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domingo, maio 06, 2007

Mega explosão do depósito de combustíveis de Buncefield – Parte 2

Ataque com espuma
O principal ataque com espuma começou às 8h 22 min na segunda-feira de manhã, 12 de dezembro. Por duas vezes os bombeiros foram retirados do local devido a colapsos de tanques, que colocaram em perigo outros tanques e a própria segurança dos bombeiros. Entretanto, eles retornaram rapidamente no combate ao fogo. Na terça-feira à tarde, o fogo foi extinto em quase todos os tanques com exceção de dois que havia fogos periféricos e um tanque (nr. 912) que ainda ardia em chamas. O tanque 912 continha petróleo e decidiu‑se deixá-lo queimar até a sua extinção de forma controlada. Os incêndios nos diques foram apagados. O último incêndio foi extinto na quarta-feira, antes do horário do almoço.
O stop (suspensão de recursos adicionais) foi enviado às 19h 36 min, 14 de dezembro.

Água residual de incêndio e contaminação
Durante toda a operação, as bombas de grande vazão foram usadas para conduzir o escoamento de água em volta do local de forma a garantir que a água contaminada fosse mantida nos diques e evitar qualquer contaminação do lençol freático cuja água abastecia as fontes de abastecimento de água de Londres. Esta era uma preocupação significativa para o comando estratégico e a equipe tática de bombeiros. A agência ambiental tinha avisado que se saísse do local a grande quantidade de água contaminada pelo combustível e espuma, poderia afetar gravemente as fontes de abastecimento da zona noroeste de Londres por até três décadas.

Controle de extravasamento de água residual de incêndio nos diques
Devido a provável contaminação das fontes de abastecimento de água de Londres, houve modificação no plano de combate ao fogo, para manter a água contaminada no local.
Foi utilizada a estação de tratamento de água para esse controle. Inicialmente foi bombeada a água da estação para os diques que não foram afetados pelo fogo. A água contaminada era conduzida para a estação de tratamento e parte dela era reutilizada no resfriamento dos tanques que não foram afetados pelo fogo. A grande parte da água contaminada foi contida no local e posteriormente foi levada em tanques, em mais de quinhentas viagens, até uma estação de tratamento fora do local.

Principais equipamentos e suprimentos utilizados
Espuma
A espuma usada era do tipo Angus Fire FP70, uma espuma de alto desempenho, formulada especialmente para apagar incêndios em grandes tanques de armazenagem. Entretanto foi utilizada outros tipos de espuma despachada por outras agências que não cumpriam com o regulamento sobre água subterrânea do reino Unido de 1988, implicando, portanto, alguma contaminação das águas residuais. A necessidade de concentrado de espuma era tão grande durante o ataque prolongado que era impossível de monitorar continuamente o concentrado que estava sendo utilizado.
Equipamentos
Foram usados equipamentos da William Fire & Hazard Control, tais como; Big Gun, gerador de espuma de grande vazão e monitores Patriot.

Rescaldo dos tanques
Os bombeiros continuaram a atuar para prevenir a reignição e a volta da queima, cobrindo o combustível exposto com uma camada de espuma de média expansão utilizando injetores de espuma para diques antiincêndio. Durante a extinção do fogo, os bombeiros utilizaram detectores de atmosfera explosiva para minimizar a possibilidade de explosões de atmosfera inflamável.

Cenário de combate para os bombeiros
Havia fumaça densa e calor extremo. As equipes eram revezadas para cada turno de três horas. As equipes permaneceram no local durante o natal e o fim de ano, supervisionando o processo de rescaldo, garantindo que não houvesse reignição e a remoção segura das águas residuais contaminadas fora do local. Os bombeiros de Hertfordshire permaneceram no local até 5 de janeiro de 2006.

Balanço final do incêndio
Bombeiros
Foram utilizados 180 bombeiros no ponto mais lato do incidente.
Logística;
Concentrado de espuma – 600.000 l
Água – 40.000.000 l
Mangueiras de incêndio- 30 km de mangueiras

Centro de gerenciamento de emergência
Pela primeira vez na historia os serviços de bombeiros e salvamento de Hertfordshire solicitaram mobilização nacional de recursos para enfrentar o incidente. Em virtude disso, pela primeira vez o centro nacional provisório de comando e controle baseado em West Yorkshire, foi formalmente utilizado para coordenar e solicitar recursos das autoridades de combate a inc6endio.

Causa do acidente
Foto ao lado - Sob circunstâncias normais, medidores controlam o nível de combustível no tanque enquanto enche através da tubulação.
Um dispositivo de segurança, automático de controle de altura de nível (high level alarm) deve acionar um alarme se o tanque alcança sua capacidade máxima. Isto deve resultar na interrupção.
Mas nesta ocasião, o dispositivo automático de interrupção não ocorreu e o combustível continuou a ser bombeado, houve transbordamento através das aberturas (vents e defletores).

Interrupção de negócios
Na zona industrial de Mayland está instalada mais de 600 empresas e empregando mais de 16.000 pessoas e está localizada adjacente ao depósito de Buncefield.
Cerca de 80% das empresas foram seriamente danificadas e algumas sofreram destruição dos edifícios e conteúdos. Estima-se que entre 4.000 a 5.000 postos de trabalho foram afetados. A avaliação de segurança dos edifícios e o acesso restrito afetaram o retorno das atividades normais e deixaram várias empresas paralisadas ou semiparalisadas.

Lições do incidente
Automobilização
Alguns serviços de combate a incêndios e salvamento mobilizaram pessoas e equipamentos no local do incidente sem terem recebido um pedido de Hertfordshire. Esta prática deve parar.

Meio Ambiente
A proteção do meio ambiente é uma questão significativa no mundo moderno, em particular, em um incidente de grandes proporções. Muitas vezes será necessário encontrar um equilíbrio entre a poluição do ar e do solo.

Alojamento
Assegurar o bem estar dos bombeiros e oficiais que lidam com incidentes importantes são normais, mas pela primeira vez um número significativo de bombeiros vindos de todo o país necessitou de alojamento provisório.

Informação por canais de TV via satélite
As agências nacionais não deveriam receber informações das cadeias de televisão, mas sim receber as informações do comandante de operação.

Mídia
Manter boas relações com a mídia é muito importante. Eles necessitam de informações. É melhor dar-lhes acesso a conferência de imprensa e imagens de maneira em que eles possam difundir a verdade. Um grupo de jornalistas foi autorizado a aproximar-se do local na terça-feira, para compartilhar as imagens com as agências de imprensa.

Trabalho extraordinário – feriado e férias
O incidente prosseguiu durante o período de natal e as empresas de serviços de emergência tinha pouco pessoal disponível nesse período para lidar com as conseqüências do incidente, tais como; água contaminada e produtos combustíveis.

Zona de segurança aérea
Considerar a implementação e manutenção contínua.

Delegação de poderes aos representantes
Os comandos estratégico, tático e operacional deveriam vir munidos de poderes para tomar decisão e definir prioridades.

Imprevistos
Estejam preparados para os imprevistos, problema com água residual de incêndio, tanques colapsados, helicóptero afetando a camada de espuma, cobertura negativa da mídia, bem estar dos bombeiros, etc.

Fonte: NFPA Journal Latino Americano – autor – Roy Wilsher, comandante dos Serviços de Bombeiros e Salvamento de Hertfordshire

Comentário
Os grandes incidentes industriais, semelhantes ao Buncefield, além da complexidade do combate ao fogo estão trazendo outros problemas relacionados à contaminação ambiental de duas maneiras;
A contaminação ambiental direta, devido aos componentes da combustão gerado pelo fogo.
E a contaminação ambiental indireta gerado pelo combate ao fogo, produzido pela água residual de incêndio contaminado por substancias tóxicas ou que interage com produtos químicos contidos no incêndio e também pelo concentrado de espuma utilizado em produtos inflamáveis.
Toda essa água residual contaminada dificilmente será contida pelos diques, sendo direcionada ao sistema de drenagem da indústria ou contaminando o solo e o lençol freático e posteriormente atingindo córrego, lago, rio e mar, etc.

No Brasil
Seria interessante que as autoridades considerassem a ecotoxicidade da água residual de incêndio de indústrias potencialmente perigosas, envolvendo líquidos inflamáveis, produtos tóxicos, como resíduo potencialmente perigoso que atendesse os critérios da ABNT-NBR sobre Gestão de Resíduos Perigosos.

A gestão de resíduos perigosos de incêndio seria os resíduos provenientes de água contaminada proveniente de combate ao incêndio gerados em equipamentos e instalações industriais que tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologias disponível.

Nesse caso a indústria seria obrigado a tratar a água contaminada de incêndio, como se fosse Armazenamento Temporário de Produtos Perigosos.
O armazenamento tem como definição à contenção temporária de resíduos em área adequada, a espera de reciclagem, recuperação, tratamento ou destinação adequada, desde que atenda às condições básicas de segurança.

Como exemplos de áreas de risco em potencial para desastres temos no Estado de São Paulo;
Na ilha Barnabé, Santos, existe 143 tanques com capacidade de armazenagem de 170 milhões de litros de produtos químicos.
Porto de São Sebastião, área de tancagem da Petrobrás
Terminal de combustível de Barueri, etc. ACCA

posted by ACCA@8:11 PM