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segunda-feira, novembro 03, 2014

Lembrança: Explosão em silo fere 18 em Paranaguá

A explosão de um dos maiores armazéns de cereais em Paranaguá paralisou o corredor de exportações do porto na sexta-feira, 16 de novembro de 2001.
O armazém pertence à exportadora Comércio e Indústria Brasileira (Coimbra) e fica no corredor de exportação do Porto de Paranaguá. No momento da explosão, cinco mil toneladas de milho estavam sendo descarregadas.
A explosão foi por volta do meio-dia, o que evitou uma tragédia, pois muitos funcionários da CBL Coinbra, onde ela ocorreu, e de outras empresas estavam almoçando. O silo, com mais de 10 mil metros quadrados, ficava perto da entrada do cais. A explosão arremessou vagões de trens sobre outros armazéns.

EXPLOSÃO – PROPAGAÇÃO DE INCÊNDIO
Após a explosão, houve incêndio no local. As chamas se espalharam para outros armazéns do setor portuário.

CORPO DE BOMBEIROS
Cerca de 20 homens do Corpo de Bombeiros estiveram no local para controlar os focos de incêndio, que surgiram no corredor de exportação na parte externa do porto de Paranaguá.
Os bombeiros tiveram muito trabalho para debelar os focos de incêndio que ameaçavam se propagar pelas correias que ligam os outros armazéns no porto. Para evitar mais acidentes, o capitão do Corpo de Bombeiros determinou a paralisação dos trabalhos.
Por volta das 17 h, o incêndio foi controlado e os bombeiros começaram os trabalhos de rescaldo. Grande parte do corredor de exportação do porto ficou danificada.

CAUSA PROVÁVEL
O Corpo de Bombeiros informou que o milho estava saindo do silo, em esteiras mecânicas, para um navio francês. O comandante da corporação, capitão Luiz Henrique Pombo do Nascimento, explicou que o milho, ao ser colocado ou retirado do armazém, solta uma poeira em suspensão.
Em grande quantidade e acumulada, ela gera uma reação em cadeia "altamente explosiva". Mas é preciso haver uma fonte de ignição - uma faísca, por exemplo. "O que não sabemos ainda é qual foi essa fonte." A polícia técnica deve analisar o que restou do silo para determinar a causa.
Para evitar mais acidentes, o capitão determinou a paralisação dos trabalhos.
Indícios preliminares apontam que a poeira levantada durante o descarregamento do milho emite gases de alta combustão, que teriam, em contato com alguma faísca, gerado o incêndio.

DANOS MATERIAIS:
Perda total do silo, com mais de 10 mil metros quadrados. O acidente afetou as seis esteiras de transporte de grãos (de alas aéreas) que abastecem os nove armazéns graneleiros do porto.

TESTEMUNHA
Entre os feridos, há funcionários das empresas Coimbra, proprietária do silo que explodiu, e da Centro Sul. Gabriel Sebastião de Lima, que sofreu escoriações na perna, contou que tinha acabado de almoçar e estava sentado, aguardando o início do expediente, quando ouviu uma grande explosão.
"Uma bola de fogo começou a destruir tudo no armazém e no silo. Foi terrível. Saí correndo e não consigo me lembrar de mais nada, porque mesmo com a perna machucada procurei fugir dos escombros que desabavam", relatou.
Márcio Ferreira dos Santos disse que todos tiveram sorte. "Tudo isso foi na hora do almoço, quando não havia expediente. Se a explosão fosse no horário de trabalho, seria uma verdadeira tragédia", avaliou.
O caminhoneiro Arnoldo Corse, de Ponta Grossa, teve a cabina do caminhão amassada por uma pedra. Irene, esposa dele, foi atingida por estilhaços e levada ao pronto-socorro.

VÍTIMAS:
Dezoito pessoas ficaram feridas, duas delas em estado mais grave. Os feridos na explosão foram encaminhados para a Santa Casa de Paranaguá.

Duas vítimas do incêndio foram hospitalizadas. Paulo César Gomes, 30 anos, está internado na unidade de terapia intensiva do Hospital Paranaguá, com queimaduras de segundo grau. 
Outra vítima que também inspira cuidados é Monclai Santos Souza, 34, que teve fratura no fêmur esquerdo. Ele será submetido à cirurgia na Santa Casa de Paranaguá.
Os demais feridos receberam cuidados médicos e foram liberados ainda na sexta-feira.

RETORNO DAS ATIVIDADES NO PORTO
Logo após o acidente, todas as operações do corredor de exportação foram suspensas, mas quatro voltaram a funcionar ainda na sexta-feira. As outras duas, mais afetadas, foram interditadas para reparos. A expectativa é que a reconstrução do terminal leve pelo menos um ano. Nesse período, a capacidade de armazenagem do porto diminui de 27 para 21 milhões de toneladas.  Fontes: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Gazeta do Povo e O Estado do Paraná, 18 de novembro de 2001

HISTÓRICO DE ACIDENTES EM SILOS
BRASIL
■24 de Janeiro de 1992 - Explosão no Porto de Paranaguá
Explosão no silo principal do Porto. Uma falha no sistema de retirada da poeira do silo teria sido a causa da explosão que ocorreu no salão do 10o andar do prédio de estocagem.
O edifício tem treze andares. O silo, armazém vertical com capacidade para 100 mil toneladas de grãos a granel, faz parte do "corredor de exportação" do porto, juntamente com outros quatro silos - com capacidade estática total para 60 mil toneladas. O acidente,  provocado pelo aquecimento e formação de gases liberados por soja e cevada, dispostos no 10o andar da estrutura (que possui 13 pavimentos), comprometeu 10% da  capacidade armazenadora do complexo.
Vítimas: 02 pessoas morreram e 12 pessoas feridas
Local: Porto de Paranaguá - Paraná
■31 de novembro de 1991: Explosão no silo principal do Porto provocada pelo contato de uma faísca elétrica com a poeira dos grãos estocados.

NOS ESTADOS UNIDOS
■Em Dezembro de 1977, explosão em silo em Westwood, Los Angeles. A explosão ocorreu na parte superior do silo, de 30 m de altura, nas instalações de elevador de grãos. A explosão matou 36 pessoas e 9 ficaram feridas, no pior desastre da história dos Estados Unidos.  
■Junho de 1998 – Kansas,  Haysville, Estados Unidos – De Bruce Grain
A explosão ocorreu na correia transportadora de grãos e provocou colapso parcial da estrutura do silo. Vítimas: Dois trabalhadores morreram e 12 ficaram feridos

Comentário: Explosões em Unidades Armazenadas

Possibilidades de Ocorrência: Sob aspectos militares, explosivos podem ser definidos como substâncias ou mistura destas suscetíveis a sofrerem bruscas transformações químicas sob influência de calor ou ação mecânica.

Destas transformações geram-se gases aquecidos sob alta pressão que tendem a expandir rapidamente levando a:
(a) romper estruturas,
(b) destruir equipamentos e
(c) ceifar vidas humanas.

As explosões em unidades armazenadoras, geralmente possuem por material explosivo a  mistura das substâncias ar atmosférico e partículas sólidas em suspensão, as quais neste caso são denominadas como os agentes comburente e combustível, respectivamente. As partículas originam-se das impurezas que acompanham a massa de grãos ou do esfacelamento dos grãos.

A detonação dessa mistura será processada caso em algum local ocorra à temperatura do ponto de detonação, o que pode ser causado por uma fonte de ignição tipo:
(a) acúmulo de cargas eletrostáticas,
(b) curtos circuitos,
(c) descargas atmosféricas,
(d) atrito de componentes metálicos e
(e) descuidos quando do uso de aparelhos de soldagem.

Processada a detonação em um dado ponto, a energia calorífica dissipada será utilizada na detonação de um outro ponto. Isto estabelecerá uma série de detonações, enquanto houver condições favoráveis que são estabelecidas pela existência dos agentes comburente e combustível e a ocorrência da temperatura do ponto de detonação.
Deste modo, tem-se que o processo de detonação é rápido, mas não instantâneo, sendo que as séries de detonações podem atingir velocidades de propagação de até 7.000 m/s, exercer pressões de até 550 kPa e gerar ondas de choque com velocidades de 300m/s.
Quanto à violência e potência da explosão serão definidas em função da velocidade das detonações e da temperatura e volume dos gases produzidos.

Medidas Operacionais Preventivas
Como medidas operacionais preventivas, recomenda-se:
■ proceder cuidadosa limpeza da massa de grãos;
■ fazer uso contínuo dos sistemas de captação de pó;
■ limpar periodicamente os sistemas de captação de pó trocando os filtros nos períodos definidos pelos fabricantes;
■ proceder à limpeza das instalações evitando o acúmulo de pó;
■ treinar os operadores e demais funcionários quanto a riscos de explosões;
■ fazer manutenções periódicas dos equipamentos eletromecânicos;
■ certificar periodicamente os estado dos cabos elétricos;
■ tomar os devidos cuidados ao utilizar aparelhos de solda nos serviços de manutenção;
■ aspergir a massa de grãos em movimento com óleos minerais para reduzir a emissão de pó; e
■ substituir as caçambas dos elevadores e pás dos transportadores correntes metálicas por componentes plásticos.

Aspectos Técnicos Construtivos
Como aspectos técnicos construtivos recomenda-se a observância dos seguintes cuidados quando da elaboração e implantação de projetos de unidades armazenadoras:
■ dotar os ambientes como túneis, galerias e pontos de carga e descarga de grãos com sistemas de captação de pó;
■ instalar sistema de captação de pó em elevadores caçambas e tubulações de transporte de grãos;
■ proceder ao aterramento elétrico dos componentes eletromecânicos e pontos geradores de cargas eletrostáticas;

■ projetar edificações que estruturalmente contemplem áreas de fácil ruptura caso ocorram explosões, isto minimizará danos à edificação, pois os gases em expansão serão lançados à atmosfera;
■ instalar sistemas de pára-raios;
■ instalar aspersores de óleo mineral em pontos do sistema de movimentação de grão passíveis de ocorrência de alta concentração de pó - valores superiores a 0,05 kg/m3; e projetar sistemas de iluminação apropriados aos ambientes com risco de explosão.
Fonte: Prof. Dr. Luís César da Silva - Univ. Federal do Espírito Santo - UFES

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