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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Acidentes do Metrô, Acidentes de Trabalho e Outros

Interessante a nossa sociedade, o trágico acidente com a construção do Metrô, Estação Pinheiros, transformou-se em cavalo de tróia, para os políticos, Ministério Público e o Estado. Os beneficiários das vítimas, proprietários e moradores de imóveis estão recebendo indenizações e pensões em valores substanciais, se comparado com as indenizações de acidentes de trabalho.

Quando morre, o Zé Pedreiro, o Zé Pintor, o Zé Metalúrgico são como gatos pingados, somente aos poucos vão se avolumando as mortes, mas não se transformam em notícias, como foi o acidente do Metrô. Não há o efeito midiático para o jornal, Ministério Público e a sociedade civil em geral.
Lembra mais as notas publicadas nos jornais, tipo tira, ou saem publicadas na coluna de boa morte e missa de 7o dia .

Aqui o Zé Pedreiro, aos 35 anos, morreu vítima de acidente de trabalho, deixando viúva e filhos. O enterro será no cemitério Paraíso dos Trabalhadores ou uma nota para missa; Aqui a mulher do Zé Pedreiro e filhos convidam parentes e amigos para a missa do 7o dia, do falecimento do inesquecível Zé Pedreiro, que será celebrada na Igreja dos Acidentes de Trabalho.

Quando as partes intervenientes estão em comum acordo, a justiça é rápida. A Defensoria Pública é ágil devido ao efeito midiático, as empresas em questão para aparentar a boa imagem de responsabilidade social ou apagar a imagem negativa aprovam rapidamente os valores indenizatórios.

Mas quando é o Zé Pedreiro sofre o acidente de trabalho, quem socorrerá? O jornal fará manchete? O Ministério Público intervirá? A igreja rezará uma missa para boa alma do trabalhador, de graça?
Ou ele será mais um daquelas subnotificações, não foi acidente de trabalho, foi morte de causa desconhecida?
E as indenizações serão imediatas ou aquelas que demorarão dez ou quinze anos, só Deus sabe?
Essa é a nossa sociedade, com cidadãos brasileiros de 1a classe, 2a classe e os párias que trabalham duramente.
A letra da musica do Chico Buarque retrata bem o cotidiano do trabalhador;
"Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego"
(Construção - Chico Buarque de Holanda)
ACCA

posted by ACCA@8:07 PM