POR QUE OS TRENS NÃO TÊM CINTO DE SEGURANÇA?
Aviões têm. Carros também. Por que não trens? A resposta não é tão óbvia: uma mistura de design, física e um pouco de economia.
Os trens de fato não são o meio de transporte mais comum no Brasil. Mas se você já viajou pela ferrovia Vitória-Minas, a Estrada de Ferro Carajás ou mesmo em um trem europeu, deve ter notado uma característica particular: não há cintos de segurança.
Os carros têm, os ônibus e os
aviões também, mas nos trens eles não são obrigatórios nem comuns. No Brasil, o
cinto de segurança é obrigatório apenas nos assentos reservados para pessoa
portadora de deficiência. A razão, segundo especialistas, não é a falta de
preocupação com a segurança, mas sim uma combinação de fatores técnicos,
práticos e econômicos.
Para começar, os acidentes
ferroviários são extremamente raros. Dados da Comissão Europeia de 2019 indicam
que o risco de morte para um passageiro de trem na União Europeia é de apenas
0,09 mortes por bilhão de quilômetros percorridos, cerca de 28 vezes menor do
que no transporte por automóvel. Diante dessa baixa taxa de acidentes, equipar
todos os trens com cintos seria um gasto difícil de justificar, conforme o IFL
Science.
Mas a explicação vai além dos
custos. Os trens são projetados de forma muito diferente dos carros: os
passageiros podem viajar em pé, caminhar entre os vagões ou trocar de assento.
Essa variedade de posições torna impossível garantir o uso do cinto no momento
de um acidente. Neste cenário, os passageiros que circulam livremente podem se
tornar projéteis humanos, colocando os demais em risco.
Um relatório de segurança
ferroviária explica que a maior parte das lesões em acidentes de trem ocorre
devido ao impacto dos passageiros contra os assentos. No entanto, nos trens,
eles são projetados para absorver o choque e limitar o movimento corporal,
reduzindo a gravidade das lesões. Nesse contexto, os cintos de segurança não
trariam uma melhoria significativa e, em alguns casos, poderiam até piorar os
resultados.
POUCO PRÁTICO
Pesquisadores também testaram
a instalação de cintos de segurança de três pontos, semelhantes aos usados em
automóveis. Os resultados foram mistos: os passageiros que os usavam sofriam
menos lesões e os que não os utilizavam saíam mais prejudicados ao colidir com
assentos mais rígidos. Entretanto, chegou-se a detectar um aumento de lesões
cervicais em mulheres de baixa estatura e adolescentes.
Além disso, o cinto de
segurança de três pontos não pode ser facilmente adaptado aos assentos
existentes dos trens, o que exigiria a substituição de toda a infraestrutura
interna dos vagões.
Assim, instalar cintos de
segurança em trens também seria pouco prático. Como explicou o jornal americano
The New York Times, a opção mais simples e econômica — o cinto de dois pontos
usado em aviões — não protegeria adequadamente os passageiros em trens, que se
movem lateralmente, além de para frente e para trás.
Em teoria, se todos os
passageiros permanecessem sentados e com os cintos afivelados durante toda a
viagem, os cintos poderiam melhorar a segurança. Mas isso quebraria a essência
da experiência de viajar de trem, em que os passageiros valorizam a liberdade
de se movimentar, levantar-se ou ir até o vagão restaurante.
"Isso tem sido
considerado por muitos anos”, explicou em 2017 Steven R. Ditmeyer, ex-diretor
de pesquisa e desenvolvimento da Administração Federal Ferroviária dos Estados
Unidos, ao site Global News. "Em nenhum lugar do mundo se usam cintos de
segurança em trens. As pessoas gostam de viajar de trem justamente pela
liberdade de se levantar e caminhar, e os funcionários não querem ter que
obrigar os passageiros a usar cintos.”
Portanto, ao menos por
enquanto, a resposta parece clara: os cintos de segurança não são necessários
nos trens, não porque não sejam importantes, mas porque o design, a segurança
estrutural e a baixa taxa de acidentes fazem com que viajar sem eles continue
sendo uma das formas mais seguras de locomoção.





















