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sexta-feira, novembro 16, 2007

Quebrar pedras a estudar: uma opção


Alisson dos Santos Souza prefere quebrar pedras a estudar. Ao despertar, já se imagina no garimpo, ganhando dinheiro, e não na escola, que freqüenta quase por obrigação. Às vezes, assiste a uma aula com “ódio”. A palavra é dura. “Quando peço uma resposta para o professor e ele diz ‘cace no livro’, fico com ódio. Sinto raiva dele. O cabra pede um assunto de matéria e ele não quer dar?” Os planos do jovem de 14 anos são chegar até a 3ª série do ensino médio. Faculdade é perda de tempo, porque, para ele, quem fizer vai seguir sua mesma sina, a de quebrar pedras.

Em Pedra Lavrada, na Paraíba, a palavra “mineração” significa emprego. As crianças crescem querendo ser como os pais, agricultores teimosos no semi-árido. Quando jovens, preferem migrar. Se for ficar, o jeito é garantir-se com uma vaga no serviço público ou no garimpo. No primeiro caso, estudo vale ouro, mas dá trabalho para nem todos chegarem lá. No segundo, Alisson já tem as ferramentas de que precisa: um martelo e uma luva de borracha.
Alisson ganha R$ 200 por mês para martelar blocos de quartzo bem mais pesados que os livros e cadernos. Sua tarefa consiste em deixar o mineral branco de doer os olhos.

Fonte: O Estado de São Paulo – 4 de novembro de 2007

Comentário
Quando a educação brasileira chegar ao Primeiro Mundo, o Nordeste pobre vai estar mergulhado num triste Terceiro Mundo. Em 2022, ano do bicentenário da Independência e quando o País pretende atingir a meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estabelecida pelo governo;
■ só 44 cidades nordestinas da educação infantil à 4.ª série e 58 da segunda fase, da 5.ª à 8.ª séries, vão alcançar esse nível.
■ outros quase 1.400 municípios do semi-árido brasileiro, sertão que vai do norte de Minas ao interior do Nordeste, ficarão para trás.

Para que serve a educação conforme definição da Unesco?
É a pessoa capaz de utilizar a leitura e escrita para fazer frente às demandas de seu contexto social e de usar essas habilidades para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida. Em todo o mundo, a modernização das sociedades, o desenvolvimento tecnológico, a ampliação da participação social e política colocam demandas cada vez maiores com relação às habilidades de leitura e escrita. A questão não é mais apenas saber se as pessoas conseguem ou não ler e escrever mas também o que elas são capazes de fazer com essas habilidades. Isso quer dizer que, além da preocupação com o analfabetismo no Brasil, emerge a preocupação com o alfabetismo, ou seja, com as capacidades e usos efetivos da leitura e escrita nas diferentes camadas da vida social.

No meio industrial temos um problema silencioso e perverso que afeta as empresas que é o alfabetismo funcional. São pessoas que foram à escola, sabem ler, escrever e contar; mas não conseguem compreender a palavra escrita. Não estão acostumados a leitura de livros, artigos e jornais. As pessoas preferem ouvir explicações de outros colegas. Fingem entender tudo, para depois sair perguntando aos outros o que e como deve ser realizado tal serviço. E quase sempre agem por tentativa e erro.

A produtividade industrial está ligada diretamente a habilidade básica da pessoa (processo contínuo de aquisição de conhecimento) e o grau de tecnologia.
Quando as pessoas não entendem sinais de aviso de perigo, instruções de higiene e segurança do trabalho, orientações sobre processo produtivo, procedimentos de normas técnicas da qualidade de serviços e negligência dos valores da organização empresarial, todos saem perdendo, gerando acidente de trabalho, perda de produtividade, etc.

posted by ACCA@6:35 PM