de um sistema de processos seja uma forma efetiva de garantir uma boa gestão da qualidade. Para adotar esta “abordagem de processo”, a ISO 9001 inclui uma metodologia PDCA (“Planejar-Fazer-Checar-Agir”) que pode ser aplicada a todos os processos. A essência é fazer de modo seguro, com eficiência e qualidade.
Na linguagem da qualidade, os incidentes são defeitos na saída do processo. A maioria dos de­feitos são gerados pela grande variação nos sistemas em andamento. O acidente de trabalho também seria um defeito do processo.
Existem muitas fontes em potencial de variação em um sistema. Algumas delas são:
■ equipamentos, maquinismo,
■ matérias‑primas, procedimentos,
■ política, métodos,
■ gerenciamento de sistemas e pessoas.

Equipamentos e maquinismo

Foto - Unidade de carregamento por ponte rolante

Existe tecnologia de equipamentos de movimentação, transporte e armazenagem de placas de vidro, em que o trabalhador não fica em exposição de riscos, (quebra de vidro, carga excessiva para movimentação, etc). Na época da certificação já deveria ter feito essa análise de custo e beneficio de movimentação, transporte e armazenagem de vidro.
Como menciona no relatório do Cerest, “Não tinha uma norma de segurança de como ele deveria proceder. Como, por exemplo, transpor as peças de um carrinho para outro e corrigir a falha”.

Foto – Ventosa – Solução prática para a movimentação vertical de vidro. Pode ser usado em ponte rolante

Procedimentos, armazenamento
No transporte e armazenamento de placas de vidro deverão ser observados os seguintes procedimentos:
■ Transportar as placas sempre na posição vertical, com inclinação de aproximadamente de 6º , observando a quantidade máxima para empilhamento.
■ Dispor de mecanismo de segurança contra o tombamento das placas
■ Separar mecanicamente as placas de vidro para evitar abrasão ou quebra. Esta separação pode ser feita com papel jornal, com papelão de espessura final.
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Gerenciamento de pessoas.
Nesse acidente demonstra-se que houve falha no processo, esquecimento de colocação de espaçadores entre as placas de vidro. O método de transporte por carrinho é potencialmente perigoso devido à quantidade de placas e instabilidade.
Segundo o engenheiro de segurança, Erick Capobianco, o programa de prevenção de acidentes da empresa, elaborado em setembro do ano passado pelo Sesi, é falho, com foco apenas no uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual) e controle de qualidade do produto. De acordo com o parecer, a assinatura de Denner (vítima fatal) consta na lista de presença de apenas um curso oferecido no dia 16 de dezembro de 2008, o tema era o uso de EPI. É como um time amador, o técnico entrega o calção, a camisa e antes da partida o time faz uma oração. A empresa entrega o capacete, cinto de segurança, sapato e dá algumas dicas de instruções de segurança. Todos estão aptos para jogar, ou melhor, para trabalhar.

Na gestão da qualidade todos os setores e trabalhadores da empresa devem trabalhar de forma integrada.
Em programa de Prevenção de Acidentes, treinamentos adequados, política da empresa, slogans, normas, são fundamentais, pois nos levam a um menor número de acidentes. As atividades seguras nos levam a um menor número de comportamentos de risco que, por conseguinte nos levam a um número reduzido de acidentes.
Esse acidente mostrou que a empresa teve interesse na certificação de qualidade, muito provável por exigência do mercado, mas total desinteresse na qualidade de segurança do trabalho, quanto ao ambiente favorável à saúde e integridade física do trabalhador.


Vídeo:
As imagens registradas em vídeo por câmeras de segurança do circuito interno da empresa LM Vidros, de Campo Grande, MS, flagraram o momento em que o trabalhador, morre ao tentar segurar as placas de vidro.

Marcadores:

posted by ACCA@3:04 PM

1 Comments:

At 12:44 PM, Blogger Unknown said...

infelismente a segurança do colabolador ainda e tratada com descaso,com a nao valorzaçao da vida ,mas sim com a altao producao ,invistamos mais em segurança ,trabalhador seguro eh producao acidua

 

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