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quinta-feira, junho 12, 2008

Crianças em trabalho degradante no Rio Grande do Norte

No dia 12 de junho de 2008, Dia Nacional de Combate ao Trabalho Infantil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ressalta, que 1,4 milhão de crianças com idade entre 5 e 13 anos estavam trabalhando ao longo de 2006. A maioria, no setor agrícola.

Em 04 de junho de 2008, Auditores fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Norte (SRTE//RN) registraram no sábado, 31 de maio, cerca de 25 crianças trabalhando em situação degradante nos municípios de Nova Cruz, João Câmara e São Paulo do Potengi, no Rio Grande do Norte.

Denúncias
A fiscalização aconteceu após denúncias do Conselho Tutelar de Nova Cruz, que apontavam para exploração de trabalho infantil em matadouros e feiras livres nos municípios.

Trabalho degradante
A situação das crianças em todos os matadouros e na feira-livre era extremamente degradante, no entanto, no matadouro de Nova Cruz a situação era ainda pior;
■ No local havia mais crianças e adolescentes do que adultos trabalhando sobre resíduos de fezes e sangue dos bois abatidos.
■ Os meninos eram encarregados de lavar o sangue dos animais impregnados no chão com uma mangueira.
■ Com a mesma mangueira as crianças matavam a sede.

Em João Câmara, os fiscais encontraram duas crianças trabalhando no matadouro do município. Uma delas, filha do zelador do local.
"No matadouro de João Câmara, assistimos às mortes mais brutais dos bois. O animal era puxado por uma corda por um adolescente, que lhe cobria os olhos com um pano e outro marretava a cabeça do animal, errando várias vezes, fazendo o animal gritar de dor", diz trecho do relatório do Ministério do Trabalho.

No município de São Paulo do Potengi foram encontrados três adolescentes com idades entre 16 e 17 anos e um garoto de 11 anos trabalhando no matadouro localizado na periferia da cidade;
■ As condições de higiene e segurança do local eram precárias, não havia instalação sanitária
■ e as instalações elétricas estavam danificadas.

Crianças em contato com vísceras e sangues dos animais
De acordo com relatório do Ministério do Trabalho, a maioria das crianças e adolescentes trabalhava com os pais nos matadouros e não usava equipamentos de proteção ao atuar no corte de vísceras, na limpeza e no abate dos animais. Muitos desses jovens estavam descalços, em contato direto com o sangue bovino no chão. Relatou casos de crianças e adolescentes que disseram gostar de beber o sangue dos animais.

Fonte: Assessoria de Imprensa do MTE – Ministério do Trabalho e Emprego e Folha de São Paulo - São Paulo, 05 de junho de 2008

Comentário
Porque a educação contribui tão pouco para a luta contra a pobreza no Brasil? A visão de uma família pobre é imediatista devido às necessidades básicas, tais como; alimentação, aumento de renda, etc. Os filhos são considerados como mão de obra para atender suas necessidades básicas, pois o resultado da educação é paulatino, de longo prazo. A pobreza reflete diretamente no trabalho infantil. Pobreza e trabalho infantil formam um ciclo vicioso – a pobreza faz aumentar o trabalho infantil e este contribui para perpetuar a pobreza. É um circulo viciosa. Isso tudo passa por planejamento familiar (que é um tabu para os pobres, a classe média e rica podem fazer), pois a educação familiar no sentido de organização e estruturação inexiste esse valor na maioria das famílias mais pobres. A falta de estrutura familiar, mais que a pobreza, torna as crianças vulneráveis para exploração de trabalho, pois a família entende que a criança poderia ter uma oportunidade de emprego ou de uma vida melhor e, com isso, eles também estarão auferindo recursos. Essa a realidade.

A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) calculou que na América Latina são necessários pelo menos 12 anos de escolarização para conseguir escapar da pobreza. Parece claro, portanto, que a universalização do ensino básico já não é um objetivo suficiente. Esta necessidade de maior escolarização tem que ver com dois fatores: a própria competência de qualificações (mais pessoas com maior nível educativo que competem pelos postos de trabalho) e com a dinâmica do mercado de trabalho que polariza remunerações (salários) para os altamente qualificados e salários muito baixos para os não qualificados. Por conseguinte, ou se consegue muita educação, ou aquela de que se dispõe pode ser claramente insuficiente.

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posted by ACCA@5:05 PM