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sábado, julho 28, 2007

O Vôo 3054 – Atuação do Corpo de Bombeiros nos minutos iniciais

O tempo de resposta é crítico nos acidentes aéreos. O tempo de resposta a um acidente é o tempo que passa desde a recepção de emergência e notificação pelo envio de bombeiros até a chegada das viaturas e combate ao fogo.

Nos minutos iniciais do incêndio chegou ao local apenas dois bombeiros, da base de bombeiros da região do Ipiranga, com apenas uma viatura simples. Um dos bombeiros teve de improvisar uma escada simples, para tentar salvar algumas pessoas que estavam presas no prédio da TAM Express. (entrevistas dadas pelos bombeiros em um programa matinal da rede Globo)

Cenário inicial:
A funcionária estava no primeiro andar. Acossada pelo calor e pela fumaça do prédio em chamas, sem conseguir sair do edifício, ela jogou-se de qualquer jeito. Caiu com a cara no chão. O corpo ficou na calçada, imóvel, enquanto as vidraças do edifício estilhaçavam-se sob efeito do calor -os cacos choviam sobre o corpo da funcionária.
"Foi horrível. O barulho do corpo batendo no chão eu nunca vou me esquecer", lembra a jornalista da TV Cultura, Laís Duarte. Ela estava no aeroporto de Congonhas fazendo mais uma reportagem sobre a crise aérea. Quando ouviu o estrondo da queda do avião da TAM, correu para o local.

A repórter ainda pôde ver a correria das pessoas que, naquela hora de saída do trabalho, lotavam um ponto de ônibus quase defronte ao prédio atingido. "O temor generalizado era que as chamas atingissem um posto Shell que fica a menos de 50 metros de onde acontecia o incêndio."

Dois bombeiros e um passante tentaram socorrer a funcionária caída. Precisaram esperar todas as janelas reduzirem-se a cacos no chão. Além da funcionária, outro homem jogou-se do prédio. Muito queimado, estava sem os cabelos e as roupas -tinha o corpo enegrecido. Segundo Laís e o cinegrafista Marcelo Scano, não dava para identificar-lhe a fisionomia.

As equipes de resgate demoraram dez minutos para chegar ao local.

Transcrição de alguns diálogos entre as primeiras equipes do Corpo de Bombeiros que chegaram ao local do acidente;
■ No primeiro áudio você vai ouvir a base do Corpo de Bombeiros que fica dentro do aeroporto de Congonhas pedindo ao Cobom (Centro de Operações do Corpo de Bombeiros) o envio urgente de carros com escada para resgatar pessoas que estavam pulando do prédio em chamas.
■ Em outro trecho da conversa, o Cobom solicita mais informações sobre o número de pessoas que estariam no vôo 3054. Uma voz feminina no Corpo de Bombeiros sediado no aeroporto de Congonhas informa o primeiro número: "São 170 pessoas". Ainda não se sabia o tamanho da tragédia.
■ No trecho seguinte, um dos bombeiros da unidade 364, no local do acidente, avisa que a água está acabando. Ele pede outro carro com urgência. O Centro de Operações do Corpo de Bombeiros solicita sua identificação, mas o operador em tom de desespero responde: "Mais água Copom. Eu preciso de mais água."
■ Em seguida, o problema da falta d'água também é relatado por outra equipe.

Pela análise o Centro de Operações do Corpo de Bombeiros não tinha noção que o acidente era um mega‑desastre, queda de aeronave numa zona urbana. Obs: Num desastre aéreo em zona urbana, os minutos iniciais são cruciais para resgate e salvamento de vítimas.

Algumas indagações dos primeiros momentos iniciais do desastre, lembrando as primeiras imagens transmitidas pelos canais de televisão;
■ O Corpo de Bombeiros do aeroporto de Congonhas, deveria ser a primeira unidade de bombeiros a chegar no local do acidente, mas não estava presente? Tem equipamentos e viaturas adequadas para combate a incêndio de aeronave e são treinados para essa finalidade.
■ Os primeiros bombeiros (dois) que chegaram ao local, não estavam preparados para combate ao fogo ou iniciar os primeiros resgates (falta de roupa adequada, máscara, aparelho de ar, falta de viatura adequada, etc).
■ Por que não houve emprego de espuma especial no combate ao fogo, sabendo que estava presente querosene de aviação altamente inflamável ? O incêndio poderia ser controlado mais rapidamente. O Airbus em Porto Alegre foi abastecido com 10.000 kg de combustível, o reservatório tem capacidade máxima de 18.7000 kg e consumo de combustível por hora de vôo é de 2.500 kg/h. Tinha uma reserva de combustível inflamável considerável.
■ Não tinha no local nenhuma viatura especializada em combate a incêndios em aeronave. Tinha escadas mecânicas e uma viatura com canhão monitor. Não houve emprego de plataformas que são mais flexíveis para penetração mais próxima ao fogo?

Parece-me que nos momentos iniciais e cruciais para combate ao fogo e de resgate, o Corpo de bombeiros falhou na avaliação do desastre, considerando como um incêndio normal.
Não tinha um plano específico de emergência para queda de aeronave em zona urbana, em que poderia ser ativado com toda logística possível (níveis de desastre) através do Centro de Operações do Corpo de Bombeiros. ACCA

posted by ACCA@4:16 PM