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sexta-feira, agosto 15, 2008

Trabalhador perde as duas mãos, mas são reimplantadas

O acidente
Degilânio Verônica de Lima, 25 anos, trabalhava em uma guilhotina para cortar placas de uma fábrica de artefatos de couro de Apucarana, Paraná, quando na manhã de quinta-feira, 31 de Julho de 2008, prendeu a mão direita no equipamento. Imediatamente, ele utilizou a mão esquerda para tentar se salvar, e acabou tendo as duas decepadas.
Imediatamente ele foi levado a um hospital da cidade, que o encaminhou ao HEL (hospital Evangélico), em Londrina.

Rapidez no atendimento
O especialista em microcirurgia, o médico Edson Takaki, do Hospital Evangélico de Londrina (HEL) foi avisado por volta das 9 horas do mesmo dia do acidente e começava uma maratona do médico e de mais dois profissionais - um auxiliar e um instrumentador que só acabaria depois das 10 horas do dia seguinte. Quando o paciente chegou já estávamos com toda a sala cirúrgica preparada e o tempo entre o acidente e o reimplante é muito importante para o sucesso da cirurgia, explica Takaki.

As mãos de Lima foram recolhidas em um saco plástico, entregue dentro de uma caixa de isopor com gelo. ''O pessoal de Apucarana agiu muito bem em nos avisar imediatamente, pois assim pudemos deixar tudo pronto para receber o paciente e não perdermos tempo. Esse é o procedimento correto'', destacou Takaki.

Reconstituição complexa
Ele recebeu o trabalhador com uma das mãos, a direita, totalmente amputada e a esquerda presa somente pela pele. Os dois membros foram decepados um pouco abaixo do punho, o local mais difícil para se fazer um reimplante devido à grande quantidade de estruturas que são afetadas. Além disso, o polegar da mão esquerda foi amputado do membro e também teve que ser reimplantado. Por volta das 10h da quinta-feira, a dupla cirurgia teve início.

Em ambas, o corte foi na região transcarpiana, acima do punho, onde ossos, artérias, veias, nervos e tendões se ramificam. “O local é que dificultou e foi o maior desafio para nós, porque havia muitos pontos a religar, pois são aproximadamente 25 estruturas, entre veias, artérias, nervos e tendões que foram reconstruídas em cada mão”, explicou o cirurgião.

Segundo Takaki, o primeiro passo foi reconstituir os ossos, com a ajuda de pinos de aço. Em seguida, as artérias e veias foram unidas com pedaços de outras tiradas do antebraço de Lima; foram dez com três centímetros cada. Na seqüência, foram unidos com fio os nervos e os tendões. Por último, a pele foi refeita. Tudo foi reconstituído com a ajuda de um microscópio, que possibilita um aumento de 40 vezes.

Recuperação
Lima está internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do HEL, onde deve ficar em acompanhamento ao menos pelos próximos cinco dias. “Depende muito do caso, mas se ele se recuperar bem, em duas semanas deve estar em casa”, afirma Takaki. Consciente, ele já chegou a mexer um dos dedos, segundo o médico.

Takaki disse que a circulação nas mãos foi retomada, mas a recuperação do movimento dos dedos ainda não é possível confirmar. “A circulação, quando a gente une as veias e as artérias, vemos se está boa ou não. Já o desempenho dos nervos e tendões não há como ver. Além disso, o nervo leva um dia para regenerar um milímetro. O que dá cerca de 30 centímetros por mês. Neste caso, até o jovem sentir a sensibilidade nos dedos, vai levar de cinco a seis meses”, explicou o médico.

Lima já conseguiu mexer um pouco os dedos, apesar de não senti-los. O desafio maior será recuperar o movimento de pinça. Logo após a recuperação da cirurgia, ele terá de fazer fisioterapia.

Alguns fatores, como a idade de Lima e a rapidez para o início do procedimento, devem ser decisivos para uma boa recuperação. Apesar disso, de acordo com o cirurgião, uma das mãos pode ter seqüelas maiores que a outra. “Houve danos maiores em uma das mãos, então a estabilização das duas pode não ser igual. A menos danificada deverá ser de grande utilidade”. Segundo o cirurgião, há casos em que houve completa recuperação do membro reimplantado e o paciente pôde voltar a trabalhar.

O médico explica que, apesar do sistema circulatório se refazer quase instantaneamente, a sensibilidade das mãos leva tempo para ser recuperada. “Os nervos têm comportamento diferente, avançam cerca de um milímetro por dia a partir do ponto de ligação”. O acompanhamento médico em casos de reimplante varia muito de caso para caso, mas normalmente se estende por vários anos.

Dicas em caso de acidentes com membros decepados

O microcirurgião Edson Takaki recomenda o que fazer quando um membro é decepado.
■ Não dar alimentos ou bebida para o paciente, como água com açúcar, pois na cirurgia de reconstituição ele receberá anestesia geral;
■ Não fazer torniquete. O correto é fazer um curativo firme na região do corte para estancar o sangue;
■ Não colocar o membro amputado diretamente no gelo e sim dentro de um saco plástico ou um recipiente fechado, como vidro. Não colocar álcool, formol ou qualquer produto para conservar o membro;
■ Manter o recipiente frio com ajuda de gelo, sorvete ou alguma bebida gelada. O correto é mantê-lo a uma temperatura de 4º C, que é a temperatura da geladeira;
■ Levar o mais rápido ao hospital para reimplante no paciente. Um dedo amputado, que quase não tem músculo, resiste até 24 horas. Já uma região muscular, como o braço, agüenta cerca de 12 horas.

Fonte: Folha de Londrina, Gazeta do Povo, Jornal de Londrina, 4 a 5 de agosto de 2008

Comentário
Nem sempre o trabalhador tem sorte de encontrar em cidade média, hospital com recursos médicos e também com especialista em reimplante. Na maioria das vezes ele será transportado para as capitais com mais recursos, porém lutando contra o tempo.
Devemos adotar o lema; vigie, olhe, aonde vão suas mãos.

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posted by ACCA@2:24 PM