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segunda-feira, maio 27, 2013

Explosão em usina de álcool no interior de São Paulo

Uma explosão ocorreu na tarde de segunda-feira, 6 de dezembro de 2004,  na usina Vale do Rosário, em Morro Agudo (382 km a norte de São Paulo).
O acidente ocorreu por volta das 14h , quando o fundo da caixa do sistema de pré-evaporação se rompeu, provocando o vazamento de cerca de 500 litros de caldo com temperatura aproximada de 120o C. A caixa fica localizada a cerca de três metros do chão.
Com o rompimento da caixa de pré-evaporação, o líquido e o vapor saíram com muita pressão, foi lançado longe atingindo funcionários que trabalhavam na fábrica e uma parte invadiu uma sala de um prédio próximo (distante 200 m), onde estavam 19 funcionários entre diretores e gerentes da usina para uma reunião realizada semanalmente. A explosão não provocou incêndio.

CAUSAS PROVÁVEIS
■Ocorreu um pico de pressão, que superou as duas válvulas de segurança existentes
■Fadiga de material é uma das hipóteses apontadas pela direção da usina Vale do Rosário.

VÍTIMAS
Cerca de 52 funcionários sofreram ferimentos devido à explosão, sendo 30 de natureza leve, quase todas atendidas no próprio ambulatório da usina.

BALANÇO DAS VÍTIMAS
22 funcionários foram encaminhados aos hospitais da região.
10 funcionários foram atendidos e liberados.
12 funcionários em estado grave foram internados, sendo 9 em Ribeirão Preto, 01 em Orlândia , 01 em Catanduva e 01 em Bauru.

VÍTIMAS FATAIS
01 funcionário, operador de caldeira, no local do acidente
10 funcionários morreram no decorrer da hospitalização, sendo dois diretores.

INTERNAMENTO
Em 11 de fevereiro de 2005,  o funcionário da usina, Ronaldo Quirino Costa, teve alta do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto. Ele teve 21% do corpo queimado, passou por diversas cirurgias para reconstituição da pele. Continua ainda internado um funcionário, sem data prevista de alta.

CORPOS DE BOMBEIROS
Equipes do Corpo de Bombeiros de Franca, Ribeirão Preto e Orlândia se deslocaram para o local do acidente.

COMUNICADO DA USINA
A direção da usina negou que tenha ocorrido falhas na manutenção. Em entrevista coletiva, os diretores Eduardo Junqueira e Ricardo Prado explicaram que as manutenções acontecem semanalmente em peças específicas como na que ocorreu o acidente. "Anualmente, toda a usina é desmontada para uma manutenção geral, como ocorre em todas as outras usinas. A fatalidade pertence a ela mesma", disse Eduardo Junqueira. Este foi o primeiro acidente com vítima fatal ocorrido na Vale do Rosário.
A direção da empresa disse que só na safra passada investiu mais de R$ 12 milhões em manutenção. “Estamos enquadrados em todos os tipos de prevenção de acidentes com a Cipa (Comissão interna de prevenção de acidentes). Temos a ISO 9000 e vivemos cercados de cuidados, mas, como o próprio nome diz, acidente é uma coisa totalmente imprevisível”, lamentou um dos diretores da usina, em entrevista coletiva após o acidente.

INQUÉRITO E PERÍCIA
O acidente está sendo avaliado por peritos da cidade de Ituverava, que foram à usina e devem se reunir com membros do Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo. A Polícia Civil abriu o inquérito para apurar o acidente.

LAUDO DO IC SOBRE ACIDENTE EM USINA NÃO FOI CONCLUSIVO
O Laudo do Instituto de Criminalística, julho de 2005,  indicou  que uma sobrecarga em um dos equipamentos da Usina Vale do Rosário, em Morro Agudo, foi a causa do acidente.Mas a polícia considera o laudo do IC insuficiente para concluir o inquérito.

EMPRESA; VALE DO ROSÁRIO
A usina Vale do Rosário é uma das maiores do país e produz açúcar, álcool, energia, ração animal e outros produtos. Ela foi fundada em 1964 e fica localizada na Fazenda Invernada, em Morro Agudo. Atualmente tem mais de 700 funcionários e uma área plantada de 80 mil hectares de cana.
A produção atual  atinge   153 milhões de litros de álcool hidratado e 74 milhões de litros de álcool anidro. Além disso, a companhia produz energia elétrica e outros subprodutos.
A sua grande estrutura conta também com a Nova Aliança Agrícola e Comercial Ltda, uma das mais significativas da área. Fundada em 1978, a empresa tem como objetivo a produção de mudas selecionadas de cana-de-açúcar.
Utilizando novas tecnologias no campo das variedades da cana, a companhia segue sua missão: a de produzir matéria-prima de alta qualidade. A empresa tem como perspectiva colher cerca de 80% da cana da Usina Vale do Rosário mecanicamente, o que deve equivaler a 4 milhões de toneladas. A companhia vem investindo em tecnologia de ponta no setor de transporte, através de logística e o uso de técnicas e equipamentos modernos, como o transbordo e rodotrens.
Fontes: Cosmo Online, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Comercio da Franca, Jornal de Araraquara, no período de 07 de dezembro de 2004 a 12 de fevereiro de 2005

Comentários:

PRÉ-EVAPORAÇÃO
Na pré-evaporação o caldo é aquecido a 115ºC, (1,7 kgf/cm2) evapora água e é concentrado a 20ºBrix. Este aquecimento favorece a fermentação por fazer uma "esterilização" das bactérias e leveduras selvagens que concorreriam com a levedura do processo de fermentação.

Incrustação na tubulação
A  incrustação  no  sistema  de  evaporação em usina de álcool tem  origem  nos  sais  que  se  encontram  no  caldo  de  cana.  Inicialmente  esses  sais  estão  solúveis  no  caldo,  porém  devido  à  elevação  da  temperatura  e  da  concentração  durante  a  evaporação  o limite  de solubilidade  desses sais  é  excedido,  iniciando  uma  formação  cristalina  que  tende  a  se  depositar  nas  paredes  dos  tubos formando  a  incrustação.
Em acidente não existe a fatalidade, como alguns profissionais divulgam, mas uma somatória de fatores não previstos ou falhas ocultas que os responsáveis não percebem devido à falta de visão global do problema, criando assim uma “sensação de segurança”. Num dado momento esses eventos independentes convergem e se somam para provocar o acidente. 

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posted by ACCA@2:58 PM