Zona de Risco

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sexta-feira, dezembro 15, 2006

Sistemas de Gestão da Segurança - Capítulo I

Os 10 Mandamentos visando a eficácia dos
Sistemas de Gestão da Segurança
Capítulo I


1 -Considere profundamente os fatores humanos envolvidos na atitude segura, bem como na propensão para o acidente
Este é o primeiro e mais importante mandamento!
Ele pressupõe uma revisão crítica de todos os enfoques super‑simplicadores de atribuir a causa da maioria dos acidentes ao ato inseguro do trabalhador, procurando-se perguntar também, pelo menos o seguinte:
■ O trabalhador tinha o conhecimento necessário para realizar a tarefa?
■ Havia uma tolerância implícita com atitudes inadequadas, incorretas, mas que eventualmente resultavam em aumento da produtividade?
■ Houve transferência de responsabilidade?
■ O trabalhador tinha a condição material, de tempo, de ambiente, para realizar a operação de forma adequada?

Assim, há que se trabalhar na assimilação por todos (inclusive pelos engenheiros, supervisores, facilitadores e também pelos operadores) dos seguintes valores:
■ A importância de não se deixar o trabalhador num conflito de interesses ou em situações ambíguas e nebulosas (por exemplo, pressa versus perfeição e segurança);
■ Nunca adotar práticas ou posturas que induzam o trabalhador a atitudes inadequadas;
■ Adotar a regra da chapa quente sempre, para todos, sem exceção; (a regra da chapa quente é uma comparação muito feliz à regra básica de abordagem dos comportamentos fora da conformidade: quando você toca numa chapa quente, você se queima; assim também, qualquer um que cometesse um deslize de comportamento, um comportamento fora da conformidade, deveria ser abordado e advertido, qualquer que fosse o seu nível);
■ Valorizar o exemplo das chefias e dos facilitadores, especialmente no que se refere a atitudes corretas, seguras, comprometidas com o fazer certo;
■ Estudar preventivamente as pessoas que excedam os limites de forma perigosa ou que estejam apresentando sinais precoces de desvio de atitude (comportamento compulsivo);
■ Passar valores de comportamento profissional correto, para todos;
■ Considerar que, em situações de risco profissional, a única forma realmente eficaz de garantir atitudes corretas, é a certeza da habilidade;
■ Considerar que é normal a perda da habilidade com o tempo, daí a importância de programas periódicos de reciclagem; e que para a eficácia da reciclagem, é necessário técnicas mais desafiadoras de ensino;
■ Preparar bem a média gerência;
■ Considerar que o ser humano precisa ser acompanhado quanto ao seu estado psíquico, que tende a se deteriorar em situações comuns do cotidiano, tornando-se nestas condições, inapto para trabalhos perigosos;
■ Considerar a coerência no trato de assuntos de pessoal como uma das regras mais importantes visando um gerenciamento eficaz de pessoas no trabalho;
■ Manter o mastermind “prática segura” na cabeça das pessoas;
■ Acostumar-se a ter bom senso na relação lastro e vela; no caso de dúvida, favorecer as decisões colegiadas;
■ Significado de lastro e vela – se um navio tiver lastro demais, tornar-se-á moroso e inadequado para navegar, se tiver vela demais e pouco lastro. Essa situação é freqüente nas empresas: as áreas de segurança costumam ser encaradas como lastro demais, como dificultadoras, (apego sem sentido a regras e rituais desprovidos de uma base estatística ou técnica ou mesmo bom senso que a justifique); o contrário disso é exatamente a vela excessiva, sem lastro, que costuma ser a atitude de muitos gerentes que, no afã de produzirem, deixam de considerar alguns cuidados importantes, correndo riscos.
■ Acostumar os trabalhadores para com a motivação correta;
■ Acostumar todos com a máxima: “fazer correto é também fazer de forma segura”; a segurança está implícita na prática correta.
■ Considerar a necessidade não só de treinamento, mas também de formação das pessoas. Lembrar-se que formação é a somatória de treinamento e educação; no treinamento, ensina-se como se faz, na educação ensinam-se comportamentos corretos.
■ Considerar que, se quer realmente uma mudança eficaz, uns 20% dos facilitadores e gestores terão que ser trocados.
■ Considerar o profundo envolvimento dos trabalhadores na elaboração das regras de trabalho, das práticas padrão, fluxogramas e outros instrumentos administrativos, considerando a importância da participação dos mesmos, saindo da postura elitista de ser exclusividade dos engenheiros de fazer as regras de trabalho.

2- Garanta o comprometimento da alta gerência da empresa
É importante lembrar que a base da pirâmide é o seu ápice. Processos de qualidade, de segurança, de ergonomia, de gestão do meio ambiente e outros somente têm chance de vingar e colocar a empresa no rumo da melhoria contínua se tiverem o comprometimento dos níveis superiores. Sem o comprometimento (que é diferente de apoio) da alta administração não é recomendável dar início ao estabelecimento do processo de implantação do Sistema de Gestão.
Observação importante: a estratégia de criar uma massa crítica subjacente para depois obter o posterior comprometimento do topo é o caminho mais curto para que a idéia seja abortada pela alta gerência.

É importante que a alta gerência tome conhecimento dos fatores do erro humano;
■ que assimile a necessidade de controle absoluto sobre o risco intrínseco do processo,
■ que assimile o compromisso de revisar periodicamente o andamento do processo de prevenção de acidentes e perdas e
■ que compartilhe de alguns valores fundamentais.
Entre esses, destacamos:
■ O acordo de que na origem dos acidentes existe alguma forma de falha administrativa, e que o caminho da prevenção dos acidentes é através de uma melhor performance administrativa dos gestores, da média gerência e dos facilitadores;
■ A noção de que prevenir acidentes é uma forma de prevenir perdas. E que o enfoque maior deva ser na prevenção de perdas, nos seus diversos aspectos.
■ A noção da necessidade do balanceamento entre lastro e vela e de que algumas atitudes consentidas de níveis superiores podem induzir a alta e a média gerência a serem ousadas de forma irresponsável.
■ A noção do longo caminho curto, isto é, os resultados consistentes nessa área vão ocorrendo gradativamente, por mudança de valores (que se refletem em mudanças de atitudes), caracterizando a “empresa escada”, e que propostas imediatistas quase sempre resultam em fracassos e no retrocesso do curto caminho longo, com re‑trabalhos e retomadas (“empresa serrote”).

3 - Garanta controle absoluto sobre o risco intrínseco do processo
Isso pressupõe voltar a investir na qualidade dos técnicos de processo, dos que detêm controle técnico das máquinas, com estudos, atualização através de congressos e benchmarks, conhecimento de experiência de perdas e acidentes graves naquele tipo de processo.
(Historicamente, a revisão freqüente de perdas ocorridas, de acidentes graves de outras empresas, de danos ambientais importantes, funciona melhor para manter viva a lembrança de como fazer certo do que a exortação de sucessos).
Pressupõe ainda preparar uma documentação de evidência dos riscos inerentes ao processo (de forma a manter esse controle no caso de perda de pessoas do corpo técnico), bem como que esse pessoal deva estar capacitado não só tecnicamente, mas também que sejam pessoas de bom senso e que possam tomar atitudes responsáveis, não apenas contra‑indicando operações quando perceberem riscos não controlados, mas também liberando operações diante de situações controladas.
É muito importante é desenvolver bloqueios em situações que favorecem o erro humano por deslize.
É também fundamental estudar as condições ergonômicas para a realização das atividades, especialmente daquelas de manutenção e limpeza, bem como das condições de trabalho manual, necessários quando ocorre falha dos equipamentos automáticos.

4 - Trabalhe com instrumentos eficazes

Os 10 instrumentos mais eficazes para prevenir acidentes do trabalho e perdas em geral são:
■ Sistema gerencial de análise dos acidentes, dos quase-acidentes e perdas, sinalizando prioridades de ação
■ Inspeção periódica planejada formal das instalações da empresa
■ Regras de trabalho
■ Práticas-padrão
■ Orientação a novos e novos na função
■ Metodologia de análise e solução de problemas
■ Capacitação e habilitação formal para tarefas em que a responsabilidade profissional seja o principal determinante de atitudes corretas
■ Permissão para tarefas especiais
■ Análise periódica de desempenho de todos os facilitadores, gestores e trabalhadores, formulando planos de ação visando corrigir os desvios detectados no desempenho esperado
■ Reuniões periódicas da equipe.

5 - Crie e mantenha a estrutura organizacional compatível com a Prevenção de Acidentes e Perdas
O Sistema deve estar suportado por uma estrutura organizacional em três níveis, a saber:
■ Institucional, representado por um Comitê Diretivo, onde são definidas as políticas e diretrizes necessárias à perpetuação do Sistema.
■ Organizacional, representado por Comitês Executivos, onde são definidos os planos de ação necessários para o estabelecimento das políticas e diretrizes definidas pela alta administração.
■ Operacional, representado por Unidades Gerencias Básicas, onde os planos de ação são estabelecidos. Nos comitês operacionais, deve-se ter, necessariamente, a presença dos representantes dos trabalhadores na Cipa.
As reuniões de todos os 3 níveis são previstas em calendário e devem, obrigatoriamente, ocorrer.
Além disso, forças-tarefas assumem o estudo de problemas específicos nas áreas.
É fundamental deixar o pessoal de segurança do trabalho com independência hierárquica.
Também fundamental é fazer auditoria periódica dos processos, com auditores independentes.
Continua no capítulo II

Fonte: Giandomenico Angioletti é engenheiro, com experiência anterior em gestão de segurança e meio ambiente em empresas
mineradoras; coordenador do núcleo de Processo de Prevenção de Perdas da Ergo, Hudson de Araújo Couto é Médico do Trabalho e Doutor em Administração; Diretor Técnico da Ergo

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