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terça-feira, novembro 13, 2007

Todo dia, 18 óbitos em acidentes de motos

Virou epidemia. A quantidade de mortes causadas por acidentes com motos tem aumentado mais que muitas doenças epidêmicas revelam três pesquisas recentes;
■ todos os dias, pelo menos 18 pessoas morrem em acidentes de motos Brasil afora,
■ em 2006, foram pelo menos 6.655 mortes em motos, o equivalente a 20% da matança diária do trânsito brasileiro, que já superou a cifra de 90 óbitos,
■ em 2001, a média era de 8,5 mortos em acidentes com motos por dia,
■ as taxas explodiram na última década: mais de 800% de aumento entre 1996 e 2006, de 0,4 para 3,6 por grupos de 100 mil habitantes.

Crescimento do número de acidentes com motos: Nordeste e Centro Oeste
Além dos números crescentes, o que tem preocupado pesquisadores e governo é a geografia desse aumento. O mapa dessa tragédia diária não respeita o senso comum, que aponta São Paulo como a capital dos motobóis, onde todos os dias se registra uma morte de motoqueiro. Os acidentes de motos estão matando mais no Nordeste e Centro Oeste, nas menores cidades, dizem duas das pesquisas. Os grotões brasileiros têm trocado carroças e cavalos por motos, até para tocar o gado e cuidar da agricultura.

“As mortes em motos aumentam mais exatamente onde a estrutura de fiscalização é menor e a obtenção das habilitações é sempre mais fácil. Além disso, a população de baixa renda tem adquirido motos de baixa potência (envolvidas em mais de 70% dos acidentes) em prestações mais baixas”, afirma o diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde do Ministério da Saúde, Otaliba Libânio. Ele fala com base em duas pesquisas de seu setor, ambas com os mesmos indicativos de crescimento do número de acidentes com motos.

Multiplicidade de transporte
Para a pesquisadora da Universidade de São Paulo Maria Sumie Koizumi, os fatores predominantes são:
■ aumento do uso de motos como táxis no interior do País.
■ há um novo fenômeno no uso das motos. Em São Paulo, há o motofrete (motobóis), e em outras regiões o que mais cresce é o mototáxi (proibido em São Paulo)
■ a frota nacional de motos tem uma distribuição diferente da de carros. As taxas maiores, considerando por número de habitantes, são Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Mato grosso do Sul.

Acidente de trabalho
Para Maria Sumie, co-autora do atlas dos acidentes de trânsito no Brasil da Associação Brasileira de medicina de Tráfego (Abramet), as mortes por motos no Brasil precisam ser consideradas também como acidentes de trabalho.
Isso se reflete na quantidade de acidentes nessas regiões. “No Tocantins, são 8,1 mortos por ano para cada 100 mil habitantes. Os nossos dados são de 2005, mas temos acompanhado e o quadro só piorou”, diz a pesquisadora.

Faixa etária da população
Além da geografia, outro aspecto alarmante demonstrado nas pesquisas é a faixa etária das vítimas: por todo o País;
■ a população entre 15 e 39 anos tem morrido mais de acidentes de motos que de outros veículos.
■ dados do Ministério da Saúde revelam que, em 2005, houve 2.284 mortes de jovens entre 15 e 24 anos por acidentes com motos,
■ no Nordeste e Centro-Oeste, os índices são ainda mais assustadores. Desde 2006, pela primeira vez, os números superaram os óbitos em acidentes por automóveis.
■ em alguns Estados, como Roraima e Tocantins, as taxas por 100 mil habitantes foram de 9,16 e 8,66, respectivamente.

Estatística alarmante
De modo global, os números justificam a preocupação epidêmica:
■ em 2006, em uma contagem ainda parcial, foram 6.655 mortes em motos (18 por dia).
■ em 2005, foram 5.974 mortes (16 por dia), contra 5.042
■ em 2004 (14 por dia), 4.271
■ em 2003 (11 por dia), 3.744
■ em 2002 (dez por dia) e
■ 3.100 em 2001 (oito por dia).
Em 2005, por exemplo, as mortes por doenças relacionadas a protozoários mataram 5.428 e as infecções intestinais, 5.564 (15 por dia). Só a desnutrição matou em número semelhante: 6.876 em 2005.

Produção de motos no Brasil
■ em 2006, o mercado de motos no Brasil registrou um crescimento de 24,5% nas vendas, com um total de 1,27 milhão de unidades vendidas.
■ em 2007 estima-se outra alta de 22%, com previsão de 1,55 milhão de unidades vendidas, um crescimento que representa o dobro do mercado japonês

Fonte: Jornal do Commercio - 21 de outubro de 2007

posted by ACCA@10:57 PM