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sábado, dezembro 26, 2009

25 trabalhadores morreram em trágico incêndio

"Este trágico incêndio mostra a importância de garantir a segurança de vidas humanas, aplicando princípios fundamentais de segurança contra incêndio em ocupação industrial".

Um intenso e rápido incêndio na Indústria de processamento de Alimentos Imperial, no Hamlet, Carolina do Norte (USA), em setembro de 1991, resultou em trágica mortalidade; 25 dos 90 trabalhadores estimados morreram e 54 ficaram feridos.

O incêndio começou aproximadamente às 8 h 15 min, da manhã do dia 03 de setembro de 1991 e rapidamente devido à velocidade de combustão alastrou-se totalmente na indústria.
Alguns empregados que estavam no local escaparam ilesos. Outros empregados encontraram as portas externas obstruídas ou fechadas e procuraram outros meios alternativos de fuga.

Instalações desprotegidas
O incêndio ocorreu no 1o andar, edifício desprotegido, incombustível com área aproximada de 3.066 m2. O edifício sem chuveiros automáticos, sem janelas, resistiu a várias mudanças de proprietário.
Numerosas alterações foram efetuadas durante os anos, incluindo ampliação de edifícios e mudanças de lay­out interno.
O funcionamento da indústria inclui a preparação (corte e limpeza), cozimento de pedaços de frangos, embalagem e resfriamento para distribuição aos restaurantes. Durante a mudança do turno, aproximadamente 90 empregados estavam envolvidos nas várias etapas de produção.
Parte da indústria inclui; uma grande área de preparação do produto, área de limpeza, escabeche (tempero) e áreas de empacotamento, áreas de armazenamento de materiais em preparação e produtos acabados, incluindo unidades de res­friamento e de congelamento


Internamente as áreas de preparação têm grandes aberturas para permitir a movimentação do produto para as áreas de processamento.
A maior parte das áreas de preparação é resfriada para prevenir produtos deteriorados e portas plásticas são utilizadas nas aberturas para manter a temperatura da área constante.
Como resultado, a maior parte da área da fábrica ocupada não tinha paredes divisórias (compartimentação) que poderia efetivamente impedir a velocidade de propagação do incêndio. O edifício tinha várias aberturas externas (portas) para pessoas e para embarque e recebimento de mercadorias.

As portas externas para as pessoas estavam localizadas a sudeste da plataforma de embarque, a leste da entrada principal, na sala de descanso a norte da doca de embarque e da área de armazenagem a seco.
As portas de serviços externos também foram incluídas do departamento de mecânica.
Algumas portas de serviços externas foram usadas como saída pelos empregados do departamento de mecânica, eles não poderiam considerar como trajeto de saída para os demais empregados de outras áreas (saída de emergência).
Cada porta tinha deficiência em vários componentes, no tamanho ou na disposição da estrutura que impede a sua análise ou uso como parte de um sistema de saída de emergência.

Ignição e velocidade do fogo
O incêndio começou aproximadamente às 8h 15min, da manhã, na área de processamento, uma área crítica, pois está no centro do espaço ocupado (edifício). Os peritos determinaram que a causa do incêndio foi à ignição do óleo hidráulico da ruptura de uma linha próxima ao equipamento de cozinhar a gás, usado na preparação do frango.

A ruptura ocorreu durante a operação de reparo quando a linha hidráulica de entrada separada do acoplamento até o ponto aproximadamente de 1,5m acima do piso de concreto. A linha começou a descarregar o fluído a uma pressão estimada em quase 800 psi.

Esta alta pressão e o subseqüente fluxo pulverizado do fluído hidráulico no piso e próximo ao equipamento de cozinhar, a ignição foi imediata, provável pela queima do gás. Os empregados da área de processamento dirigiram-se imediatamente para essa área.
Como rapidamente o fogo espalhou-se, com espessas fumaças negras envolvendo o edifício, os funcionários de outras áreas da fábrica também receberam o aviso de emergência ou detectaram a fumaça.

O fogo intenso prejudicou o regulador do gás acima da linha hidráulica de ruptura, causando a falha do regulador e adicionando combustível para ser consumido.
Alguns minutos de ignição, o fogo dispersou produtos combustíveis perigosos, envolvendo maior parte da indústria. Os funcionários das áreas afetadas tinham pouco ou nenhum tempo para evacuar antes que o caminho fosse bloqueado pelo fogo e pela falta de visibilidade.

Ação dos empregados
No momento do incêndio, aproximadamente 90 empregados estavam na fábrica. Cerca de 40 empregados estavam na área de corte e limpeza e aproximada­mente 18 empregados estavam na área de processamento. Outros empregados estavam espalhados em outras partes do edifício.
Os empregados da área de processamento estavam imediatamente envolvidos com o incêndio. Eles tentaram alcançar através de uma abertura estrutural a nordeste e a sudeste uma área segura.
Os empregados de outras áreas foram alertados do fogo pelos gritos de outros empregados e pela fumaça que envolveu totalmente o edifício.

Os empregados das áreas de corte e limpeza, escabeche e mistura, moveram em direção a doca de embarque e para sudeste da esquina do edifício.
Alguns deles alcançaram a área somente para encontrar a entrada da próxima porta para a doca de embarque inoperante.

Eles não puderam sair através da abertura da doca de embarque porque um reboque estava bloqueando o caminho. Vários desses empregados permaneceram na área da doca de embarque e tentaram alertar os outros de fora do edifício para remover o reboque.
Outros empregados aparentemente moveram em direção a área de refrigeração e refugiaram-se nessa área quando eles descobriram que não poderiam se mover diante da extensão do fogo. Embora os empregados de outras partes do edifício não foram expostos a severidade do fogo, eles começaram a pro­curar rotas de escape.

Alguns empregados da área de embarque e empacotamento escaparam em direção a abertura da doca de embarque a nordeste do edifício.
Muitos empregados trabalhando na área de escabeche/corte moveram para leste e retiraram-se através da porta de entrada principal, que a maioria dos empregados utilizam quando chegam para trabalhar.

Incêndio e a operação resgate
O Corpo de Bombeiros de Hamlet, foi informado do incêndio por um em­pregado que dirigiu vários quarteirões e comunicou ao pessoal de plantão sobre um grave incêndio na indústria. O Corpo de Bombeiros chegou ao local às 8h 27min, encontrando 14 vítimas, sendo 03 fatais e 11 feridos na parte externa, ao extremo sul da indústria.

Eles ajudaram inicialmente os feridos e resgataram um sobrevivente que estava preso entre a coluna da parede e um caminhão. Os bombeiros informaram que o caminhão e o truck a sudeste da doca de embarque tinham sido retirados.
Os bombeiros de apoio (socorristas) que chegaram primeiro ao local observaram o estado violento do incêndio no interior do edifício, pediram ajuda aos departamentos de incêndio e resgate das empresas vizinhas. As 8h 45min, três equipes de bombeiros entraram no extremo sul do edifício através da porta da doca de embarque. Eles encontram duas vítimas fatais na área da doca de embarque e removeram os corpos.

Entretanto, os bombeiros no lado noroeste da fábrica fizeram esforço na busca e resgate usando a porta de acesso ao pessoal, que inicialmente tinha sido abandonado, mas foi aberto a força pelos empregados que escaparam com outros através da área de descanso.
Esse grupo de busca encontrou calor e incêndio na área de processamento e em vários containers armazenados. Eles recuaram e avançaram com uma linha de 1 3/4" para extinguir o fogo nos containers armazenados e esfriar o incêndio nos tanques de fritura na área de processamento.

Outra linha de 1 3/4" avançou através do departamento de mecânica e da área de processamento para esfriar os demais tanques em combustão.
O esforço da procura e resgate continuou a sudeste do extremo do edifício. As 8 h 55 min, os bombeiros encontraram a terceira vítima fatal sob o sistema transportador, cerca de 4 m do local onde foi descoberto as primeiras duas vítimas fatais.
A condição violenta do incêndio e a má visibilidade dificultaram o esforço na procura e resgate e os bombeiros com equipamentos de proteção total também usaram cabo guia para ajudar na operação de busca.

O incêndio foi extinto por volta da 10 h, seguindo as aplicações de espuma. Às 10h 28min uma mulher sobrevivente foi removida da área de refrigeração no canto a sudeste.
Nesse momento, foi comunicado colapso parcial da estrutura do telhado e o Corpo de Bombeiros retirou a tempo todas as pessoas do local. Às 10 h 28 min mais uma vítima fatal e três sobreviventes foram retirados da área de refrigeração.
Durante as próximas horas, 11 vítimas fatais e três sobreviventes foram retirados da área de refrigeração. Às 11 h 50 min, uma sobrevivente foi localizada no final da área de processamento à nordeste.

Foram removidas mais cinco vítimas da área de processamento nos próximos 25 minutos.
Às 12h10min, foi encontrada mais uma sobrevivente na câmara fria, ao norte no final da área de processamento, mas que morreu em seguida.

Emergência e atendimento médico
Estiveram no local mais de 100 socorristas e pessoal médico para resgate e atendimento dos primeiros socorros. A maioria dos funcionários foi transportado para os hospitais da região, para tratamento de queimaduras, problemas respiratórios (inalação de fumaça) e trauma psicológica.

Análise do incêndio
O cenário de ignição desse incêndio conduziu para um rápido alastramento dos produtos de combustão através do edifício, imediatamente ameaçando os funcionários.
Os sobreviventes indicaram que fumaças negras espessas rapidamente obscureceram a visibilidade. A sobrevivência dependeu grandemente da localização dos funcionários e disponibilidade de fuga.

A origem do incêndio foi no centro do edifício (na área de processamento). Devido a essa localização e quanto à magnitude, rápido desenvolvimento e velocidade, o incêndio foi imediatamente uma ameaça aos funcionários na área de processamento.
De acordo com as informações de um sobrevivente, muitos funcionários na área de processamento foram impedidos de sair, pelo rápido desenvolvimento do fogo. Foram encontrados sete vítimas fatais no fim da área de processamento, ao norte.
Um grupo de cerca 40 funcionários da área de corte e da área de descanso seguiram para sudeste, na área da doca de embarque, mas descobriram que a porta fora eliminada (fechada).
Eles seguiram para doca de embarque onde um caminhão estava obstruindo a saída e começaram a bater e a gritar para alertar as pessoas do lado de fora para retirar o caminhão.

Uma parte desse grupo foi salvo ou deixaram o edifício quando o caminhão foi removido. Vários outros escaparam quando um funcionário abriu a porta externa pelo lado de fora. Antes, parte desse grupo, aparentemente pro­curaram refúgio na área adjacente da refrigeração.
Embora vários sobreviveram, mas os bombeiros removeram 12 vítimas fatais dessa área, causado pela porta da refrigeração que permaneceu parcialmente aberta, expondo a esses funcionários a produtos tóxicos liberados pela combustão.
A combinação rápida do crescimento do incêndio e área livre do edifício (sem compartimentação) deixou somente uma abertura estreita, para que os funcionários pudessem evacuar com segurança, no curto espaço de tempo.
Apesar disso, muitos escaparam, muitas vezes por meio inadequado (sem levar em consideração, conceitos básicos de segurança). No instante em que a fumaça obscurecia a visão deles, eles conseguiram encontrar aberturas para o exterior sem avaliar o procedimento das alternativas para o uso.
Alguns desses funcionários foram ajudados pelos outros que estavam fora do edifício ou foram resgatados pelos bombeiros.

A análise desse acidente mostra a importância de garantir a segurança da vida através da aplicação de princípios fundamentais de segurança contra incêndio na atividade industrial. Entre esses princípios são necessários:
■ o sistema de detecção automática contra incêndio
■ sistema de supressão de incêndio (chuveiros automáticos)
■ um sistema de alarme
■ saída de emergência proporcional ao número de funcionários
■ treinamento de segurança contra incêndio

É provável que um incêndio dessa intensidade inicial fosse extinto pelos funcionários utilizando extintores portáteis. O edifício não tinha nenhum desses sistemas.

Foto:Porta trancada com cadeado

■ Além disso as próprias saídas devem ser em número suficiente , devem ser acessíveis, devem ser dispostas e sinalizadas, para proporcionar saídas de emergência quando o edifício estiver ocupado. As portas de circulação usadas nesse acidente necessitam de vários componentes para serem designadas como sistema de saída de emergência.
■ Finalmente, o plano de evacuação de emergência deve ser desenvolvido e implementado para que tais construções garantam que os empregados estejam cientes de todos os aspectos de proteção de incêndio, incluindo meios de saída e abandono do local.
■ A prática de exercício deve ser conduzida para garantir que os empregados tenham conhecimentos de procedimentos de emergência na ocorrência de um incêndio.

Para prevenir uma tragédia de modo como ocorreu no Hamlet, as autoridades devem examinar todas as características do edifício e o processo de execução do código de incêndio.
No mínimo, códigos de incêndio e padrões que reflitam o nível de conhecimentos de proteção de incêndio devem ser colocados em prática consensualmente a nível nacional.
Baseado em estudos as autoridades poderiam determinar se os códigos devem ser obedecidos.

Eles também deveriam determinar se o processo de revisão do prédio e sua inspeção estão colocados de acordo com a norma específica.


Finalmente as cláusulas devem providenciar a inspeção periódica do edifício (follow-up) para assegurar que o nível de proteção contra incêndio é mantido através da vida útil do edifício.
O código NFPA "Life Safety" contém cláusulas que poderia ter reduzido a perda de vidas nesse acidente. O código se aplica a prédios novos e existentes com importantes considerações para cumprimento e obediência na aplicação dos princípios fundamentais de segurança contra incêndio.


Penalidades aplicadas pelo Estado
O Estado da Carolina do Norte multou a empresa em US$ 808.150,00, por violação de medidas de segurança, incluindo; portas de saída de emergência bloqueadas, iluminação de emergência inadequada.
O valor da multa foi considerado muito pequeno em relação aos milhões de dólares aplicados por agencia federal para casos de acidentes semelhantes.
A Agencia de Trabalho do Estado da Carolina do Norte nunca inspecionou a indústria desde o seu início de atividade (onze anos).

Ação Cível
O proprietário da indústria foi sentenciado a 19 anos e 11 meses de prisão, como um acordo para deixar em liberdade o seu filho, que era o gerente de operação da fábrica.
A punição foi considerada muita branda pela gravidade da violação das medidas de segurança (portas bloqueadas) e pelas mortes envolvidas. A punição foi um alerta para os proprietários e gerentes de fábricas. A sentença foi proferida em janeiro de 1992.















Clique no diagrama para ampliar

Fonte : " 25 Die in Food Plant Fire ", autor, Thomas J. Klem, da revista NFPA Journal, da National Fire Protection Association, January/February 1992, The Time, September 1992 e Emergency Response & Reaserche Institute, 1991.

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posted by ACCA@11:27 PM

1 Comments:

At 11:09 AM, Blogger Jair Closko said...

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