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quinta-feira, outubro 04, 2007

O mar mais sujo do mundo

Mediterrâneo tem a maior concentração de hidrocarbonetos e resíduos plásticos de todos os mares do planeta. A maior parte da poluição que chega às águas procede de atividades realizadas em terra

O mar Mediterrâneo é o mais poluído do mundo, segundo vários relatórios feitos por organizações ecológicas nos últimos anos. Em suas águas é tão fácil ver resíduos plásticos quanto restos de hidrocarbonetos, procedentes principalmente de terra firme. As associações ecológicas alertam para os prejuízos dessa poluição, que pode ter repercussões na saúde humana. As áreas do Mediterrâneo com mais resíduos coincidem com os grandes portos. É o que ocorre na Espanha, por exemplo, nos de Algeciras e Barcelona. As complexas soluções para esse problema dependem de responsabilidades dispersas entre os governos de vários países.

Sujeira na água
Quem se banhar hoje em dia numa praia mediterrânea tem grande probabilidade de encontrar lixo na água. Na realidade poderia haver 33 unidades de resíduos por metro quadrado de água. É a média da sujeira nas costas espanholas, segundo um relatório sobre o estado dos mares do mundo publicado pelo Greenpeace. Além disso, há outra contaminação que não se vê: até 10 gramas de hidrocarbonetos por litro, segundo um estudo da Oceana. O mar Mediterrâneo é o mais sujo do mundo.
Dejetos ilegais, descuidos humanos, causas naturais e transporte maciço de mercadorias fazem com que quase tudo o que é vivo no "Mare Nostrum" corra perigo de se contaminar ou mesmo de desaparecer.

A bordo do navio Rainbow Warrior, os ativistas da organização Greenpeace estão percorrendo há dois meses esse mar e denunciando os riscos que ele sofre. O responsável pela campanha de oceanos da organização ecológica, Sebastián Losada, explica que basta olhar enquanto se navega para ver lixo. E se a pessoa mergulhar até o fundo poderia contemplar a maior quantidade de resíduos por quilômetro quadrado nos leitos oceânicos de todo o planeta: 1.935.

Plásticos predominam
No último relatório do Greenpeace fala-se sobretudo nos danos causados pelos plásticos. Ele faz uma compilação bibliográfica de diversos estudos publicados nos últimos 15 anos. São heterogêneos e não é fácil tirar muitas conclusões. Mas uma está clara: o Mediterrâneo é o líder indiscutível em sujeira mundial.
Os plásticos são "o lixo mais comum e os responsáveis pela maior parte dos problemas que sofrem os animais e as aves marinhas", afirma o documento. Representam 75% dos resíduos nas praias. Não é difícil tropeçar com algum deles ao nadar, segundo se deduz dos dados apresentados pelo Greenpeace. Estes revelam que há 33,2 unidades flutuando por metro quadrado; desde as minúsculas até sacolas ou garrafas maiores. Em alto mar, os grandes restos de plástico são mais raros, mas podem chegar a 35 unidades por quilômetro quadrado. As zonas mais sujas são Espanha, Itália e França.

Resíduos líquidos industriais
Tão preocupantes quanto os resíduos sólidos são os líquidos. "Os dejetos rotineiros são muito mais perigosos que as grandes catástrofes", afirma o diretor de projetos de pesquisa da Oceana, Ricardo Aguilar. A cada ano são despejados ilegalmente no Mediterrâneo 400 mil toneladas de hidrocarbonetos, segundo os estudos da organização.

Portos contaminam o ambiente
As áreas mais contaminadas coincidem com os grandes portos. É o que ocorre na Espanha com os de Algeciras e Barcelona. Nos lugares mais críticos podem-se encontrar até 10 gramas dessas substâncias por litro de água. Segundo Aguilar, isso provoca o desaparecimento dos organismos delicados. Os mais resistentes são contaminados e podem ser muito prejudiciais ao ser humano. "Em algumas regiões dos EUA, as crianças e as mulheres grávidas estão sendo alertados para não consumirem determinadas espécies."

Poluição dos navios
Esse tipo de poluição tem várias explicações. No Mediterrâneo navegam 30% dos navios mercantis de todo o mundo e 20% dos petroleiros, o que representa 12 mil navios por ano. Deles vem parte da sujeira. Mas a UE afirma que a grande maioria (80%) procede de diversas atividades em terra firme.

Poluição de rios e sistema de drenagem pluvial
As fontes de poluição mais diretas são os rios e os sistemas de drenagem pluvial, que transportam o lixo das zonas urbanas do interior e o despejam no mar. Além disso, ao redor do Mediterrâneo vivem cerca de 150 milhões de pessoas e chegam por ano 200 milhões de visitantes. O turismo litorâneo e as águas residuais são outras duas grandes fontes de poluição.
As soluções para os problemas são tão variadas quanto difíceis de implementar. Sebastián Losada, do Greenpeace, diz que vão desde "uma diminuição do consumo até um trabalho educativo e pedagógico adequado".

Legislação e fiscalização
A reforma da legislação que afeta esse assunto é outra grande batalha das associações ecológicas. A Oceana fez pressão durante anos para conseguir que sejam considerados criminosos os derramamentos de combustíveis nos mares. Mas isso não basta. Na opinião de Aguilar é necessário reforçar as medidas de controle dos navios que transitam pelo mar.

O problema, na opinião de Joandomènec Ros, catedrático de ecologia na Universidade de Barcelona, é que "ninguém quer saber que o peixe e o marisco que comemos têm poluentes, que tudo o que usamos em terra termina no mar e que a solução não está no final do processo, mas no início".

Fonte: UOL Mídia Global - 25 de julho de 2007

posted by ACCA@12:54 AM