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terça-feira, junho 24, 2008

A manutenção e a segurança industrial

Todos os acidentes podem ser evitados à exceção de 2%, que são provocados pelas forças na natureza, que vão desde o simples mosquito que nos atinge um olho ao raio que nos fulmina. É o risco genérico a que todos nós estamos sujeitos e sobre o qual não temos, geralmente, controle.

Muitas pessoas, no entanto, acreditam que o acidente seja sina da própria vítima ou o resultado inevitável de circunstâncias imutáveis ou incontroláveis. Tal crença não tem fundamento, pois o acidente está sujeito à Lei de Causa e Efeito.

Por outras palavras: os acidentes não ocorreriam sem causas. O processo de identificá-las, eliminá-las, isolá-las ou controlá-las é a pedra angular da Prevenção de Acidentes.

Fatores associados
Primeiro fator: Teoricamente, o acidente evitável tem origem nos antecedentes hereditários e no meio ambiente de primeira infância do homem (educação) .
Segundo fator: As características indesejáveis, herdadas e/ou adquiridas, manifestam-se através de falhas pessoais (vícios pessoais).
Terceiro fator: As características indesejáveis conduzem o homem a criar ou permitir condições inseguras ou praticar atos inseguros
Quarto fator: Que por sua vez, resultam diretamente nos acidentes, ou melhor, na ocorrência dos acidentes.
Quinto fator: Os acidentes por vezes resultam em lesões pessoais .

1° fator - hereditariedade e meio ambiente
Hereditariedade é o processo de transmissão de características físicas e mentais dos ascendentes aos descendentes.
As características mentais (avareza, egoísmo, ódio, medo, indiferença, preguiça, fobia etc.) encontram-se em estado latente no homem e só se desenvolvem em meio ambiente propício que pode fomentar, facilitar ou favorecer seu desenvolvimento e interferir na educação do homem, dando origem às falhas pessoais.

2° fator - falha pessoal
Entenda-se como falha pessoal a atitude imprópria ou atitude insegura e como atitude o potencial ou a predisposição para a ação.
Atitude insegura é a predisposição para reagir consciente ou inconscientemente, de modo negativo, aos preceitos de segurança.
Exemplos: Imprudência, negligência, desobediência, distração, insubordinação, incompreensão, irreflexão, intolerância, excitação, precipitação, impertinência, obstinação, irritabilidade, falta de consideração, temeridade, mentalmente desajustado em geral etc.
A falha pessoal conduz o homem a criar ou permitir condições inseguras e a praticar atos inseguros.

3° fator - condição insegura e/ou ato inseguro
A condição insegura é a circunstância perigosa que permite ou ocasiona o acidente. Nunca se refere as características físicas das pessoas ou suas ações, mas sim a condições perigosas do ambiente de trabalho, incluindo equipamentos e materiais, ou métodos de trabalho estabelecidos. A deformidade física de um trabalhador, em serviço que, por requisito de segurança, exija perfeitas condições físicas de seu executor, criará uma condição insegura.
Exemplos: Andaime desprotegido, material mal empilhado, ferramenta cega, abertura desprotegida, método ou processo errado, escada defeituosa, piso escorregadio etc.

O ato inseguro é a violação de um procedimento seguro geralmente aceito. Não é só a desobediência a instruções ou a violação da norma de segurança escrita, mas também das inúmeras não escritas, que a maioria conhece e observa por uma questão de autopreservação.

Exemplos: Esmerilhar sem os óculos de proteção, fumar num depósito de inflamáveis, limpar máquina em movimento, subir ou descer por locais impróprios, permanecer sob carga suspensa, expor-se ao risco de cair ou ser atingido, utilizar ferramenta defeituosa, fazer uso das mãos em vez de ferramentas, subir ou descer de veículo em movimento etc.

O ato inseguro também pode resultar em acidente, através de uma condição insegura. Neste caso, a relação de tempo e espaço é necessária. Um exemplo é o operário que se desfaz da proteção da serra circular (ato inseguro), permitindo que esta fique desprotegida (condição insegura), e nela se acidente. Nem todas as condições inseguras, porém, são criadas por atos inseguros, mas por outros fatores, cujo controle não depende, geralmente, do trabalhador.

A condição insegura e/ou ato inseguro resultam diretamente no acidente, ou melhor, na ocorrência do acidente. Segundo Heinrich, 10% das lesões são causadas por condições inseguras e 88% por atos inseguros e 50% dos acidentes são facilmente evitáveis.

Há ainda outros fatores que, impedindo o homem de observar preceitos de segurança, conduzem‑no a criar, ou permitir condições inseguras ou a praticar atos inseguros. Podemos apresentar esses fatores em três grupos:

a) Falta de conhecimento ou habilidade
Exemplos: Informação deficiente, ausência de informação, mau entendimento, indecisão, falta de convencimento quanto à necessidade, inexperiência, treinamento deficiente, ausência de treinamento, supervisão deficiente etc.
b) Fisicamente desajustado
Exemplos: Ouvido, vista, idade, sexo, altura, doença, alergia, reação lenta, invalidez, embriaguez etc.
c) Ambiente impróprio
Falta de espaço, iluminação insuficiente ou inadequada, falta de ventilação, arrumação e limpeza dos locais de trabalho, falta de materiais, falta de ferramentas, falta de equipamento de proteção individual, falta de atualização de métodos e processos, desorganização, rotinas, burocracias etc.


4° fator - acidente (ocorrência)
É o evento não planejado e incontrolável, no qual a ação ou reação de objeto, substância, radiação ou pessoa, resulte ou poderia resultar, em lesão. É o exato momento da eclosão do acidente. O acidente, por vezes, resulta em lesão pessoal.
Exemplos: Queda, pancada, golpe, colisão, queimadura, choque, desmoronamento, atropelamento, imprensadura, queda de objeto, incêndio, explosão, choque elétrico etc.

5° fator - lesão pessoal
É o resultado de um acidente ou resultado de exposições a elementos patogênicos do ambiente de trabalho ou por circunstâncias em que este se realiza (chamadas doenças do trabalho).
Exemplos: Escoriações, contusões, fraturas, queimaduras, distensões musculares, fibrilação, asfixia etc.
O acidente, isto é, a eclosão do acidente é simplesmente um fator na seqüência que quando chega a ser atingido se torna incontrolável e imprevisível. Por conseguinte, a prevenção não deve basear-se em tal fator, ou seja, o programa de segurança, tem que ser integral, particularmente atuando nos quatro primeiros fatores, para reduzir a freqüência de acidentes.
Contudo, o 5° fator, em certas tarefas, pode ser evitado ou atenuado. Por exemplo, uma rede debaixo de andaime não evita que o operário que nele trabalha sofra a queda, mas evita que caia no solo. Ainda assim, o 5o fator poderia ocorrer, pois o operário, ao cair na rede, poderia sofrer, por exemplo, entorse do pé. A segurança ideal é que se evite a queda.

Descrição de tarefas
Para a elaboração da programação de manutenção é recomendado a implementação das Recomendações de Segurança que devem ser impressas em destaque nas Ordens de Serviço de Atividades Programadas.
Essas recomendações de segurança podem estar integradas na instrução de manutenção ou compor arquivo independente definidas por natureza do equipamento conforme relação a seguir:

Central de gases
1) Manter os cilindros presos por corrente.
2) Transportar os cilindros com tampa.
3) Utilizar ferramentas antifaiscante p/trabalhos na área de gases.
4) Ao substituir um cilindro, verificar possíveis vazamentos com sabão.
5) Manter conexões, mangueiras e manômetros livres de óleo e graxa.
6) Usar equipamento de proteção individual adequado.
7) Usar equipamento adequado para levantamento e transporte de carga.

Equipamento hidráulico
1) Desligar alimentação elétrica, caso haja, e colocar cartão de aviso.
2) Fechar, caso haja, a válvula geral de alimentação.
3) Drenar equipamento seguindo instruções do fabricante.
4) Usar equipamento de proteção individual adequado
5) Utilizar ferramentas adequadas para realização do trabalho.
6) Utilizar equipamento adequado para levantamento de cargas.

Equipamento mecânico
1) Desligar alimentação elétrica, caso haja, e colocar cartão de aviso.
2) Travar as partes rotativas utilizando pino de trava ou alavanca.
3) Utilizar equipamento de proteção individual adequado.
4) Utilizar equipamento adequado para levantamento de cargas.
5) Utilizar ferramentas adequadas para realização do trabalho.
6) Ao termino dos trabalhos proceder a limpeza da área.

Equipamento elétrico de baixa tensão
1) Desligar a alimentação de força, controle e proteção, colocando cartão de aviso.
2) Verificar se o equipamento está desenergizado, aterrar se necessário.
3) Usar equipamento de proteção individual adequado.
4) Atenção: antes de se realizar teste de Megger assegurar-se de que não existam outras pessoas trabalhando no mesmo circuito

Equipamento elétrico de alta tensão
1) Desligar chave e/ou disjuntor de alimentação de força.
2) Colocar cartão de aviso ou cadeado.
3) Desligar e/ou retirar fusíveis do circuito de controle/proteção.
4) Verificar, com instrumento adequado, se o barramento está desenergizado.
5) Aterrar, conectando primeiro o cabo de aterramento à terra.
6) Usar equipamento de proteção individual adequado.

Equipamento pneumático
1) Desligar chave de alimentação do motor, colocar cartão de aviso e/ou fechar
válvula geral de alimentação, colocar cartão aviso.
2) Fechar válvula geral de saída.
3) Despressurizar rede e colocar cartão de aviso na válvula de dreno.
4) Usar equipamento de proteção individual adequado
5) Usar ferramentas adequadas para realização do trabalho.

Instrumentação
1) Desligar alimentação elétrica, caso haja, e colocar cartão de aviso.
2) Fechar válvula geral de ar, caso haja, e colocar cartão de aviso.
3) Utilizar equipamento de proteção individual adequado.
4) Utilizar ferramentas adequadas para realização do trabalho.
5) Ao termino dos trabalhos proceder a limpeza da área.

Não basta entretanto que exista um bom sistema de recomendações de segurança e de instruções para execução dos serviços. Também não é suficiente a existência de normas e padrões para execução de serviços não-programados. é necessário uma ação permanente de Inspeção de Segurança para descobrir condições e, tanto quanto possível, práticas e procedimentos inseguros que, se não forem corrigidos, poderão causar acidentes.

Análise de prevenção de tarefas
Sabemos que, de um modo geral, sempre que ocorre um acidente, se perde tempo, nem que seja simplesmente para restabelecer uma operação interrompida pela ocorrência.
Treinamento, instruções e supervisão adequados evitam certamente a criação de condições inseguras no trabalho. Contudo, por melhores que sejam tais atividades, os acidentes ainda assim ocorrem e só a inspeção sistemática de segurança pode garantir a descoberta das causas antes da ocorrência dos acidentes.

A descoberta de condições perigosas, nos locais de trabalho, por meio de inspeções sistemáticas de segurança e sua imediata correção, constituem um dos melhores métodos para demonstrar aos empregados o interesse e sinceridade da empresa na prevenção de acidentes. Se, porém as providências para a correção das condições perigosas, não forem tomadas o empregado deixará de acreditar no programa de prevenção de acidentes da empresa.

As inspeções de segurança ajudam a "vender" o programa de segurança. Sempre que o inspetor ou membro da CIPA passa numa área de trabalho realizando suas inspeções, o interesse e sinceridade da empresa estão sendo promovidos. Quando regulares, as inspeções encorajam os trabalhadores a inspecionar também, os seus próprios locais de trabalho e muitas vezes eles apontam condições perigosas que poderiam passar despercebidas ao inspetor.

As inspeções permitem o contato dos inspetores com o trabalhador e a obtenção de sua cooperação na redução da freqüência de acidentes. E quando suas sugestões são aceitas, ele se sente satisfeito por ter dado a sua contribuição pessoal à causa da prevenção de acidentes.

As inspeções de segurança não devem limitar-se às condições inseguras, mas também devem estender-se à descoberta de práticas inseguras.

O único propósito das inspeções de segurança deverá ser o de descobrir condições e práticas perigosas que, uma vez corrigidas, tornarão os locais de trabalho mais seguros e higiênicos, onde as operações possam ser conduzidas economicamente, eficientemente e com segurança.

Antes da realização de qualquer inspeção é aconselhável analisar as causas dos acidentes ocorridos no passado, para que se dê a atenção especial àquelas condições que causam acidentes com maior freqüência e aos locais onde ocorrem.

Fonte: Mantenimiento Mundial - Lourival Tavares

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posted by ACCA@10:57 AM

1 Comments:

At 2:05 PM, Blogger Unknown said...

Excelente material.
No entanto, a meu ver, faltaram alguns comentários sobre política de segurança e adequação dos investimentos e treinamentos a serem adotados pelas indústrias.

 

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