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quarta-feira, agosto 06, 2008

Mega explosão e incêndio em distribuidora de gás

Sábado, 6 de agosto de 2005, dia calmo na Vila Moraes, Goiânia, foi interrompido por uma série de explosões. Primeiro uma forte explosão, às 11h 22, seguida imediatamente de um tremor que abalou os quatro quarteirões da Rua das Indústrias e algumas casas vizinhas. Vieram outras explosões médias, seis delas nos primeiros cinco minutos, e depois várias outras até quase meio-dia. Uma fumaça preta acompanhada de uma labareda gigante começou a cobrir o céu e os moradores do bairro pensaram que finalmente aconteceu o que eles temiam: o reservatório da Supergasbrás Distribuidora de Gás S.A. às margens da BR-153 explodiu.

Cronologia do incidente
11 h 22 - Ocorre primeira explosão na base de abastecimento
11 h 26 - Corpo de Bombeiros é acionado
11 h 52 - Tem início nova série de explosões. Estilhaços voam pela vizinhança
11 h 55 - Polícia evacua área de dois quarteirões
12 h 00 - BR-153 é interditada
12 h 15 - Bombeiros se aproximam para conter as chamas
12 h 40 - Fogo controlado. Continua resfriamento.
13 h 30 - Área é aberta.

Inicio de combate ao fogo
Depois de uma seqüência de dez minutos, as explosões cessaram e os bombeiros puderam se aproximar para conter as labaredas que atingiram três caminhões gaiolas. A preocupação era com os tanques de abastecimento, cada um deles com capacidade de 30 t de gás.

Quarteirões em risco, retirada dos moradores
A tensão era tamanha no momento das explosões que, na Rua 4, Vila Moraes, a polícia militar pedia para os moradores deixarem suas casas rumo à Praça Cívica. Havia risco de explosão dos tanques de abastecimento, o que arrasaria quarteirões. Moradores entraram em pânico.

Testemunhas
■ Um dos funcionários da empresa, disse que estava embaixo da plataforma de enchimento, fazendo a limpeza, quando ouviu a primeira explosão. “Não deu tempo de pensar em nada. Eu saí correndo. Só senti o calor enorme, estava muito quente, nem olhei para trás”, disse. .
■ Outro funcionário contou que estava ao lado da plataforma de abastecimento em que o incêndio teria começado e viu a causa do acidente. “Saiu uma faísca, não sei de onde, acho que de um caminhão. A gente só teve tempo de ligar as mangueiras, tomar as medidas necessárias para evitar o alastramento do fogo e sair. Foi muito feio o acidente. Tava um calor do inferno lá dentro. Você sentia seu corpo queimando”, disse.

Os botijões voaram como mísseis
Sete casas, pelo menos, e uma firma recapeadora de pneus foram atingidas por dez botijões de 90 kg que voaram da distribuidora. Como todos os moradores próximos fugiram para os quarteirões mais afastados, ninguém se feriu.

Mas algumas casas chegaram a ter o teto perfurado em até dois cômodos. Foi o caso da residência na Rua 20, do feirante João Honório Cardoso, que, ao ouvir a primeira explosão, pegou os netos, colocou no caminhão com carroceria aberta e deixou a casa sem trancar nada. Um botijão “pulou” três vezes no telhado, fazendo buracos no quarto, na sala e “aterrissando” na varanda. “Achei que estava pegando fogo na Supergasbras e pensei na vida dos meus netos”, diz o feirante, “que enquanto se afastava de casa, ia pegando moradores desesperados pela rua, peguei umas 20 pessoas”, contou.

Destroços de botijão cai a 250 m
A dona de casa Antônia Jocelina de Oliveira Costa, retirou suas filhas, de 7 anos e outra de 4 meses de idade, de casa quando ouviu a primeira explosão. Mesmo morando a 250 metros do foco do incêndio, sua residência, na Rua do Palmito, foi atingida por um botijão, que caiu justamente no quarto das meninas. “Elas já estavam lá na rua, quando caiu o pedaço do botijão”, disse o primo dela, Elistênio Santos Melo.
A firma localizada ao lado da casa de Elistênio foi atingida por dois botijões, um deles fez um buraco no telhado. “Só deu tempo de tirar minha avó e levar ela para longe. Depois acabei ajudando um vizinho porque a casa dele tava pegando fogo num canto e ele precisava tirar os móveis”, comentou o servente Jorge André Rocha..

Na recapeadora de pneus Tarumã Pneus, na Rua das Indústrias, 37 funcionários trabalhavam quando aconteceu a primeira explosão. “Eram 11h20 mais ou menos. Foram cinco ou seis na seqüência. Quando eu vi a fumaça preta subindo, comecei a ligar nos ramais, pedindo para todos os funcionários saírem correndo. Quando voltamos, vimos que três botijões haviam caído aqui dentro”, disse o segurança Luciano Souza de Moura. Dois botijões caíram no pátio dos fundos, que dá de frente para a distribuidora, e um terceiro invadiu a janela de um dos saguões. “Sorte não caiu no almoxarifado, porque lá estava cheio de pneus e aí ia pegar fogo”, completou.
A funcionária pública Edith Maria Gonçalves, estava na sala falando ao telefone quando a primeira explosão estourou os vidros da janela. “Teve a explosão e a casa tremeu forte. Achei que ia cair. Aí eu tentei sair pela frente, mas a fumaça estava muito forte e vinha pra cima da casa, não tinha como sair, estava muito quente. Peguei uma escada e pulei o muro dos fundos. Fui cair na loja Tarumã.” O filho dela, Adalberto Moreira Gonçalves, também precisou fugir.
O aposentado Francisco Lopes dos Santos, ouviu a primeira explosão 15 minutos depois de chegar do supermercado. A polícia precisou convencê-lo a sair de casa. “Já estou velho, se morrer não tem problema”, disse. Na casa dele, um botijão de 90 quilos caiu numa rasante e arrancou galhos da jabuticabeira no quintal, fazendo um buraco no muro. “Voltei lá pelas 11h30 e (o botijão) ainda estava quente.”

Interdição
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) interditou a rodovia BR-153 das 12 horas até 13h05. O trânsito foi desviado para dentro da cidade.

Causa do incêndio
De acordo com o tenente Marcos Antônio Moreira dos Santos, que comandou a operação do Corpo de Bombeiros no local, o fogo começou no setor de engarrafamento de gás. Um vazamento num equipamento chamado carrossel, onde ficam os bicos que enchem os botijões, provocou uma explosão que desencadeou o incêndio.

Vítimas
O corpo do funcionário Francisco de Souza Brandão, foi encontrado próximo à esteira que transportava os recipientes até o carrossel. Estava carbonizado.
Um outro funcionário, o auxiliar de produção Vicente Rodrigues de Souza, ficou gravemente ferido. Levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), foi encaminhado para o Pronto-Socorro para Queimaduras. Com queimaduras de segundo e terceiro graus em 25% do corpo (especialmente no rosto e nos braços), Vicente deve passar por uma cirurgia. No início da noite, o hospital informou que o estado do paciente era regular e ele estava sem febre.

Danos matérias
As instalações ficaram praticamente destruídas, restando somente seis tanques que continham gás ficaram intactos.

Corpo de bombeiros e brigada
Às 11 h 26, o Corpo de Bombeiros foi acionado para atender a ocorrência. No local ficou constatado que o incêndio já havia atingido 04(quatro) caminhões e todo a base de engarrafamento da empresa, iniciando nesse momento a atuação do Corpo de Bombeiros.
A ação da brigada de incêndio da empresa impediu que o fogo assumisse proporções ainda mais destruidoras.

Efetivos e equipamentos utilizados pelos bombeiros
Efetivo empregado: 51 Bombeiros
Viaturas empregadas: 06 Autos Bomba Tanque, 01 Unidade de Resgate, 02 Autos Salvamento Avançado, 01 Unidade de Suporte Avançado, 01 Unidade de Coordenação Móvel (Defesa Civil);
Agentes extintores: 50.000 litros de água e 40 litros de LGE;
Tática utilizada: Evacuação dos moradores, isolamento da área, resfriamento dos tanques e combate as chamas;
Tempo de resposta: 05 minutos;
Tempo de combate: 02 horas;
Tempo de rescaldo: 07 horas;

Engarrafadoras vizinhas
A Liquigás teve trabalhos interrompidos devido ao incêndio, vez que as duas são ligadas por meio de dutos condutores de gás.
As empresas localizadas no Bairro Feliz e na Vila Moraes acionaram seus sistemas de refrigeração dos tanques por precaução e colocaram suas equipes de segurança do trabalho em alerta até que o perigo de que a propagação do incêndio fosse afastada.
Controle do incêndio
Por volta das 13h30, após quase duas horas combatendo o fogo, as equipes do Corpo de Bombeiros conseguiram controlar o incêndio e iniciaram o trabalho de rescaldo, que durou até o final da tarde. O carro de combate a incêndios deixou o local por volta das 17 horas, mas teve de retornar cerca de duas horas depois, para apagar focos isolados que ressurgiram. O assessor de imprensa da corporação, Glaydson Pereira, reafirmou que não havia mais riscos. A área foi isolada.

Inquérito policial
A abertura do inquérito policial que vai investigar as causas da morte do funcionário e do acidente.

Perícia – causa provável
Problema em um botijão foi a causa do acidente. A perícia da Polícia Técnico-Científica (PTC) ainda precisa descobrir se o problema foi devido à fadiga do recipiente ou à presença de algum objeto estranho em seu interior. O perito Marcos Augusto Monteiro, da PTC, disse que a causa do acidente foi à explosão seca (sem chamas) de um botijão que o funcionário Brandão estava enchendo. Ele ainda depende do resultado de dois laudos para saber a causa desta primeira explosão, mas descartou ter havido falha do funcionário ou de equipamentos da empresa durante o processo de alimentação do recipiente.
A Polícia Técnico-Científica não acredita nas hipóteses de causa criminosa ou externa (como faísca em um caminhão, algo que foi comentado por funcionários). “Pode ter sido ou por fadiga do botijão, ou poderia haver algo estranho no interior dele. Nós encontramos manchas neste botijão que nos fizeram levantar essa hipótese”, disse.
O perito aguarda a entrega de laudos do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) e da Furnas Centrais Elétricas S.A. O Inmetro vai mostrar se o botijão apresentava desgaste excessivo. E Furnas identificar a mancha encontrada. “Nós não temos o equipamento que eles têm para fazer este serviço.” Monteiro falou que é provável que o botijão não tenha passado por uma “vistoria detalhada” e que, por isso, foi para o setor de alimentação de recipientes sem as condições necessárias.

Multa – poluição do meio ambiente
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) fixou em R$ 2,5 milhões (US$ 1,000,000.00) o valor da multa a ser paga pela empresa devido à poluição atmosférica e por lançamento de resíduos causados pelo acidente. O secretário Clarismino Luiz Pereira Júnior informou também que o órgão não vai renovar o licenciamento ambiental, que vence no próximo mês, para o funcionamento da Supergasbras na área atingida pelo fogo, às margens da BR-153, num setor eminentemente residencial.

Transferência do local
A Assessoria de Comunicação da Supergasbras Distribuidora de Gás S.A., no Rio de Janeiro (RJ), informou que o atual parque onde opera a empresa foi instalado às margens da BR-153 por volta de 1975, ou seja, há 30 anos. A engarrafadora adquiriu o terreno da antiga empresa que atuava no local, a Ultragás. Segundo a assessoria, pouquíssimas residências existiam no bairro quando da instalação da empresa e apenas anos depois a comunidade passou a residir no setor. O pólo da Supergasbrás de Goiânia deve ser transferido para Senador Canedo.

Indenizações
A Supergasbrás Distribuidora de Gás S/A reparou os imóveis das oito famílias e da empresa que foram atingidos pelos botijões.De acordo com a presidente da Associação dos Moradores da Vila Moraes, Maria Aparecida dos Santos Nunes, a empresa não só arrumou os problemas como cumpriu a promessa de não reativar a distribuidora no bairro.

Áreas de risco
Em Goiânia mais de 3 mil pessoas residem em 16 áreas de risco de desastres. A Defesa Civil de Goiás tem cadastradas na capital 16 áreas de risco de desastres relacionados a incêndios, choque elétrico e com o transporte ferroviário e aéreo. Nesses locais, habitam pelo menos 861 famílias, ou 3,2 mil pessoas, entre adultos e crianças. Centenas de outras moradias estão localizadas em áreas impróprias à habitação, onde as famílias convivem de perto com vizinhos que representam risco a todo momento.
Pelo menos 50 famílias residem nas proximidades do terminal de armazenagem de combustíveis da Petrobras, num raio de aproximadamente 500 metros do pólo, que ocupa área de 120 mil metros quadrados. No local ficam armazenados álcool combustível, álcool anidro, gasolina e óleo diesel.
O trabalho realizado pela Defesa Civil nessas áreas consiste em conscientizar os moradores dos riscos a que estão expostos e informar o poder público o número de pessoas que se encontram nestas condições. Na maioria das vezes, os moradores são hostis ao trabalho do órgão, já que a definição de uma área como de risco reduz os valores dos imóveis no mercado imobiliário.

A área localizada nas proximidades da Supergasbras foi vistoriada pela Defesa Civil, que alertou os moradores dos possíveis riscos de incêndios e explosões. Outras duas distribuidoras de gás (Liquigas e Copagaz) estão instaladas na mesma região, às margens da BR-153, com várias casas vizinhas.

Fontes: Diário da Manhã, O Popular, no período 7 de agosto a 5 de setembro de 2005, Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás

Comentário:
A Defesa Civil fez o levantamento dos riscos existentes da região ou da cidade, mas esqueceu de elaborar o plano de gerenciamento de desastre com outros órgãos governamentais e empresas.
Lembramos do APELL (Awareness and Preparedness for Emergencies on a Local Level) que é um processo de ação cooperativa local, que visa intensificar a conscientização e a preparação da comunidade para situações de emergência.
O eixo central deste processo é o Grupo Coordenador constituído por autoridades locais, líderes da comunidade, dirigentes industriais e outras entidades interessadas.

A finalidade do APELL
Os planos de emergências públicos (federal, estadual e municipal) não estão conscientes dos perigos que representam as operações/instalações industriais em seus respectivos locais. Geralmente os planos de governamentais não contemplam todos os riscos existentes nas comunidades. Por outro lado os planos de emergências das indústrias em face dos incidentes nas instalações não estão coordenados com os planos governamentais, em caso de incidentes, exceto as instalações da própria indústria. O APELL está projetado para desenvolver um plano de resposta coordenado para toda a comunidade.

Posição da prefeitura sobre áreas de risco
A prefeitura de Goiânia garantiu promoverá estudos mais aprofundados para o fornecimento de permissão de funcionamento de empreendimentos dessa natureza.A Prefeitura vai inspecionar e fazer fiscalização rigorosa em empresas que oferecem risco à comunidade. O prefeito informou ter determinado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) e à Secretaria de Planejamento (Seplan) que façam um estudo em relação a outros complexos semelhantes que também estejam instalados próximos às áreas residenciais.
No Brasil, após uma grande tragédia, indagamos: O que houve de errado? E nunca preocupamos com a prevenção. O que pode dar errado? Passado algum tempo, voltamos à rotina das deficiências dos órgãos competentes, isto é, a rotina de fiscalização de papel.

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posted by ACCA@4:26 PM

1 Comments:

At 4:37 PM, Blogger Sara Lacerda said...

Nossa foi m pesadelo esse dia, Graças a Deus os bombeiros esfriaram os 6 recipientes onde era armazenado o gás, se não a tragédia seria bem maior.

 

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