Zona de Risco

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terça-feira, outubro 23, 2007

Fator Humano

De acordo com a psicologia, o medo protege a pessoa. Ele funciona como uma espécie de aviso para precavermos de perigos reais. O medo atua como regulador da inteligência que é estimulada no sentido da melhor escolha, visando evitar o fracasso do objetivo.

No caso de um acidente em que o trabalhador ultrapassa o limite da zona de segurança, com imprudência ou com autoconfiança ou avaliação inadequada da situação? O medo estaria presente nessa situação? Ou nesse caso, o medo do perigo é sempre muito menor do que o próprio perigo?

Por que algumas pessoas preferem obedecer ao sinal de pedestre para cruzar a rua com segurança e outras preferem cruzar a rua driblando os carros? Por que alguns pedestres são impacientes para esperar a mudança do sinal para atravessar a rua com segurança? No ambiente industrial é a mesma coisa, alguns trabalhadores preferem trabalhar com segurança, outros preferem driblar os riscos e perigos e outros são impacientes para utilizar os procedimentos de segurança, pois atrasam as etapas de serviços. O fator humano estará sempre presente na relação trabalho e execução.

Não podemos simplesmente não ter medo. Seria imprudência. Mas podemos desenvolver procedimentos para lidar com ele. Quais seriam os fatores humanos que estariam envolvidos com ele? Seriam o estresse bom e/ou mal, inteligência/educação, treinamento, condicionamento mental.

Estresse
O ser humano tem um dispositivo natural que, diante do perigo (real ou imaginário), faz aumentar a freqüência das ondas cerebrais para que todo o organismo fique em "estado de alerta", ou seja, pronto para "reagir". Esse "estado" é caracterizado pelo aumento dos batimentos cardíacos, respiração acelerada, tensão etc. E a isto chamamos "estresse".

Assim sendo, o estresse não é um mal; ele é só uma defesa do organismo contra diversos tipos de agressão, sejam elas físicas ou psicológicas. Além de não ser um mal, é o estresse que mantém a pessoa pronta para reagir ou fugir destas agressões. Ele só se torna um mal, quando perdemos a capacidade de controlá-lo e começamos a reagir de forma inadequada.

Inteligência
É perfeitamente aceitável afirmar-se que memória e inteligência são, em síntese, a mesma coisa. Afinal de contas, só conseguimos pensar sobre as coisas que temos guardadas na memória. Assim sendo, a qualidade e a quantidade das informações que temos armazenadas na memória são decisivas para a "realização do pensamento", ou seja, para fazer bem feito.

Se você deseja "fazer a coisa bem feita" deve, em primeiro lugar, armazenar adequadamente todas as informações pertinentes a este processo na sua memória de longo prazo. E isso se faz exercitando sistematicamente o procedimento (treinamento).

Treinamento
Quanto mais você treina a execução de um procedimento, mais esta informação se torna acessível na memória de longo prazo e é mais prontamente recuperável. É por isso que os atletas, músicos, trapezistas etc., precisam treinar exaustivamente. Por outro lado, é preciso lembrar que os procedimentos mal aprendidos e não treinados, são sempre dificílimos de serem recuperados quando precisamos deles.

O treinamento de qualquer procedimento é fundamental para a realização perfeita, porém, não é único fator da equação, ou seja, treinar, simplesmente, não basta. O treinamento sem o ambiente de tensão da situação, não surge o terrível bloqueio mental de tensão, onde decorrem as falhas. Lembramos do chavão do futebol; treino é treino e jogo é jogo. Mas no ambiente industrial devemos treinar e jogar simultaneamente, pois não há muita margem de erros.

Condicionamento mental
Todas as informações percebidas pelos sentidos são interpretadas pelo cérebro como verdades, de acordo com os padrões anteriormente registrados. Devemos criar procedimentos para que o cérebro possa aceitar estas informações como verdadeiras e passará a identificar todas as situações de riscos.

É exatamente neste princípio que se sustentam todos os programas de condicionamento mental. Além de deter conhecimentos específicos que o tornem "competente" para a realização de determinada tarefa e passar essa informação para o seu cérebro, insistentemente, até que ele "admita" e "armazene" esta informação no seu "arquivo de verdades" (como é importante treinamento e reciclagem).

Evidentemente, é muito difícil estabelecer um programa de condicionamento mental único para todas as pessoas. Cada indivíduo tem um tipo psicológico diferente, nível cultural diferente, emocional diferente, histórico diferente.
Todavia, há alguns pontos comuns a todos e que servem, pelo menos a princípio, como guia para estabelecer um programa de autocondicionamento.
Vejamos:
a) Estude detalhadamente todo o procedimento necessário ou o que precisa executar com precisão. Adquira o maior número de informações possíveis sobre o assunto. Quanto mais informações você tiver a respeito desse procedimento, maior será a confiança (análise do risco, procedimento de operação ou permissão de trabalho seguro). Essa confiança "minimiza o perigo" e, conseqüentemente, reduz os riscos de bloqueio mental por tensão.
b) Treine esse procedimento. Quanto mais treinar, mais facilidade terá para reproduzi-lo fielmente. Lembre-se que "o treinamento exaustivo acaba facilitando a repetição automática". Repare que você amarra o cadarço do sapato, pára quando o farol fica vermelho e digita no seu computador, sem jamais parar para pensar "como isso deve ser feito". Você "reproduz" estes procedimentos naturalmente, sem o menor esforço mental.

Fonte: Adaptação do artigo “Condicionamento Mental” do Projeto Saber

posted by ACCA@11:26 AM